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Decimo oitavo dia: Passo Fundo (RS) a Curitiba (PR)

Por mais que eu dormisse, eu não descansava. E o dia de hoje foi ainda pior que o anterior. Além da presente dor nas costas e estradas em péssimas condições, apareceu a chuva, que nos acompanhou por praticamente todo o trajeto. Senti mais frio aqui do que na travessia do Paso de Jama, a 4.800 metros de altitude. Estava ensopado, chegamos a enfrentar uma tempestade já perto de Curitiba, caso ela continuasse teríamos que abortar o plano inicial e pernoitar em algum lugar na estrada. Mas conseguimos chegar em Curitiba, todos molhados, mas com um hotel já reservado. O que ajudou a não piorar o dia.

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Quase em casa

Quase em casa

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Chegamos no hotel, estendemos as roupas encharcadas, na tentativa inútil de secá-las, tomamos um bom banho quente e fomos buscar por comida. A região que ficamos não favoreceu para isso. Os restaurantes que ali haviam era muito caros, e com pratos parecidos aos que comemos fora do Brasil. Para a nossa sorte, havia serviço de copa no próprio hotel e acabamos comendo por lá mesmo.

Detalhe, assim que chegamos em Curitiba a chuva parou. Parou e sumiu.

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Decimo Nono dia: Curitiba (PR) a Indaiatuba (SP)

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Saímos de Curitiba cedo. Com as roupas ainda molhadas, mas com a certeza que secariam na estrada, pois chuva já não havia mais, o sol imperava. Logo na saída de Curitiba pegamos um grande congestionamento, por obras na rodovia. Não ficamos muito tempo parados, ou eu estava tao feliz por voltar que não me importei do tempo parado.

Trânsito travado mesmo para as motos.

Trânsito travado na saída de Curitiba, mesmo para as motos.

Agora a rodovia estava em bom estado, a BR-116. A dor nas costas ainda incomodava, mas já não era tão ruim, afinal, hoje eu dormiria sem hora para acordar. No caminho de volta passamos pela cabeça da Anta, um ótimo local para fazer curvas, do jeito que todo motociclista gosta, mas eu não. Meu pneu traseiro estava no fim. Em uma das curvas da Anta ele deu sinal de que estava muito, muito careca. A moto sambou por alguns instantes, mas o controle de tração fez sua parte e segurou bem.

Mais obras na Cabeça da Anta, tivemos que ficar parados por alguns instantes, mas tivemos mais sorte nos demais pontos de pare/siga. Assim que passamos por Itu, nos separamos dos demais amigos, que decidiram seguir por mais 400 km até à cidade de Lavras, em Minas Gerais.

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Em Itu a despedida dos amigos e companheiros de viagem

Em Itu a despedida dos amigos e companheiros de viagem

Continuei com a minha esposa de volta para casa, mas sem aquela sensação de “já cheguei”. Você só termina uma viagem quando senta no sofá. Muita atenção mesmo dentro do estacionamento do condomínio.

E enfim, em casa. Pegamos os baus, imundos e colocamos na sala, mas com o cuidado de colocá-los sobre um pano, para não dar muito trabalho no dia seguinte. Tiramos as roupas de cordura e colocamos também de lado ali na sala. Tomamos um banho, como sempre fazíamos nos hotéis, mas dessa vez era no nosso banheiro. Nossos costumes.

Ainda tivemos forças para ir até um restaurante comer algo, para então ir dormir, sem a preocupação de ter que arrumar os baus no dia seguinte, ou mesmo de ter um horário para levantar no dia seguinte.

Essa foi a rota escolhida

Essa foi a rota que fizemos

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DICAS DA VIAGEM

Rota – Trace uma rota padrão mas não se prenda a ela. Analise rotas alternativas, para fugir de chuvas, obras ou mesmo para uma possível curiosidade.

GPS – Um GPS ajuda, mas de nada adianta se você não estudar a rota com um outro mapa antes da viagem. Utilize o GPS para conseguir informações de postos de combustíveis, hotéis e restaurantes. Caso se perca da rota original, pare e estude uma rota alternativa. Não fique zanzando pelas cidades com a cara no GPS, você se torna um perigo para os demais motoristas. Um simples GPS de celular da conta do recado. Isso e um pouco de paciência.

