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Terceiro dia: Posadas (AR) a Presidência Roque Saenz Pena (AR)

Fila para abastecer em

Fila para abastecer em Corrientes

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No terceiro dia acordamos cedo, tomamos o desayuno (café matinal), bem diferente do Brasil, lá você não se serve, é servido. “Cafe o té?”, e te trazem um pratinho com pães e croissants contados de acordo com o número de pessoas, e pronto. Nada de um buffet self-service como temos aqui nos hotéis brasileiros.

Abastecidos, continuamos nossa viagem pela Argentina, destino do dia: Presidência Roque Saenz Pena. Nossa maior preocupação nesse dia foi de evitar a famosa polícia argentina da cidade de Corrientes. Lá, motos são proibidas de passar pela pista central, então pegamos a primeira entrada da cidade, e fomos por dentro, até chegar na orla e ver a ponte sobre o rio Parana. Dessa forma chegamos sem problemas na ponte, e cruzamos o rio, sentido Resistência.

Início da grande Reta do Chaco

Início da grande Reta do Chaco

Começava então a longa reta do Chaco, na RN 16. Pude usufruir do cruise control da minha moto, descansando a mão direita e acenando para os locais, que por lá, não se preocupam em utilizar o “casco” (capacete) ao pilotar suas motocicletas.

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A garagem do hotel

A garagem do hotel em Purmamarca

Chegamos ainda cedo em Presidência Roque Saenz Pena. Procuramos por um hotel, dessa vez com a conversão de moedas na ponta do lápis, mas nem precisamos, pois o hotel aceitava pagamento em reais. Depois de um bom banho, fomos passear pela cidade, à procura de um restaurante.

Nesse dia descobrimos o quão diferente é a comida fora do Brasil. Por lá você não encontra restaurantes com self service, é sempre a la carte. Não tem feijão. O prato principal aqui é a carne, e se você quiser, pode pegar uma guarnição, seja arroz ou salada. Eu sou chato para comida, mas tive que me virar. Dessa vez foi um pedaço de frango com salada. Prato que serve duas pessoas tranquilamente.

Voltamos para o hotel pois o dia seguinte seria um dos mais puxados. Dormimos bem. Tentaríamos chegar a Purmamarca, 750 km para percorrer.

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Quarto dia: Presidência Roque Saenz Pena (AR) a Purmamarca (AR)

Dessa vez o desayuno foi mais abonado. Self service quase parecido com o do Brasil. Só tinha croissant e algumas torradas, mas pelo menos, poderíamos comer quantos quiséssemos.

Longo trecho em obras na Reta do Chaco

Longo trecho em obras na Reta do Chaco

Motos abastecidas, voltamos para a longa reta, para descobrir logo a frente que parte dela estava em manutenção, com desvios não pavimentados, mas não chega a ser o famoso rípio. Era terra batida, com poucas pedras. Eu que não me dou bem no off road me sai razoável, sem atrasar muito os amigos. A RN 16 se manteve assim por um bom trecho, ora asfalto, ora terra, o que foi bom, pois nos fez redobrar a atenção, e evitar os animais na estrada, que eram muitos.

Animais na pista

Animais na pista

Em sua maioria, eram cabras e cabritos, cruzando ou ao lado da pista. Mas em um momento eu achei que a viagem terminaria ali. Pouco antes de chegar na cidade de Monte Quemado para um abastecimento, havia um grupo de cavalos pastando ao lado da pista. Um deles, o maior, se assustou ou se enfureceu com a passagem das motos e arrancou para cima da V-Strom, que estava logo à minha frente, mas desistiu e parou no meio da pista, bem no meu caminho. Eu paro e o espero cruzar, passo devagar e torço para ele não me ver, ou acelero e continuo?… Não deu muito tempo para pensar nessas coisas na verdade.

Logo após ele desistir de perseguir a V-Strom ele se virou para a minha moto e arrancou. Eu fiz o mesmo, mas na direção contrária. Para a minha sorte eu estava com o modo sport ativado e a arrancada da minha moto foi mais rápida que a do cavalo solitário. Mas acredito que ele passou a centímetros do meu baú lateral, pois pude ver de perto o peito largo daquele garanhão, querendo cruzar com minha moto… Será que ele não percebeu que 95 cavalos era demais para ele?

Chuva no Chaco

Chuva no Chaco

Passamos pela sorte com aquele cavalo estressado e logo depois começou a chuva. Chuva que nos acompanharia até chegar ao pé da Cordilheira dos Andes. Mais uma vez contamos com a sorte, pois começou a chover nos quilômetros finais do trecho em obras e pegamos apenas algumas partes com lama, nada que forçasse utilizar meus conhecimentos inexistentes em off road. No meio dessa reta encontramos os dois grupos de motociclistas, os paulistas que conhecemos em Campo Mourão, e os brasilienses que conhecemos em Posadas. Houve um problema na moto de um deles e um outro caiu ao entrar no acostamento da Ruta em obras. Nada grave, apenas amassados no baú, mas todos voltaram para a estrada. A parte chata de viajar com chuva é que ela te impede de ver as belezas da estrada.

