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Aquele som compassado que nos faz viajar aos quatro cantos da memória, buscando as boas, e até achando as más recordações.

O sorriso, as brincadeiras de infância e adolescência, a palavra dura do pai, a proteção da mãe frente a possível bronca … tudo sendo instantaneamente apresentado aos nossos olhos por conta desse ruído grave … ‘Pai, eu quero uma dessa’ !

Já me vi ainda, por muitas vezes, correndo os olhos, indicando com o dedo, e soltando aquela frase : ‘ olha filho, olha … eu tive uma daquela’ , ou ainda ‘aquela foi o meu sonho’.

O mesmo acontece no bate papo descontraído com os amigos falando das ‘velhas’ maquinas onde outro tipo de frases se repete … ‘eu vi dessas zerinho’ … ‘só tem 3 no Brasil’ … ‘como é duro ser pobre’.

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Todo o passado execrado, transpirando os meus sucessos e fracassos dos antigos e novos sonhos de consumo.

O ontem, o hoje, e o amanhã perdem a ordem … o corpo, o tempo, e a idade já não são mais referências … ter, querer, sonhar, idem.

A cena do filme preto e branco que se apaga vagarosamente me faz lembrar da idade … o celular tocando me faz lembrar do tempo … e a buzina do carro que quase atropelo e que tenho grande dificuldade em desviar, me faz lembrar do corpo, e dos quilos que amealhei … rapidamente volto a realidade … que saudades … acho que estou ficando velho !

O dias passam, manhã nublada do ultimo domingo do mês, pego minha moto e sigo rumo ao convite do amigo Ricardo Pupo para o tradicional encontro do Motos Clássicas 70 (maiores detalhes).

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Me vejo no meio de várias raridades, peças imaculadamente preservadas e outras tantas excepcionalmente restauradas … por um momento tenho a impressão de estar em casa, e a certeza de não ser tão louco como alguns me fazem acreditar.

Tudo poderia ter um final feliz se não fosse a minha frustração … ainda me faltava ver o meu sonho de consumo, ou deveria dizer um dos ?

Ela já fez parte de várias cartas ao Papai Noel, uma Triumph Bonneville T120, preferencialmente com pneus com faixas brancas.

Ato continuo lembro de todo o ônus que uma decisão dessas poderia acarretar, mesmo por que quem inventou a frase ‘querer é poder’ não teve o trabalho de explicá-la ao gerente do banco onde sou correntista.

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Somente a compra de uma clássica não se esgota por si só, pois existe todo o ritual prospecção, restauração e manutenção.

No Brasil de hoje é muito difícil de se ser um antigomobilista de modo geral, pior ainda um antigomobilista de duas rodas. Boston SKRT 125 cc

Triumph Tiger de 1951, ainda ‘rabo duro’

Triumph Bonneville 110

Eu mesmo, vislumbrando ‘rodar’ com uma AJS ou uma NSU da década de 50 no meu dia a dia, desisti ao perceber os custos envolvidos, e preferi submeter uma Suzuki Katana 125 de 1998 a uma ‘plástica’ extrema, e construí uma moto que acabei batizando de Boston.

Para carros, existem no mundo uma infinidade de réplicas em fibra, e no Brasil ainda temos algumas; mas quando o assunto é motocicleta, linhas clássicas serão encontradas somente em réplicas artesanais, ou ainda aquelas que receberam o rótulo RÊTRO. E somente essas serão opções válidas para quem quer uma moto de mecânica confiável, ‘cara’ de antiga, e manutenção plausível para o uso diário.

No meu caso, isso seria possível, pois a Triumph está aqui, e ainda fabrica a moto do meus sonhos, que agora faço uma abordagem simplificada :

TRIUMPH

Lá pelos idos dos anos 50 nasce uma lenda, marcando uma década de provações para a Triumph.

Os consumidores eram aqueles que nos já comentamos vezes passadas, oriundos do pós-guerra, já demonstrando um desequilíbrio de aceitação aos padrões sociais vigentes, e buscando aquela “adrenalina” do fronte, e o companheirismo fraterno das trincheiras.

Em 1954 o modelo Tiger 110 foi apresentado, e com modificações de cunho esportivo do motor de 2 cilindros de 649 cc Thumderbird, suspensão traseira e um grande freio dianteiro, teríamos o que seria a famosa Triumph Bonneville.

Dois anos após, Johnny Allen crava a marca de recorde de velocidade em 214,5 mph nos pisos salinos de Bonneville, recorde esse não registrado por conta de problemas ‘indicados’ na cronômetragem; mas as conseqüências desse feito teriam dimensões incalculáveis.

Trocando os carburadores e recalibrando o motor, a versão T120 de 1959 foi a mais famosa de sua linhagem, sem se furtar de linhas limpas e acabamento espartano, conceito esse que já era presente na juventude européia com as também famosas ‘Café Race’.! Triumph Bonneville 120R de 1959

Com todo esse glamour, a Bonneville não escondeu sua vocação para ‘Movie Star’, pois foi em uma Thunderbird T6 1950, motocicleta inspirada do design da Bonneville, que Marlon Brando promoveu a estréia da Triumph no cinema, pilotando-a no clássico The Wild One (O Selvagem de 1953); e recentemente, Arnold Schwarzenegger, 50 anos depois, em Terminator 3 (Exterminador do Futuro 3 de 2003) finaliza as várias aparições da Bonneville no cinema.

O selvagem Marlon Brando

Atual Boneville 2006

No começo de 1983 a fabrica de Meriden fechou suas portas por problemas de recursos financeiros, mostrando um fim da da industria britânica de motocicletas. Porem a marca Triumph foi comprada, e de maneira confidencial renasceu na nova empresa ‘Triumph Motorcycles Limited’, com produção de motocicletas declarada apenas em 1990, já focando a concorrência às motos japonesas.

Posto isso, como segundo modelo, já dentro do século 21, temos o retorno da nova Triumph Bonneville, ainda baseada na lendária T120 dos anos 60, mas com uma alma revigorada e atual, motor de 2 cilindros paralelos, 790cc e refrigeração a ar, freio a disco, chassis remodelado; marcando um novo sucesso de venda, em seu modelo América para o consumidor norte-americano.

Finalizo, acreditando que por um pequeno momento, trouxe o exercício da lembrança dos seus bons tempos, da crença na continuidade em criá-los, e desejando que tudo se conserve …

O que vem no futuro, só o passado dirá … ‘ANTES DE DESTRUIR PRESERVE’ … mesmo que seja um sonho.