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Quando a Harley-Davidson apresentou  seu projeto Rushmore para o mercado norte-americano em 2013, oito modelos da linha estavam incluídos nele. Alguns meses depois, em fevereiro de 2014, quatro deles chegaram ao Brasil, dentre eles a top CVO Limited, uma moto basicamente igual à Ultra Limited, mas com novo motor V2 de 1800 cc (110 polegadas cúbicas) e vários itens a mais de equipamentos e acessórios, tudo da linha Screamin’ Eagleque trazem melhor desempenho, luxo, beleza, comodidade e conveniência a piloto e garupa.

A estrada, preferencialmente boa, é o habitat preferido da CVO Limited

A estrada, preferencialmente boa, é o habitat preferido da CVO Limited

Apesar de termos avaliado a Ultra Limited e a Street Glide, ambas da mesma série (Projeto Rushmore), uma avaliação da CVO Limited precisava de algo diferente, não apenas um roteiro padrão com grandes rodovias, estrada simples e trechos urbanos, o que usualmente serve para avaliar a maioria das outras motos. Para uma moto desta “grandeza”, seria conveniente uma viagem especial, que pudesse submeter a moto e seus ocupantes a longos trechos de asfalto dos mais variados tipos, com luz do sol e à noite, por trechos sinuosos e rodovias, com temperaturas baixas e clima tropical, uma grande viagem como as que devem ter imaginado os criadores desta super touring.

Os fiéis companheiros de viagem, Lu e Rock; "Se eu cochilo na garupa da F 800 GS, nessa aí eu vou dormir o caminho todo"

Os fiéis companheiros de viagem, Lu e Rock; “Se eu cochilo na garupa da F 800 GS, nessa aí eu vou dormir o caminho todo”

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Então o motivo apareceu com o 4º Aniversário do Bando do Macaco, grupo que surgiu dentro do Fórum Motonline a partir do 2º Encontro Nacional Motonliners, que aconteceu em Lavras (MG), em 2011. Desta vez, o bando faria seu encontro em Guarapari (ES), distante 830 km de São Paulo. Feitas as contas e verificado atentamente o roteiro, percebemos que esta era uma boa oportunidade para submeter a Harley-Davidson CVO Limited à avaliação que ela merecia.

Como entendemos (e recomendamos) que viagens de motocicleta devam ser feitas com no mínimo duas motos (por segurança), fizemos contato com o Rock Ténéré, integrante do Fórum Motonline e membro ativo do Bando, para programarmos a viagem a Guarapari juntos. E assim foi feito. Escolhido o roteiro que nos propiciaria as variações necessárias para a avaliação da moto (e de piloto e garupa), saímos às 4h30 de São Paulo em direção ao PE (Ponto de Encontro) no primeiro posto de abastecimento da rodovia Ayrton Senna, em Arujá. Era a manhã gelada e escura do dia 4/6/2015, feriado de Corpus Christi.

Curvas não são problema, mas o limite da inclinação chega rápido

Curvas não são problema, mas o limite da inclinação chega rápido

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Mas o dia prometia sol e calor em todo o trecho de 830 km e cerca de 10 horas de estrada até Guarapari, como indicava o excelente GPS da CVO Limited que fala português de Portugal e é parte integrante do poderoso sistema multimídia chamado “Infotainment” – corruptela das palavras em inglês Information e Entertainment (informação e entretenimento) e que inclui ainda computador de bordo, som com 25W RMS por canal com quatro alto-falantes, conexão Bluetooth e por USB, tudo numa tela de 6,5 polegadas com tecnologia touch e que funciona inclusive com luva de couro, ao contrário da maioria das telas de celulares.

Espaço e conforto

Vale destacar a facilidade para ajeitar a bagagem na CVO Limited. As duas malas laterais mais o excelente “porta-malas” (topcase), todos com travas elétricas e iluminação com LEDs para facilitar o acesso aos objetos, não inibem os viajantes. Há espaço até para o mais supérfluo dos objetos numa viagem com moto. Pode trazer que espaço não falta. São 132 litros de espaço total com forração e imune às intempéries. Cuide apenas de distribuir bem o peso e não exceder a capacidade de carga de cada um dos espaços. Para quem vai com garupa, como foi o caso, a divisão é bem clara e fácil: lado direito para você, lado esquerdo para mim e no porta-malas aquilo que é comum aos dois, volumes maiores e equipamentos e acessórios de primeira necessidade durante a viagem, como máquina fotográfica, capas de chuva e outras “coisinhas”. Ah, dentro deste espaço há ainda uma tomada para recarregar celulares ou outro tipo de equipamento eletrônico com bateria recarregável. De fato muito prático.