Motos – Faça uma revisão antes da viagem. Troque tudo que estiver com meia vida; pneus, pastilhas, mesmo que não pareçam estar no fim. Você não vai querer gastar um dia da sua viagem procurando uma oficina que atenda a sua moto, ou pior, ficar mais dias aguardando uma determinada peça chegar. Eu adiantei a revisão de 10.000 km da minha moto, mas negligenciei os pneus e as pastilhas de freio.

Tive sorte de encontrar a pastilha no estoque da autorizada em Santiago, e que o pneu aguentou até chegar em casa, sambando, mas aguentou. É mais seguro ir com tudo novo. Lembre-se que será uma viagem longa, muito longa. Se sua moto precisar de uma troca de óleo no meio do trajeto, planeje a troca numa cidade de grande porte, ou leve o óleo apropriado na bagagem.

Documentos – Guarde todos eles num só lugar. Sugiro uma pasta de escritório, simples, e embalado em um saco plástico para evitar água de alguma forma. Deixe essa pasta em um lugar de fácil acesso, mas bem protegido. Você só vai precisar mostrar os documentos quando estiver parado em uma aduana ou em um posto policial. Sua moto estará estacionada, e ninguém vai te apressar para mostrá-los.

Guardei os meus no baú traseiro, por cima dos demais objetos, mas preso por um elástico. Lembre-se de sempre guardá-los com calma quando terminar de usar. Tenha certeza de que guardou todos no mesmo lugar antes de prosseguir com a viagem. Na aduana de entrada no Chile você vai receber mais dois formulários para carregar até à saída do país. Guarde-os junto com os demais documentos. Você não vai precisar apresentá-los até lá mesmo.

Os documentos que você mais vai utilizar são os passaportes e o documento da moto, guarde-os por cima dos demais para facilitar na hora de apresentar. Faça cópias dos documentos, guarde uma delas bem guardada em outro local e deixe uma outra de fácil acesso com você. Alguns hotéis pedem o passaporte para fazer o check in.

Pedágios – Na rota que escolhemos, motos só pagam pedágio na Argentina, na volta. Já no Chile, todos os pedágios são tarifados. Prepare os trocados.

Hotéis – Se você quiser tranquilidade, vá com todos os hotéis reservados. Vai pagar mais caro, mas não vai precisar ficar “passeando” pela cidade em busca de um hotel com vaga. Por outro lado, você vai ter que seguir à risca o planejamento, caso contrário, terá que entrar em contato com os hotéis para negociar a troca de datas das reservas.

Eu sugiro que façam as reservas apenas nas cidades mais badaladas, como San Pedro de Atacama e Santiago. Para os demais, vá com os endereços dos hotéis já mapeados, para evitar ficar procurando assim que chegar nas cidades. Você estará cansado e terá que buscar locais para estacionar enquanto perambula pela cidade.

A maioria dos hotéis aceitam cartão, e diferente do que apontam os sites de reservas on line, mesmo as cidades pequenas possuem bastante hotéis. Dificilmente você ficará sem um teto e uma cama para passar a noite.

Dinheiro – Para a Argentina, faça todo o câmbio ainda no Brasil, incluindo a volta. Quanto mais longe da fronteira, pior será a taxa. E você ainda evita de voltar com uma taxa bem pior do que a da ida, como aconteceu conosco. Dentro da Argentina você fará apenas deslocamentos, não gastará muito dinheiro. Preocupe-se com o período no Chile.

Já no Chile, as taxas para câmbio em San Pedro de Atacama, a primeira cidade, estavam muito abaixo da taxa oficial. Foi mais vantajoso conseguir dinheiro local fazendo saques nos caixas eletrônicos, mesmo com os juros. Na cidade de San Pedro pudemos encontrar dois locais com caixas eletrônicos. Um fica em uma farmácia na rua Caracoles e o outro fica perto da praça, em frente ao semáforo que indica o nível de incidência dos raios UV. Nesse último não pagamos a taxa de serviço da operação bancária e não há limite para o saque. Diferente do caixa da farmácia, que nos cobrou em torno de 30 reais por saque e só permitia sacar a quantia de 200.000,00 pesos.

Tenha em mãos uma calculadora para fazer as conversões de peso local para reais. Eu criei uma planilha no Google Docs, onde atualizava os valores das taxas de acordo com os saques.

