Como foi o primeiro teste! Dezembro de 1986: chega ao mercado a primeira grande moto nacional, a Honda CBX 750, uma versão nacionalizada da CBX 750 importada em abril daquele ano.
Tem 40% de nacionalização, a roda dianteira é de 18″ e não de 16″ como a importada; a carenagem foi modificada, as suspensões dianteira e traseira perderam suas regulagens, embora na dianteira permaneça o TRAC (que é o sistema antimergulhante da Honda); entre várias outras modificações.
As mudancas, na nossa análise.
São bastante numerosas as mudanças na CBX 750F versão 1987. Em muitas dessas “novidades nacionalizadas” a questão pode ser discutida apenas tecnicamente. Em outras. envolve a opinião e mesmo o gosto de quem julga. Para saber o que é nacional e o que é importado na moto, é mais fácil numerar o que é importado: motor e câmbio completos, painel de instrumentos completo, caixa de fusíveis, tampa do tanque de combustível, torneira do tanque de combustível, corrente de transmissão, guidão e acrílico da carenagem. O restante é tudo nacional.
Para determinar na parte que foi nacionalizada o que melhorou. piorouou é indiferente,a equipe básica de testes de Duas Rodasse reuniu e colocando lado a lado a CBX 750F preta 86 ao lado da 87 branca cada um dos itens foi comparado e analisado. Aqui a média dos resultados na opinião de Josias Silveira, Roberto Araújo, Geraldo Simões e Gabriel Marazzi:
Pirelli: “sem câmara é melhor”. Antes do lançamento da CBX 750F nacionalizada circulou um “boato” de que a nova moto viria com pneu dianteiro de aro 18″, com câmara. A razão apontada, era porque a Pirelli Brasil não teria condições de fabricar pneus de aro 16″ e sem câmara, como da moto importada. A Pirelli, porem, não confirmava essa informação e, oficialmente, a Honda jamais afirmou que a modificação se devia a dificuldades de fornecimento da Pirelli.- A Honda, afirmou Atilio Cepollaro, gerente de produtos originais da Pirelli, é nosso cliente há muito tempo. Fizemos exatamente o que nos pediram. Mas poderia ser outro pneu, ou outra medida. Quanto a pneu com câmara, ou sem, a Pirelli entende que o pneu sem câmara oferece maior segurança, sendo um produto mais evoluído.
Opinão Durante o lançamento da CBX 750F nacional, os representantes da Honda do Brasil e do Japão não se cansaram de dizer que a fábrica jamais lançaria um produto que não fosse seguro. Até aí tudo bem, mas o pneu sem câmara (tubeless) é comprovadamente mais seguro do que o com câmara. Não é à toa que as motos esportivas no Exterior utilizam o tubeless.
A falta de regulagens nos amortecedores dianteiros e traseiro pode não colocar a segurança do motociclista em jogo, mas quando se passa numa lombada, com garupa, o amortecedor traseiro bate no fim do curso e nas curvas com irregularidades a frente chega a escorregar. Tudo isso poderia ser amenizado se o motociclista pudesse escolher a regulagem mais apropriada para a utilização da moto. Depois que a moto começa a andar é fácil esquecer as justificativas “oficiais” e saborear as boas qualidades mecânicas que foram preserva das, como o motor dócil e ao mesmo tempo veloz e os freios supereficientes.
Porém, ao parar a moto novamente, a decepção: “acabaram” com o acabamento na CBX nacional. Desde arestas de solda no quadro (brasileiro) até a falta de polimento da alavanca de câmbio dão a impressão que o “nosso” controle de qualidade anda meio sonolento e precisa abrir mais o olho, a exemplo da indústria japonesa.
Em linhas gerais, a Honda merece o reconhecimento pela rápida nacionalização de 40% de uma moto tão complexa, mas por enquanto, ainda “não senti firmeza” com esta moto. Quando a fábrica aumentar a “tiragem” talvez as coisas melhorem.
