Publicidade

O mundo das pistas escreve diferentes histórias a cada dia. O episódio atual, infelizmente, é marcado pelo remanejo de eventos graças ao coronavírus, que cancelou e adiou provas da MotoGP – por exemplo. Vale lembrar que a primeira etapa da categoria principal está prevista para o que seria seu quinto encontro, na Espanha, no dia 3 de maio… Mas nem só de episódios tristes vive o Mundial e, por isso, decidimos relembrar uma história interessante e (quase) esquecida: os títulos da Harley-Davidson.

Nada dos tradicionais cromados da Harley, motor em V2 ou qualquer outro elemento clássico da Harley. A americana adotou o estilo europeu no Mundial

Nada dos tradicionais cromados da Harley, motor em V2 ou qualquer outro elemento clássico da Harley. A americana adotou o estilo europeu no Mundial

H-D na MotoGP?

Antes de tudo, devemos lembrar que o formato do Mundial, conhecido como MotoGP, é relativamente novo. A categoria principal data de 2012 e substituiu a 500 cc. Moto3 tomou lugar da 125 cc, enquanto Moto2 é o que já foi 250cc – antes de se estabelecer a nova organização, as motos eram movidas por motores de dois tempos.

Voltando no tempo, nos anos de 1970, existiam também classes 350 cc e 500 cc. Foi neste antigo cenário que a Harley-Davidson faturou um Mundial de Construtores, três títulos individuais (um na 350 e dois na 500 cc) e 28 vitórias.

Publicidade
A passagem da Harley pelo Mundial aconteceu na era dos freios a tambor na roda dianteira. Haja perícia - e coragem

A passagem da Harley pelo Mundial aconteceu na era dos freios a tambor na roda dianteira. Haja perícia – e coragem

Aermacchi / Harley-Davidson

A trajeto da H-D as corridas começou com a aquisição de 50% da marca italiana Aermacchi nos anos de 1960. Desta forma, a companhia teve acesso a motocicletas como a Ala D’oro, movida pelo 4 tempos de único cilindro. Buscando equiparar potência com a Yamaha, em 1971 o engenheiro William Soncini criou a primeira dois cilindros da divisão. Em pouco tempo, em 1974, a Harley-Davidson adquiriu totalmente a fabricante da Itália.

A campeã RR-250 foi a principal responsável pela exitosa passagem da Harley pela MotoGP

A campeã RR-250 foi a principal responsável pela exitosa passagem da Harley pela MotoGP

Harley-Davidson RR-250

A estrela das pistas que carregou a H-D para as vitórias foi a RR-250. Em sua configuração de 1972, o motor dois tempos de dois cilindros paralelos, com 246 cm³, produzia 49 cv a 11.400 rpm e 3.12 kgf de torque a 10.250 rpm. Aumentando-se o deslocamento para 347 cm³ nascia a concorrente para a classe 350 cc. Foram experimentadas, também, variações de um motor para as 500 cc, com quatro carburadores alimentando um par de cilindros. Mas a RR-500 nunca teve o sucesso das RR-250 ou RR-350 devido a (falta de) confiabilidade.

Publicidade

Walter Villa o Niki Lauda das motos

A história da marca americana no mundial se assemelha a um déjà vu motociclístico da epopeia Ford vs Ferrari. E a Harley-Davidson tinha até o seu próprio Ken Miles. Nascido em uma sexta-feira 13 de 1943, Walter Villa não era um azarão na pista e foi o astro da Harley – levou à marca aos seus quatro títulos no campeonato.

O italiano tinha uma tocada conservadora e ganhou a alcunha de o “Niki Lauda das motos” dada por ninguém menos de Enzo Ferrari. Com Villa, o time ítalo-americano faturou o título das 250 cc de 1974 a 1976. Neste último ano também foi triunfante nas 350 cc a bordo da RR.

Villa ganhou o posto de N° 1 na equipe após a trágica morte de Renzo Pasolini, piloto que levou a até então conhecida Aermacchi a três vitórias em 1972. O francês Michel Rougerie também teve papel importante, com duas vitórias em 1975, pontuando no ano inclusive mais que a lenda italiana. Entretanto não levou o título, devido ao critério de contagem apenas dos seis melhores resultados na temporada.

Hoje o que restou foi o legado da marca H-D no Mundial

Hoje o que restou foi o legado da marca H-D no Mundial

Publicidade

Fim do time

Mesmo após o dominante ano de 1976, a gerência da Harley avaliou que não obteve o retorno esperado no investimento. Além disso, os Estados Unidos passava por um agravo financeiro por conta da crise do petróleo. Isso sem contar a forte concorrência das motos japonesas. Em 1978, Villa correu como o único piloto representando a H-D, mesmo sem suporte direto da fábrica. No mesmo ano a Cagiva adquiriu a fábrica da Aermacchi / Harley-Davidson, findando este capítulo no Mundial. Ah, em 1985 a Cagiva também comprou a Ducati, mas aí já é outra história.

Guilherme Augusto
@guilhermeaugusto.rp>> Jornalista e formado em Relações Públicas pela Universidade Feevale. Amante de motos em todas suas formas e sons. Estabanado por natureza