Publicidade

Acha o Power Commander caro? Quer algo mais simples e tão eficiente quanto para tirar alguns cavalos a mais de sua Suzuki?

Injeção eletrônica em motos é algo que me fascina, muito mais do que nos carros porque entre os automóveis os fabricantes instalados no Brasil fazem diversos testes para a adequação de seus produtos ao nosso mercado, em especial ao nosso “exclusivo” combustível hibrido (misturado com 25% de álcool anidro) e político (o governo altera a sua composição de acordo com os estoques de álcool). A indústria automotiva inovou tanto nessa área que criou, aqui no Brasil, o carro “flex” que roda com qualquer combinação de álcool e gasolina (embora não seja otimizado para nenhum deles), inclusive combustíveis adulterados nas inúmeras fraudes que vemos nesse país. Somos únicos no mundo, exclusivos, desenvolvemos tecnologias próprias para se adequar a zona que é a nossa política de combustíveis veiculares. A Europa e o resto do mundo adotou um conceito diferente, lá existe a gasolina tradicional (sem álcool) e o agora muito famoso E85, um combustível composto por 85% Etanol e 15% de gasolina, ou seja, é o “flex” deles. Só que ao invés de alterar os carros para funcionar com qualquer combustível, eles criaram um combustível de proporção fixa que funciona em carros otimizados para esse combustivel sem a necessidade do injetor de gasolina para a partida a fria. Mas enfim, isso é outra história…

O kit completo do FI Tuner Pro da Healtech

O fato é que nas motos não há esse cuidado na tropicalização dos motores ao nosso combustível. São raras as motos de grande cilindrada que são fabricadas aqui com os mesmos cuidados na tropicalização que os automóveis, a grande maioria é importada ou quando muito “montada” aqui em regime de CKD onde as adequações para o Brasil são mínimas. E há a questão da escala, se somarmos todas as motos injetadas de grande cilindrada vendidas no Brasil, importadas ou não, não vamos ter nem 2% do total vendido no mercado local. Muitas vezes não se justifica tropicalizar em uma escala tão pequena. Não é a toa que as Harley Davidson quase que obrigatoriamente precisam ser ajustadas pelo proprietário assim que saem da loja para resolver o problema do aquecimento e dos escapes cromados amarelando (ou azulando), mas outras marcas também sofrem com o problema, em maior ou menor escala. Até recentemente a forma mais popular para se ajustar essas motos era o popular (e caro) Power Commander da Dynojet. Um excelente produto, mas caro demais para os padrões brasileiros, e cheio de recursos que muitas vezes não serão usados.

Publicidade

F1 Tuner ProNa minha coluna anterior falei sobre o GI Pro da Healtech Eletronics , um interessante indicador de marchas que altera o mapeamento da ignição eletrônica eliminando o retardo introduzido pelos fabricantes nas marchas mais baixas. A Healtech me perguntou se eu gostaria de testar um protótipo de um módulo com mapas para a EFI e eu prontamente aceitei. Tudo que vocês verão aqui ainda não é oficial, não tem preço nem data de lançamento definido, mas sabemos que será “muito mais barato” (palavra da Healtech) do que o Power Commander. E o aparelhinho me surpreendeu!

O FI Tuner Pro é exclusivo para motos Suzuki com injeção eletrônica. Expliquei essa questão de compatibilidade na coluna sobre o GI Pro: Outras marcas, em especial a Honda e Yamaha, utilizam projetos de EFI fechados, sem comunicação externa. A Kawasaki adota em alguns modelos um sistema aberto mas não é uniforme entre todas as motos, mas só a Suzuki adota em todos os modelos recentes o mesmo tipo de sistema, com padrão aberto e protocolo conhecido, permitindo instalar módulos extras em qualquer moto da marca. Por isso, instalar um GI Pro ou um FI Tuner Pro nada mais é do que conectar alguns plugues facilmente identificáveis e fazer uma ou duas ligações em alguns fios de sinalização, algo extremamente simples e que pode ser feito em casa.

