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Acabou o “Maio Amarelo” finalmente. O tema Motos no Trânsito foi dominante e eu já não aguentava mais apanhar, de ser tratado e visto como um cidadão marginal no trânsito da minha cidade, de ser praticamente um intruso com minha moto no trânsito ao ousar ter mais mobilidade que os outros “modais” (desculpe usar o termo mais moderno) que frequentam as ruas de São Paulo. Que fique claro desde já que o termo “marginal” aqui usado é no sentido de expressar aquilo que está à margem de alguma coisa e não no sentido mais comum e policialesco, de ser bandido, de estar fora-da-lei.

Você tem esse (mal) costume? Está no hora de mudar!

Você tem esse (mal) costume? Está no hora de mudar!

Começou ainda antes do maio amarelo acontecer, com a decisão da Prefeitura de São Paulo de ampliar a proibição de circulação de motos no trânsito de algumas avenidas importantes da capital paulista (Marginal Pinheiros, olha ele aí de novo), e se seguiu ao longo dos últimos 30 dias com ações e declarações de especialistas que nunca sequer sentaram o traseiro (para não usar uma palavra feia) numa moto falando sobre soluções para as motos no trânsito, limites, regulamentações e regras para esses “motoqueiros” (assim mesmo, pejorativamente) pararem de se acidentar e até morrerem nas nossas ruas e avenidas.

Celular

Celular

Motoristas no celular, a verdadeira epidemia do trânsito

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Tráfego

Tráfego

Trânsito livre, ocupe a faixa do carro

Corredor

Corredor

Distância e velocidade seguras são fundamentais

Moto-escola

Moto-escola

Formação errada, insuficiente e responsável pela atual situação

Calçada

Calçada

Trafegar pela calçada: levar vantagem

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A generalização deu o tom deste Maio Amarelo e ela veio de todos os lados tal a intensidade do movimento. Motos no trânsito e seus condutores viraram palavrões e foram escolhidos para serem os vilões responsáveis por todos os acidentes e mortes que acontecem. Todas as outras mazelas – asfalto ruim, buracos, faixas de rolamento estreitas, ciclofaixas em locais inadequados, sinalização de solo precária, péssima formação de motoristas e motociclistas, entre outras – ficaram esquecidas. E aí percebe-se algo bem antigo, quase um dito popular (talvez tenho sido uma lei em algum lugar?!?!) que diz mais ou menos assim:

Os bons pagam pelos maus. Portanto…

se você é dos que andam por aí cometendo infrações de trânsito com sua moto, com escapamento barulhento, pilotando de forma agressiva, invadindo a calçada, furando o semáforo, forçando passagem e andando muito rápido pelo corredor, é você que contamina a imagem de todos os outros motociclistas e…

…nós pagamos pelos seus erros também!

Ou seja, dada a incapacidade do poder público de orientar, fiscalizar e punir os que devem ser punidos, adota-se o caminho mais fácil da generalização em prejuízo de todos indiscriminadamente, inclusive aos que nada fazem de errado. Devo lembrar que para muitos motoristas e pedestres é esta a impressão mesmo, a de que todos os motociclistas são infratores contumazes, que não respeitam a velocidade, abusam dos limites e andam à margem da lei, simplesmente porque são eles que aparecem. Mas isso é apenas uma impressão, porque os bons, aqueles que não fazem bobagens no trânsito não aparecem e não são notados por isso, porque andam corretamente, dentro das regras e do convívio harmonioso com os outros modais (olha ele aí de novo!).

O radar móvel para multar, a proibição de motos na Marginal Pinheiros e corredores cada vez mais estreitos; a moto na alça de mira

O radar móvel para multar, a proibição de motos na Marginal Pinheiros e corredores cada vez mais estreitos; a moto na alça de mira

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Contaminado por esse clima de “precisamos fazer alguma coisa” trazido pelo Maio Amarelo, diga-se, justificado pela necessidade de acabar ou diminuir as mortes causadas por acidentes de trânsito, decidi contribuir não para mudar tudo que está aí, mas ao menos para me defender, já que estou com a maioria – os bons, os que respeitam, os que seguem as regras. Então me armei com os instrumentos que tenho à disposição (moto, câmeras fotográficas e de vídeo mais um bloquinho e caneta para anotações) e saí às ruas de São Paulo para observar e registrar flagrantes do trânsito urbano e rodoviário desta enorme cidade, mesmo sem saber exatamente o que procurar.

Observei vários comportamentos de motociclistas e motoristas (entre outros atores que também participam desse teatro) que ajudam a aumentar as estatísticas de acidentes e mortes e explicam um pouco (ou muito ?!?!?!) os ainda assustadores números no nosso trânsito. Apesar de minhas observações ficarem restritas a São Paulo e como muito do que se faz por aqui costuma ser copiado, elas certamente se aplicam à outras grandes cidades brasileiras. É bom destacar que meu testemunho não tem caráter científico ou de pesquisa. Eu apenas observei comportamentos e manobras que são bem comuns no trânsito e algumas se repetem com maior frequência a ponto de darem a impressão de que são normais, mas na verdade não são.

Falar ao celular (na moto em movimento), aguardar o semáforo abrir sobre a faixa de pedestres e trafegar na calçada; três infrações muito comuns

Falar ao celular (na moto em movimento), aguardar o semáforo abrir sobre a faixa de pedestres e trafegar na calçada; três infrações muito comuns

São tão comuns que até nós mesmos algumas vezes também cometemos essas pequenas infrações, o que também não é justificável. Aproveitei também para conversar com alguns infratores (quando foi possível) e as justificativas vão de um simples “não há policial (ou radar) ali”, passam por um “estou com muita pressa” ou “não atrapalha ninguém”, e desaguam no abominável jeitinho brasileiro de “levar vantagem” para não ter que dar uma volta na quadra para retornar ou esperar o semáforo abrir e chegar um minuto depois. Não importa a gravidade nem o tamanho do risco: é errado, pode causar acidentes, pode prejudicar o trânsito e pode até causar mortes. Confira a seguir os erros mais comuns observados e que são cometidos por motoristas e motociclistas:

Motos no trânsito: isso não é legal:

  • Usar o telefone celular enquanto pilota (dirige)
  • Não sinalizar a mudança de faixa
  • Trafegar mais rápido do que o limite máximo de velocidade permitido
  • Trafegar entre as faixas mesmo sem congestionamento
  • Aguardar o semáforo abrir sobre a faixa de pedestres
  • Não guardar distância segura do veículo que vai a frente
  • Forçar a passagem no corredor entre os carros
  • Ultrapassar pela direita
  • Furar semáforo vermelho
  • Fazer conversão proibida
  • Não dar passagem ao veículo mais rápido que vem atrás
  • Acelerar forte com o semáforo vermelho a frente
  • Atravessar pela faixa de pedestres empurrando a moto
  • Usar a passarela de pedestres para atravessar a rodovia com a moto
  • Trafegar no corredor em velocidade muito maior que os carros em movimento
  • Fazer “rachas”
  • Trafegar na calçada
  • Trafegar na contramão

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Sidney Levy
Motociclista e jornalista paulistano, une na atividade profissional a paixão pelo mundo das motos e a larga experiência na indústria e na imprensa. Acredita que a moto é a cura para muitos males da sociedade moderna.