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Vamos direto ao ponto: a Royal Enfield Himalayan não é a trail média mais rápida, nem a mais moderna, nem a mais bonita e tampouco a mais barata. Mas ela foi feita com base numa receita que reúne ingredientes certos nas doses corretas, o que resulta muito apreciável para muitos e diferentes tipos de motociclistas. É como aquele bolo delicioso que a avó faz e que quando vai à mesa não sobra nada para contar a história, apesar de não ter o apelo daqueles maravilhosos bolos de confeitaria. A Himalayan é assim: uma receita simples e que agrada a todos, bem resolvida em tudo, sem ser a melhor em nada.

Veja o vídeo da Himalayan:

Esta análise tem base num percurso realizado sob diferentes condições climáticas e de pavimento durante o chuvoso e instável verão de São Paulo e interior. Rodamos em grandes rodovias, estradas sinuosas, estradas de terra e até algumas trilhas mais fechadas, além de alguns trechos urbanos congestionados durante o dia e à noite também. E a moto surpreendeu positivamente em todas as situações a que foi submetida e a razão é uma só: ela entrega mais do que se espera dela.

Força

Força

Torque avantajado empurra a moto morro acima sem sustos

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Amigável

Amigável

Diferentes pilotos rapidamente se adaptam à ela

Suspensões

Suspensões

Apesar do curso não tão longo, progressividade é exemplar

Ergonomia

Ergonomia

Em pé ou sentado no banco, encaixe do piloto é muito bom

Conforto

Conforto

Himalayan permite pilotar por longos períodos sem se cansar

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Queríamos colocá-la frente a frente com as principais concorrentes do segmento: Honda XRE 300, Yamaha Lander 250 e BMW G 310 GS, mas não foi possível. Fizemos então um roteiro longo e muito exigente – foram 852 km no total – com a Himalayan e podemos afirmar sem medo de errar que a moto é cativante. Destaque para o conforto que permite pilotar por horas sem cansar, resultado da correta posição de pilotagem, do assento largo e em dois níveis com tecido antiderrapante e agradável ao toque e que permite bom encaixe do piloto também pelo correto desenho do tanque de combustível. Esse conforto é reforçado pela elasticidade do motor, que entrega muito torque já em baixas rotações e – surpresa – sem qualquer vibração, fruto do eixo balanceiro no virabrequim.

Escolta

Escolta

Na fase mais dura da avaliação, a Himalayan recebeu a escolta da Triumph Tiger e das Honda Bros e XRE 300

Escolta

Escolta

Os pilotos da "escolta" que aprovaram a Himalayan: a partir da esquerda, Ricardo Kadota, Marcos de Almeida e Klauss Leite Rocha

Controle

Controle

Porte impressiona no trânsito e impõe respeito, mas permite total controle

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O novo motor desenvolvido pela Royal Enfield tem arquitetura simples – LS 410 – e de fato parece ter encontrado o equilíbrio entre potência, torque e consumo, sem ser ruidoso ou vibrante. São 411 cm³ de capacidade cúbica, 24,5 cv  de potência, 3,4 kgf.m de torque, arrefecido a ar (com radiador de óleo) e comando de válvulas no cabeçote (SOHC). Esse motor mantém a característica dos motores mais antigos, com curso mais longo que o diâmetro (86 mm x 78 mm) para entregar mais torque em baixas rotações, virtude que fica clara em várias situações práticas. Por exemplo, quando subimos morros em estradas de terra com muitas cavas, cascalho e pedras soltas, exigindo algumas reduções de aceleração, o que normalmente pediria redução de marcha. Mas com a Himalayan não foi necessário porque ela consegue retomar o ritmo para empurrar a moto morro acima.re_himalayan_geometria

Parece evidente que os projetistas da Himalayan olharam o segmento (trail médias) e entenderam o que faltava nas principais concorrentes. Sem se importar muito com tendências, eles pensaram única e exclusivamente na experiência do motociclista com sua moto. A pergunta “o que os outros vão dizer?” não foi feita na fase de projeto da Himalayan. Por isso ela tem esse desenho indefinido e que remete às primeiras trail dos anos 80, como a BMW R 80 GS, com porte avantajado que chama atenção nas ruas e impõe respeito, apesar do design diferente do que se vê hoje no segmento quando se fala de uma trail aventureira.

Ferramentas

Ferramentas

Excelente kit de ferramentas

Ferramentas 2

Ferramentas 2

Elas ficam bem colocadas sob o assento do garupa

Economia

Economia

216 km percorridos e ainda restava mais de meio tanque

LED

LED

Apenas na lanterna traseira

Pedaleira

Pedaleira

Apoio de borracha pode ser removido

Bateria

Bateria

"Apagão" geral na moto ocasionado pelo polo negativo da bateria mal apertado

Proteção

Proteção

Boa proteção para tanque de combustível

Proteção 2

Proteção 2

Protetor de cárter complementa o design

Tradição

Tradição

Guarda-pó da suspensão dianteira

Parafusos

Parafusos

Tampas laterais presas com parafusos

O resultado é que ela tem muitas coisas incomuns, mas muito úteis, como o bom para brisa, as proteções para o tanque de combustível, o ótimo, robusto e tradicional bagageiro feito em tubos de aço, que facilita prender e amarrar qualquer coisa, o guarda-pó da suspensão dianteira, o bom protetor do cárter, as laterais plásticas que são parafusadas, a bússola do painel, os vários itens redondos – espelhos retrovisores, farol, instrumentos do painel – e o tanque de combustível com capacidade para 15 litros de gasolina, o que garante boa autonomia para perto dos 400 km. E já que falamos de gasolina, é bom mencionar que rodamos 852,1 km com 30,33 litros de gasolina comum, o que resulta na média geral de 28,09 km/litro. Veja a tabela de consumo detalhada:

Consumo detalhado

Ambiente Km Litros Consumo (km/litro)
Rodovias e estradas sinuosas 254,30 9,44 26,94
Estradas secundárias de terra e trilhas 315,40 10,45 30,18
Rodovias e urbano 211,30 7,61 27,77
Urbano 71,10 2,83 25,12
Média geral 852,10 30,33 28,09

O equilíbrio da Himalayan se revela também em função do chassi do tipo berço duplo e construído em aço tubular, muito robusto e rígido, responsável por sustentar e oferecer equilíbrio à todo o conjunto. É verdade que a moto não é muito ágil nas manobras mais rápidas, fruto do entre eixos e do trail longos (1.465 mm e 111,4 mm, respectivamente). No entanto, apesar do peso da moto (185 kg a seco) também jogar contra a agilidade, ele acaba sendo o fator decisivo para ajudar no equilíbrio por manter o centro de gravidade da moto mais baixo. Esse peso se reflete no funcionamento das suspensões que trabalham bem apesar do curso não muito grande (200 mm na traseira e 180 mm na dianteira) e mantém a moto grudada no chão, mesmo quando se faz esforço para que a traseira saia um pouco, por exemplo, em arrancadas no piso de terra.

Durante a avaliação utilizamos a regulagem da pré-carga da mola da suspensão traseira na posição intermediária (posição #4 de um total de 7) como sai de fábrica e foi suficiente para não permitir final de curso. No entanto, se houvesse um garupa provavelmente teríamos que aumentar a rigidez da mola. Vale fazer o registro de que quem olha a suspensão trabalhando fica com a impressão de que a moto chega muito perto de atingir o final de curso na traseira a todo momento, mas é apenas impressão. O curso de 180 mm é otimizado pelos links que ajudam a copiar melhor as irregularidades e tornam o funcionamento do sistema mais progressivo, ou seja, se torne mais rígido na mesma medida que é exigido.

Na suspensão dianteira a Himalayan segue o padrão para a categoria, com garfo telescópico com tubos de 41 mm sem qualquer opção de regulagem. Mas seu funcionamento é progressivo e os 200 mm de curso são adequados ao tipo de uso que fizemos com a moto. É importante fazer menção aos freios – à disco nas duas rodas (300 mm na dianteira e 240 mm na traseira) com ABS não comutável – que oferecem funcionamento regular e o dianteiro é um pouco borrachudo, mas nada que comprometa a segurança. Por fim, as rodas raiadas aro 21″ na dianteira e 17″ na traseira calçadas com pneus Pirelli MT60 de uso misto estão de acordo com o padrão da categoria.

Apesar da marca celebrar as boas vendas da Royal Enfield Himalayan, a verdade é que o potencial para venda é muito maior que as 121 unidades vendidas no primeiro trimestre deste ano. Por R$18.990,00 (FIPE 25/4/2019), ela só não vende mais porque não tem mais lojas abertas – por enquanto apenas São Paulo e Brasília. Mas os consumidores esperam que a promessa de abrir mais 8 lojas no Brasil até o final deste ano se cumpra para que a Himalayan confirme todo seu potencial de venda.

Ficha Técnica Royal Enfield Himalayan

Motor Um cilindro, 4 tempos, refrigerado a ar, SOHV
Capacidade 411 cm³
Diâmetro x Curso 78 mm x 86 mm
Taxa de Compressão 9.5:1
Potência Máxima 24,5 cv a 6500 rpm
Torque Máximo 3,4 kgf.m a 4000-4500 rpm
Sistema de Ignição Ignição eletrônica digital
Embreagem Multidisco em banho de óleo
Câmbio 5 marchas
Lubrificação Carter úmido
Alimentação Injeção Eletrônica de Combustível
Filtro de Ar Elemento Filtrante de Papel
Partida Elétrica
Chassi Tubular de aço em formato berço duplo, desmontável
Suspensão dianteira Garfo telescópico com tubos de 41 mm, curso de 200 mm
Suspensão traseira Monoamortecimento central com link, 180 mm de curso e ajuste na pré-carga da mola por porca-castelo
Distância entre eixos 1465 mm
Distância livre do solo 220 mm
Comprimento 2190 mm
Largura 840 mm
Altura 1360 mm (com o para-brisa)
Altura do assento 800 mm
Ângulo de caster 26 graus
Trail 111,4 mm
Comprimento da balança 555 mm
Peso seco 185 kg
Capacidade do Tanque 15 litros
Pneu Dianteiro 90/90 – 21
Pneu Traseiro 120/90 – 17
Freio Dianteiro Disco de 300 mm, cáliper de dois pistões com ABS
Freio Traseiro Disco de 240 mm, cáliper de pistão simples, com ABS
Sistema Elétrico 12 volts
Bateria 12 volts, 8 Ah
Farol 60 / 55 W, Halógena
Lanterna traseira LED

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Sidney Levy
Motociclista e jornalista paulistano, une na atividade profissional a paixão pelo mundo das motos e a larga experiência na indústria e na imprensa. Acredita que a moto é a cura para muitos males da sociedade moderna.