O motor continua o mesmo quatro tempos, quatro cilindros em linha, refrigerado a ar, 747 cc (67,OX53,0 mm), com 16 válvulas (quatro por cilindro), e a potência é de 82 CV a 9.500 rpm. Permanecem portanto as boas características como elasticidade, crescimento de giro uniforme, respostas e acelerações rápidas. Nas medições realizadas esta CBX “made in Brazil” atingiu uma velocidade máxima de 213,9 Km/h na melhor passagem, contra 209 Km/h da CBX importada e o consumo médio foi igual, de 10,8 Kmllitro. Ou seja, as possíveis diferenças de motor são desprezíveis em relação ao modelo importado, e podem inclusive ser em função das diferenças normais entre cada unidade.
As principais modificações foram no conjunto dianteiro de suspensão e roda. A moto nacionalizada está equipada com aro dianteiro de 18″ e perdeu as regulagens de suspensão e do sistema antimergulhante TRAC. Agora, a moto está mais simplificada, ao contrário do que anunciou o diretor comercial da Honda, Reizo Tanaka, na qual ele declara textualmente “a política da Honda não permite adaptações na CBX 750F brasileira”.
O desenho made in Brazil Esteticamente, a moto ganhou novo grafismo, combinando as cores branca, vermelha e preta. A carenagem foi alterada, ficando mais alta porque os dois semi-guidões ficaram dois centímetros mais altos, e a bolha acrílica é mais envolvente. O encosto da carenagem agora é feito por galão (cantoneira de borracha), enquanto no modelo importado a fixação é feita por coxim de borracha, com melhor acabamento.
A iluminação continua sendo feita por dois faróis, mas agora cobertos por apenas uma lente, o que deixou a moto mais bonita e manteve um importante item de segurança, já que raramente queimam as duas lâmpadas do farol ao mesmo tempo.
O estilo mais agressivo da versão anterior, toda preta, sem cromados, deu lugar a um visual colorido com escampamentos cromados. Toda a “carroceria” da moto, ou seja, carenagem o tanque, laterais, rabeta e pára-lamas é produzida aqui, com algumas alterações visando modificar o conjunto. O escapamento não recebeu o cromo preto por dificuldades tecnológicas da nossa indústria, em compensação agora ele é divisível, o que pode representar uma economia em caso de substituição.
Todo o sistema elétrico permaneceu igual, ou seja, 12 Volts com bateria de 14 Alh, e alternador com capacidade de 320 Watts a 5.000 rpm. A ignição é eletrônica e a moto possui sistema de partida elétrica, eliminando o pedal de partida. Para quem sentir falta deste acessório, basta verificar os automóveis que não têm mais manivelas de partida há muitos anos, e que são muito mais difíceis de empurrar, quando a bateria está descarregada:
Frente brasileira Olhando a CBX importada e a nacional percebe-se que a roda dianteira da japonesa é menor. Automaticamente faz-se uma ligação com as competições: a roda menor é melhor, na prática não precisa ser bem assim. Nas pistas, como as velocidades aumentam cada vez mais, estava ficando difícil acelerar estupidamente entre uma curva e outra com a moto ainda inclinada, graças ao efeito giroscópico. É esse efeito que mantém a moto “em pé” quando em movimento. Assim, as motos de competição passaram a adotar a roda dianteira de 16″. Como conseqüência, essas motos ficaram visualmente mais bonitas e agressivas, além de mais ágeis, criando um modismo para as motos esportivas de rua.
Outra alteração foi nos pneus, que não são mais tubeless(sem câmara ). A justificativa oficial da Honda para a colocação de câmaras foi a dificuldade de manutenção que o tubeless oferece, já que poucos borracheiros no Brasil teriam equipamentos para consertar este tipo de pneu.
Mas o argumento enfrenta dois obstáculos: o primeiro é que a grande maioria dos carros nacionais já é equipada com pneus sem câmara, o que faz com que a maioria dos borracheiros esteja adaptada a esse tipo de manutenção. Segundo, em entrevista com técnicos da HRDB – Honda Development of Brazil, que tem sede no Japão, mas cujos técnicos estiveram no Brasil na época da apresentação do modelo à imprensa, não se escondeu a razão real: para usar pneus sem câmara seria preciso usar o mesmo tipo de roda da CBX importada (Comstar). A roda de alumínio fundido tem porosidades que eliminam a possibilidade de uso do pneu sem câmara com segurança.
