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Desde que foi relançada no Brasil em 2016, a Vespa ainda não apareceu de verdade nas ruas do Brasil. Tem-se a impressão que de fato a empresa desistiu logo nos primeiros meses depois daquele lançamento que falava em vender Vespa em boutique com preço de roupa de grife, “como se fosse uma joia”, falou à época Giuseppe De Paola, diretor da Asset Beclly, empresa que representa a marca aqui no Brasil.

Giuseppe De Paola: Dois passos atrás para ganhar impulso

Giuseppe De Paola: Dois passos atrás para ganhar impulso

Não precisava ser especialista para perceber que aquela operação não ia decolar. Não naquele formato, tampouco com aqueles preços. Mas nem tudo foi notícia ruim para a Vespa nem aos compradores destes simpáticos scooter com jeitão de anos 60 desde então, simplesmente porque a Vespa segue atuante no mercado brasileiro. Sim, funcionando com lojas e vendendo scooter para todo o Brasil via e-commerce. Surpreso? Devo confessar que eu fiquei bem surpreso com essa informação.

Vespa, una picola storia brasiliana

Encontrei aquele mesmo principal executivo da Vespa no Brasil, Giuseppe De Paola, perambulando pela área de exposição do Festival Duas Rodas em Interlagos no final de agosto e aquela foi uma ótima oportunidade de perguntar diretamente como andava a operação da marca por aqui. Eu era capaz de apostar que escutaria aquele tradicional “… está difícil, veio a crise e não conseguimos emplacar no mercado brasileiro como queríamos….blablabla…”. Contudo, ouvi um ponderado “…demos alguns passos atrás para ajustar e conseguir dar passos adiante”, resumiu o entusiasmado e sempre elegante executivo.

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A fachada da "boutique" Vespa em São Paulo: padrão sofisticado

A fachada da “boutique” Vespa em São Paulo: padrão sofisticado

Giuseppe contou que o aparente fracasso inicial de mais essa tentativa de introduzir a marca no Brasil – ela já esteve por aqui no final da década de 1980, inclusive com uma fábrica em Manaus (AM) – não os impediu de conseguir vender nos primeiros meses da operação cerca de 120 scooter dos 4 modelos que foram apresentados inicialmente, com preços a partir de R$22.890 por uma Vespa Primavera 125 e chegando a R$32.930 numa Vespa GTS 300, tudo naquela loja (boutique) no Shopping JK, um dos mais sofisticados de São Paulo.

Indagado sobre as vendas da marca desde então, já que nos dados de emplacamento do Denatran divulgados pela Fenabrave (Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores) todos os meses a marca quase não aparece, Giuseppe informou que vendeu aproximadamente 600 Vespa até o primeiro semestre de 2019, mas que muitos não são emplacados. “Muita gente compra para usar como objeto de decoração”, fala. Veja na tabela estes números informados pela Vespa e os registrados pelo Denatran (Fenabrave):

Vendas Vespa

2016

2017

2018

2019 (jan-jun)

Denatran (Fenabrave) 1 31 14 37
Importador (distribuidor) 140 120 190 200
20% das vendas da Vespa é para serem usadas como objeto de decoração

20% das vendas da Vespa é para serem usadas como objeto de decoração

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Giuseppe conta que os números iniciais empolgaram e logo foi inaugurada a loja Motoplex, noutro ponto sofisticado de São Paulo, com 1.100 m², a segunda maior loja do grupo Piaggio no Mundo. Em seguida, no início de 2017, mais uma loja, agora num shopping de Campinas (SP). “Então começamos a ver que a conta não fechava”, confessa Giuseppe. “Precisávamos vender 45 unidades para empatar na Motoplex”, complementa, deixando claro que não era possível vender aquele volume de scooter por aqueles preços anunciados no início.

Então vieram as decisões amargas, mas necessárias para manter a operação com os pés no chão. A loja Motoplex foi fechada, a de Campinas também e ficou apenas uma loja em São Paulo na região do Itaim, outra área nobre da cidade, procurando manter o caráter de sofisticação do produto e de seus consumidores. A linha de produtos também foi repensada e a empresa se apresentou no Salão Duas Rodas de 2017 com a mesma cara, mas em vias de sanear suas contas e equilibrar a operação.

A boutique Vespa de Belo Horizonte, inaugurada em julho de 2019

A boutique Vespa de Belo Horizonte, inaugurada em julho de 2019

Aquelas 4 primeiras motos apresentadas com preços muito acima do que seria razoável para o mercado brasileiro seguem no portfolio, mas apenas sob encomenda: Vespa Primavera, Vespa GTS 300, Piaggio Beverly e Piaggio MP3, além da Vespa Armani. Desde o início de 2018 compõem o portfólio principal da Vespa no Brasil apenas os modelos Vespa Classic e Elegant, que compartilham a mesma mecânica de 150 cc e tem poucas diferenças entre si, como o formato do farol, por exemplo. “A Vespa Classic é a preferida e tem 90% da procura pelos consumidores”, fala Giuseppe. Ah, o preço: R$19.800.

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Os scooter da marca vendidos no Brasil vem de uma das duas fábricas da Piaggio na Índia ou na China. Eles são importados por Recife (PE), dentro do Prodeauto, programa de incentivo do governo de Pernambuco que oferece alguma isenção de ICMS, o que resulta em cerca de 20% de redução no preço final para venda das Vespa no Brasil. “Com o Prodeauto conseguimos ter preços um pouco mais competitivos”, diz Giuseppe, ciente de que ainda precisa vender mais barato para vender mais.

A Vespa no Salão Duas Rodas de 2017: este ano tem mais, com lançamento de um scooter 125

A Vespa no Salão Duas Rodas de 2017: este ano tem mais, com lançamento de um scooter 125

Depois dessa enxugada geral e do equilíbrio alcançado, a empresa retomou seu plano, ainda tímido, de crescer no mercado brasileiro, aproveitando a onda de crescimento do segmento de scooter. O e-commerce vende para todo o Brasil e oferece assistência técnica através de uma oficina local credenciada. “Em julho inauguramos uma loja em Belo Horizonte (MG) e planejamos abrir em Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC) e Brasília (DF)”, se orgulha Giuseppe De Paola. E finaliza, sem dar mais detalhes: “No Salão Duas Rodas deste ano vamos lançar um scooter 125 cc”. A conferir!

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Sidney Levy
Motociclista e jornalista paulistano, une na atividade profissional a paixão pelo mundo das motos e a larga experiência na indústria e na imprensa. Acredita que a moto é a cura para muitos males da sociedade moderna.