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Quando recebi o convite para seguir o Rally dos Sertões com as novas motos da Honda, XRE 190 e XRE 300, logo decidi optar pela XRE 300. Havíamos acabado de publicar o teste dela, com uma ocorrência no mínimo estranha, principalmente em se tratando de Honda.

XRE 300 Rally fez os Sertões 2016 pelos caminhos alternativos

XRE 300 Rally fez os Sertões 2016 pelos caminhos alternativos

No teste de performance a moto deixou bastante a desejar, no quesito aceleração e consumo. Veja o teste feito por Jan Terwak no motonline, decepcionante. O que aconteceu foi que ao percebermos o problema mandamos a moto para ser verificada na fábrica, porque as medições se constatadas corretas, acabariam por condenar o motor já bastante questionado por problemas no cabeçote nos modelos anteriores: média de 16km/litro para um motor de 300cc é demais. Entretanto, como a moto retornou do mesmo jeito… a alternativa correta foi publicar o resultado do teste.

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Honda XRE 300 Rally, valorizando a paisagem da Chapada dos Veadeiros

Honda XRE 300 Rally, valorizando a paisagem da Chapada dos Veadeiros

Saímos da área do prólogo dos Sertões no dia 4, para a primeira etapa, de Goiânia a Padre Bernardo. Já no primeiro abastecimento me perguntei – Será a mesma moto? – está andando como sempre, consumo resulta perto de 30km/litro. Pensei: – acho que é o modelo anterior, sem as alterações para cumprir a fase 2 do Promot 4. O painel era o novo, a pintura era atual, mais no estilo das aventureiras… não estava entendendo. A moto estava boa demais, andando muito e consumindo pouco e não detonava mesmo sob forte calor e esforço do motor.

Imagens do percurso, mais de 2,2 mil km com a XRE 300 Rally

Foi apenas no fim da quinta etapa que saiu Mateiros, TO pela manhã, em direção à Bahia que pude fazer a pergunta que explicaria o que me intrigava ao engenheiro Alfredo Guedes da Honda, que chegou em Luis Eduardo Magalhães, BA para nos acompanhar. Naquela altura já sabia que toda performance da moto estava bem acima do que experimentamos naquele teste, inclusive após devolvermos a moto para que fosse conferida.

Bitenca: – Essa moto é do modelo anterior, com o mesmo acabamento da nova?
Alfredo Guedes: – Como assim, esse é o modelo novo, como vem da loja…
Bitenca: – É que o desempenho não confere com a moto que testamos, como você explica isso?
Alfredo Guedes: – Aquela moto estava com o filtro de ar sujo
Bitenca: – Como? Relatamos o problema e devolvemos a moto para que fosse conferida. Retornou do mesmo jeito, nos foi dito que a moto estava ok. A nossa conclusão foi que se tratava de característica real do novo modelo…
Alfredo Guedes: – Não não, a moto estava com o sistema de admissão restrito por causa do filtro sujo e o desempenho comprometido porque o sistema de ignição atrasa o ponto da faísca para compensar a mistura rica. Porém, o consumo vai às alturas
Bitenca: – Mas então alguém não fez o que deveria ter feito, ao mandarmos a moto para conferir…
Fiquei sem resposta…

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Bom, a essa altura já havia entendido que a moto não foi devidamente revisada para que pudéssemos terminar o nosso teste e alguém lá na Honda não fez o seu trabalho. O fato é que a moto está resolvida sim e o relato do Alfredo confere.

Caverna do Terra Ronca

O consumo, conforme o Sertões se adiantava ia piorando. A poeira era grande e no início a moto fazia mais de 30km/litro em médias de velocidade e acelerações baixas no asfalto mas que exigia muito na terra. Na mesma tocada, o filtro de ar ia ficando sujo e o consumo aumentando visivelmente. A cada abastecimento verificávamos um pequeno aumento, até a pior média, de 26km/litro. Ainda razoável e bem acima do que verificamos no teste.

Para verificar a situação do sistema, nos foi fornecido um filtro novo para que nós mesmos fizéssemos a troca (estava sujo, mas nem tanto) e aproveitamos para reajustar a corrente, que já apresentava folga. Fato é que o consumo voltou para mais de 32km/litro na pior condição de terreno. Areia funda que demanda grande esforço do motor e da transmissão. Essa foi toda manutenção que realizamos nos 2,2 mil km de asfalto, terra e areia num calor que excedeu os 40º. O motor arrefecido a ar não apresentou nenhuma detonação mesmo sob condições extremas e confesso, não tive pena da moto. Exigi toda força que o motor fornecia para ultrapassar todos os obstáculos e a suspensão foi ao limite várias vezes nos “fast-fast”. Uma dessas me causou um W voador  que me resultou na quebra da ponta do manete de freio.

Fast-Fast - pode ser muito pior do que isso

Fast-Fast – pode ser muito pior do que isso, afunda a roda inteira

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Os pilotos dos Sertões chamam essas zonas de areia funda de “fast-fast”. É que ao abordar esse tipo de piso você tem que acelerar muito porque quanto mais rápido, mais fácil é a transposição da areia, a moto “esquia” sobre o piso fofo, mas se atingir um buraco ou pedra acima do limite da suspensão, a traseira voa por cima do piloto, gerando a figura de um W voador com as pernas. Foi o caso de vários colegas do grupo de jornalistas e eu não passei ileso.

Foi utilizando toda experiência de muitos anos de trilhas e off-road que pudemos completar o teste dessa moto nas condições extremas do deserto do Jalapão, moto essa que tem sofrido algumas injustiças. É fato que esse motor trabalha no limite de sua resistência nos modelos que antecederam o atual. Isso não é diferente de qualquer outra moto, um motor que tenha que cumprir as rigorosas especificações de nossas leis contra excesso de emissões com arrefecimento a ar. Esse sistema tem uma capacidade limitada em retirar calor e se o motor for exigido ao máximo, pode não resistir, sob certas condições. Isso não é restrito à Honda e nem a esse modelo. Resulta de uma série de compromissos ao se projetar um motor com arrefecimento a ar, alto desempenho e rígido controle de emissões.

A garantia da fábrica e os cuidados indicados no manual do proprietário refletem o cuidado da companhia em oferecer um produto confiável e que cumpre bem o que promete. A XRE 300 modelo 2017 tem o desempenho compatível com a cilindrada e o consumo condizente. Isso foi constatado, mas também se constatou que até em casa, é possível se induzir a erro. Ainda bem que pudemos reparar –  Obrigado Alfredo Guedes.

 

Imagens: Idario Café