No grupo, a CVO Limited destaca-se pelo brilho e, claro, o tamanho impõe respeito

No grupo, a CVO Limited destaca-se pelo brilho e, claro, o tamanho impõe respeito

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Para quem não está habituado com este tamanho de moto e seus 433 kg (em ordem de marcha), o começo requer muito cuidado, principalmente em baixas velocidades ou manobrando-a quase parada. Mas à medida que começa a existir uma certa intimidade entre piloto e máquina e os quilômetros vão passando, as coisas vão ficando mais fáceis e os movimentos começam a ser naturais e intuitivos. Outro destaque desta touring é a carenagem frontal  batwing (asa de morcego), com seu para-brisa, que não tem regulagem, mas que está posicionado na altura correta e permite bom campo de visão. Após as primeiras horas de viagem já era possível concluir que chegaríamos inteiros no destino mais de 10 horas depois, mesmo que fosse mais longe. Conforto é de fato a grande preocupação desta Harley-Davidson.

Consumo médio da Harley-Davidson CVO Limited está dentro do esperado para uma moto deste tamanho, mas nos trechos urbanos o consumo aumenta consideravelmente

Consumo médio da Harley-Davidson CVO Limited está dentro do esperado para uma moto deste tamanho, mas nos trechos urbanos o consumo aumenta consideravelmente

O novo desenho da carenagem elimina toda a turbulência no capacete de piloto e garupa, sem impedir que o ambiente no cockpit da moto fique sem ventilação, pois há aletas que podem ser abertas para direcionar a ventilação tanto na parte de cima quanto embaixo para as pernas. Mas como logo cedo estava bem frio, mantivemos as aletas fechadas e o ambiente permaneceu na temperatura mais confortável, sem necessidade de utilizar os forros dos casacos. Com a chegada do Sol e a elevação da temperatura, na primeira parada para abastecimento, em Queluz (SP), abrimos as aletas e refrigeramos o ambiente para piloto e garupa. Realmente uma grande diferença. Mas se estivesse muito frio mesmo, bastava ligar o aquecimento dos assentos de piloto e garupa e o das manoplas. Um luxo!

A viagem foi programada para 3 paradas principais para abastecimento, rodando aproximadamente 200 km entre uma e outra. Estabelecemos também o limite de duas horas e meia para cada parada para alimentação. Com o tanque de combustível da CVO Limited de 22,7 litros, calculei que rodaríamos no mínimo 250 km sem alcançar a reserva. O cálculo ficou bem próximo da realidade da estrada e o resultado foi compatível ao ritmo da viagem e o porte da moto: 15,32 km/l de média, com a melhor marca no último trecho (16,41 km/l) e a pior marca logo no início do avaliação (13,07 km/l). Foi possível perceber também que o consumo urbano é sensivelmente maior do que na estrada. Com esta média, a CVO Limited alcança facilmente os 300 km com um tanque de combustível, autonomia razoável para uma touring.

Evolução tecnológica

O conjunto mecânico da CVO Limited, com seu novo motor Screamin’Eagle, garante desempenho muito bom para uma moto deste porte. Os 1800 cc de capacidade cúbica, obtidos apenas pelo aumento do diâmetro do pistão, conta com a nova tecnologia de refrigeração mista com líquido e ar, chamada de High Output Twin Cooled, algo como “refrigeração dupla de alto rendimento”. Aliás, o Projeto Rushmore visou melhorar a eficiência da moto e do motor. Assim, além da adoção do sistema de refrigeração mista, o coletor de admissão também foi alterado para aumentar o fluxo de ar em baixa rotação do motor, o que refletiu diretamente na excelente capacidade de retomadas de velocidade sem ter de recorrer a reduções de marcha. Por isso na CVO Limited, qualquer que seja o ritmo que você queira dar ao seu passeio, potência (N/D) e torque (16 kgfm) estão lá disponíveis para responder à solicitação do acelerador.

No tráfego urbano a CVO Limited sofre  um pouco

No tráfego urbano a CVO Limited sofre um pouco

Outro avanço perceptível  é quanto ao famoso e desagradável calor do motor emanado para as pernas do piloto, que praticamente desapareceu junto com a excessiva vibração do motor que as “velhas” Harley tinham. O resultado prático disso tudo é a agradável e surpreendente capacidade do conjunto de rodar suave e silenciosamente, contornando curvas sem dificuldade e total equilíbrio, obediente, leve e com grande capacidade de inclinação, como uma moto pequena, mas que encontra o limite das curvas rapidamente nos pinos de aço colocados sob as plataformas, que lá estão exatamente para esta finalidade. Quem vinha atrás observando o “balé” da CVO Limited nas sinuosas estradinhas do interior do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, tinha a impressão que os escapamentos também iriam raspar, mas ficou apenas na impressão. Apesar do rodar fácil e suave, dependendo da qualidade do piso foi possível perceber aquele balanço característico das motos com longo entre-eixos, mas nada que chegasse a atrapalhar.

