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Motociclistas são seres inquietos. Estamos sempre pesquisando uma moto melhor, um equipamento mais seguro, novos parceiros para nossas aventuras, e também novos destinos. E, porquê não, Cambará do Sul? A cidadezinha gaúcha, distante pouco mais de 200 quilômetros de Porto Alegre, é famosa por seus cânions e belezas naturais. E na estrada, ponto que muito nos interessa, também dá show, sugerindo uma navegação por rodovias sinuosas envoltas por belas paisagens.

Cambará é uma cidadezinha no diminuitivo mesmo. O município tem menos de sete mil habitantes (e área de 1.213km², quase três vezes o tamanho de Porto Alegre) e é um daqueles que você mal percebe quando entra de fato e só nota que está no centro porque há uma praça, uma igreja e um restaurante. Anda mais 500 metros e a civilização ficou para trás. Cambará autopromove sua imagem como sendo ‘A cidade dos Cânions’, e não é à toa, afinal o município abriga o Fortaleza e o Itaimbezinho, dois cânions lindíssimos que marcam a fronteira entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, oferecendo uma vista tão ampla que dá até para ver o mar, distante aproximadamente 40 quilômetros dali.

A viagem

Cambará fica numa região conhecida como Campos de Cima da Serra, onde o cenário mais comum é composto por longas pastagens, e a única rodovia que lhe oferece acesso é a ERS 020. Esta foi a primeira a ser asfaltada no Rio Grande do Sul, construída para ligar a região metropolitana de Porto Alegre à São Francisco de Paula (outra cidade bonita e que era o point da época). Neste tempo, Gramado era apenas um pequeno vilarejo – anos luz distante da potência turística que é hoje, rodeado por… gramados.

Há, basicamente, duas rotas para quem vai de Porto Alegre à Cambará. Uma com a Rota do Sol e outra pela ERS 020, cada uma com suas belezas

Há, basicamente, duas rotas para quem vai de Porto Alegre à Cambará. Uma com a Rota do Sol e outra pela ERS 020, cada uma com suas belezas

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Quem quiser ir de Porto Alegre até o município tem basicamente duas opções. A primeira: segue pela BR 290 até Osório, onde pega a BR 101 até Terra de Areia e depois sobe pela ERS 486 até Tainhas e, enfim, entra na 020. Este caminho passa pela chamada Rota do Sol (apelido que a 486 recebeu por ligar a Serra ao litoral), trecho muito bonito, com viadutos altos e túneis dentro de rochas.

Opção B: O condutor ingressa na ERS 020 antes, aproveitando mais o passeio pela rodovia. Os acessos principais são em Cachoeirinha e em Taquara. Por este caminho, se atravessa São Francisco e aproveita mais as curvas sinuosas do caminho. Se você ainda não conhece a pista, pode imaginá-la com inúmeras curvas, afinal, quando foi construída dinamite era coisa de desenho animado. E foi por este – belo – caminho que seguimos. Por qualquer uma das alternativas, assim que chegar à ERS 020 é só se manter-se na rodovia que logo você estará em Cambará.

Cenário

Cenário

Porque toda viagem ou passeio de moto precisa de um bom cenário

Caminho de pedras

Caminho de pedras

De repente o asfalto some e surge uma estrada de pedras e cascalho. Uma Tornado passou por nós dando risadas

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Rodovias sinuosas

Rodovias sinuosas

As curvas do caminho são deliciosas. A reta mais longa da ERS 020 deve ter cerca de mil metros

Companheiras

Com que moto ir? Todo o trajeto na ERS 020 é asfaltado, e apesar de não ser nenhum tapete está em boas condições. Da área central da cidade até o Cânion Fortaleza (o que nós conhecemos nesta ocasião) são pouco mais de 20 quilômetros. Até aí tudo bem. Porém, o bicho pega quando entramos no Parque Nacional da Serra Geral (onde estão os cânions), uns 7 km adiante, pois o asfalto some e surge à frente uma estrada de cascalho, terra e pedras. Nós estávamos em duas motos “on road” – o casal de amigos com uma Ninja 300 e eu com minha querida Lenize, que ajudou com algumas fotos, e a CBX 200 Strada, minha antiga companheira. Pobres braços. Coitado do amigo da mini-esportiva, quicando entre uma pedra e outra. Enquanto andávamos de moto sobre ovos algo passou muito rápido pela gente. Não consegui anotar a placa, mas vi que era uma XR 250 Tornado. Estava em seu habitat natural, mas nós não. Então a dica é: tem uma trail ou bigtrail? Ótimo. Está de esportiva? Prepare-se para a dor nos braços. Custom ou touring? Piorou. Mas vale lembrar que apenas estre trecho de aproximadamente dez quilômetros é assim, pois todo o resto é em vias asfaltadas e repletas de curvas.

