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Se não for pedir muito, com uns compadres “ligeiros” e, já que é pra sonhar, com um pico pra parar na hora da fome e bater um arroz/feijão. Infelizmente, nem sempre se pode ter tudo aquilo que se quer. Passo boa parte do ano dividindo finais de semana entre o XC e o canavial. Nada contra nenhum dos dois, mas, confesso que gostaria mesmo é de morar na montanha, e poder fazer trilha “de verdade” todo o findê.

Comecei a ligar pros caras na quinta e, como não existe macaco que não goste de banana, já na segunda ligação, o rolê tava armado. Armado mas …., chovia e a previsão, era de chuva e frio no sábado… A sexta feira chegou e, apesar do combinado …, nada havia sido confirmado. O telefone tava mudo e quando falava, era caixa postal. O dia acabou. Fui dormir cedo, moto na caçamba e …., só.

Sábado, 6:23 da manhã, na cama, quente. O telefone toca. Preguiça… Me ocorre: Pode ser um dos caras…. Atendo: “Ok, tô indo.” Pulo pra dentro duma calça e, menos de 15 minutos depois, tô na rua, a caminho. Rolou! Tava indo buscar um compadre trilheiro. Devoto. Mais de vinte cinco anos na lida. Criado na tradição do regularidade. Organizado. Já tive o prazer de dar alguns rolês com este cidadão. O cara não é fraco. Na conversa, rumo ao Vale, um numero me chamou a atenção: 53. Essa é a idade do caboclo, 53. Ninguém diz….

O cara anda montado numa Husq 450. Montaria “emblemática”. Praticamente uma credencial. Há muito, não andava numa destas. Dois aspectos definem bem esta moto: Forte, especialmente em baixas rotações. Deste eu lembrava bem. O segundo, surpreendente, eu havia me esquecido. Estável. Muito estável. Absurdamente estável. Pense num “espelho” de lama fina, muito escorregadia. Uma cobertura de limo, sobre um chão duro. Agora pensa numa Husq 450. Pois bem, agora, aponte o guidão para a direção que deseja seguir e, acelere. O negócio é um trem no trilho. Impressiona.

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O rolê, animou meia dúzia de outros mateiros.

Um fato é digno de nota: Quando chegamos na casa do Zóio, nosso “máster” pro rolê, a churrasqueira ainda tinha brasa, várias garrafas vazias enfeitavam o quintal e, o cara não tinha moto….! Isso mesmo…. O cara tinha vendido a moto num churras na noite anterior e o comprador levou o brinquedo embora. Como se nada tivesse acontecido, ele nem avisou ninguém. Foi buscar outra emprestada e saiu feliz, andando numa roda só….!

Partimos pra uma sequência de trilhas daquelas com nomes de dar medo em criança. Nada absurdo. Nada de carregar moto no braço. Nada de perigoso. Tudo, de bom! Já de início, me empolgo num pega morro acima. Chão liso de doer, ….. literalmente. Terceira na 250F, no lugar da segunda. Acelerando uma marcha acima, sem embreagem, procurando tração nas valetas. Abro uma vantagem e relaxo. De repente, de bobeira, tomo um by pass de um compadre. Saio atrás, busco, vacilo e tomo uma VACA ESPETÁCULAR…. Um chicote. Atravessou pra direita, andou de lado. Atravessou pra esquerda e deu batente, a traseira passou a frente e eu fui…, de costas, pro chão…..

Uau….., nooooossa….. A bike desliza ligada, a pedaleira abre um talho de um metro no chão até parar. Eu, escorrego de costas esperando pra ser ultrapassado sem moto. Por fim, tudo para. Ouço o motor. Levanto, meto a mão na embreagem, monto outra vez e ….., com um sorriso de aprovação do compadre que assistia, descrente do tamanho da vaca que havia acabado de presenciar …., volto pro jogo! Amém, não quebrou. Não quebrei nada. Tá valendo outra vez!

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O rolê segue cheio de diversão. Guiados pelo Zóio. Motivados pelo 53. “Vamo tentá subi aquele morro do….” Os mais jovens se entreolham …. Ninguém tem coragem de dissuadir o “Véio”. Ele sai na frente. Puxa a fila. Põe a batata pra assar e …., dá risada. Não desiste e, mesmo pilotando aquele tiranossauro, não faz conta de quantas tentativas já fez. Toca o pau!