Freios combinados: a inteligência eletrônica decide qual o força a ser aplicada sobre cada eixo

Freios combinados: a inteligência eletrônica decide qual o força a ser aplicada sobre cada eixo

Como viajamos com plena carga (piloto, garupa, e bagagem) havia um certo receio de que as suspensões pudessem estar muito macias, sobretudo a traseira, levando a final de curso dos amortecedores. Não foi necessário qualquer ajuste, mas se houvesse esta necessidade, existe uma tabela de ajuste da pressão da suspensão, o que pode ser feito em casa, mas é necessária uma bomba específica para calibragem (com manômetro) que é vendida na rede de concessionárias. A CVO Limited tem na traseira dois amortecedores hidro-pneumáticos com ajuste e garfo telescópico na dianteira, que teve o diâmetro dos tubos aumentado em 18% (49 mm) e recebeu novo ajuste para o amortecimento. Este conjunto de suspensões funcionou muito bem, firme quando necessário, sem no entanto transmitir qualquer desconforto ou movimentos estranhos. Nos mais de 1800 km que percorremos, as suspensões trabalharam bastante e absorveram com precisão as imperfeições dos diferentes pisos e suportou com tranquilidade todo o esforço do conjunto. Claro, em pisos ruins a moto sofre um pouco e os coxins de borracha fazem bem o seu papel, amenizando a vibração transmitida ao chassi e aos ocupantes da moto.

Espaço para tudo, inclusive aqueles objetos totalmente supérfluos: 132 litros

Espaço para tudo, inclusive aqueles objetos totalmente supérfluos: 132 litros

Eletrônica: tudo e um pouco mais

Outra inovação que a CVO Limited traz são os potentes freios, com ABS de série e o sistema combinado. A Harley-Davidson batizou este sistema inteligente de “Reflex” e ele atua nos dois freios – dianteiro e traseiro – que estão conectados eletronicamente para oferecer a dosagem correta de força de frenagem para cada roda. Algo que ainda incomoda um pouco são os ruidosos engates das marchas, que muitos podem até considerar característica da marca, mas que não é nada agradável “ouvir” todas as trocas de marchas. Além do ruído, há uma certa dificuldade de encontrar a neutro entre a primeira e a segunda marchas, mas isso talvez se resolva com o tempo de uso da moto.

Apesar de ter muito recursos eletrônicos, utilizá-los na CVO Limited é bem fácil. Todos os comandos da moto estão acessíveis de forma intuitiva, exceção feita aos piscas que estão um em cada lado do guidão, causando certa confusão. Menos mal que há um temporizador que desliga automaticamente se você esquecer ligado ou após o movimento realizado para um lado ou outro. No lado esquerdo está o joystick que comanda o sistema multimídia, mas que requer um certo tempo de treinamento para utilizá-lo com todos os seus recursos, e o botão do cruise control – piloto automático – de fácil acionamento e que ajuda em trechos longos, onde é possível soltar o acelerador sem perder a aceleração e relaxar a mão direita. Também na mão esquerda estão os comandos de farol alto e da buzina. Na mão direita o corta-corrente, o botão de partida e os joysticks de ativação e controle das muitas funções de entretenimento e informações do computador, como o rádio intercomunicador, temperatura do motor e pressão de óleo. Mas tudo pode ser acionado pela tela do sistema multimídia.

Na paisagem, qualquer que seja, a CVO Limited é sempre um destaque

Na paisagem, qualquer que seja, a CVO Limited é sempre um destaque

Apenas para pontuar, já que a CVO Limited é uma série especial da Ultra Limited, veja o que ela tem a mais em relação à sua original, e que justifica o preço R$37.189,00 maior (R$89.311,00 para a Ultra e R$126.500,00 para a CVO):

  • Motor 1.800cc Screamin’ Eagle
  • Filtro de ar Screamin’ Eagle
  • Pintura exclusiva (CVO)
  • Rodas em estilo Slicer Custom (CVO)
  • Sistema de tranca eletrônica na chave (CVO)
  • Sistema de escape diferenciado (CVO)
  • Acabamentos da linha Airflow Collection- Manoplas, retrovisor, plataformas dos pés, pinças do freio, entre outros.

Mercado

A Harley-Davidson não informa suas vendas por modelo ou por família, nem aqui no Brasil tampouco no mundo. A empresa se limita a divulgar vendas globais e por região apenas uma vez ao ano. No entanto, os dados da Abraciclo sobre a venda atacado (fabricante a concessionário) mostram que Ultra Limited foi a segunda moto mais vendida da Harley-Davidson no Brasil, só ficando atrás da Iron 883. Foram 877 unidades (CVO Limited + Ultra Limited) em 2014, cerca de 12% das vendas totais da marca (7.416) no mesmo ano, nada mau para motocicletas que custam algo bem próximo da centena de milhares de Reais. A Harley-Davidson informou em seu último balanço anual que vendeu no mundo 267.999 motocicletas. Se a média brasileira estiver próxima da mundial, são quase 32 mil motos dos modelos mais caros da marca no mundo todo em 2014. De fato, fazer turismo com motocicleta é um grande negócio. Confira a Galeria:

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Sidney Levy
Motociclista e jornalista paulistano, une na atividade profissional a paixão pelo mundo das motos e a larga experiência na indústria e na imprensa. Acredita que a moto é a cura para muitos males da sociedade moderna.