Passamos pela região de Salta e Jujuy sem apreciar nada. Esse trecho foi apenas para deslocamento. Mas ao chegar mais próximo à Cordilheira percebemos que tudo mudaria. Ao começar a subir o clima e a paisagem foram mudando aos poucos. A chuva parou, a viseira do capacete foi desembaçando e a Cordilheira começou a aparecer. E que vista. Naquele momento eu percebi que a viagem realmente estava começando.

Chegando na cordilheira a paisagem começava a mudar

Chegando na cordilheira a paisagem começava a mudar

Era um festival de cores. Nunca havia visto montanhas como aquelas. E olha que já rodei bastante por Minas Gerais. Mas nada se compara a imensa Cordilheira. Tivemos que parar em um momento da estrada, pois a vista era incrível. Uma pena que só percebi que a lente da câmera estava embaçada e suja, só quando cheguei no hotel e fui ver as fotos e só me restou lamentar. Vocês vão precisar fazer essa viagem para ter o prazer da vista.

Assim que adentramos na Cordilheira o Sol reapareceu e pudemos chegar quase secos na cidade de Purmamarca. Uma cidade bem pequena, com características rústicas, cercada pela Cordilheira. Uma beleza ímpar. Ficamos hospedados numa espécie de hostel, mas com banos (banheiros) privados. Nesse mesmo hostel estavam um grupo de motociclistas argentinos, que estavam seguindo para o Peru.

Chegando em Purmamarca

Chegando em Purmamarca

Jantamos um belo lomo de pollo (frango) à milanesa com salada, pedimos alguns “diarios” (jornais) para colocar nas botas para tentar secá-las e fomos dormir.

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Quinto dia: Purmamarca (AR) a San Pedro de Atacama (CH)

Acordamos com a bela vista da Cordilheira. Desayuno seguindo o mesmo molde dos anteriores, bem servido mas regrado. Por ali não havia posto de combustível, seguimos com a intenção de abastecer em Susques, a 140 km adiante.

A Bolívia é logo ali

A Bolívia é logo ali

Agora sem chuva a paisagem mostrava toda sua beleza. E que beleza. Parecia que estávamos em outro mundo. A cordilheira é multicor, com muitas curvas. A fauna e flora da região encantam.

Em Jujuy

Na Província de Jujuy, a 4.170 metros acima do nível do mar. o ar já é rarefeito

Na argentina chegamos a uma altitude de 4.170 metros. Local devidamente sinalizado que acabou virando uma das atrações turísticas da região. Cuidado com o mal da altitude. Tirar fotos com o timer da câmera não é uma boa ideia. A corridinha até a pose vai te fazer ficar sem ar e até ter tonturas. Mas esse não será o ponto mais alto do dia.

Nessa região, mesmo com o sol a pino, o frio impera. Muito frio. Até então havíamos passado por temperaturas de até 8° C. Tudo mudaria quando cruzássemos a fronteira. Antes da fronteira havia o Salar Salinas Grandes. Pode ser visto ao longe como um grande clarão no meio da estrada. Lá há um restaurante todo feito de sal, mas estava desativado quando chegamos. Essa região está em obras, o trecho que passa no meio do salar não está pavimentado, e lá sim o piso se parece com o rípio, pois há muitas pedras, porém ainda sim, não exige habilidades off road. Não sei se por conta disso o local das Salinas estava com o um tom mais para marrom do que para branco, só se via o sal branquinho quando cavávamos um pouco da terra de cima.

A visão do Salar Salinas Grande ao longe na estrada

A visão do Salar Salinas Grande ao longe na estrada

Logo após a Salinas Grandes chegamos a Susques. Não entramos na cidade, mas deu para perceber que é bem pequena, com poucas opções de pousadas. Mas havia um posto, que não tem cara de posto, com apenas duas bombas, com nafta 98 octanas. Abastecemos sob uma ventania sem igual, quase não conseguíamos ficar parados. Comemos umas galetitas (biscoitos cream cracker) e continuamos rumo à fronteira com o Chile.

No Salar Salinas Grandes

No Salar Salinas Grandes

Enquanto abastecíamos, um ônibus de turismo chegou na aduana na nossa frente, tivemos que aguardar todos os passageiros do grupo para fazer o nosso trâmite. Levou cerca de 30 minutos esperando. A documentação exigida foi a mesma. Passaporte e documento da moto. Mais nada. Só que dessa vez haviam mais passos.