Chega a hora do almoço. Rumamos prum “boteco”. Vou à espera de qualquer coisa salgada. Num pedaço de cartolina pendurado lê-se: “Pastel, Frango, Batata Frita, Lingüiça”. Colo no balcão e vejo uma caixa de ovos. “E aí compadre?! Róla um zoiudo?” “Róla!” Tinha idéia de um pão com ovo, mas, pergunto: “Róla um arroz/feijão?” “Róla” Manda um….. Aliás, manda sete. O sujeito sai em direção aos fundos do buteco e complementa: “Quer um frango e uma lingüiça frita também?” “Putz……, lógico!” Fazia frio. Obrigado Deus!!!!!!

O negócio, por sorte, demora uns minutos. A cerveja, por lei, tava gelada. As motos ao alcance da vista e …., bom….. Let´s talk about bikes!!!!!

De estomago vazio, três horas da tarde, mandamos uma meia dúzia e …., ficamos amigos. Dentre tantas, as histórias de um figura que faz umas expedições de Jet…. Isso, Jet. Pelo rio, vários dias. Com os brothers…. Coisa fina…! A conta da cerveja é exata. Não sobra nem falta. O Tiozinho chama: “Vamo chegá pra cá. Tá pronto.” Ao transpor a porta de trás do estabelecimento, uma cena surreal…. Uma mesa com sete pratos divididos exatamente ao meio. Arroz e feijão. No centro, três travessas: ovos caipiras, vermelhos, fritos, lingüiça super acebolada e frango a passarinho. Ao lado, um fogão a lenha. “What a wonderful world….!!!” Meia hora depois, um café fraco, de coador, no copo, quente….. Pirei….!

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Tomamos o rumo de volta. Troco de bike com meu companheiro de “racha”. Uma DR400. Fazia muito tempo que não montava numa. Tive uma destas em 2001 ou 2002, se não me engano. Das primeiras, com as abas de radiador brancas. Na época, as quatro tempos ditas “modernas”, ainda não dominavam a cena. Uma DR era uma excelente opção para o enduro. Havia me esquecido…. Como pude me esquecer. O Nielsen, o Limonta, o Taxinha, e outros tantos heróis anônimos, vivem nos provando isso. Nada me surpreendeu, a não ser um pequeno detalhe: A cultura popular contemporânea, rotulou a DR400 como “pesada” e “fraca”. Adjetivos são uma questão de referencia. Pesada e fraca comparada a que? Pesada e fraca pra quem? Eu, ingênuo, de tanto ouvir, assimilei o dito popular. Mesmo tendo usado uma por muito tempo…. Usado e gostado, muito.

Cara…. que motocicleta gostosa… Progressiva, acessível, bem provisionada no mercado, cheia de opções de preparação, resistente e, equipada com acessórios básicos fundamentais de boa qualidade. Adorei! Me surpreendeu a forma com traciona. Progressiva. Tenho andado com motos mais “bravas” há anos. Senti saudade de um conjunto tão…. tolerante…. Naquela situação em particular, com a aderência MUITO comprometida, uma excelente montaria.

A vida vive nos pregando peças. Ouvir opiniões é legal, mas, concluir através delas, é uma enorme burrice. A única vantagem evidente, que minhas montarias atuais teem sobre uma DR400, está relacionada à possibilidade do uso numa pista de MotoCross. Só. Como eu ando de MotoCross uma vez a cada seis meses, quando ando, conclui-se que eu só não volto a andar de DR400, porque sou um ….. Enfim, a gente tem que fazer errado, tem que experimentar, tem que não ter preconceito, se quiser aprender, evoluir, conhecer.

É lógico que o “Véio” deu um jeito de fazer a gente fazer mais umas duas trilhas antes de chegar de volta. Diga-se de passagem, foram ótimas e nos trouxeram na hora exata. Nos últimos raios do sol. Quase chegando ao destino, ouço o Husqão encostar, e uma voz: “Posso dar mais um rolê na sua moto?” “É claro” “Quero ver como ela se comporta ali nas erosões da subida daquele pasto” Vou brincar de Husq outra vez e, dez minutos depois, recebo minha moto de volta com palavras que não condizem com a idade do dono da voz: “Uhúúú, nervosa! Levinha…., tem que andar de motor cheio. Adoro isso…! Me fez lembrar das minhas dois tempos!! Saudade!!”

Experiência. Poucas coisas são tão respeitáveis quanto ela. Findê sim, outro também, nosso esporte segue nos ensinado (ou pelo menos tentando nos ensinar…) lições sobre : dedicação, resignação, humildade, amor, respeito e …., tração…!!! Continuamos amadores. Porém, quase trinta anos ou, pelo menos 700 rolês, depois: Profissionais Amadores.

MOTOHEAD