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Segue a matéria do Cidades: O Diário Oficial do Estado, veículo editado pela Imprensa Oficial, empresa do governo paulista, recomendou a ciclistas não usar bicicleta para se locomover no trânsito da capital. A recomendação faz parte de reportagem que saiu ontem (11/07/2012), intitulada “Mais ciclistas, mais acidentes”…
… A reportagem do Diário Oficial ouviu apenas um especialista – o chefe do Grupo de Trauma Ortopédico do Hospital das Clínicas, Jorge dos Santos Silva… (que) afirmou que não é recomendável que ciclistas pedalem no trânsito de São Paulo…

Primeiro comentário:
Que resposta esperar de um médico, um dos melhores em sua área, que só recebe ciclistas arrebentados?
Segue do Cidades… Sugestões. Outro trecho da reportagem traz recomendações atribuídas à Companhia de Engenharia de Trafego (CET), da Prefeitura de São Paulo, para que o leitor “não seja a próxima vítima”. Uma delas diz que “o tráfego em avenidas, apesar de permitido, é pratica pouco segura para o ciclista”. Essa informação, porém, não consta do site da companhia. Em suas páginas na internet a CET afirma que uma de suas principais diretrizes é estimular o uso da bicicleta.
Comentário:
1 – Vítima de quem? Do trânsito ou da ausência da autoridade legalmente competente que não cumpre seus deveres legais? (Vide CTB)
2 – Pedalar em avenidas de fato não é recomendável, mas muitas vezes inevitável, principalmente para trabalhadores que simplesmente não tem alternativa de transporte e caminho. O problema sempre existiu, principalmente na periferia, muito antes da classe média redescobrir a bicicleta, e sempre foi negado. De novo, houve e segue havendo ausência das autoridades competentes. Não haver qualquer referência sobre o assunto na página oficial da CET fala por si só. Isto não faz da CET a única culpada.
3 – É normal que uma diretriz imposta de cima para baixo, como “estimular o uso da bicicleta ou melhorar a segurança dos pedestres”, encontre resistência dentro de um grupo de profissionais, excelentes em sua área específica, que trabalham numa companhia, CET, que por sua vez foi criada para “dar fluidez” ao trânsito de veículos motorizados. Se Thiago Benicchio, da Ciclocidade, entrevistado na mesma matéria do Estadão, nunca ouviu a CET falando que considera a bicicleta um sério perigo, eu, nestes meus mais de 30 anos de convivência com eles, ouvi muitas vezes e em diversos tons. E, de certa forma, entendo as razões deles; as profissionais e as legais. Eles, sabiamente, usam a lei a seu favor. Dentro da CET há alguns amigos de pedestres e ciclistas; e um bom grupo que, por força de vício, faz tudo pela fluidez.

Como toda imprensa, sem exceção e não só o Diário Oficial, acaba escrevendo sobre as coisas de trânsito como inocentes motoristas, não vejo esta matéria do Diário Oficial com espanto, mas como mais um fato habitual e normal. O grau de erros, distorções e medos explícitos e implícitos sobre a questão da bicicleta e dos pedestres publicados e divulgados até hoje deixa claro que o artigo do Diário Oficial não passa de mais um “pequeno” deslize.

A verdade incontestável é que todo veículo mal conduzido é perigoso, independente de ser uma bicicleta, moto ou automóvel. Dependendo da qualidade da pesquisa ou estatística, da fonte e principalmente de saber entender o que lá está escrito, provavelmente o automóvel não seja tão seguro assim. E não é.

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Em absolutamente todas as partes do mundo “quanto mais ciclistas nas ruas, menor o número de ciclistas acidentados”. Esta é uma verdade cientificamente incontestável.

Bicicleta é um fato. Ponto final. O que falta é tratar o assunto com inteligência. Parece que esta é a dificuldade.
Arturo Condomi Alcorta – [email protected]