Publicidade

Mulher & Moto

Surgem à minha frente na sinuosa estrada serrana uma Harley-Davidson, toda cheia de bagagens e frufrús, e uma Honda 400 Falcon. Em ritmo muito mais forte de viagem, passo por eles, buzinadinha, sinal de pisca pra lá e pra cá, até que umas duas curvas depois, ao acelerar na saída vejo pelo retrovisor a moto menor grudada na minha traseira.

Na aceleração a minha Super Tenerée com mais motor deixa o cara para trás, eu pensando tá de brincadeira, veio tirar racha. Chega a próxima curva e na freada, cráu, me passa, vê se pode. Resolvo não deixar barato, enfio a mão no acelerador, não dá tempo para recuperar e passar no motor antes da outra curva.

O fulano toca muito, chega rápido, freia em cima, toma a curva pelo traçado perfeito. Saio grudado nele, reta pequena, fico ao lado e passo na freada. Depois, numa reta maiorzinha, abro dele no motor. Quando saio da próxima curva, o cara lá de novo, no meu escapamento.

Publicidade

Na retomada, dou gás e vou deixando o abusado para trás. E pinta um posto de gasolina. Dou seta bem antes, um convite para um café, e entro. Tiramos o capacete e o cara é uma garota, me olhando com cara de tá pensando o quê, tio?

E vejo a Harley se aproximando, o marido dela. “Não escapa um”, vai dizendo o cara, emendando que vive de moto-ambulância pelas estradas, vendo a parceira dando canseira em marmanjos com motos maiores.

Ele cerveja e sanduíche, ela com refrigerante, mostrando que além de tocar muito, tem certo juízo. E que está a fim de continuar me azucrinando o resto da viagem. Como eu tenho mais juízo que o jovem casal, saio antes, largo os dois no meio do sanduíche, porque senão ia ser corrida a viagem inteira. E segui, pensando com meus botões que talento para pilotar moto não é prerrogativa de homens.