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São Paulo tem muita moto! Quantas vezes você já ouviu esta afirmação? Mas será que tem mesmo? A maior cidade da América Latina tem 12,9 habitantes para cada moto que circula pelas suas congestionadas ruas e avenidas. No extremo norte do Brasil, em Boa Vista, capital de Roraima, há 4,9 habitantes para cada moto que por lá circula. Então, com base neste índice, onde tem mais moto?

Frota brasileira de motocicletas é de 21,5 milhões e a população supera pouco a casa dos 201 milhões; se o Brasil tivesse o mesmo índice da Itália, por exemplo, você consegue imaginar o cenário?

Frota brasileira de motocicletas é de 21,5 milhões e a população supera pouco a casa dos 201 milhões; se o Brasil tivesse o mesmo índice da Itália, por exemplo, você consegue imaginar o cenário?

Não é assim tão raro escutar aqui e acolá uma afirmação desse tipo sobre a capital paulista ou sobre qualquer outra cidade brasileira. Invariavelmente estas afirmações são baseadas na simples e pura observação da realidade que cerca cada um, mas completamente desprovida de bases sólidas como dados e números reais. É por essa epidemia de “achismos” que grassa neste nosso mercado de motocicletas brasileiro que muita conclusão errada pode estar sendo tomada neste exato momento. Faltam números e informações minimamente confiáveis para muita coisa no Brasil. Mas sobre o mercado de motocicletas já há uma boa quantidade de dados disponíveis para pesquisa e que permitem relacioná-los para trazer algo útil ao mercado.

Motonline buscou alguns dados básicos e reais e procura mostrar aqui algumas informações interessantes sobre a frota de motocicletas brasileira, mas também deseja estimular com isso a discussão e o debate sadio no nosso mercado que busca crescer de forma sólida e sustentável. Os números que trazemos aqui são de livre acesso nos portais do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os dados internacionais sobre a quantidade de motos que circulam em outros países foram obtidos nos portais do Banco Mundial e da OMS – Organização Mundial da Saúde.

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Região Centro-Oeste pode ser considerada a "Europa" brasileira, ao menos quanto ao volume de motos circulando

Região Centro-Oeste pode ser considerada a “Europa” brasileira, ao menos quanto ao volume de motos circulando

Aqui cabe uma curiosidade nesta busca de informações. Os dados encontrados na OMS sobre o número de motocicletas em alguns países lá estão porque a instituição entende que deve associar a motocicleta com acidentes, tratando o tema como um assunto de saúde e não de transporte. Já o Banco Mundial possui os mesmo dados sobre isso, mas a associação que faz é do uso da motocicleta com índices de pobreza e desenvolvimento dos países, algo como “quanto mais moto, mais pobre e subdesenvolvido o país é”. Não sabemos o autor da frase, mas vale trazê-la para enriquecer a discussão: “País desenvolvido não é onde o pobre tem carro, mas onde o rico utiliza o transporte público!”

Feita esta observação, cabe ainda perceber que o fato de encontrar estes números em portais de organismos internacionais que aparentemente pouco tem a ver com o assunto “motocicletas” também é curioso. Desconhecemos a razão para isso, mas ao menos agora é possível entender de onde vem a miopia generalizada das autoridades que cuidam do trânsito no Brasil. Se a OMS e o Banco Mundial olham a moto e enxergam um problema de saúde pública e um indicador de pobreza, porque nossos “experts” pensariam diferente?

Brasília, Amazonas, Bahia, Alagoas e Rio de Janeiro ajudam a "piorar" o índice brasileiro

Brasília, Amazonas, Bahia, Alagoas e Rio de Janeiro ajudam a “piorar” o índice brasileiro

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Para responder questões relacionadas com as indagações feitas no início desta reportagem, Motonline debruçou-se sobre estes números reais para saber quantas motos circulam por todas as cidades brasileiras e relacionou este número com a população destas mesmas cidades. Este índice – habitantes/motocicleta – é percebido internacionalmente como indicador da aceitação das motocicletas em diferentes mercados. Com este parâmetro de… digamos… “densidade motociclística”, se pode entender, por exemplo, que tipo de investimento em mobiliário urbano ou obras é necessário ou prioritário. Ou ainda, se vale a pena introduzir naquela cidade um curso permanente e obrigatório de pilotagem defensiva para reciclagem dos motociclistas.

O Brasil ainda tem muito espaço para vender motocicleta

O Brasil ainda tem muito espaço para vender motocicleta

O objetivo de saber este índice pode ser também para investimento privado. Imagine um dono de oficina, um mecânico de motocicletas, um comerciante de moto peças ou de motos novas e usadas que está pensando em abrir ou expandir seus negócios. Para todos estes é vital saber onde há mais motos circulando e qual o comportamento da população com relação às motos. É importante saber também as razões para este índice ser maior ou menor e isso também pode ser determinante para decisões futuras, seja no âmbito público ou privado. Afinal, lá tem muita moto porque o transporte público é ruim, porque a população tem menor renda, porque chove pouco, porque a prefeitura não aplica multas, porque há estímulo para compra e uso…..

Um bom exemplo sobre este tipo de decisão vem da Ásia. Em Taiwan, onde está a fábrica da SYM, parceira da Dafra, o governo local entendeu que deveria estimular o uso de pequenas motos e scooters nas cidades para diminuir o investimento em transporte público, sempre caro e, naquele país, estatal. Claro que isso foi acompanhado de uma porção de outras medidas de educação, regulamentação e fiscalização. O resultado dessa decisão tomada lá atrás é que na maioria das cidades de Taiwan quase não há necessidade de transporte público coletivo, apenas nas cidades maiores, pois praticamente toda a população sabe andar de moto, conhece as regras e tem em casa um pequeno scooter ou outra moto.

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Índice nas capitais seguem o padrão dos estados; em quantidade, maior parcela das motos não está nas capitais

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Como se percebe, a questão é como se olha para a motocicleta: solução ou problema? É evidente que as opiniões são divididas. Há “especialistas” que tentam provar que a moto é o problema. Outros ainda dirão que ela é parte do problema. Alguns poderão até concluir que a moto pode ser parte da solução. E outros, como nós, cremos que a moto é a solução! Ou não? O que você acha?