Primeiro apresentamos os passaportes e tivemos que preencher um formulário, com nossos dados pessoais, dados da moto, de onde estávamos vindo, para onde estávamos indo, quando tempo ficaríamos no Chile, etc etc. Esse papel foi carimbado no guichê seguinte e ganhamos mais outro formulário, um menorzinho, que também teve que ser preenchido, carimbado e guardado.

Na fronteira da Argentina com o Chile

Na fronteira da Argentina com o Chile

Deveríamos apresentar esses dois formulários, um da moto e outro dos passageiros (no meu caso, um para mim e outro para a minha esposa, a única garupa) na saída do Chile. Além desses dois formulários havia um outro papel, esse só com carimbos, que deveríamos ser apresentados ali mesmo, na saída da aduana. Cuidado com a ventania, para não perdê-lo.

Muitos deixam registrada a sua passagem pelo local

Muitos deixam registrada a sua passagem pelo local

O tramite final fica por conta da vistoria na bagagem. Um fiscal escolhe aleatoriamente um dos baús e te pede para abrir. Escolheu o meu baú traseiro, e olhou superficialmente, “o que é isso, o que é aquilo, tá ok.”. Ele me perguntou se estava levando algum tipo de comida. Não podemos entrar com frutas ou alimentos perecíveis no Chile. Eu só tinha barrinhas de cereais e biscoitos. Não fizeram questionamentos sobre medicamentos, também não disse que estava levando uma farmacinha, rsrs. Enquanto guardávamos os documentos nos baús, encontramos mais uma vez com o grupo de Brasília. Agora eram apenas 3. Descobrimos o paradeiro do outro mais tarde, naquele mesmo dia.

Motos liberadas, papelzinho carimbado entregue, vamos tirar fotos na placa.

Entramos no Chile e passamos frio, muito frio além de rodarmos com as motos inclinadas por causa dos fortes ventos. O GPS indicou altitude de 4.800 metros acima do nível do mar. O painel da moto mostrou 3,5° C. E eu quase congelei. O frio só deu uma trégua quando começamos a descer, e descemos rápido.

Enquanto descíamos pudemos ver ao longe o vulcão Licancabur, e várias outras formas de paisagem que o local proporciona. Paramos em um local estratégico para fazer fotos “ao lado” do vulcão e continuamos seguindo para San Pedro de Atacama. O sol estava se pondo, e ainda precisávamos encontrar um hotel.

O Vulcão Lincancabur

“Ao lado” do Vulcão Lincancabur

Chegando na entrada de San Pedro de Atacama há uma aduana, mas não precisamos parar, pois já havíamos feito todo o tramite no Paso de Jama.

Enquanto procurávamos um lugar para estacionar as motos e buscar por um hotel, fomos abordados por um grupo de motociclistas chilenos, que estavam a pé, querendo saber como estavam as condições climáticas no Paso de Jama. Informei que estava bom, muito frio, muito vento, mas bom. Eles nos retribuíram o favor indicando um bom hotel.

Motos de colegas chilenos de passagem por San Pedro de Atacama

Motos de colegas chilenos de passagem por Purmamarca

As ruas de San Pedro são bem sinalizadas, várias possuem mão única, e todos seguem à risca as leis de transito. Pare é pare. Não é reduza. É pare. Ponto morto, pé no chão, olha para um lado, olha para o outro, e só então, siga. Algumas ruas não permitem estacionamento, então a dica é, pare no estacionamento de algum hotel, busque o preço dele, se não gostar, deixe a moto lá e olhe os outros. São todos muito perto. Para a nossa sorte, o hotel que o chileno havia indicado ainda tinha vagas, e gostamos do preço e habitações.

Motos estacionadas, bagagem removida. Hora do banho e descanso para aproveitar as belezas do Atacama.

Já à noite fomos procurar um lugar para jantar. Não procuramos muito, pois já estava ficando tarde e os restaurantes fechando. Acabamos por escolher o mesmo que o grupo de Brasília.

Conversando com os 3 amigos, descobrimos que um deles teve problemas com a relação de sua BMW GS 650. Acionaram o suporte da própria BMW, que prontamente socorreu o cliente e o levou de táxi até a cidade de Salta. Eles combinaram de se encontrar em San Pedro, quando a moto ficasse pronta, mas o dono da GS não quis seguir viagem, avisou os amigos via mensagem eletrônica que voltaria para o Brasil dali mesmo, de Salta. Uma pena, imprevistos como esse podem desestabilizar o emocional de qualquer um, mas é melhor seguir a intuição. Despedimo-nos dos amigos de Brasília, terminamos nossa janta e voltamos ao hotel para dormir. O dia seguinte seria o primeiro sem as motos. Iríamos passear.

Não perca amanhã a continuação da viagem

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O motonliner Danne Meira Castro Aguiar enviou este relato através do “Você no Motonline”. Mande você também o seu texto e o compartilhe com milhares de leitores que, como você, também amam as motos.