Seu tamanho é pouco maior do que uma caixa de fósforos e tão leve quanto, e opera como um “corretor” de EFI, interceptando os sinais do módulo e aumentando ou reduzindo os pulsos elétricos conforme um mapa em sua memória. Suas características são muito interessantes:

  1.  Trabalha com 3 (três) mapas nativamente, selecionáveis conforme a posição do acelerador quando virar a chave para ON, um dos mapas é o ZERO MAP, que desativa o módulo (na prática opera com valores zerados em todas as células). Portanto, é perfeitamente possível ter um mapa de alta performance, um mais adequado para chuva, e o “original” da moto (Zero Map) selecionando cada um deles quando for mais conveniente. 
  2. É USB nativo, basta conectar um notebook qualquer, instalar o software (um download de menos de 1MB) e pronto, já está funcionando. O dispositivo é reconhecido automaticamente pelo Windows.
  3. Seu firmware é atualizável automaticamente pelo software, assim qualquer recurso novo implementado no software pode ser ativado no FI Tuner Pro. Os mapas não são alterados quando o firmware é trocado, é uma operação rápida e absolutamente tranqüila (já fiz duas vezes desde que o aparelho chegou)
  4. Um LED no aparelho indica qual mapa está ativo e realiza algumas funções de diagnostico.
  5. Não consome energia da bateria. Ele é alimentado pela EFI e só está ativo quando a moto estiver ligada.
  6. Ele se conecta pela porta de expansão da EFI da Suzuki, não requerendo nenhum artifício adicional e pode ser removido a qualquer instante.
  7. Quando trocar de Suzuki, basta desconectar o modulo e instalar na próxima moto.
  8. É totalmente compatível com outros produtos da Healtech, como o GI Pro w/ATRE citado na coluna anterior.
  9. Permite alterar os valores em REAL TIME, com a moto ligada e funcionando, permitindo uma leitura imediata do funcionamento do motor (excelente para quem vai ajustar pelo dinamômetro ou “de ouvido”).

A seleção dos mapas é algo muito interessante mesmo. Ao ligar a moto da forma tradicional, o MAPA 1 está automaticamente selecionado. Suponha que você definiu o MAPA 2 como sendo “de chuva”, e quer utilizá-lo nesse momento. Basta virar a chave para ON com o acelerador no máximo (não ligue a moto, basta virar a chave). Confira o LED no aparelho debaixo do banco, ele terá mudado de VERDE para VERMELHO, indicando que está usando o MAPA 2. Volte o acelerador para a posição normal e ligue o motor. Para usar o ZERO MAP, repita o procedimento com o acelerador na posição intermediaria (meio curso), e verifique que o LED agora está LARANJA. Simples assim.

Publicidade

Outra coisa interessantíssima é que seu funcionamento é muito similar a outros corretores de EFI do mercado que operam com mapas, por isso é relativamente simples converter manualmente (eu usei uma planilha do Excel para isso) um mapa do Power Commander, por exemplo, para usar no FI Tuner Pro. As diferenças são muito pequenas, o Power Commander tem intervalos de células a cada 250 RPM, e o FI Tuner Pro a cada 500 RPM. Além disso, há diferenças no numero de colunas (intervalos de posição do acelerador), mas com um pouco de matemática é muito fácil converter os valores. O ideal é sempre fazer um mapa customizado em um dinamômetro, mas na falta desse é perfeitamente possível usar um mapa convertido ou mesmo fazer o download de um mapa feito por outro usuário (no momento, o produto ainda não foi lançado, mas haverá uma área no site da Healtech para compartilhamento de mapas).

Alterações simples como a troca de escapamento, filtros de ar ou ajustes finos conforme a “tocada” do piloto são facilmente realizadas no FI Tuner Pro. No meu mapa experimental já obtive alguns resultados perceptíveis em baixas e médias rotações, além de ter reduzido o calor do motor em certos trajetos que realizo com freqüência. Locais onde a ventoinha sempre ligava, já não liga mais. Estou ajustando a faixa de cruzeiro da Bandit 1250S para conseguir um ponto de queima ideal, economizando combustível. Ainda não tenho uma medida concreta de consumo, mas vou chegar lá. Abaixo, um rápido vídeo que fiz com o primeiro teste do FI Tuner Pro em minha moto, note como a célula em destaque muda conforme a aceleração. O valor das células (nesse vídeo todas zeradas) pode ser alterado com a moto rodando para se ver o resultado imediato. Antes de desligar o USB é preciso fazer o “send map” para gravar o mapa novo no módulo. Veja o vídeo abaixo:

Durante a instalação, além do conector principal é preciso conectar 2 cabos no chicote que vai para a EFI, são eles o sensor de TPS (posição do acelerador, fio rosa/preto na posição #8 do conector grande da EFI) e o leitor de RPM (fio amarelo/azul na posição #13 desse mesmo conector), e recomenda-se cortar o cabo do sinal da sonda lambda, que fica no outro conector, na posição #23 (fio branco/preto). O objetivo em cortar o fio da sonda lambda é evitar que uma alteração na mistura cause uma correção no sentido inverso pelo leitor de O2 do escapamento, e é um procedimento comum quando se instala um corretor de injeção. Eu preferi colocar um interruptor nesse fio, de forma que eu possa ligar o sensor ou não, conforme a necessidade (muito útil nessa fase de testes). O kit de instalação vem com grampos rápidos para ligar o TPS e o sensor de RPM que facilitam muito a instalação, mas eu prefiro fazer a tradicional emenda com solda. 

Publicidade

Acima a porta de expansão da EFI que é usada para conectar o FI Tuner Pro, e abaixo vemos a instalação pronta. No circulo à esquerda vemos o FI Tuner Pro preso (com velcro) em um local protegido, e no circulo à direita temos as conexões do TPS e RPM (usei solda por opção, mas o kit vem com clips autocortantes fáceis de usar) e o meu interruptor no sinal da sonda de O2.

 Levei pouco mais de uma hora fazendo tudo na minha garagem mesmo, não é nada complicado. Há uma observação no manual recomendando desativar o sistema PAIR quando for fazer uma simulação em dinamômetro porque o PAIR injeta ar fresco no escapamento para queimar os resíduos da combustão o que afetaria o leitor de O2 (utilizado em dinamômetros, que tem uma faixa de leitura bem mais ampla). Tenho lido vários tópicos de fórum recomendando desativar o PAIR para a moto ficar “melhor” e muitos alegam que ela fica mais econômica. Isso não é verdade. O sistema PAIR não afeta em nada o desempenho do motor, mas ele afeta a leitura da sonda lambda, basta desconectar (ou cortar, ou colocar um interruptor como eu fiz) no fio #23 do chicote da EFI que se obtém o mesmo efeito sem causar erros de leitura na EFI. Além disso, a vida útil do catalisador é bastante reduzida se o PAIR estiver desligado, porque os resíduos da queima incompleta vão se acumular lá. A única “vantagem” de se desligar o PAIR é reduzir os “pipocos” nas desacelerações quando se usa um escapamento esportivo (o “pipoco” é justamente resultado da queima de gases dentro do escapamento, na presença do ar fresco do PAIR). Dá pra reduzir o “pipoco” corretamente, que é ajustando a EFI para não gerar resíduos mal queimados, preservando a vida do catalizador.

Levei pouco mais de uma hora

Enfim, daqui a uns 1000 km, alguns tanques de gasolina gastos e mais algumas experiências com os mapas eu conto aqui o resultado desse teste. Até o momento o que eu posso dizer é que o FI Tuner Pro funciona como se espera, é absurdamente simples, muito leve e pequeno, e altamente customizável mesmo nessa primeira versão (firmware 1.05). Se a promessa da Healtech se cumprir, será uma solução muito mais barata do que o Power Commander e tão eficiente quanto e terá 5 anos de garantia com 30 dias de “money back” (política de devolução sem questionamento comum no exterior, não sei se será possível no Brasil).

Texto e fotos: Paulo Couto

Leia também a matéria anterior:

GIPro w/ATRE – Sabe o que é isso ? Deveria saber

 

Obs.: Para facilitar a discussão sobre esse assunto, além da área de comentários abaixo, criamos um tópico no fórum para os motonliners que preferem este formato. Clique aqui para acessar o tópico. 


p_c