O ano era 1988 e o Rally ainda partia de Paris e terminava em Dacar. Todas as grandes marcas tinham uma motocicleta “big trail” ou “big single” (referência a motores monocilíndricos de capacidade cúbica maior) e sonhavam vencer o Rally. Estas motos inspiravam aventureiros em todo o mundo – inclusive no Brasil – onde a Yamaha nacionalizou a sua XT600 Ténéré.
O nome esquisito, com as três vogais acentuadas – Ténéré – significa “deserto” no idioma dos Tuaregs, povo que vive no centro sul do deserto do Sahara e que inspirou a Yamaha a mudar definitivamente o perfil do segmento on-off road do mercado mundial (e brasileiro também), obrigando concorrentes a se movimentarem. Muitos foram no mesmo caminho, procurando posicionar “geograficamente” seus produtos: Honda Africa Twin, Aprilia Tuareg,…..
Vinte e dois anos depois a nova Yamaha XTZ 250 Ténéré revive aquela boa imagem de motocicleta robusta e aventureira dos antigos modelos 600 e 750 (Super Ténéré). E ela não decepciona, apesar do motor menor. Porte, autonomia e conforto para piloto e garupa destacam-se e fazem renascer o espírito aventureiro para percorrer grandes distâncias e incluir no roteiro caminhos pouco hospitaleiros.
Neste teste, a nova Ténéré circulou bastante nas mais variadas condições para as quais sua versatilidade a qualifica: bons e maus caminhos urbanos, rodoviários, trilhas e estradas sem pavimentação. Perto de 30% do percurso, fizemos na terra, com subidas e descidas íngremes e grande variação de altitude (pressão atmosférica).
Em todas as condições a Yamaha XTZ 250 Ténéré se comporta bem, com destaque para o conforto e agilidade. A grande autonomia permite longos períodos pilotando sem causar fadiga e são decisivos para isso o pára-brisa e o banco em dois níveis e com largura adequada, que proporcionam uma condução em posição confortável e relaxada, mesmo sem atingir velocidades mais altas.
Na cidade
Os caminhos podem ser difíceis mesmo para uma moto estilo aventura. São necessárias suspensões macias e de curso relativamente longo para absorver os impactos do asfalto mal conservado das grandes cidades brasileiras. Estas características estão presentes na Ténéré 250 e o piloto não sente tanto porque as suspensões absorvem as irregularidades do piso com bastante tranquilidade.
No labirinto de carros, caminhões e ônibus ela não complica. Apesar da largura do guidão e da grande carenagem frontal, sua direção completamente livre do peso agregado do farol, piscas e painel de instrumentos permanece bastante leve e oferece agilidade em manobras a baixas velocidades. Contudo, falta torque em baixas rotações, exigindo um pouco mais de rotação do motor nas manobras urbanas. É comum perceber a necessidade de “queimar” embreagem para elevar a rotação do motor para além dos 6.000 rpm para sentir a força do motor.
No Brasil é necessário o uso do farol aceso todo o tempo para as motocicletas e a grande parte das motos fabricadas aqui não contam com chave que ligue e desligue o farol, nas Yamaha dessa série XTZ 250 todas têm. Na verdade é uma boa opção para quando se quer economizar bateria, mas deve-se ter cuidado para não levar uma multa por trafegar com farol apagado. Por sinal esse farol da Ténéré ficou muito bom.
Outra vantagem muito sensível nesta moto no uso urbano é o pouco calor gerado pelo motor no anda-pára dos dias mais quentes. Assim fica mais tranqüila e confortável sua condução. Faltou um bagageiro maior para prender alguma carga quando a garupa estiver ocupada.
Na rodovia
Pode-se trafegar no fluxo de velocidade normal de qualquer estrada, mas em algumas circunstâncias, quando se quer dar uma esticada a mais, a grande área frontal vai limitar a velocidade ao redor de 120 Km/h. Nesta situação o pequeno motor está girando próximo dos 8.000 rpm e é notável o baixíssimo nível de vibração, incomum nas monocilíndricas em rotações mais altas. Realmente elogiável o trabalho da engenharia da Yamaha. A sensação é que caberia uma sexta marcha para alcançar a mesma velocidade mas com uma queda de giro menor entre as marchas. Apesar disso, há grande torque e aceleração nas rotações mais altas do motor, a partir de 5500 rpm, e isso permite chegar rápido na velocidade de cruzeiro.
Nas curvas ela se mostra bem estável e capaz de absorver ondulações do terreno durante o contorno sem problemas. Os freios têm potência de sobra para controlar a moto em qualquer condição. Enfim, a boa distribuição de peso e as qualidades já mencionadas contribuem para uma pilotagem segura e relaxada podendo se estender por muitas horas.
