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Texto: Alexandre Patriarca Elas, as lágrimas, se confundiam com a chuva que caía, então, eu não tinha certeza se ainda chorava ou se já havia parado.

Devem ter durado uns 5 minutos, mas valeram por uma vida toda.

Depois disso, retomei o fôlego e, resignado pela situação, decidi tomar uma atitude, nesse exato momento o telefone toca…

Mas, me deixem explicar o que aconteceu, já contei essa história uma vez, mas ainda não contei como me senti naquelas horas de tristeza e melancolia.

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19h50minh saio do trabalho perguntando se valeria a pena colocar a capa de chuva ou não, já que as nuvens carregadas estavam indo embora, alguém me responde: não precisa, ela já está passando, mas, resolvi seguir meus instintos motociclísticos e vestir a capa, não custa nada, são 2 minutos.

Chego numa avenida movimentada de São Paulo, mas, pela data, ela está até que transitável, alguns metros à frente chego até a chuva que está fraca. Sigo meu caminho, e a chuva começa a aumentar, e cada vez a visibilidade diminui, penso comigo: vou procurar um lugar para parar.

Sei onde tem um lugar seguro para esperar a chuva passar. Todos estão com pressa de chegar em casa, olho no retrovisor e tem um opalão grudado na moto, abro caminho para ele, que passa igual a um foguete, atravesso o viaduto e ao chegar do outro lado, uma fila de carros.

Subitamente eles param…

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…lembro-me de olhar para baixo e só vi água, onde estava o asfal…?

Acordei sendo engolido pela água, e, por incrível que pareça, me afogando. Levantei-me, desorientado, tinha um microônibus bem perto de mim, o motorista abriu a porta e perguntou se estava tudo bem, só pedi um segundo para recuperar o fôlego e disse que estava tudo bem que ele poderia ir muito obrigado.

A moto? Bem, a moto estava no chão, embaixo da água, levantei-a e para minha surpresa o guidon estava completamente torto, parecia um bumerangue, mas novamente fui dominado pela força das águas, me desequilibrei e deixei a moto cair.

A água começou a arrastar a moto, entrei em desespero, e como um urso corre para salvar seu filhote, eu joguei tudo no chão e comecei a correr atrás da minha motoca, consegui alcançá-la, mas não tinha mais forças para levantá-la, parei na sua frente, impedindo a água de tomá-la de mim novamente.

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Um senhor pára seu caminhão em cima do viaduto e corre em meu auxílio, mas a água não se preocupa com quem quer ajudar, ele cai, larguei a moto e corri até ele e o ajudei a se levantar, voltamos até a moto, a pegamos e levamos até a calçada, onde a água não alcançava.

Mas olhem só que ironia, o caminhão do homem era um guincho, e eu pensei, estou salvo!!!

– Sinto muito, eu sou padeiro e só estou trazendo esse caminhão do interior para o meu irmão. – disse ele.

– Tudo bem, vá com Deus e feliz natal. – foi só o que eu consegui dizer naquele momento.

Foi então que me veio uma triste realidade, ligar para quem em pleno Natal?

Minha esposa não estava em casa e só voltaria depois das 21hs, pensei, pensei e nada.

Quando a triste e dura realidade estava bem ali, na minha frente.

Eu não sou materialista, não mesmo, mas tenho um sentimento pela minha moto que quem me conhece sabe do que estou falando. Então, comecei a chorar…

…passados 5 minutos meu celular tocou, consegui tirá-lo de dentro da capa de chuva, ele estava encharcado: – Alô? – Oi Alê, onde você está? – Oi amor tudo bem? Estou em SP ainda, mas preciso muito de você… – O que foi? -… caí da moto…não sei muito bem o que faço agora. – Tudo bem, não se preocupe, já estou providenciando alguém para te buscar. – Tudo bem, não se preocupe, estou bem, a moto é que não está.

Depois de “quase tudo” acertado, decidi sair da chuva que insistia em continuar, empurrei a moto exatamente ao local em que pretendia parar e para minha sorte, tinha uma viatura da polícia e um carro quebrado (mais uma vítima da enxurrada).

A partir desse momento, meu telefone não parava de tocar, mãe, tios, tias, cunhado, irmãos, esposa, todos ligando e me acalmando, mas na verdade era eu quem estava fazendo isso com eles, em algum momento alguém disse, já providenciamos alguém para te buscar.

E a moto? – eu perguntei. Arrumamos algum lugar para ela ficar hoje!

– Sem a moto eu não vou! – falei com um nó na garganta.

Enquanto esperava, acabei ajudando o moço do carro quebrado que estava com crianças nele.

O tempo passava, o telefone continuava a tocar, afinal, pouca gente da família conhece SP e os caminhos que eu faço, então os orientei até a sua chegada.

Eles chegaram e para minha alegria, junto com um caminhão, minha esposa conseguiu contatar um irmão da igreja que eu freqüento, e um disse para outro, que disse para outro, e chegou ao seu ouvido e ele se ofereceu para ajudar.

Chegaram lá às 23:30hs, colocamos a moto no caminhão e depois que todos se acalmaram, me forçaram a ir ao hospital.

Bem, sobrevivi, foi meu presente de Deus, no dia seguinte contei o ocorrido aos amigos, li e ouvi palavras de incentivo, encorajamento e ajuda, claro, não poderia ter sido de outra forma.

Chorei sim, não tenho vergonha de dizer, pois isso não me transformou em menos homem, mas sim nos eleva os seres humanos.

Mas o mais importante foi o que aprendi aqui e queria MESMO passar a vocês: * A capa de chuva me protegeu muito na queda, equipamento de segurança SEMPRE; * Tenha sempre crédito e bateria carregada no celular; * Deixe sempre alguém de confiança ciente do seu itinerário; * Conheça o seu itinerário; * Não se desespere, na hora certa tudo se resolve; * Danos materiais sempre são repostos, danos físicos, nem sempre. * Confie sempre na família e nos amigos, é nessa hora que você descobre quem eles são de verdade, enquanto o socorro não chegava o meu celular não parava de tocar com a turma me acalmando e falando que estavam à caminho.

Abraço, Alexandre Patriarca.