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Foto: Mastrm¡dia

Foto: Mastrm¡dia

Uma vez me perguntaram qual a maior velocidade que eu j  tinha atingido; foi em 1997 e nÆo passei de meros 273,7 km/h com uma Honda CBR 900RR, na pista circular de 4 km da Goodyear. Mas j  achei um soco no est“mago. Agora recebo a not¡cia sobre o recorde de meu amigo, Alejandro Sanchez, que ultrapassou 110,81 km/h o meu “recorde” e precisou apenas 6,3 segundos! Ele chegou a 384,51 km/h em 6,51 segundos e nÆo perdeu nenhum neur“nio!

Desde a minha adolescˆncia eu torcia o nariz para as provas de arrancada e dragsters. Como eu j  corria de kart, achava que piloto de arrancada s¢ sabia andar em linha reta e que isso nÆo exigia habilidade. Esse preconceito durou quase 30 anos, at‚ eu ser convidado para editar uma revista de performance de carro e conhecer os dragsters de perto. Foi o pr¢prio Alejandro e me chamou, em Curitiba, e falou “Senta a¡ pra ver como ‚”. NÆo precisou nem dois segundos para querer sair dali correndo. A cabine de um dragster ‚ apertada, cheia de botäes, o volante parece um registro de caixa d gua e o motor de alguns milhares de cavalos fica logo ali, chacoalhando na minha nuca! O cabra acelera at‚ aquele motor vibrar como uma centrifugadora e o piloto precisa coordenar cada movimento, porque a alavanca que libera a arrancada fica no meio das pernas, bem ali, perto das bolas. A for‡a de acelera‡Æo G faz o caf‚ da manhÆ querer visitar o interior do capacete e o carro sai, em uma acelera‡Æo inimagin vel para n¢s, humanos. Declinei do convite para um teste e sa¡ correndo porque j  estava enjoado com o carro parado!

Foto: V-Rod arranca

Foto: V-Rod arranca

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Depois de ouvir esse romƒntico relato, olhei para as rodas dianteiras e descobri que os pneus eram mais finos que os da minha moto! E os pneus traseiros sÆo de uma borracha tÆo melequenta que fiquei com medo de encostar e ficar grudado pro resto da vida a um peda‡o de borracha. Apaguei imediatamente a imagem dos pilotos de dragsters e conversando com outro piloto comentei: “Cara, vocˆs tˆm trˆs bolas, eu nÆo teria peito de acelerar esse treco”. Foi entÆo que esse outro piloto – que infelizmente nÆo lembro mais o nome – me chamou pra entrar no dragster dele, fabricado ali mesmo em Curitiba. Era tudo aquilo que expliquei antes, com uma pequena e sutil diferen‡a: o motor fica na frente do piloto. Imagine um motor de 1.000 cv com um metro de altura (isso mesmo, com o ram-air o motor tem 1 metro de altura!) bem na frente do nariz. E mais: o piloto fica sentado em cima do diferencial. Chamei o piloto e perguntei:

– E se, assim, de repente, numa arrancada mais forte esse diferencial explodir?

O piloto respondeu: “Eu nunca mais vou ter filhos!”

Bom, nÆo se enxerga necas pra frente. O piloto sabe se est  indo em linha reta porque tra‡a uma paralela entre o muro e a linha branca no centro da pista.

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Muito tempo depois a Harley me convidou para acelerar uma V-Rod Destroyer dragster de 198 cv em Piracicaba. S¢ de ver a moto parada j  me deu um frio na barriga. Barriga que cresceu consideravelmente depois de minha aposentadoria como piloto em 1999. Precisei da ajuda de colegas para fechar o macacÆo e ficar parecido com um colchonete enrolado no porta-malas de um Chevette. O Leandro Mello – colaborador da Izzo na ‚poca – deu as instru‡äes de pilotagem e a cada explica‡Æo eu tinha vontade de sair correndo.