Saúde do piloto e da garupa – Cuidado com o que come na estrada. Prefira deixar para comer nas cidades onde vão pernoitar. Evite comer na estrada. Coma sempre coisas leves. Mas não deixe de comer. Leve barras de cereais, biscoitos, e água, sempre mineral.

Eu e minha garupa fomos bem durante toda a viagem, salvo algumas complicações estomacais no incio, talvez por conta da ansiedade. Como fomos preparados para o pior, levamos remédios para todo tipo de enfermidade. Ainda bem que não chegamos nem perto da maioria deles.

As dores musculares só apareceram com força no final da viagem. Acredito que o psicológico também já estava afetado e por isso os relaxantes musculares já não faziam mais efeito. Para a altitude fizemos uso do Diamox, eu não quis arriscar passar mal lá em cima e comprometer o passeio. Já os dois amigos não fizeram uso de droga alguma e não sentiram nada.

Clima – Vá preparado para o frio, para o calor e para a chuva. Dê um jeito de colocar roupa para isso tudo na bagagem. Mesmo no verão você vai passar frio no Paso de Jama, vai passar frio nos passeios em San Pedro. E você não vai querer guiar uma moto todo molhado, tira sua concentração e toda a alegria de pilotar; vai ficar com vontade de ir embora rapidinho.

Mas se molhar é inevitável, utilize folhas de jornal para secar as botas e luvas enquanto dorme. O papel do jornal suga a umidade e ajuda a combater aquele odor “gostoso” de botas molhadas. Filtro solar e protetor labial são os itens mais utilizados no deserto, use e abuse. Roupas com proteção UV também são aconselháveis.

Passeios – Em San Pedro, pesquise bem antes de fechar um pacote de algum passeio. Pechinche bastante. Não há muita diferença nos roteiros de cada empresa, mas algumas contam com carros antigos e sem manutenção. Em nosso último passeio, a porta traseira da van não estavam fechando corretamente, e quando passávamos por uma estrada de terra a poeira imperava dentro do carro. Já com uma outra empresa, o Coronel ficou por volta de duas horas aguardando um resgate, pois a van em que ele estava ficou sem gasolina.

Você pode economizar uma boa grana fechando todos os pacotes de uma só vez, mas corre o risco de não gostar da empresa já no primeiro passeio e ter que negociar a devolução do dinheiro para reaver os próximos. Como dica, sugira fazer o pagamento parcelado, por dia.

Demais dicas – Leve uma régua de energia, ou vários adaptadores “T”‘. Alguns hotéis só disponibilizam uma tomada, e você vai ter que se virar para recarregar a bateria das câmeras, intercomunicadores, celular, notebook, etc. Apesar dos padrões de tomadas serem diferentes, você não precisa de um adaptador universal. Basta garantir que sua régua ou “T” seja com o padrão de dois pinos cilíndricos.

Fotografias – Leve cartões e mais cartões de memória, e baterias extras para as câmeras. Você vai fazer muitas fotos. Se tiver uma câmera de ação, deixe-a sempre visível, seja no capacete ou na moto, mesmo quando desligada, ao rodar pela Argentina. Isso vai te ajudar a afastar os policiais corruptos. Estude espanhol. Parece a mesma coisa mas não é.

Dinheiro – Não guarde todo o seu dinheiro no mesmo lugar. Separe-o entre a bagagem, e roupa. Se possível, evite rodar com muito dinheiro em espécie. Compras no cartão te cobram IOF, mas é mais seguro. Só leve dolar se você já tiver em casa, não precisa comprar para a viagem. Todas as casas de câmbio aceitam o real.

Refeições – Geralmente, os pratos individuais servem duas pessoas, principalmente os que possuem “a lo pobre” no nome. Em San Pedro, lembre-se de pedir um desayuno extra nos dias em que seu passeio começar mais cedo que o horário do café.

Espero que quando chegar a sua vez de fazer uma viagem semelhante você se divirta tanto quanto nós nos divertimos nessa aventura inesquecível, que habitará nossos corações para sempre.

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As logos do Bando do Macaco e Harpias das Gerais

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O motonliner Danne Meira Castro Aguiar enviou este relato através do “Você no Motonline”. Mande você também o seu texto e o compartilhe com milhares de leitores que, como você, também amam as motos.