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Texto: M. Barthô – Ilustração: Ricardo Sá

A partir daí começaram as demissões e a quebradeira de indústrias e países bem mais afetados. Por aqui, a onda de demissões avançou pelasmontadorasde automóveis, outros setores industriais e o financiamento para a compra da moto zero, antes fácil até demais, evaporou.

Após uma breve recuperação no início do ano, alimentada por alguns incentivos do Governo Federal e dos fabricantes de duas rodas, em maio os bancos e financeiras voltaram a dificultar a aprovação de crédito para motoqueiros e motociclistas.

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Por quê? “O que está acontecendo são apenas algumas intervenções esporádicas para incentivar o mercado de duas rodas, como o recém-lançado Fundo Garantidor de Crédito, criado pelo Governo Federal”, analisa Sérgio Reze, presidente da Federação Nacional de Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave).

No site da instituição é possível verificar que realmente houve uma queda nas vendas emplacamentos de motos zero-km em maio (confira em www.fenabrave.org.br). O Editorial doMOTONLINE, inclusive, informa e analisa essa queda, adicionando dados recentes da Abraciclo (Associação Brasileira de Fabricantes de Bicicletas, Motonetas, Motocicletas e Similares – www.abraciclo.org.br ).

As vendas de veículos no varejo (automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, motos e implementos rodoviários) retraíram 8,05%, comparando-se o primeiro quadrimestre de 2009 com o do ano anterior. Cairam de 1.551.772 para 1.426.863 unidades.

De março para abril, o desempenho também foi negativo. Foram emplacadas 368.780 unidades em abril, contra 418.435 unidades em março, numa queda de 11,87%, informa Sérgio Reze, da Fenabrave, num artigo publicado na edição passada da revista Dealer.

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“Os resultados podem ser considerados positivos se comparados aos últimos meses de 2008 e início de 2009. Não podemos ter como parâmetro o mês de março/2009, que já foi analisado como um mês atípico, com consumo aumentado de automóveis em função do temor da não renovação dos incentivos do IPI pelo governo e pelas constantes promoções”, avalia o executivo.

Análise da FENABRAVE O ano de 2009 poderá ser encerrado com crescimento médio de 3% para o setor de veículos em geral. No entanto, se o cenário for desfavorável e, portanto, a economia não se recuperar como o governo espera, o setor pode decrescer iguais 3%, conforme previsões da entidade.

“Imaginamos dois cenários possíveis, mas consideramos, também, uma média que igualaria os resultados de 2009 aos obtidos em 2008, o que já será positivo”, conclui Reze na revista Dealer.

Duas rodas Após um discreto sopro positivo na época do Natal, o segmento de motocicletas voltou a sentir o baque da crise. Registrou uma queda de 18,55% no acumulado de janeiro a abril de 2009, contra igual período de 2008, passando de 609.736 unidades vendidas para 496.618.

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De março para abril, as vendas do setor duas rodas caíram de 139.230 unidades para 126.592 unidades. “Não falta crédito ao segmento, mas há dificuldade cadastral do comprador de motocicleta”, disse o presidente da Fenabrave. Em outras palavras: dinheiro não falta; o problema é a cara do freguês.

O governo até que deu um incentivo, mas muito direcionado. Liberou um crédito de R$ 100 milhões para financiar apenas as motos usadas pelos motoboys.

A linha de crédito de R$ 100 milhões, aprovada pelo Codefat (Conselho de Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador), no final do mês passado (quarta-feira, 27/05), para negócios com motocicletas com até 150 cilindradas, somente poderá ser utilizada por pessoas físicas autorizadas, trabalhadores autônomos inscritos no INSS ou vinculados à Classificação Brasileira de Ocupações sob o código `5191-10 – Motociclistas no Transporte de Pequenos Valores’, de acordo o Governo Federal.

Denominada de FAT-Motofrete, essa linha destina recursos para financiar a aquisição de motonetas e motocicletas para o transporte de mercadorias ou documentos. Com isso, deverá atender basicamente aos motoboys e empresas que contam com as motocicletas em seu tráfego operacional.

Nesse caso, o crédito está liberado para financiamento de até 100% de motonetas ou motocicletas novas, de até 150 cilindradas, com itens de segurança regulamentados pelo Contran (www.contran.org.br) e incluindo o seguro inicial do bem, Os prazos de pagamento variam de 24 a 48 meses, com taxa de juros de 6% a 18%. O financiamento terá três taxas de juros, de acordo com o prazo:

· Plano de 24 meses: taxa efetiva final de 6% ao ano + TJLP (12,36% ao ano). · Plano de 36 meses: taxa de 12% ao ano + TJLP (19% ao ano). · Plano de 48 meses: taxa de 18% ao ano + TJLP (25,38% ao ano).

