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Por Reinaldo Brosler

mo•to•ci•clis•mo
(motociclo + -ismo)
Substantivo masculino
Uso da motocicleta como meio de transporte ou exercício esportivo.

 

Feitiço do motociclismo

Enfeitiçados e amigos para sempre

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A definição de motociclismo por quem o vive intensamente é muito mais ampla do que as publicadas por tantos dicionários da língua portuguesa.

Compreendemos que, de certo modo, a pesquisa em dicionários está longe de ser o melhor meio pra se ter um pleno entendimento do significado da palavra motociclismo.

Provavelmente o encontraríamos de forma mais inteligível na pesquisa de determinadas literaturas que tratam da eterna busca do homem por socialização, da alma, das suas manifestações e dos cuidados pra acudir a sua consciência dos sentimentos obscuros e adormecidos ou longínquos.

O nosso motociclismo é formado por elementos que exercem um poder quase hipnótico sobre as pessoas que dele participam, onde os sentidos de liberdade, irmandade e vida em grupo sobre duas rodas seduzem e muitas vezes sequestram estes indivíduos de si mesmos. Segundo o entendimento da psicologia, no campo das promessas, expectativas e intenções, num fenômeno regido pelo nosso imaginário e que funciona quase como um feitiço.

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Imaginário – Explicado de forma simples como o campo da fantasia, dos símbolos, das imagens que geram expectativas, das coisas que parecem reais para nós que as criamos e que não necessariamente correspondem ao mundo concreto, camufladas pela nossa busca de status, reconhecimento social e afetivo. Neste caso.

Imaginário se tornando realidade junto aos nossos brasões, escudos, bandeiras, comboios, dogmas e códigos de honra na vida sobre duas rodas.

Fantasias, símbolos e imagens se tornando reais pra nós.

Calma. Estamos ao longe com este proseado de querer provar que o motociclismo não é bom, mas queremos mostrar que sem alguns cuidados ele realmente pode não ser.

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As instituições do motociclismo, como as empresas, são abstratas, mas são criadas por e para pessoas. A grande maioria delas são instituições de sociedade civil, e todas são constituídas de pessoas. Estas instituições, como as empresas, se articulam e ambicionam serem eternas, mas quem as cria e as compõe são seres efêmeros.

Feitiço do Motociclismo

Este feitiço produz um forte, às vezes irracional, devotamento e fidelidade a instituições, brasões, escudos, bandeiras, comboios, dogmas e códigos de honra, como se nunca pudéssemos nos desvincular deles, que como com as instituições, esta ligação seria eterna.

As instituições são abstratas, estruturalmente inanimadas e incapazes por si só de retribuir e exprimir sentimentos, estes os são pelas pessoas que as compõem e passível de mudanças ao longo do tempo.

Quando somos requeridos a responder pra um interessado em participar do nosso motociclismo, de como se faz pra integrar um moto clube, não o induzimos ou fazemos campanha para ingressar no qual pertencemos, apenas relatamos como a grande maioria procede e que deve buscar algum onde tenha empatia com seus integrantes e participe pra conhecê-lo melhor a partir deles.

As colocações “vestir a camisa” ou “segunda pele”, sem pretensão, explicam bem esta situação. Podemos e devemos “vestir a camisa” ou transformar em “segunda pele” os símbolos, brasões, escudos e bandeiras das nossas instituições quando vivemos um momento de forte cumplicidade e anuência com seus valores.

Os vínculos que criaremos a partir de então, mesmo achando que o são para as instituições com seus símbolos, brasões, escudos e bandeiras, foram gerados a partir do material humano que encontramos nelas, gerado pela nossa cumplicidade e anuência com os valores deste grupo de pessoas.

Considerando que a grande maioria destas instituições no motociclismo têm um estatuto que em tese rege os comportamentos e ações deste grupo, e que todos estes estatutos em termos gerais são praticamente iguais, porque como grupo de pessoas podemos ser bem diferente uns dos outros, e sem bem saber, em constante mutação?

Justamente, não somos diferentes pela própria instituição que pertencemos, muito menos pelos semelhantes estatutos, o somos pelos detalhes do modo de agir e viver o motociclismo das pessoas que formam estes grupos.

Não somos contra “vestir a camisa” ou adotar uma “segunda pele” pelas instituições, desde que não seja direto sobre a nossa pele, nos preservando e protegendo das falsas expectativas e mudanças que ocorrem ao longo do tempo nos grupos e na nossa vida.

Quantos dos nossos amigos não estão ou estiveram no pior desta história, pois fizeram o caminho inverso e tatuaram sobre a própria pele símbolos que representariam devotamento e fidelidade eternos?

Ápice desta confusa relação, normalmente acompanhado de uma momentânea e quase perda de identidade, momento que os seus protagonistas se tornam João do MC “X”, Paulo do MC “Y”, Suzana do MC “Z” e etcetera e tal. Nada contra.

Grande parte em função de um excelente momento da vida deles no grupo, caracterizado quase como um amor platônico à instituição que eles pertencem. Mas num belo dia, por muitos motivos, ele pode acabar, deixando de fazer sentido, e as marcas na pele, literalmente.

Não esqueçamos, as instituições são abstratas, estruturalmente inanimadas e incapazes por si só de retribuir e exprimir sentimentos.

Quantos dos nossos amigos não viram a vida pessoal ou profissional ir à bancarrota em função de um forte envolvimento com, e pseudo-razão, o devotamento e fidelidade às instituições? No dia em que viveram este desmoronamento em função deste sequestro de si mesmo para as excessivas devoção e fidelidade.

Mas sim, existem boas formas de cultuar as nossas instituições com seus símbolos, brasões, escudos e bandeiras, mas para isso preferimos substituir os quase radicais devotamento e fidelidade, pelos significantes lealdade e ética, que nos remetem a uma relação duradoura, saudável e única com as instituições, quando estão associadas às qualidades das causas e ações, atitudes e comportamentos praticados pelo grupo de pessoas que as compõem.

Pasmem. Devotamento e fidelidade estão mais ligados à servidão.

Outra condição importante é a que devemos conservar nossos vínculos emocionais fora do motociclismo, não deixando que ele nos seduza a ponto de nos sequestrar totalmente de si mesmos, nos afastando da família, amigos, churrascos, turmas de esportes e outros, que são pequenas coisas que preenchem espaços valiosos da nossa vida e da vida destas pessoas.

Feitiço do motociclismo.

Não é fácil deixar de ser enfeitiçado por todo este mundo de fantasia e magia, para isso precisamos fazer um mergulho dentro de nós mesmos, para construir um imaginário mais coerente com o mundo concreto, com o mundo real. Precisamos entender e reagir com muita calma, porque afinal de tudo, procuramos repostas pra suprir nossos déficits e encontrar boas razões pra nos sentirmos vivos, no motociclismo e fora dele.

Seguindo o bom imaginário, utilizemos o feitiço do motociclismo para o nosso bem.

Boas estradas!

Autor: Reinaldo Brosler
www.ridersoffreedom.com.br
www.facebook.com/reinaldo.brosler

Riders of Freedom não é um moto clube, é um estilo de viver o motociclismo, e tudo que gira em torno dele, com liberdade (freedom) e responsabilidade, traduzido nos bons valores e crenças comuns a um grupo de motociclistas e triciclistas (riders) integrantes de diversos moto clubes e moto grupos.