Ao primeiro olhar, você jamais diria que essa máquina é uma Honda CB 500. Talvez nem olhando uma segunda vez, pois de uma ponta à outra, esta CB foi transformada, mudando não só a aparência, mas também o comportamento e mostra que com imaginação tudo é possível.
Apaixonado por motos desde criança, e fã das motos de velocidade, o jovem mecânico adquiriu sua moto já com a intenção de deixá-la completamente diferente do original. No momento da compra, a moto se encontrava em péssimas condições, devido a um acidente que havia sofrido, sobrando inteiros só o tanque, quadro, motor e rodas.
A primeira coisa a ser trabalhada foi o motor, que já apresentava desgaste e vários ruídos que mostravam uma frágil saúde. Praticamente reconstruído, o propulsor recebeu pistões gringos Wiseco e bielas forjadas que permitem maus tratos sem perder a linha. Pensando numa melhor performance, Cleber caprichou na receita: os comandos foram trabalhados, e foram instalados kit de carburação Dyna Jet estágio 5, filtro esportivo K&N, sistema de escapamento e ponteira esportivos e um cdi de Blackbird XX que corta dois mil giros acima do limite original. A CB foi colocada à prova em dinamômetro e chegou aos incríveis 76 cavalos.
Se levarmos em conta que uma moto original já tem um bom desempenho, com a potência elevada então, sem comentários. Mas o que dizer de tudo isso e mais uma injeção de nitro? Insanidade? Talvez não, afinal só experimentando a sensação da adrenalina para entender alguns atos. Segundo o preparador e dono da máquina, quando injetado o “gás do riso”, a potência beira os 87 cavalos. Sejamos francos, isso sim é um cartão de visita.
JÁ QUE A HONDA NÃO FEZ – Como eu e você, pessoas em todos os países, onde a ótima CB 500 foi vendida, lamentaram o sistema bichoque e sempre questionaram por que a fábrica japonesa não utilizou o sistema monochoque na motocicleta, pois para muitos, apenas isso é o que realmente faltava.
Como um desses insatisfeitos, o jovem mecânico de Caraguatatuba (SP) resolveu fazer o que a Honda não fez. Utilizando uma balança de alumínio de Twister, que precisou de alguns trabalhos e um ótimo amortecedor Ohlins com assistência a gás, vindo de uma CBR 900 RR, a suspensão traseira passou de um bichoque bicheira, para um conjunto equilibrado e eficiente, ficando muito mais agradável visualmente. O resultado da modificação desse sistema foi um enorme ganho em estabilidade, já que o novo conjunto é mais progressivo e responde com mais precisão e suavidade às imperfeições do piso.
Já na suspensão dianteira, original da moto, foram trabalhadas tanto as molas quanto as válvulas, o que garantiu uma performance bem superior à oferecida anteriormente.
Por mudar o centro de gravidade com as várias modificações que a ciclística da moto sofreu, as chacoalhadas na frente da moto, conhecidas como shimmy, passaram a ocorrer com uma freqüência muito maior. Para salvar a pátria, um lindo e eficiente amortecedor de direção da marca Ohlins solucionou o problema.
No entanto, o próprio Cleber admite que os garfos dianteiros não estão à altura da moto, e afirma que já tem planos para sanar essa “deficiência”. Seria por acaso uma suspensão invertida? Alguém aposta?
ESSA MOTO É MESMO UMA CB 500? – Com tanto desempenho e estabilidade, era de se imaginar que o freio fosse algo estúpido. Mas não é. Todo o sistema é original da moto; as pinças são Brembo e muito boas, e apesar do sistema contar com aeroquip, o fluído de freio ser de competição com grau de ebulição mais elevado e os discos trabalhados para um melhor resfriamento, o conjunto todo não é suficiente para parar esse míssel dourado. Misterioso, o simpático mecânico afirma que muito em breve haverá novidade no quesito freio.
Situação bem diferente é a da roda traseira e o pneu que a calça. Vinda de uma CBR 900 RR por ter o desenho similar ao da CB, a larga roda faz parceria com um espetacular pneu Metzeler Racetec, de 180/50, cujo desenho mostra explicitamente sua vocação. Já o dianteiro é um Pirelli Sport Demon de 110/70 montado em uma roda original.
Os guidões beneficiam a posição esportiva, e são da saudosa RD 350 presos às bengalas abaixo da mesa superior, que foi trabalhada para retirar o lugar de encaixe do antigo guidão. À frente, o belo painel, também de 900 RR, ajuda a compor o visual superesportivo da bela motoca.
Por falar em visual, não é à toa que a pergunta que Cleber mais ouve é: que moto é essa? E outra que sempre vem após sua resposta: essa moto é uma CB 500 mesmo? E sinceramente, eu mesmo já tenho dúvidas, afinal uma nova moto foi construída, apenas utilizando-se elementos da saudosa CB e, diga-se de passagem, muito bem construída, pois todas as modificações feitas na moto são documentadas e receberam o atestado do INMETRO.
Esta documentação é muito importante, pois não só torna legal todas as modificações realizadas, como também certifica que as mesmas não oferecerão nenhum risco e que a motocicleta é mesmo segura.
VISUAL EXTREME – Enfim chegamos ao tópico que fala do visual dessa supermotoca, que, sem sombra de dúvidas, ficou impressionante, seja pelo ótimo acabamento, que em nenhum aspecto denuncia que as carenagens e partes plásticas foram adaptadas, seja pela pintura, que foi feita com uma tinta especial vinda da Alemanha, coberta com muitas camadas de verniz.
A traseira sofreu mudanças no quadro para acomodar a nova rabeta de fibra, feita a partir de um molde tirado de uma peça original. O acabamento que substitui o banco do garupa, deixando a moto com cara de monoposto, foi feito em fibra de carbono, assim como a carenagem frontal superior.
A lanterna mostra quanta criatividade há no projeto. Com dois pequenos faróis de milha, e a lente original da moto, o inventivo proprietário chegou a um resultado muito satisfatório, a um custo realmente baixo.
O restante da carenagem juntamente com os faróis vieram de uma R1 que sofreu um acidente, quebrando e ralando todas as carenagens. Com muita paciência, Cleber as restaurou e as deixou em perfeitas condições, como você pode confirmar nas fotos. O tanque de combustível é o original, mas nem parece, pois devido ao formato do banco, a impressão que se tem é que o tanque é bem maior.
Para a proteção das partes plásticas, sliders feitos sob encomenda utilizando como material, aço inox. Na frente, o pára-lama foi inspirado no original, porém encurtado para que pudesse melhor encaixar na moto.
As pedaleiras dianteiras e traseiras também vieram da RD 350; as do garupa foram montadas nos suportes da NX4 Falcon, e as dianteiras nos suportes originais, que foram cortados e posicionados mais acima, de maneira que nas curvas, o chão não seja tocado tão facilmente.
Mais um dos inúmeros detalhes curiosos nesta motocicleta é o acionamento do motor, que além da maneira tradicional, pode ser feito também via controle remoto, usado diariamente por Cleber, que já deixa a moto esquentando na garagem, enquanto se arruma para sua ida ao trabalho.
Após ter feito a matéria, quando estava regressando a São Paulo, fui acompanhado pela Super CB e seu orgulhoso proprietário pela serra de Caraguatatuba, e tive a oportunidade de observar o comportamento da motocicleta em várias curvas de diferentes raios, e comprovar que a moto realmente tem uma outra conotação, sendo agora uma verdadeira e surpreendente esportiva.
A DoubleX Bike Tuning fica em Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo. Telefone (12) 8144-0065