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Quando pensamos em um bom lugar para fazer uma viagem de moto nas férias vários destinos vêm à mente. Serra do Rio do Rastro (SC), Estrada da Graciosa (PR) e Rastro da Serpente (SC) são alguns deles. Todos incríveis e amplamente difundidos entre os apaixonados por motos.

Já programou sua próxima viagem de férias? Que tal fugir dos clichês, abastecer a moto e conhecer novas regiões do Brasil? Na foto, a Chapada Diamantina

Viagem de moto às chapadas brasileiras e Jalapão

Mas que tal encarar uma viagem de moto ao coração do Brasil, num roteiro repleto de aventura, poeira, rodovias de pistas simples e paisagens fantásticas? O Cerrado em contraste com montanhas, cavernas e grutas, areia e lagos de água azul esmeralda foram só algumas das belezas registradas nesta trip do casal Ricardo Kadota e Luciana Armelline.

Aliás, é o próprio Rock Ténéré quem narra esta aventura de quase um mês e 7 mil quilômetros.

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Rock e Luciana encararam quase sete mil quilômetros nesta viagem por três regiões do Brasil

Prólogo

Em um ano tão atípico como 2020 não sabíamos como seria nossas férias e trabalhar o ano inteiro para conseguir viajar de moto é o que fazemos há pelo menos 9 anos. Então neste ano não seria diferente, mas havia incerteza, conseguiríamos realizar a viagem, se seria necessário voltar antes do fim.

A companheira da aventura foi uma Tiger 900 GT Pro

Tudo isto contribuiu para que o planejamento fosse muito curto, praticamente com 1 semana de antecedência decidimos, eu e minha esposa Luciana, que iríamos viajar por lugares que já conhecíamos e experimentar novos locais. Seguindo os protocolos de segurança decidimos então visitar as chapadas brasileiras (Guimarães, Veadeiros e Diamantina) mais o Jalapão.

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Ao centro, Luisa e Sérgio: companheiros nesta aventura

Nossa forma de viagem não exige muito planejamento. Com a moto revisada (uma Triumph Tiger 900), malas arrumadas e a hospedagem daquela noite definida saímos de casa, em Araçariguama (SP) rumo a São José do Rio Preto (SP) para visitar nossos primos Tiago e Alana. Deslocamento curto mas com muito sol e praticamente todas as rodovias com excelente asfalto e duplicadas.

Primeira parada: Chapada dos Guimarães

A ideia para o segundo dia seria rodar até a Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, porém seriam mais de 1.000 km de pistas simples e não sabíamos que existiriam tantas obras, atrasando um pouco a viagem. Resolvemos então dormir em Alto Garças (MT) e até lá foram 726 km de muito calor. No dia seguinte tivemos um deslocamento mais curto, mas não menos quente, de 399 km até chegarmos na Chapada dos Guimarães ao meio da tarde, onde descansamos.

 

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Visitando a Chapada por três dias conhecemos lugares incríveis como a Cidade de Pedra, Rio Claro (nestes dois a entrada é permitida  somente com carro 4×4 e guia), Mirante Geodésico (marca o centro da América do Sul, com a mesma distância entre os dois oceanos), Mirante Morro dos Ventos e Caverna Aroe Jari, que fica há mais ou menos 40 km da cidade, sendo 10 de terra e 5 de areião e um mata burro muito difícil de passar de moto – esse foi nosso primeiro areião na viagem e nossa primeira queda, quase parados, sem danos a motocicleta e motociclistas!

Conhecemos também a Cachoeira da Martinha, com acesso direto pela rodovia que liga a Chapada a Campos Verdes (GO). Com estrutura de estacionamento e restaurante no local, a Cachoeira do Marimbondo fica próximo a cidade com aproximadamente 4 km de off road sendo 2.5 km de areião, quando fomos tinha pouca água mas nada que tirasse a beleza do lugar.

Foto em Brasília

No sétimo dia da viagem voltamos para estrada e rodamos 760 km para chegar já próximo a Brasília. Entre muitas retas deixamos o Mato Grosso e entramos em Goiás, seguindo sentido Chapada dos Veadeiros. No dia seguinte o deslocamento era mais curto e então resolvemos bater uma foto na capital do país, Brasília (DF), com suas largas avenidas e bela arquitetura. Depois, chegamos a São Jorge (cidade que fica na porta do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros) no meio da tarde, após 544 km rodados.

Além da viagem de moto, trilhas pela Chapada dos Veadeiros

Nos próximos 2 dias a moto teve uma folga, pois como estávamos muito perto da entrada do Parque fizemos à pé duas trilhas de 11 km cada uma para conhecer as atrações locais, como o salto de 120 metros (cartão postal da reserva), salto de 80 metros, carrossel, corredeiras, canion 2 e Cachoeira Carioquinha. As águas do Parque não são geladas e refrescam muito durante a trilha.

 

No nosso terceiro dia deixamos São Jorge e seguimos para Alto Paraíso de Goiás, considerada a capital da Chapada dos Veadeiros. Neste dia conhecemos o complexo de Cachoeira dos Cristais, pequenas cachoeiras muito bonitas e boas para banho.

No dia seguinte se juntaram a nossa viagem dois companheiros de estrada, Sérgio e Luisa, pai e filha, que nos acompanharam nos próximos dias. Eles saíram de Belo Horizonte e em dois dias chegaram em Alto Paraíso de Goiás. Fomos conhecer o complexo de Cachoeiras Loquinhas, belas cachoeiras com poços de água cristalina, que no caminho das pedras forma locas com cores e formatos muito bonitos de se ver e uma delícia para se banhar e curtir a paisagem.