A posi‡Æo de pilotagem ‚ tosca demais: o piloto fica deitado sobre o tanque de gasolina, com os p‚s l  atr s. O acionamento do cƒmbio ‚ pneum tico, feito por meio de um botÆo no manicoto esquerdo. O piloto precisa ficar de olho na luz de giro, a shift-light e outro olho num trip‚ cheio de luzes coloridas. As luzes vÆo se apagando at‚ chegar na verde. A¡ o piloto acelera at‚ o fim do curso, aperta um botÆo do controle de largada com a primeira engatada e ao acender a luz verde solta a embreagem de uma vez. Se conseguir ficar em cima da moto ela larga.

Olhei em volta e procurei alguma sa¡da de emergˆncia para fugir sem deixar rastro, mas meus colegas jornalistas me cercaram e l  estava eu em cima da moto dragster com o cora‡Æo batendo no pesco‡o, os joelhos tremendo e um profundo sentimento de arrependimento por ter aceitado o convite.

O Leandro jogou uma meleca no chÆo e eu fiz um burn-out ou “borrachÆo” pra aquecer o pneu traseiro. Quando as luzes se acenderam que nem uma  rvore de natal lembrei que sou dalt“nico e jamais saberia quando a luz verde acenderia. Mas j  era tarde para esses detalhes menores. Acelerei at‚ o fim, primeira engatada, botÆo acionado e largaaaaaaaaaaaaaaaada! Quando abri os olhos j  tinha acabado a pista! 200 metros em 6,4 segundos e 174 km/h de velocidade. Uma merreca, perto do Alejandro, mas em cima de uma moto ‚ de mandar um v‚inho pra UTI card¡aca. Ah, entre a largada e a chegada ‚ preciso ficar olhando pra uma shift-light e sempre que a luz se acender ‚ preciso apertar o botÆo e trocar de marcha sem acionar embreagem. A cada troca o corpo d  um pulo pra tr s. Bom, isso foi um resumo, porque a hist¢ria toda ‚ muito mais horr¡vel. Ainda tive de tirar o macacÆo!

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Leia o relato do Otazu sobre a prova de dragaster do £ltimo final de semana.

O piloto Alejandro Sanchez (Power Plus/Flash Power/Track Racing) somou mais um t¡tulo ao seu incr¡vel curr¡culo, ao conquistar no £ltimo final de semana (7 a 10/12) o 13§ Festival For‡a Livre na Dragster Motor Traseiro, a principal e mais r pida categoria da Arrancada no Brasil. No Aut¢dromo Internacional de Curitiba, na cidade de Pinhais (PR), ele foi cronometrado em 6s340 e ainda garantiu a maior velocidade no final da reta de 402 metros, ao atingir a marca de 384,51 km/h em uma das baterias. “Meu principal objetivo era superar os 400 km/h, mas tive problemas no motor. De qualquer maneira, saio feliz por ter vencido o Festival pelo terceiro ano consecutivo”, garante o piloto. O novo recorde da modalidade, no entanto, passa a ser de Sidney Frigo, com o tempo de 5s901.

Apesar de toda a prepara‡Æo para baixar o seu recorde de tempo e ainda ultrapassar os 400 km/h, Alejandro Sanchez sofreu com alguns problemas no motor de 3.200 hp de seu Dragster, que se nÆo impediu o seu tricampeonato no principal evento de Arrancada na Am‚rica Latina, dificultou alcan‡ar os objetivos pessoais que ele tra‡ou. “Em todas as arrancadas tivemos algumas dificuldades mecƒnicas. Infelizmente nÆo conseguimos cumprir toda a nossa programa‡Æo e tivemos que interromper mais cedo, nÆo participando da bateria final”. “Agora tenho mais est¡mulo para superar as minhas metas na pr¢xima temporada. Em 2007 quero virar abaixo de 5s9 e passar dos 400 km/h”, planeja o piloto, que nesta temporada j  havia vencido pela quarta vez consecutiva o Campeonato Paranaense de Arrancada e o Festival de Velocidade.

Alejandro Sanchez det‚m o recorde brasileiro no “quil“metro lan‡ado” do conceituado Festival de Velocidade, realizado em SÆo Jos‚ dos Campos (SP), quando alcan‡ou a m‚dia 310,66 km/h com um Porsche 993 biturbo de 3.8 litros, al‚m dos recordes de Arrancada de Santa Cruz do Sul (301,5 metros) e Interlagos (201 metros), com o seu Dragster.