Na terra
Pela sua leveza, a pequena Ténéré promete bastante, mas a massa concentrada bem à frente do chassi prende a frente no chão e desfavorece manobras mais radicais. De fato ela não se propõe a esse tipo de manobras. Para isso há outros modelos da marca que se dedicam mais ao off-road. O estilo aventura dessa moto se dá bem em cruzar grandes extensões, seja pavimentada ou não. E quando o caminho acaba ela ainda continua oferecendo as mesmas características dos outros ambientes, destacando: muita maneabilidade para colocar a moto onde quiser pela leveza da direção, facilidade do piloto para colocar-se em posição de “ataque” aos obstáculos, ou seja, em pé e sobre a frente da moto ou mais para trás sem que haja obstrução aos seus movimentos. O limite do ressalto do banco traseiro para o garupa está lá mas não incomoda muito. Na verdade é bem conveniente para se ter companhia na viagem. Boa posição das pedaleiras, proteção ao calor do escapamento e alças seguras facilitam a vida do passageiro.
A opinião dos Motonliners
Dois motonliners estão inseridos neste teste e puderam experimentar a nova Yamaha XTZ 250 Ténéré. O enfermeiro Alexandre Bandeira Silva, mais conhecido como “Patriarca”, é moderador do Fórum Motonline, tem 34 anos e sua Suzuki Intruder 125 2007 já está com 75 mil km. “Achei a Ténéré 250 bem alta em relação à outras de sua categoria, mas isso não é um impedimento para mim, que tenho 1,73m. Ela responde bem e rapidamente já estava me sentindo como se ela estivesse comigo há anos. Acho que falta um marcador de marcha e o pára-lama alto também seria melhor para o design da motocicleta.”
O advogado Sergio Guedes tem 52 anos e teve motocicleta até casar e ter o primeiro filho. Voltou a tê-las em 2008, quando comprou uma Suzuki Boulevard M800 que logo foi trocada por uma BMW F 800 GS. Cotidianamente utiliza um scooter Honda Lead. “Senti a XTZ Ténéré segura, com a suspensão firme sem ser dura. Me assustei com o velocímetro digital e acho que deveria ser analógico. Apesar de precisar manter a rotação do motor sempre alta para ter torque, o nível de ruído é surpreendentemente baixo. Me agrada muito o design que parece ser de uma motocicleta maior.”
Técnica
Aprofundando a visão técnica na motocicleta destacam-se as características positivas também presentes nos outros modelos da série XTZ 250, mas na Ténéré algumas qualidades são só dela.
Chassi: Com berço semi duplo construido em tubos de aço vemos que a distância entre eixos e o trail são menores do que na Lander. O entre eixos muda de 1390 mm para 1385 mm, pouca coisa. A medida do trail é que cai bastante, de 103 mm para aproximadamente 76,7 mm (medição do Motonline) favorecendo a pilotagem na estrada. Soma-se ao efeito do trail mais curto, a menor massa agregada na direção que acaba por facilitar a correção de qualquer desvio de trajetória. Vibração, shimmy ou “balançar a cabeça” (head shake) ela não apresentou nunca, nem sombra do que seria esperado com um trail tão encurtado, principalmente em maiores impactos de grande movimentação da suspensão.
Suspensão: Macia e progressiva, mantém o controle do piloto com as rodas firmes no chão em qualquer situação. A traseira, com curso de 200 mm tem regulagem na pré-carga com anéis rosqueáveis, muito precisos. Importante usar esse recurso para ajuste do sag de acordo com o peso do piloto + garupa. Na frente, o curso de 220 mm é mais do que suficiente para dar excepcional estabilidade na moto em qualquer tipo de terreno.
Vale destacar um fato que ocorreu durante o período de teste. Ao final, com a moto com cerca de 600 Km, notamos uma tendência a comprimir a mola em sequência de ondulações, como se o retorno hidráulico estivesse fechado demais, forçando a mola a ceder na sequência de buracos rebaixando a traseira e perdendo tração. Verificando o sag ouvimos o rangir de bucha de suspensão e sabendo que a fábrica teve recall desse componente em outro modelo, resolvemos verificar. Retirando os pinos das articulações da suspensão verificamos estar adiantadas as marcas de desgaste, por motivo de falta de graxa. Colocamos graxa nova e mesmo sem desmontar o eixo da balança injetamos graxa pelo bico da engraxadeira. Problema resolvido, a atitude da moto melhorou muito porque o atrito ficou reduzido ao normal e o rangido parou.
Freios: Excelentes, começaram o teste um pouco fracos, a moto tinha um pouco mais de 200 Km e não estavam assentadas as pastilhas. Mas ao longo do percurso adquiriu muita potência e sensibilidade. Os dois discos funcionam muito bem, mesmo sem a opção do ABS.
