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As ruas e avenidas das grandes cidades brasileiras têm se tornado mais um obstáculo ao transporte do que vias para facilitar viagens, diriam motoristas da atualidade. Baixa velocidade em momentos de trânsito congestionado, radar escondido atrás da ponte quando a via está livre e revólver atrás da flanelinha quando paramos ainda no semáforo amarelo soam como verdadeiras barreiras, na opinião de muitos. Quando nos dão uma ponteira para assoprar e lembramos que o bombom de alguns minutos atrás era delicioso justamente porque tinha um pouco de licor, trocamos rapidamente a sensação de surpresa por indignação. E se comparamos sua penalidade com a da infração de digitar no celular, fica esta segunda parecida com a divertida prisão de quermesse, porque a assimetria da punição é clara.

Todas estas sensações e opiniões precisam ser interpretadas e analisadas em profundidade, por parte dos gestores de trânsito e legisladores. Enquanto não se molda um novo CBT (Código Brasileiro de Trânsito), sob a luz dos conceitos atuais, da vanguarda tecnológica e da adequação possível que faça do motorista um parceiro, gestores de tráfego buscam implementar novas políticas educacionais de trânsito e utilizar equipamentos que visem efetivamente reduzir os acidentes fatais, de forma integrada. Não bastam etilômetros para acabar com o acidente de motorista bêbado, caso se insista que o comum copo de cerveja na mesa brasileira seja o vilão a ser combatido. Não basta instalar radares, se estes tiverem má reputação, a de que servem para coletar imposto.

Neste caso, para reduzir a velocidade ou coibir seu excesso, há a lombada eletrônica, uma solução eficaz e com maior aceitação. Corpo visível à distância, visor onde se lê a velocidade, luz piscante de alerta, informe sonoro de que se está cruzando em velocidade excessiva, mas ainda aceitável, fazem da lombada eletrônica um equipamento distinto de radares a até de agentes de trânsito, quanto à opinião pública. Para aqueles que não entendem ou não querem entender porque é preciso respeitar a velocidade máxima, este é local para reduzir e pronto. Para outros, sua presença indica local de maior risco de acidentes ou atropelamentos, requerendo redução da velocidade de forma eficaz. Esta tem sido usada com sucesso, por exemplo, na frente de escolas e locais de grande afluxo de pedestres.

Por que usar este equipamento em vias urbanas? As viagens urbanas são curtas e há mais obstáculo à passagem do veículo do que em uma rodovia. O motorista deve estar pronto para perceber e reagir mais rapidamente perante aos obstáculos urbanos. Pedestres ou ciclistas são os corpos mais frágeis da cadeia dos que se deslocam, sua chance de sobrevida é menor à medida que a velocidade veicular de impacto aumente. Incluem-se ainda motocicletas entre faixas, equívoco gerado pelo veto do artigo 56 do CBT, a causar verdadeira epidemia urbana de mortos e inválidos.

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De qualquer forma, a opinião pública sobre a lombada eletrônica até a proibida lombada física mudou. Afinal, era mais comum se ouvir que aquilo na via pública era um quebra-molas, porque não se aceitava a necessidade de redução da velocidade para tornar o trânsito mais humano e seguro.

*Creso de Franco Peixoto é engenheiro civil, mestre em Transportes e professor do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI ( Fundação Educacional Inaciana