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O que você faria se pegassem sua moto emprestada e ela ficasse desaparecida um dia inteiro? Certamente morreria de raiva. Mas e se a moto voltasse totalmente renovada, reformada, zerinho? Foi o que aconteceu com o paranaense André Berezoski, 28 anos, mais conhecido como Belêzinha, instrutor e campeão brasileiro de escalada esportiva.

Seus amigos já estavam cansados de vê-lo usando uma Honda XL 125S 1995 muito detonada, inclusive ameaçando a sua segurança. Sua ocupação de instrutor de escalada na academia Casa de Pedra obrigava pelo menos uma vez por dia atravessar a cidade para visitar as duas academias. Para piorar, sem muito conhecimento em mecânica, André vivia sendo tapeado por mecânicos inescrupulosos.

Sempre que tinha dúvida ele recorria e mim, perguntando se o freio era assim mesmo, se a suspensão traseira estava boa, etc. Só para imaginar o estado da motoquinha, os amortecedores traseiros estavam vazando e montados ao contrário. Na XL 125S o amortecedor traseiro é invertido, com a “canela” para cima e o tubo penetrante pra baixo. Decerto que algum mecânico carniceiro não sabia disso e “acertou” a posição dos amortecedores. Infelizmente, um dia antes da nossa “operação”, André trocou os amortecedores em uma concessionária!

Nojo!

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Desmontada

Transporte das peças

Entrega

Operação Overhauling Inspirado no programa de TV americano Overhauling, no qual os produtores “roubam” os carros e devolvem uma semana depois totalmente tunado, eu decidi, junto com dois amigos, Alexandre Silva e Eduardo Gualberto, “roubar” a moto do Belêzinha e devolvê-la depois de uma super revisão.

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Para isso tive de inventar uma história bem xavequeira. Peguei emprestada uma Honda 125 Fan e usei o argumento de fazer o “teste do usuário”. Entreguei a Fan para o André e para não ficar a pé, peguei a moto dele. Em sua peculiar boa paz, o atleta entrou na história e eu fui pra casa com a Xizelinha problemática. A moto estava só o caco: pintura fosca, banco moído, guidão torto, suspensão dianteira detonada, desalinhada, pneu gastos e algumas lâmpadas queimadas.

Junto com meus cúmplices fizemos uma extensa lista de compras e avisamos o nosso amigo e mecânico Avê Koizume, que ele teria menos de 12 horas para deixar a moto zerada. Começava a operação Overhaulin.

Às compras A “equipe” se dividiu em duas: enquanto Eduardo comprava os pneus e comandava a operação na oficina, eu e o Alexandre fomos ao centro de São Paulo em busca de peças. A idéia original era só deixar a moto nova, bonita, mas principalmente segura. Mas quando entramos nas lojas e vimos um monte de peças legais, como guidão de alumínio, pára-lamas de visual mais moderno e piscas menores, decidimos tunar a Xizelinha.

A primeira coisa que nos chamou a atenção foi o custo. Caro? Não, pelo contrário, muito mais barato do que pensávamos. Por exemplo, a reforma do banco custou R$ 70. Um tanque novo, à base de troca, custou R$ 90,00. Lonas de freio, lâmpadas, rolamentos de roda e rolamentos da coluna de direção foram comprados na concessionária e custaram tão pouco que ficamos imaginando o que leva alguém a não fazer uma manutenção completa em suas motos, sobretudo as nacionais mais velhinhas. Claro que decidimos acrescentar umas peças mais afrescalhadas e isso acabou elevando um pouco o orçamento, mas nada de assustar.

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Enquanto isso, na oficina o Avê já tinha desmontado tudo e algumas peças foram para a pintura. Pensaram até em pintar o quadro, mas o tempo era curto e o trabalho complexo.

A entrega A parte mais difícil foi o transporte das peças em duas motos pequenas: uma Yamaha Crypton e uma Neo. Quando nos encontramos na oficina já passava do meio dia e começamos a operação montagem, adaptação e pintura. Claro que depois de desmontada a moto descobrimos outras peças que necessitavam troca e lá fomos nós mais uma vez às últimas compras.

O Avê decidiu jogar fora o bagageiro feio e velho, e colocaram um novo. Cortaram o pára-lama traseiro de lata e substituíram por um Circuit, com lanterna integrada. Aos poucos a moto foi ficando nova, mas infelizmente não conseguimos mais achar as laterais originais. Tivemos de reformar as antigas.

A operação foi avançando pela noite e terminou às 20:00 horas, enquanto eu continuava enrolando o Belezinha, alegando que estava preso no trabalho e só chegaria na academia muito tarde.

Quando foi o momento de entregar a Xizelinha reformada, chamaram o André e ele viu sua moto chegando sem entender nada. Parou assustado diante dela e comentou:

– Caramba, tunaram minha moto!

Muito emocionado ele se recuperou do susto e admitiu que não tinha desconfiado de nada.

– Fiquei só imaginando o que diria sobre a CG 125 Fan, nunca fui piloto de teste!

Os amigos se cotizaram para realizar este projeto, como se fosse um presente, em reconhecimento ao grande atleta André Berezoski. Ele representou o Brasil no campeonato mundial de escalada, sempre com muito esforço. Neste ano ele continua treinando com apoio da Casa de Pedra, mas ainda não conta com patrocínio para disputar o campeonato brasileiro e mundial. O mínimo que podíamos fazer por este atleta era contribuir para a segurança dele.

Pronta

Como zerar uma moto Um simples passeio pelo centro de São Paulo é suficiente para recuperar qualquer moto nacional. Até para aquelas mais velhinhas, anos 80, é possível encontrar as peças do mercado paralelo ou mesmo originais. O único cuidado é evitar peças do mercado clandestino. Com um pouco de paciência podem-se achar todas as peças novas, ou mesmo recuperadas à base de troca. Alguns comerciantes mantêm estoques de tanques de gasolina, bancos, pára-lamas recuperados, com a pintura original. Isso facilita tanto a operação de recuperação de uma moto que conseguimos deixar a Xizelinha nova em apenas 12 horas. Depois dessa manobra, chegamos à conclusão que só roda com a moto em mau estado quem quer, ou não tem amigos!

Agradecimentos A operação Overhaulin’ teve ajuda do Ave Koizume; Casa de Pedra Ginásio de Escalada Indoor (www.casadepedra.com.br), Eduardo Gualberto (G2) e site Motonline (www.motonline.com.br)

publicada em 11/04/2006 ……

Tite
Geraldo "Tite" Simões é jornalista e instrutor de pilotagem dos cursos BikeMaster e Abtrans.