Motocas

Motocas

As companheiras Ninja 300 e Strada 200 descansando (na estrada de cascalho) enquanto paramos para tomar uma água

Amigas de baixa cilindrada

Amigas de baixa cilindrada

Ambas as motos penaram depois que o asfalto acabou. Porém, até ali, foi diversão pura nas curvas, principalmente para a Ninja

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Caminhada

Duzentos quilômetros de asfalto, dez pela deliciosa estrada que liga ao Parque e outros dez (ou um pouco mais) de cascalho e pedras. Para complementar a aventura, nada melhor do que uma caminhada. Próximo do Cânion há um estacionamento onde os veículos (incluindo motos) devem ficar, e há duas rotas até as margens do precipício. Uma de 200 metros e a outra, com a tal vista que dá para ver o azul do mar, de 1,5 quilômetro. Seguimos por esta. Mais pedras, cascalhos e terra, só que a pé e morro acima.

Pontos brancos no meio do verde?

Pontos brancos no meio do verde?

No centro da imagem, pessoas trilham a sua caminhada

Run to the hills!

Run to the hills!

As motos ficam num estacionamento (bem ao fundo). Depois, são 1500 metros de caminhada ladeira acima

O destino

Como já citado, Cambará do Sul tem dois grandes cânions, o Itaimbezinho e o Fortaleza (que é o destino desta reportagem), além de vários outros menores. O Fortaleza tem este nome porque seus paredões lembram muralhas. São 7,5 quilômetros de extensão e dois quilômetros de largura, uma verdadeira fenda esculpida por Deus. Isso 1.240 metros acima do nível do mar. Quem faz a Trilha do Mirante (a famosa do 1,5 quilômetro) é presenteado com uma vista linda, pintando no horizonte as planícies de Cambará, a divisa com Santa Catarina (do outro lado do Fortaleza) a enorme fenda do canion e, lá no fundo, aquela coisa azul distante 40 quilômetros dali é o mar. Também é possível fazer outras trilhas, todas auto-guiadas, que passam por outros pontos do local, andando ao lado de cachoeiras ou grandes rochas, por exemplo.

Para poder apreciar a paisagem, é aconselhado fazer a viagem em um dia de sol e com a menor quantidade de nuvens possível. Chuva nem pensar. Como a região é muito acima do mar é comum surgir neblina, então é bom evitar as trilhas durante a manhã. O frio também é uma constante, e a temperatura mais baixa já registrada na cidade foi de -8,8ºC, em 1979. Leve um casaquinho. No inverno também pode nevar, como aconteceu em 2013. Logo, prefira o verão (ou não).

Cambará e seu pórtico

Cambará e seu pórtico

É comum ver motociclistas parando próximo ao pórtico para fazer fotos e esticar as pernas. Foto: Cesta de viagem

Frio e neve

Frio e neve

Em 2013 nevou muito na região, e o frio é uma constante nos meses de inverno e outono. Leve um casaquinho. Foto: Prefeitura de Cambará

Fortaleza

Fortaleza

Os paredões medem 7,5km de extensão e 2 de largura, com mais de 1000 metros de profundidade

Cachoeira

Cachoeira

Durante a caminhada você nota que passa por um pequeno córrego. Lá na frente, surge uma cachoeira com mais de 100 metros de queda d'água

Até onde a vista alcança

Até onde a vista alcança

No cume da aventura há muito verde e natureza ainda intocada

Trilhas

Trilhas

Há diversas opções de trilhas e uma delas, a Trilha do Segredo, é composta por várias rochas. O que achou do local? Foto: Ênio Frassetto

Mais informações

Gostou do lugar? Apesar de pequena, a cidade dispõe de vários hotéis e pousadas, com ampla faixa de preços. Para mais informações sobre os cânions, como localização e horários de visitação, é possível entrar em contato com a Casa do Turista, pelo telefone (54) 3251.1320 ou email [email protected]. Secretaria Municipal de Turismo e Cultura atende pelo (54) 3251.1557, enquanto o contato do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que administra os parques onde estão os cânions Fortaleza e Itaimbezinho, é (54) 3251.1277.

Avaliação

A ERS 020 apostou que a região de São Francisco e Cambará seria o grande point da Serra Gaúcha, mas errou. Gramado, Canela e as rodovias ERS 115 e BR 116 tomaram o posto. Sem a “chegada do progresso” o que há às margens da ERS 020 são pequenos vilarejos, cafés coloniais, campos extensos e matas praticamente intocadas, com a vegetação nativa, além de fazendas e pinus e eucaliptos. E muitas araucárias. Com belas paisagens ao longo da viagem e também no ponto de chegada, conhecer o local é uma boa pedida para quem está na região Sul, especialmente para quem estiver em boa companhia e com disposição para uma aventura.

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Guilherme Augusto
@guilhermeaugusto.rp>> Jornalista e formado em Relações Públicas pela Universidade Feevale. Amante de motos em todas suas formas e sons. Estabanado por natureza