Desviando de animais no Tocantins

Décimo terceiro dia. Saímos logo após o café de Alto Paraíso de Goiás e seguimos rumo a Palmas (TO), rodando aproximadamente 630 km com gafanhotos gigantes esvoaçando de um lado para o outro – nem sempre era possível desviar deles. Nesse percurso, para fazer jus à despedida da Chapada dos Veadeiros, um veado atravessou correndo na frente da moto.

Porque no calor do coração do Brasil 500 ml de água é pouco

A paisagem muda mais uma vez e nos deparamos com belíssimas montanhas, estrada simples e com alguns buracos já próximo a Palmas. No dia seguinte iniciamos um tour pelo Jalapão. Diante da possibilidade de encontrarmos estradas com areião ou lama, por ser época de chuvas na região, consideramos o risco de ter problema com ambas as motos, carregadas de bagagem para duas pessoas e garupas, resolvemos, então, deixa-las em Palmas e seguir de 4×4.

Impressionados com o Jalapão

Foram 4 dias lindos com uma grande exuberância da nossa natureza e coisas que nem imaginávamos encontrar. Entre elas estavam os fervedouros, nascentes de água que brotam com muita pressão do chão arenoso em um buraco no qual não conseguimos afundar. Um verdadeiro show da natureza.

 

Buriti, Por Enquanto, Ceiça, Bela Vista, Encontro das Águas, Alecrim foram alguns deles. Visitamos a imponente Cachoeira da Velha e seu impressionante volume de água, a cristalina Cachoeira do Formiga e também a Pedra Furada. O roteiro também incluiu as Dunas do Jalapão e a Gruta Sussuapara.

Experiência de nadar nos fervedouros é incrível. São ‘buracos’ de onde a água brota com tanta pressão que é impossível afundar. Água cristalina, claro

O ponto alto da viagem foi a Lagoa do Japonês, um lugar como nunca vimos antes. Água com mais de 2 metros de profundidade onde era possível enxergar o fundo, temperatura da água muito agradável, uma gruta linda completava o belíssimo visual.

Estando de carro observamos que os acessos no Jalapão, sendo que nesta época do ano, dezembro, não são impossíveis para ir de moto big trail, exige uma boa técnica, esforço físico e equipamentos de segurança. Quero muito voltar lá de moto! Este belíssimo lugar irá ficar gravado na nossa memória e com certeza retornaremos.

Viagem de moto à Chapada Diamantina

De volta para Palmas, matamos as saudades das motos e logo cedo partimos sentido a Chapada Diamantina. Quebramos a viagem em 2 dias, sendo o primeiro de 586 km até Barreiras (BA) e o seguinte de 470 km (com muitas retas) até Lençóis (BA), cidade mais estruturada para quem vai visitar a Chapada. Nos últimos 60 km estávamos no meio de montanhas gigantes quando surgiu o Morro do Pai Inácio com toda a sua beleza. Nos sentimos então definitivamente na Chapada Diamantina.

 

Lá conhecemos lugares lindos como a Gruta da Lapa Doce, fizemos flutuação na Gruta da Pratinha, o Poço do Diabo, Ribeirão do Meio e um belíssimo passeio ao Mini Pantanal (Pantanal Marimbus). É um local único e que falam ser muito parecido com o Pantanal do Mato Grosso (nossa primeira viagem para lá está nos nossos planos).

Rodovia no caminho à Chapada Diamantina

Remamos por 9 km em um lindo espelho d’água e por fim conhecemos a Cachoeira do Rio Rocador. A Chapada Diamantina tem a cor da água normalmente bem escura (apelidaram de cor coca cola). Para conhecer a chapada três dias são pouco, ainda mais se você gostar de caminhar e quiser curtir os diversos passeios por trilhas. Iremos voltar com certeza.

Hora de voltar: roteiro com Bahia e Minas Gerias

No 23° dia da viagem saímos sentido Livramento de Nossa Senhora (BA) para almoçar uma deliciosa comida regional com os amigos Danne, Paula, Lia e Osvaldo. Encontramos asfalto novo e a bela Serra de Rio de Contas, o que deixou nosso dia ainda melhor.

Sem feridos ou prejuízos, a ‘Claire’ teve sua primeira queda no areião

Seguimos até Vitória da Conquista (BA) para pernoitar. Não sabíamos, mas o dia seguinte seria o mais tenso da viagem. Eram muitos, incontáveis, infinitos caminhões na saída da cidade via BR 116. Seguimos por ela até virar a oeste na BR 251 em direção a Montes Claros (MG), onde a viagem contiunou tensa, não pelo asfalto, mas sim pela imprudência de vários motoristas que realizavam ultrapassagens em local proibido sem respeitar quem vinha na outra mão. Podia ser carro, moto, caminhão, eles não ligavam. Foram 731 km para chegar até Curvelo (MG).

Quase 7 mil quilômetros

No último dia de viagem rodamos 731 km. Nos despedimos dos companheiros em Belo Horizonte e seguimos para casa na divertida Fernão Dias. Assim, foram 6.999 km percorridos em 25 dias e 85 horas rodando de moto! Nosso Brasil é lindo e precisamos valorizá-lo cada vez mais. Apreciamos paisagens inimagináveis e estradas excelentes para se rodar de moto. Numa viagem tranquila em um ano tão complicado, renovamos as energias para curtir 2021! Uma viagem que ficará sempre guardada em nossa memória.

Há quem diga que as piores estradas revelam os melhores caminhos