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Esta história foi contada pelo Mário Sérgio Figueiredo há algum tempo aqui no Motonline. Motociclista com mais de 40 anos de estrada, ele relembrou episódios vividos com sua primeira moto, uma Yamaha RD 50.

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Yamaha RD 50 foi a primeira moto produzida no Brasil, em 1974

Aliás, ela também foi a primogênita de todos brasileiros como nação, uma vez que foi o primeiro modelo fabricado por aqui. Rápida, leve e barulhenta, a pequena dois tempos entrou em produção em 1974, dois anos antes da Honda lançar a CG 125.

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Yamaha RD 50: lembranças de arrepiar

Lembro como se fosse hoje, mas o fato que vou relatar aconteceu em um final de novembro, no ano de 1974, quando pude sentir pela primeira vez a maravilhosa sensação de ir até uma concessionária para retirar a minha primeira motocicleta, uma Yamaha RD 50 nacional, no ano do seu lançamento. Com um bravo motorzinho 2 tempos ela era muito “boa de briga”, principalmente quando abastecida com gasolina de aviação e dava fácil quase 120 km/h no plano. Nem a Honda CB-125 (importada) andava tudo isso na época.

A emoção

Tente imaginar o turbilhão de pensamentos que se passa na cabeça de um jovem de 17 anos podendo comprar sua primeira motocicleta. Pois é, assim que estava a minha e meu coração parecia que ia saltar do peito de tanta euforia.

Faminto por rodar com a moto nova, Mário fez mais de 500km em apenas dois dias… andando apenas no próprio bairro

Meu aniversário é no início de dezembro, mas só poderia tirar a carteira em janeiro, quando o Detran reabriria os testes para obtenção da CNH. Que espera torturante! Só para vocês terem uma ideia da minha “fome” de moto, tirei-a da concessionária numa sexta-feira depois do trabalho, tipo 18h30, e na segunda-feira levei-a de volta à concessionária para a revisão dos 500 km. E na outra segunda retornei para a revisão dos 1500 km. Tudo isso apenas no meu bairro, pois sem carteira não dava para me aventurar muito longe.

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Como disse antes, minha carteira demoraria ainda quase dois meses e assim surgiu o primeiro drama: como levá-la para casa se a loja de motos ficava no centro de Curitiba, que fervilhava de guardas de trânsito? A solução foi empurrar a moto por quatro quadras onde a fiscalização era menos intensa e o risco de ser abordado, menor.

Como previsto, em janeiro de 1975, depois da torturante espera, recebi a minha CNH e já no primeiro sábado programei com meu primo Carlos, que tinha uma moto igual, para irmos até a Estrada da Graciosa.

O debut – a primeira queda

E foi assim que debutei na estrada, no peito, na empolgação e na coragem. Marinheiro de primeira viagem, pouca experiência, na terceira ou quarta curva depois do primeiro mirante há uma curva de duas tangências, ou seja, que fecha e termina de fechar. Pista molhada, falta de experiência, não deu outra: CHÃO.

A Estrada da Graciosa assitiu a primeira queda de moto, e ensinou uma lição importante

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Caí na curva enquanto um caminhão subia a serra. Fui deslizando com a moto à minha frente e bati com o fundo do motor no pneu de tração do caminhão, na pista contrária, quando fui arremessado de volta à minha pista. Para minha sorte por ser uma subida de serra, bem íngreme, o caminhão não estava a mais de 10 km/h.

Meu anjo da guarda estava de plantão naquele dia, pois se eu chego um décimo de segundo antes, tinha sido esmagado pelas rodas do pesado veículo e hoje faria parte do piso centenário da Graciosa.

Levantei-me de calça rasgada, joelho, nádega e cotovelo esfolados e doendo muito, mas em nada disso eu prestei atenção na hora. A preocupação foi só com a moto: espelho e manete de freio quebrados, estribo e guidão tortos, borracha do estribo rasgada, ambos os piscas do lado direito com as lentes quebradas. Que tragédia! Os ferimentos a natureza consertava, mas a moto ia custar uma grana que eu não tinha, pois usava quase todo o meu salário para pagar as prestações.

E como continuar a viagem sem a manete do freio? Demos um jeito. Ainda havia sobrado um toco do manete que possibilitava aplicar alguma força no freio dianteiro. Desentortei o estribo e continuamos a viagem até o nosso litoral para depois retornar a Curitiba. Quanto ao trauma de ver a morte tão de perto, até hoje tenho pesadelos com aquele incidente e durante algum tempo andei com o “fiofó” na posição “locked”.

Lição com a RD 50

Mas como tudo na vida, esse episódio também teve o seu lado positivo, pois com a lição duramente aprendida passei a maneirar na forma de pilotar e talvez esteja vivo até hoje por causa disso, diferente dos muitos amigos que perdi em acidentes de moto. A chegada da RD 350 foi devastadora com amigos que poderiam estar vivos até hoje se tivessem tido a “sorte” de passar por uma experiência parecida quando ainda andavam em motos de pequenas cilindrada.