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o samurai que derrotou o ocidente.

“Nossas dúvidas são traidoras e, temendo tentar, nos fazem perder o sucesso que muitas vezes poderíamos alcançar” Shakespeare

O negócio da Honda sempre foi conceber e fabricar alguns dos melhores motores. Disso ninguém duvida. Agora pouca gente sabe que a paixão de Honda por motores foi despertada durante a apresentação do piloto americano Niles Smith em 1914. De lá para cá Honda obteve vitórias invejáveis a um homem só.

Depois de ter sido baby siter e mecânico de bicicletas, Honda concebeu uma nova tecnologia para a fabricação de hélices para os famosos Mitsubish-Zero infernizando ainda mais a vida dos americanos que lutavam no Pacífico. Os Zero eram muito rápidos e seus pilotos bastante aguerridos. Apesar de possuírem blindagem fraca em comparação aos caças americanos, os Zero, eram mais leves e muito mais rápidos. Num combate piloto a piloto, o conhecido Dogfight, as chances de derrubar um Zero eram quase nulas se o ataque fosse realizado por apenas um avião aliado.

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Pelo feito Soichiro Honda recebeu do imperador do Japão o prêmio “Herói da Indústria”. A Honda sobreviveu ao pós-guerra, internacionalizou-se, multinacionalizou-se e globalizou sua marca e muitos dos seus conceitos. Venceu quase todos os campeonatos que participou, tanto em motos como em carros, obtendo na Fórmula 1 cinco campeonatos consecutivos e a impressionante marca de ter vencido 15 das 16 corridas de uma temporada.

Honda modificou a forma de se comercializar motocicletas nos EUA, acabando com o sistema de consignações e fazendo com que o americano com cara de good boy trocasse o carro por uma scooter japonesa. Não satisfeito, obteve as primeiras colocações vendendo motos e carros na terra da Harley Davidson e de Henry Ford. A Honda salvou ainda a inglesa Land Rover da falência (que depois foi vendida para a BMW) e quase quebrou a Yamaha quando esta última resolveu desafiá-la. Como se isso só já não bastasse para respeitar Honda, ele ainda foi mais longe. É da Honda o maior recorde da história de patentes automobilísticas em um único ano, quando na década de 80, praticamente ditou as inovações do mercado europeu.

Dentre as inovações comandadas por Soichiro Honda estão a patente licenciada para a fabricação de uma estrutura metálica para rodas, que em geral eram feitas de madeira. Tal invenção seria aproveitada em todo mundo. Honda inovou criando o motor de 125cc com quatro válvulas por cilindro o que permitia obter maior giro (rpm). É dele a impressionante marca de 20.000 giros por minuto obtida na Fórmula 1 e de 21.000 giros obtida por uma moto – a NR500. Também é da Honda o melhor sistema de controle de emissão de poluentes e o primeiro a ser homologado pelo governo americano tendo sua fabricação licenciada para as marcas Ford, Chrysler e Isuzu. A Honda ganhou também o prêmio do concurso de economia de consumo promovido pela Enviromental Protection Agency EPA e Federal Energy Administration FEA. Em 1973 Honda revoluciona o sistema de montagem. Para vencer as Kawasaki 900 e as BMW 900 lança a Goldwing 1000cc refrigerada a água. Sucesso absoluto de vendas esta maravilhosa máquina vendia cerca de 5 mil unidades por mês, as quais eram montadas por apenas 16 operários. Na água a Honda também liderou.

É dela o primeiro motor de popa de 9,9cv de quatro tempos; as primeiras motos com partida elétrica e o primeiro triciclo para todo tipo de terreno. Na década de 90, após a morte de Soichiro aos 84 anos, a Honda foi a primeira indústria a construir um carro em série com estrutura de alumínio e um elevado índice de automação industrial. Nesta mesma década passa a fabricar e vender motos na China. A paixão por motores menores, mais potentes, econômicos e resistentes não parou por ai. Além de estar entre as duas maiores montadoras nos maiores mercados europeus no segmento de automóveis com o Civic e o Accord, a Honda bate mais um fantástico recorde de superação. Em janeiro de 2000 apresenta, na mundialmente famosa feira de Detroit, EUA, o S2000, um esportivo de dois lugares que com um motor de apenas 2 litros chega a incrível marca de 240hp enquanto o seu concorrente mais próximo, o BMW Z3 só consegue 198hp com o seu motor de 2,8 litros. A Honda fatura cerca de 45 bilhões de dólares e lucra anualmente 2 bilhões (descontados também o pagamento dos dividendos).

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O segredo do sucesso da Honda está no seu início e foi baseado no conselho dado pelo pai de Soichiro, o senhor Gihei Honda. O senhor Gihei aconselhava o filho a “nunca incomodar os outros no trabalho ou na vida; não mentir nunca e sempre respeitar a palavra empenhada.” Tais conselhos foram seguidos à risca e Honda implantou um dos mais maravilhosos modelos de gestão participativa da história mundial. No projeto do Vigor e do City os funcionários foram convidados a apresentar suas sugestões. Cerca de 300 mil foram apresentadas e 90% delas foram aproveitadas. Além dos benefícios normais incluindo a participação nos lucros e direito a comprar ações da empresa, os funcionários da Honda podem se expressar sobre a função que ocupam na empresa.

Mas isso não é só da boca para fora ou para inglês ver. Se algum funcionário notasse um problema ou descobrisse um meio melhor de tornar sua tarefa mais simples, todas as providências seriam tomadas para que a nova idéia fosse implementada. Se isso aumentasse a produtividade, o funcionário seria premiado e promovido. Na Honda todos; presidente, diretores, engenheiros e operários usam o mesmo uniforme. As decisões tomadas pela diretoria, sempre por unanimidade (consenso), são conferidas se estão de acordo com a opinião dos funcionários. Não existe monotonia. Nenhum funcionário pode ficar mais de três meses seguidos numa mesma atividade. Duas vezes por semana são promovidas reuniões semanais para ouvir problemas ligados à função e à empresa.

Essa política de vencer constantemente os desafios com criatividade, participação e respeito pelo ser humano fazem da Honda o que ela é hoje. Sua filosofia é baseada em cinco pontos: agir com fé e o entusiasmo da juventude; basear as atividades sobre um método, pesquisar e desenvolver idéias novas e utilizar o tempo integralmente; trabalhar com prazer e procurar alegrar o ambiente profissional; procurar garantir um volume de trabalho harmonioso e ter sempre em mente o valor da pesquisa e do esforço.

Mais de uma década depois da morte de Soichiro, a Honda continua a crescer baseada nos ensinamentos do mestre samurai que venceu o ocidente e ajudou a mostrar ao mundo a força da inteligência dos japoneses.

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Soichiro devolveu o brilho e a auto-estima ao operário. Isso não poderia trazer mais prazer a todos do que obter os mais altos índices de satisfação de consumidores onde quer que exista um veículo movido por um motor Honda.

Al Ries tem razão quando afirma que uma imagem de marca se constrói de dentro para fora. Os japoneses também pensavam assim quando, há seis mil anos, começaram a treinar seus samurais.

Luís Sucupira
Motociclista desde os 18 anos. Jornalista e apaixonado por motos desde que nasceu.