Motor: Estáo comprovadas as qualidades desse motor, pioneiro na aplicação da injeção eletrônica em motos no Brasil. Apresenta um pouco de excesso de ruídos mecânicos que, na verdade ficam ressaltados pelo bom trabalho do escapamento e dutos de admissão, no controle de emissão de ruídos. A potência de 21 cv em 8000 rpm é entregue com 2,1 Kgf.m de torque em 6500 rpm. resultando em um motor menos elástico que a concorrência (de cilindrada maior) mas bastante competente em deslocar os 155 Kg da moto mais o peso do piloto. Você vai se encontrar em algumas situações, chamando o giro na embreagem para colocar o motor em rotação adequada para conseguir acelerar com um pouco mais de velocidade.
Câmbio: Muito resistente, típico Yamaha esse câmbio de 5 marchas tem um escalonamento adequado. Mas devido às características um pouco nervosas do motor (faixa estreita de potência) ele teria mais condições de colocar o motor em rotação ideal para mais aceleração se tivesse uma sexta marcha. Assim, o escalonamento poderia ser mais bem distribuido deixando o motor sempre com resposta rápida ao acelerador. A opção da fábrica em alongar a relação final teria um efeito mais completo, mas o custo seria maior. Ficou no compromisso do meio termo.
Comentário final
A Yamaha relança a Ténéré numa versão menor mas com todos os requisitos das grandes motos de sucesso da marca. A nova companheira da linha XTZ 250 teria vindo para substituir a Lander, que ainda permanece em produção. A marca escolheu introduzir o modelo para fazer frente a uma nova tendência de especialização. Ter uma linha específica para off-road com as TTR e outra específica para uso geral/aventura com as XTZ. É intenção evidente, mas quem fica ou quem sai de linha, só o tempo vai determinar.
Ficha técnica
MotorMotor 4 tempos, SOHC, arrefecido a ar com radiador de óleo, 2 válvulas |
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Cilindrada | 250 cm³ |
Diâmetro x curso | 74.0 x 58,0 mm |
Taxa de compressão | 9.80 : 1 |
Potência máxima | 21 cv a 8.000 rpm |
Torque máximo | 2,10 kgf.m a 6.500 rpm |
Sistema de partida | Elétrica |
Sistema de lubrificação | Cárter úmido, com radiador de óleo |
Capacidade do óleo de motor | 1,50 litros (contando filtro de óleo) |
Sistema de ignição | TCI |
Bateria | GS Yuasa, 12V 6 Ah, selada |
Embreagem | multidisco banhado a óleo |
Câmbio | 5 velocidades, engrenamento constante. |
ChassiQuadro Semi Berço duplo em aço |
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Pneu dianteiro | 80/90-21 MT90 A/T 48S – PIRELLI/SCORPION |
Pneu traseiro | 120/80-18 MT90 A/T 62S – PIRELLI/SCORPION |
Freio dianteiro | Disco de 245 mm de diâmetro |
Freio traseiro | Disco de 203 mm de diâmetro |
Suspensão dianteira | Garfo telescópico |
Suspensão traseira | Monoamortecida com link |
Curso da suspensão dianteira | 220 mm |
Curso da suspensão traseira | 200 mm |
Lâmpada do farol | 2 X 12V 55/55 W (halógena) |
Lâmpada da lanterna traseira | 12 V 5/21 W |
Lâmpada do pisca | 12V 10W x 4 |
Painel de instrumentos | Cristal liquido multifuncional – hodômetro total e dois parciais (trip1 e trip2), mais hodômetro do combustível (f-trip), marcador do nível de combustível digital e relógio. Luzes espias. Velocímetro e tacômetro eletrônico análogo. |
Dimensões |
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Comprimento total | 2.120 mm |
Largura total | 830 mm |
Altura total | 1.370 mm |
Altura do assento | 865 mm |
Distância entre eixos | 1.385 mm |
Altura mínima do solo | 270 mm |
Peso seco | 137 kg |
Peso (ordem de macha) | 155 kg |
Capacidade do tanque de combustível | 16 litros (reserva 4,8 litros) |
Disponibilidade |
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Cores | Branco e preto |
Preço sugerido | R$ 12.900,00 |
Consumo
Trecho | Km percorrido | Consumo (litro) | Km/litro |
Uso rodovia | 170 | 7,6 | 22,36 |
Uso urbano | 160 | 5,71 | 28,03 |
Uso rodovia/terra | 255 | 10,05 | 25,39 |
uso urbano | 95 | 3,23 | 29,42 |
Total/Média | 680 | 26,59 | 25,58 |
Galeria de fotos
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