Como resultado da adoção do aro dianteiro de 18″, a geometria da suspensão dianteira mudou. O curso se manteve com 150mm, assim como o cáster, com 27° mas o trail passou de 93 para 101 mm. A distância entre eixos aumentou de 1.465mm para 1.490mm, aumentando também o comprimento total da moto de 2.146 para 2.185mm.
A falta de regulagem na suspensão dianteira (e do equalizador de pressão de ar) foi explicada pela fábrica, como uma forma de proteger o motociclista brasileiro, já que desacostumados com regulagens complexas, os brasileiros poderiam mexer sem conhecimento e piorar a estabilidade da moto. Novamente, na mesma entrevista com os homens da HRDB, descobriu-se que a Showa do Brasil, que fornece os amortecedores, não teria condições tecnológicas para desenvolver a suspensão com regulagem. Pelo mesmo motivo, eliminou-se as quatro regulagens do sistema antimergulhante TRAC, que apesar de continuar existindo, está regulado no que seria a posição 2,5 numa escala de 1 a 4.
A suspensão traseira perdeu as três posições de regulagem do amortecedor único. Rodando com garupa, a suspensão chegou a bater no fim do curso (que passou de 115mm para 103mm, na roda), lembrando o comportamento das CB 450. Os motivos para a eliminação das regulagens estão no capítulo anterior.
Na posição de pilotagem da moto nacional, não se percebe o aumento de um centímetro na altura do banco ao solo. Os instrumentos são importados e continuam iguais, com velocímetro à esquerda marcando até 240 Km/h; ao centro está o contagiros com a faixa vermelha iniciando em 10.000 rpm; à direita, um único relógio agrupa marcador de nível do combustível e voltímetro.
No painel (importado), a Honda brasileira fez uma alteração discutível. No modelo japonês existia uma luz espia indicando se a lâmpada da lanterna traseira havia se queimado. Na versão nacionalizada, esta luz não foi utilizada, por motivos tecnológicos, e para não ficar um buraco, inventaram a indicação de “Top” , ou seja, que indica quando a sexta e última marcha foi engatada. Graças ao motor elástico da CBX, esta luz fica praticamente acesa a maior parte do tempo, o que pode incomodar em viagens noturnas, com aquela luzinha cor de violeta sempre “chamando a atenção” do motociclista.
Os pneus nacionais com câmara não chegaram a afetar a estabilidade e nas frenagens as diferenças em relação à importada são desprezíveis, cabendo às diferenças normais de um veículo para outro. Em curvas os pneus se mostraram eficientes mesmo em curvas de alta, feitas “no limite”. O guidão mais alto melhorou a postura e deixou a moto mais fácil de “costurar” no trânsito urbano.
Mesmo com todas as alterações, a Honda CBX 750F é uma moto excepcional, que pode ser pilotada a mais de 200 Km/h em uma estrada segura, com o contagiros chegando perto da faixa vermelha; ou em uma estrada de terra a 30 Km/h; ou ainda em uma avenida à beira-mar, numa noite de verão.
Mercado Desde sua chegada a CBX 750F se tornou recordista brasileira de ágio. Dos Cz$ 129. 290 (US$ 9.390) tabelados pelo CIP, ela chegou a atingir Cz$ 450.000 (US$ 32.680) no “mercado paralelo”. A razão é simples: muita procura e pouca oferta. Com apenas 100 motos por mês distribuídas pelo Brasil, o que sequer dava uma moto por revenda (são mais de 400 pelo Brasil), foi inevitável o aumento de preço.
A grande novidade em termos de mercado da nova CBX 750F é o número de produção. Ele passa a ser de 300 unidades/mês, e seu novo preço de tabela, que foi autorizado pelo Cip, agora é de Cz$ 137.238 (US$ 9.970). Mas, na verdade, tudo indica que também esse novo preço é apenas teórico: pelo menos a curto prazo deve continuar o ágio. O maior número de unidades que chega ao mercado deve, porém, fazer com que ele caia gradualmente, conforme o público que espera por essa moto for tendo acesso ao produto. Mas, de qualquer forma, um pouco mais cara ou barata, um ponto pode ser festejado: o Brasil faz, finalmente, uma 750cc.
publicada em 02/04/2006 ……