“Todas essas são taxas máximas. Isso significa que ainda tentaremos junto aos agentes operadores, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, uma diminuição do valor. Essa linha é voltada para o trabalhador formal, autônomo e terceirizado”, informa Carlos Lupi, ministro do Trabalho. Os donos do dinheiro se defendem. Para Adalberto Savioli, presidente da Acrefi ( www.acrefi.org.br ), Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento, a insolvência dos mercados americanos e europeus trouxe ao País um volume de saque considerável devido à insegurança de investidores, o que acabou resultando num problema de liquidez.

“O que não podemos desconsiderar são os reflexos disso. Esta situação motivou as instituições financeiras a retraírem a oferta de crédito e se posicionarem em carteira com menores prazos e maior liquidez, travando a economia”.

As medidas fizeram com que uma parte do mercado de motoqueiros e motociclistas, que antes conseguia tomar crédito, fosse recusada. Na ocasião, instituições menores abandonaram alguns nichos do mercado, principalmente de motos e veículos usados, prejudicando ainda mais o setor de duas rodas. Segundo estimativas, o aumento da recusa de financiamentos foi da ordem de 25%.

O Governo então implementou algumas medidas para reaquecer a economia, entre elas compra de crédito via recursos do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), melhorando a liquidez do sistema; a redução da alíquota do Imposto sobre Propriedade Industrial (IPI), e garantia de depósitos até R$ 20 milhões. “Isto fez com que os investidores voltassem a aplicar recursos em instituições menores, reativando o mercado”, afirma Savioli.

Para ele, o principal desafio neste momento é restabelecer o nível de confiança no consumidor, reduzir os níveis de inadimplência e continuar a estimular o crédito para que a economia não desaqueça ainda mais.

“O pior da crise aqui no Brasil já passou, graças aos dispositivos de nossa economia, sejam os compulsórios, que serviram para conter a oferta num momento de inflação e agora ajudaram a irrigar o mercado, sejam as reservas cambiais ou o Fundo Garantidor de Créditos, que possibilitou a injeção de recursos na compra de carteiras”, afirma o presidente da Acrefi.

Motos, mais afetadas Mas segundo a Fenabrave, apesar de o governo ter anunciado algumas medidas para sustentar a atividade econômica e consolidar vendas no setor automobilístico, o segmento de duas roda continua estrangulado. O setor de motocicletas, que mais vinha crescendo, tirou a mão do acelerador.

De 2006 para 2007, o segmento registrou alta de 32,68%. Em 2008, as vendas do segmento cresceram 12,69%. No entanto, com as dificuldades de acesso ao crédito, as mesmas vendas despencaram. Em setembro, o emplacamento de motocicletas totalizou 184.375 unidades.

Este número reduziu para 150.119 unidades em outubro, numa queda de 18,58% de um mês para o outro. Em novembro, as vendas do setor diminuíram ainda mais para 124.177 unidades, num decréscimo de 17,28%. Em fevereiro de 2009, o volume caiu para 106.742 unidades.

Comparando os três primeiros meses deste ano com os de 2008, a retração foi de 15,11%. O nível de exposição no segmento de duas rodas ao risco de crédito é maior comparado aos veículos pesados e leves. Com o agravamento da crise, a inadimplência veio a reboque, afetada pela diminuição de renda e pelo alto índice de desemprego.

No segmento de motos, a inadimplência é pelo menos 35% maior se comparada ao setor de carros novos. “A parcela de uma moto está em torno de R$ 100 e 250,00, o que representa aproximadamente 25% da renda do consumidor deste tipo de produto. As classes C e D foram as mais afetadas pela queda na renda e pelo nível de desemprego e, por isso, entre as motos populares e médias,a inadimplência é maior”, afirma Savioli.

O perfil dos clientes de motocicletas causa dificuldade para o setor. Segundo o presidente da Acrefi, os compradores de motocicletas de baixa cilindrada, que representam cerca de 85% do mercado, pertencem à classe de menor renda e menor poupança.

“Os motociclistas utilizam a moto para trabalho e, na crise econômica, é a classe que mais sofre com o desemprego e redução de renda, principalmente os autônomos”, analisa. Por outro lado, os bancos passaram a exigir um valor de entrada nos financiamentos, o que acabou reduzindo ainda mais o nível de aprovação do crédito.

Há ainda a desvalorização do bem. “A desvalorização da moto usada cresceu significativamente e a oferta de crédito para essa linha praticamente secou. Com isso, ficou mais difícil comprar a nova”, comenta a executivo.

Com a crise, os bancos pequenos e médios, que mais ofereciam crédito para o setor, também deixaram de financiar motocicletas. Antes da crise, 100% do valor da moto podia ser financiada com uma taxa de 1,9% em 60 vezes. Atualmente, a taxa está acima dos 2,3% com financiamento máximo de 90% do valor num plano de 48 vezes.

Dia 30 de março, o governo agiu novamente. Reduziu de 3% para zero a alíquota da COFINS com o objetivo de reduzir o preço das motos.