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Aumentaram o DPVAT do veículo errado

Aumentaram o DPVAT do veículo errado

A pesquisa realizada pela ABRACICLO – Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares, e o Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) mostrou um cenário muito mais preciso que qualquer pesquisa anteriormente apresentada. Vale destacar que foi a primeira vez que cruzaram os dados de acidentes registrados com as suas efetivas causas. E o resultado foi exatamente o que eu esperava que fosse.

Em acidentes com motos o causador, em 51% dos casos, foram os veículos de quatro rodas ou mais. Além disso, temos as falhas no sistema viário onde cerca de 18% desses acidentes são resultado do despreparo de nossas estradas, ruas e rodovias para o evento moto. Somando tudo isso, temos um dado que diz que 69% das causas dos acidentes com moto na realidade não foram provocados pelos motociclistas. Pois é… EU QUERO MEU DPVAT DE VOLTA!

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Sistema viário despreparado para receber o evento moto

Sistema viário despreparado para receber o evento moto

Caros leitores, o governo culpou as motos por uma suposta epidemia de acidentes de trânsito e um exército de aleijados ou mortos produzidos a cada ano. Apoiados por uma mídia ainda mais desinformada e apaixonada por carros, as motos, que sempre foram marginalizadas desde a sua criação, acabaram ‘pagando o pato’ na história toda.

O governo usou esta desculpa – que agora cai por terra – para aumentar o DPVAT das motos. Ocorre que a pesquisa ABRACICLO/HC mostrou o contrário. Quem deveria ter o DPVAT aumentado deveriam ser os veículos acima de três rodas.

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De acordo com dados divulgados pela Seguradora Líder DPVAT, a frota de motocicletas no Brasil teve um crescimento de 357% no período entre os anos de 2000 a 2011. No mesmo intervalo, os casos de indenizações do Seguro Dpvat por morte de motociclistas no trânsito brasileiro aumentaram 134%. É um numero muito significativo e que ainda pode aumentar, considerando que o beneficiário tem 3 anos para solicitar o seguro e para acidentes ocorridos em 2010 ainda cabe solicitação de indenização. Só no ano passado, a frota de motocicletas representou 39% das indenizações pagas por morte.

Um levantamento feito pela Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo demonstrou que o número de mortes de motociclistas em decorrência de acidentes de trânsito (sem causa definida) aumentou 18% nos últimos dois anos. No estado, morreram 1.479 motociclistas em 2009 e 1.721 em 2011.

Ora senhores, foram estes números pegos isoladamente e de forma incompleta que acabaram sendo usados para perseguir motos, motociclistas e aumentar impostos. Tudo culpa da moto. A pesquisa ABRACICLO/HC nos redime em parte e mostra que a coisa não é bem assim.

Se pegarmos apenas os números de 2011 e aplicarmos o percentual da pesquisa – dados cruzados (69%) – teremos os seguintes números:

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1 – Foram 1721 motociclistas mortos. Sendo que, desses, 1187 morreram por envolvimento em acidentes provocados por veículos de quatro rodas ou mais e por falhas no sistema viário (69%).

2 – Sendo assim, 534 mortes (31%)foram causadas por imprudência, bebidas, drogas, etc e tal – diretamente causados por motos. Ou seja: aumentaram o DPVAT do veículo errado.

Motoboys

Outro dado interessante foi que não são os motoboys, motofretistas e mototaxistas os que mais caem e morrem, mas sim o motociclista que usa a moto para trabalho e lazer e que possui menos de dois anos de experiência. Aqui o bicho pega de novo. Se olharmos por estes números os motociclistas, proporcionalmente, caem mais que os motoboys.

Discursos à parte sobre quem é mais ou menos irresponsável ou mais ou menos motociclista, este número mostra que tem algo errado na ‘babilônia’ do motociclismo. Temos que reaprender sobre causas de acidentes e quem deveria também ser educado para um trânsito mais seguro e pacífico.

Gasolina

Mas o castigo dos números é cruel e vem a 299 km/h. A gasolina vai aumentar de preço e junto com ela tudo sobe. Em um país que estimula a indústria automotiva e penaliza motos e trens, precisa mesmo escolher alguém para pagar a conta. Então quem seria melhor que a moto para isso? NINGUÉM.

Motos no Brasil não são vistas como solução urbana. Tentaram até colocar as bicicletas no circuito. Mas se não existe planejamento para o evento moto, quanto mais para bicicletas? Bastou começar a morrer ciclistas atropelados por todo canto desse país para que a coisa desse uma parada. Ou seja: não sabem o que fazer. Tentarão tudo, menos fazer o certo.

O certo seria isenção de impostos para EPIs (Equipamentos de Proteção Individual); mudar o sistema de capacitação de motociclistas, o sistema de concessão de CNH, ajustar o sistema viário para o evento moto e parar de inventar coisas pra gente usar, tipo capacete com placa e por aí vai.

Amigos leitores e irmãos motociclistas, é por isso que eu quero meu DPVAT de volta. Mentiram pra mim mais uma vez quando justificaram o aumento baseado em dados incompletos que jogavam exclusivamente em nós toda a culpa pelos acidentes – tanto de moto, como com moto (assim mesmo, em português errado, como foram erradas as contas que fizeram).

Agora a casa caiu e os dados mostram que, mesmo sendo grave, as causas do problema com motos na realidade apontam para um sistema viário que não se planejou para receber veículos de duas rodas e muito menos para conviver com ela – tanto por parte dos motoristas, quanto por parte dos motociclistas.

Temos muito ainda o que fazer para educar, habilitar e prevenir acidentes, mas antes EU QUERO O MEU DPVAT DE VOLTA. E sem o aumento.

Luís Sucupira
Motociclista desde os 18 anos. Jornalista e apaixonado por motos desde que nasceu.