Se você tem mais de R$20 mil para gastar numa moto para fazer tudo, encarar um trail leve, rodar na cidade diariamente e fazer pequenos passeios ou longas viagens por todos os caminhos, deve considerar a Kawasaki Versys-X 300. Irmã menor da família, ela é versátil, bonita e bem resolvida, inclusive por ser equipada com pneus de uso misto Pirelli MT 60 com roda de 19 polegadas na frente, ao contrário de suas irmãs maiores – Versys 650 e Versys 1000 – que vem com pneus para asfalto e rodas de 17 polegadas. Portanto, a própria fábrica a posiciona como uma trail (quase isso) para disputar espaço com Honda XRE 300, Yamaha Lander 250, Royal Enfield Himalayan e BMW G 310 GS, esta última com preço bem próximo.
Já que é assim, decidimos fazer uma pequena viagem (669 km) com a moto para aproveitar os equipamentos adicionais que vem na versão Tourer (cavalete central, protetores de carenagens, manetes e motor, faróis auxiliares, tomada 12 V e baús laterais). Do total percorrido sempre com carga máxima (piloto, garupa e bagagem), cerca de 40% fizemos por off-road, encarando um trail leve em estradinhas que ligam algumas pequenas cidades e vilarejos da Serra da Mantiqueira entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. A ideia original era ter a concorrente mais próxima junto – BMW G 310 GS – para fazer um comparativo, mas não foi possível.
O primeiro destaque positivo para a moto é seu design imponente, característico das motos aventureiras, com a carenagem e o pequeno para brisa integrados ao tanque de combustível (17 litros). O protetor do cárter e do motor se integram com as tampas laterais e também dão a impressão de ser tudo uma coisa só, com ângulos e contrastes de cores que terminam no banco em dois níveis com o bom bagageiro ornando a traseira da moto. Outro reforço para o estilo são as rodas raiadas, característica de motos feitas para enfrentar maus caminhos.
Trail, pero no mucho
Não dá para cravar seco que a Versys-X 300 é uma trail pura, porque ainda falta a roda de aro 21 polegadas na frente e os mais puristas defendem que as trail de verdade devem ser equipadas com motores de um cilindro e que entregam mais força em rotações menores, o que definitivamente não é o caso do motor de dois cilindros, 296 cm³ de capacidade, arrefecimento a líquido e comando duplo no cabeçote, o mesmo que equipa a Ninja 300. Mas ele não decepciona, apesar de exigir giro alto para entregar seus 40 cv e os 2,6 kgf.m de torque, o que é ruim para controlar a tração da roda traseira, que escorrega mais facilmente no off-road. Imagine olhar para o conta giros e ver a faixa vermelha começar em 12.000 rpm e descobrir que o motor corta o giro apenas a 13.500 rpm.
Contudo, para uma moto com caráter aventureiro, nas estradas ela vai muito bem com sua caixa de marchas com seis velocidades e embreagem assistida e deslizante, que evita travar a roda em reduções de marcha. E aqui mais um ponto a ser destacado, pois apesar de motor e câmbio iguais aos da Ninja 300, a relação secundária é encurtada com uma coroa maior (46 dentes; na ninjinha é 42 dentes, mas as duas tem o pinhão de 14 dentes), deixando a moto mais esperta, com o giro do motor subindo mais rápido e o torque disponível antes também. No off-road isso se traduz em menos trocas de marcha, mas o ruído compassado e forte do “twin” não combina muito com as trilhas e estradinhas. No entanto, dificilmente a moto dá aqueles soluços em retomadas de velocidade com uma marcha muito alta. E nesse caso, o indicador de marcha engatada no painel ajuda bastante para você encaixar a marcha certa para cada situação.
E já que falamos do painel, este merece menção muito positiva. Completíssimo e de fácil leitura mesmo quando a luz do sol incide diretamente, ele tem velocímetro digital, conta-giros, indicador de marcha engatada, consumo médio, relógio, indicador de temperatura (do liquido de arrefecimento e do ambiente), indicador ECO (economia de combustível), marcador do nível de combustível no tanque e de autonomia. Outro elogio cabe à ergonomia da moto, com posição de pilotagem natural para piloto e garupa, mas os dois assentos são muito duros. Contudo, a Kawasaki se preocupou com os pilotos de menor estatura e estreitou o banco na parte da frente, para o piloto poder plantar firmemente os dois pés no chão.
Com um chassi do tipo backbone, que tem o motor como parte de sua estrutura, e um conjunto bem ajustado nas suspensões, a Versys-X 300 é firme e segura na condução. As suspensões são Kayaba e trazem na dianteira garfo telescópico com tubos de 41 mm de diâmetro e 130 mm de curso, enquanto na traseira há o sistema Uni-Trak – com amortecedor único, link, ajuste de pré-carga da mola e 148 mm de curso. Os freios seguem o padrão para a classe de moto no segmento, com disco simples nas duas rodas – 290 mm na dianteira e 220 mm na traseira – com ABS não comutável (não desliga). Com preço de R$22.460,00 (FIPE, março/2019) na versão ABS, a Kawasaki Versys-X 300 é uma receita versátil e que agrada pelo seu porte não tão grande, mas com comportamento e consumo de moto maior. No nosso roteiro de 669 km com garupa e carga, por estradas simples, rodovias e caminhos off-road, gastamos 28,69 litros de gasolina, uma média de 23,31 km/litro.