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O tempo passa e vamos nos tornando cada vez mais intolerantes.
Não estamos a situar tal colocação num acontecimento de momento, numa espera pra consulta médica ou na fila pra vistoria da motocicleta.
Estamos nos referindo a um tempo mais longo, a dezenas de anos, quando na minha infância e na de muitos de vocês, a gente apertava a campainha das casas e saía correndo, ou numa peraltice maior, subia no muro pra chupar manga e jabuticaba do vizinho.
Cuja represaria maior era um dia encontrar com este vizinho e ouvir dele num tom longe de ser ameaçador um “aaa moleque!”.
Existia um contrato cultural e de costumes que abonava estas peraltices, pois afinal, sejam autores ou vítimas destes crimes “domésticos”, estava tudo em casa e os ora dito vítimas, foram autores deles um dia também.
Mesmo com esta pseudofalta de respeitos ao rigor da lei, os crimes de verdade eram quase inexistentes e os termos marginal, meliante e outros eram utilizados somente por jornalecos sensacionalistas.

O que aconteceu ao longo de todos estes anos?

Certo que as mudanças são inevitáveis, mas mudar pra muito pior neste caso, pra que?
Considere ainda que esta tolerância e bem viver só dependem da gente, não dependem de governos, economia e outros mais.
Vivemos atualmente um mundo de tolerância zero.
Imaginem se os moleques de hoje protagonizassem tais peraltices, provavelmente passariam a ser coadjuvantes de uma cena de violência com alto risco de graves ferimentos ou até pior.

O que aconteceu com a gente?

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Essa simplória colocação de acontecimentos do dia-a-dia exemplifica um grave problema em todo o nosso âmbito de vida com relação à alta intolerância das pessoas hoje em dia.
Parece que vivemos numa eterna competição e que o “abrir mão” pra o quer que seja é intolerável, seja no trânsito, numa fila de banco, numa vaga de estacionamento e daí pra fora.
Por quantas situações não passamos de termos a impressão que dado o potencial de explosão social seria necessário somente uma fagulha pra fazer a ignição, necessário somente aquela mágica provocação, do tipo “vai encarar?”. Pronto o barraco estará armado.

Estudos associam o nível de tolerância das sociedades ao nível de intraconfiança desta sociedade, ou seja, do estado de confiança existente entre os seus membros.
Imaginemos o olhar o outro como se fosse a nós mesmos, quase como se tivéssemos olhando a nós mesmos num espelho.
Se o outro é um nós mesmos invertido, devemos dele nos aproximar pelos laços da confiança e da amizade, que tem um valor imensurável, como citado por Horkheimer, num cenário pós-queda do muro de Berlim, que “os estudantes fugidos do Leste, nos primeiros meses depois de sua chegada à Alemanha Ocidental são felizes porque há mais liberdade, mas logo se tornam melancólicos porque não há amizade alguma”. Pois é, não basta a liberdade.

Uma sociedade sem espaço para a amizade e para a fraternidade não merece ser considerada como uma sociedade que almejamos.
Não pode haver amizade onde há desconfiança, e esta por sua vez, alimenta a nossa intolerância.
Experimente olhar para o outro como se estivesse vendo a si mesmo, e reflita sobre a conquista da nossa confiança e amizade para com as pessoas, pra podermos construir uma sociedade mais tolerante.

Experimente.

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