Parece que nas motocicletas, assim como nos automóveis pouca coisa se inventa. Temos o mesmo veículo básico há mais de cem anos, mas de vez em quando alguma coisa se reinventa. Sim, reinventa porque quase tudo aparece em ciclos. Às vezes se inova utilizando uma técnica já utilizada há tempos, mas de alguma forma diferente.
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É assim com a nova Honda NC 700X. Um chassi que serve para multiplas plataformas, um motor derivado do Honda Fit, que também equipa uma street – A NC 700S e um Big Scooter – o Integra, com câmbio automatizado. Há que se fazer compromissos certo? – Nem sempre. Nesse caso o conjunto se saiu muito bem, sem pagar o preço de ser adaptável a outros produtos, os componentes servem muito bem ao todo, deixando-o homogêneo e equilibrado. A moto tem “personalidade” marcante.
Denominada pela própria Honda como uma “crossover” – moto com características de trail, mas voltada para o asfalto – a NC 700X se posiciona no mercado com as baterias voltadas para a Kawasaki Versys, que tem as mesmas características para uso no asfalto. Mas se o consumidor enxerga a possibilidade de, ainda que eventualmente, pegar uma estradinha de terra, esta NC 700X é a menos indicada de todas as concorrentes.
E não são poucas, inclusive dentro da própria marca, além da Versys: BMW G 650 GS, Honda XL 700V Transalp, Suzuki DL 650 V-Strom e Yamaha XT 660Z Ténéré. Preços semelhantes, desempenho compatível com o segmento e mecânica robusta e confiável. É de fato uma das concorrências mais interessantes que o mercado brasileiro de motos já presenciou. E o feliz motociclista que pode ter esta “dor de cabeça”, tem muitas variáveis a avaliar.
No motor a grande sacada está num “segredo” há muito utilizado quando se quer obter economia num motor a explosão, mas meio fora de moda nas motocicletas. Para gastar menos combustível queime menos gasolina. Parece óbvio: use uma rotação mais baixa que haverá menos explosões por minuto e por consequência menos consumo, quer dizer, se todo o resto se mantiver igual. Mas aí está o problema. Teoricamente existe uma única condição em que se consegue maior eficiência num motor. Uma determinada rotação por minuto, um determinado volume de mistura admitida em tempos de abertura e fechamento de válvulas ideais.
Quando se limita a rotação, em geral a performance do motor se degrada. A potência e o torque vem acompanhada pela sigla RPM. Quanto maior a rotação, maior a potência. Porém, novamente, se todo o resto for igual. O sistema de administração do motor da NC 700 consegue manter uma eficiência fora do comum. Nessa classe de motocicletas é normal se esperar uma faixa vermelha na ordem de 10 a 13 mil RPM e potência máxima da ordem de 80 cv ou mais entre 9 e 10 mil RPM. Nessa condição, em velocidade de 100 Km/h os motores estarão mais ou menos na faixa de 4500 a 5000 RPM. A NC700X mantém essa velocidade em meros 3000 RPM. Impressiona conseguindo marcas de 52,5 cv a 6250 RPM de potência e 6,4 Kgf.m a 4750 RPM de torque.
Então é no resto das configurações do motor que podemos verificar como os engenheiros conseguiram isso. O motor tem dois cilindros em linha, quatro tempos, OHC, deslocando 669,6 cm3 numa proporção entre diâmetro e curso do pistão sub-quadrada, de 73 x 80 mm com comando de válvulas variável e compressão radical que vai a 10,7:1. Esse motor é praticamente o mesmo do automóvel Honda Fit cortado ao meio. Então, a tecnologia é a mesma da linha automobilística.
Para rodar com boa aceleração e retomadas deve-se usar bastante o câmbio e para isso ele tem boas características. Mudanças fáceis, bem escalonado permitindo boa velocidade mesmo em baixas rotações. Em 1500 RPM já arranca bem, com uma embreagem muito leve e precisa, mas para uma tocada mais esportiva você vai esbarrar no limitador de rotação que atua já em 6250 RPM. Então mude logo a marcha para continuar ganhando velocidade e quando menos esperar já vai estar indo bem rápido. Assim mesmo, a aceleração e velocidade final não são nada além de satisfatórias. Talvez coubesse uma versão da NC 700X com o câmbio automatizado, como existe na Europa, já que as trocas muito cedo cansam um pouco. Contudo isso não é um impedimento e acaba se traduzindo, no uso diário, em boa performance e o que agrada mais é a grande economia de combustível, desde que comedida a tocada (varia bastante, mas pode chegar a 30 Km/litro), baixa vibração e o ruído grave do escapamento que parece de uma V2 porque esse virabrequim desloca os pistões defasados em 270º.
Andar nessa moto é muito prazeroso. A posição do condutor é muito confortável, ereta e com razoável proteção do pequeno para brisa. Os instrumentos, apesar de serem em cristal líquido de pequena dimensão oferecem fácil leitura, porque a posição deles é mais alta e bem na frente dos olhos, evitando reflexos. O guidão largo é alto também e assim passa com boa distância dos carros. O banco tem altura mais baixa que a maioria das big trail, dando bom controle nas manobras de garagem e paradas.
As suspensões tem características de big trail, mas são um pouco mais duras, mais apropriadas ao asfalto. Pouco mergulho nas frenagens por ter boa progressividade na frente. A distribuição de massas, para uma moto dessa classe também não é perfeita por causa da posição do tanque de gasolina na rabeta, mas a disposição do volume de 21 litros para transportar objetos onde seria o tanque normalmente, adiciona mais do que a limitação na distribuição ideal de massas. Aqui a conveniência prevalece. O lado ruim é quando você tem bagagem sobre o banco e numa viagem, tem que parar para abastecer. Vai ter que tirar tudo para abrir o banco.
Ciclística é outro ponto que se destaca. A facilidade de executar manobras rápidas e precisas são características de uma big trail que a NC 700X trás em escala superior, incrementado pelos pneus Bridgestone Batlax de medidas generosas e a suavidade que o motor aciona a transmissão. Facilita muito as curvas e manobras rápidas. Com toda essa afinidade com o asfalto já deu para perceber que a terra não é o seu habitat – evite.
Bons freios com o já consagrado Combined ABS oferecem controle e segurança. A geometria é conservadora, com 27.3° de rake e 109 mm de trail conferem com uma distância entre entre eixos de 1538 mm e uma maneabilidade impressionante. Explica isso o baixo centro de gravidade, por causa do ângulo avançado adiante dos cilindros e os tubos baixos do chassi, mas uns pequenos movimentos parasitas se acham presentes, possivelmente na estrutura do pro-link e no canote da direção. Em piso de boa qualidade, até um pouco irregular esses movimentos não são perceptíveis, apenas em situações extremas. No uso do dia a dia se tornam completamente ausentes.
A Honda NC700x é uma moto que se diz inovadora no conceito das Big Trail se denominando uma “Crossover”, seguindo a linha dos automóveis estilo off-road que não o são. Na verdade acompanha a tendência mostrada pela aptidão ao asfalto da Kawasaki Versys e outras tantas Big Trail que não se adaptam ao uso na terra para ter uma performance superior no asfalto. Isso não é novidade mas a proposta do novo nome, “Crossover” ao estilo Big Trail destinado ao uso estritamente no asfalto vai pegar para designar o modelo da Honda que une o estilo aventureiro com praticidade e conveniência. A marca aposta nisso.
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