Texto de Geovanni G. Di Bello
Umas das mais emblemáticas empresas do mundo automobilístico, a italiana Bimota possui uma história intrigante que por muitos anos exerceu grande fascínio em motociclistas de todas as idades e do mundo todo. A empresa foi fundada em 1966 pelos signores Valério Bianchi, Giuseppe Morri e o ilustre Massimo Tamburini, este último considerado uma lenda do mundo das motos, pois este engenheiro e designer foi o responsável pela criação de várias das motos mais cobiçadas do mundo, como as MV Agusta F4 e Brutale, as Ducati Paso, 916, 748, 996, 998 e a Cagiva Mito.
O nome original da empresa é composto pelas duas letras iniciais do sobrenome de cada um dos fundadores, ou seja, BIanchi, MOrri e TAmburini. Inicialmente era uma empresa que fabricava sistemas de ar-condicionado.
Tamburini sofreu um acidente em 1972 com sua Honda 750 Four em Misano (Italia), e como conseqüência quebrou três costelas e destruiu o quadro da moto. Enquanto se recuperava da queda, construiu seu próprio quadro dentro dos galpões da Bimota, utilizando tubos de ar condicionado. Estava criado o então inédito quadro de treliça, mais leve e com baixo centro de gravidade, características que foram transferidas imediatamente para motos de competição e ainda hoje prevalecem.
Apenas dez unidades foram feitas desse quadro, nominado de HB1 (Honda-Bimota-1). Um detalhe interessante sobre as motos da empresa é que a Bimota não fabricava motores. Então a maioria das suas motos utilizam motores de outros fabricantes, originando a primeira letra dos modelos. Assim, no exemplo da primeira moto, o “H” é porque foi feita sobre o projeto na Honda 750 Four de Tamburini.
Esse novo quadro se tornou marca registrada da Bimota. Outras empresas do mundo inteiro começaram a encomendar quadros para outros tipos de motos. Em competições a Bimota reinou absoluta, com os quadros YB1, YB2, YB3 e HDB1, HDB2 e SB1. Estes eram de qualidade muito superior na época, mudando drasticamente o esporte. No fim da década de 70, a Bimota iniciou também a construção de motos de altas cilindradas para consumidores comuns, mas que se tornaram motos exclusivíssimas. E este é um nicho que ainda mantém a fabricante no mercado.
Em 1983 Tamburini sai da Bimota e Federico Martini entra em seu lugar. Martini trouxe uma larga experiência da Ducati e deu continuidade e fazendo um trabalho brilhante na Bimota. Foi neste período também que as conhecidas DB (Ducati-Bimota) surgiram.
Ainda em 1983 uma lenda surgiu. A Bimota mostrou no salão de Milão a Tesi 1D. A primeira da série “Tesi” com uma característica marcante, a direção composta por um hub ao invés dos garfos telescópicos tradicionais. A suspensão dianteira funciona com um sistema mono-choque, que fica escondido dentro da carenagem, dando um ar futurista à moto. Mas para que as modificações pudessem ser aceitas, foram realizados inúmeros testes de segurança e desempenho, o que tomou sete anos de desenvolvimento e aperfeiçoamento, e a moto só foi lançada comercialmente em 1990.
Em 1996 a Bimota criou sua primeira moto com motor próprio a V-Due. Com motor de 500cc V-Twim de dois tempos, utilizava injeção eletrônica criada exclusivamente para este modelo em função das restritivas normas de emissão de poluentes da Europa e América do Norte. Apenas 340 foram fabricados. Porém, o projeto não foi muito adiante por causa de uma falha na engenharia do motor que obrigou a fábrica a realizar um recall em todas as 340 unidades e isso doeu no bolso da Bimota.
Na temporada do Campeonato Mundial de SuberBike de 2000, um dos principais patrocinadores da marca não permaneceu, o que acelerou o fim da fábrica que, no final deste mesmo ano fechou as portas. Só em 2003 um grupo de investidores comprou os direitos da marca e a Bimota ressurgiu das cinzas. Hoje é tida como a “Ferrari da Motos”, onde cada exemplar é único e todos são fabricados a mão, no mesmo local onde foi fundada nos anos 60, em Rimini, mantendo o melhor estilo italiano de ser e fazer motocicletas.