Costumo dizer (e ensinar, nos meus cursos) que há cinco segredos para se fazer uma curva da forma correta. Eles funcionam com qualquer motocicleta, mas existem aspectos específicos que devem ser avaliados nas scooter, ainda mais porque geralmente optamos por este estilo justamente por ser ‘mais fácil de pilotar’, sem embreagem, marchas, pedal de freio ou pedaleiras. Mais quais são as principais diferenças? Para mim, há o fator emocional e o técnico.
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Fator emocional: Não podemos acreditar que, por ser uma moto do tipo scooter e – assim – por não ter embreagem, é “só acelerar e frear” como muitos pseudos vendedores argumentam para fechar um negócio. Scooter é uma moto exclusiva, muito diferente daquelas que aprendemos a pilotar nas autoescolas. Por isso, não se enganem: scooter é uma moto específica, diferente, excelente para o uso urbano e, atualmente, até mesmo para viagens mais longas.
Falando um pouco da parte técnica
Fator técnico, da ciclística: Para começarmos a falar de curvas com scooter, vamos diferenciar o que são motos boas de curvas e o que são motos boas em manobrabilidade. Boas de curvas são modelos que têm limites excelentes de inclinação, rodas e pneus específicos para trajetórias em curvas, chassis, suspensões e freios construídos com materiais nobres e desenhados de forma a dar um desempenho seguro para entradas, cabeça e saídas de curvas.
Além disso, essas motos têm bons ângulos de trail, cáster (entre 24 e 24,5 graus) e entre eixos, pensados para se ter segurança em pistas sinuosas. Devemos destacar aqui segmentos que são excelentes neste quesito, como as esportivas, que poderiam ser representadas pelas Honda CBR 1000RR Fireblade ou Kawasaki ZX-6R, por exemplo.
Já as motos boas em manobrabilidade são aquelas rápidas em desvios de obstáculos, obedientes ao comando do piloto. Também podem ser ajudadas por rodas pequenas, entre eixos menores e conjuntos leves. As motos trail, como a Yamaha XTX 250 Lander ou Royal Enfield Himalayan, são ótimos exemplos neste quesito. As scooter são boas nisso, pois sua ciclística é justamente pensada para dar manobrabilidade em trânsito urbano e inclinações superiores à nossa imaginação.
Os 5 segredos das curvas
Estes “segredos” são baseados em pesquisas literárias específicas e amoldados para cada tipo e estilo de motos. Como dito no começo dessa matéria, servem para todos os pilotos e modelos de motocicletas. Mas, vale lembrar: são técnicas para pilotagem defensiva, com foco urbano e estradeiro, e não esportivo. No entanto, alguns desses segredos são tirados de técnicas esportivas, sem o efeito comportamental dos sentimentos competitivos. Os cinco segredos são:
1- Três partes da curva;
2- Olhar que atrai ou distrai;
3- Dois limites de inclinação;
4- Movimentação do corpo;
5- Contra esterço.
Dica 1 para curva com scooter: considere as três partes da curva
Dividir a curva em, no mínimo, três partes é essencial para saber como agir e reagir na trajetória. As três partes são: entrada, cabeça (metade da curva) e saída. Simples, não?
O que fazer quando estamos nos aproximando da entrada da curva? Claro, vai depender da velocidade, mas de modo geral diminuímos a velocidade, seja por desaceleração (voltando o acelerador) ou por frenagem progressiva.
Assim, antes de chegar ao meio da curva já devemos ter soltado os freios. Já dá cabeça até a saída é hora de reacelerar progressivamente. Ou seja, freia-se antes (e não durante) a curva em si, se faz a trajetória de forma segura (no meio, durante a cabeça) e então reaceleramos.
O que mantém a moto de pé é a velocidade
Opa! Aqui vai uma importante informação que criará uma baita polêmica… Lembrem-se: o que equilibra a moto é o movimento (velocidade). Portanto, quanto maior for a velocidade na entrada da curva, mais a moto quer ficar em pé, ou seja, equilibrada, dificultando a inclinação necessária para uma perfeita trajetória.
Então, se o piloto entrar na curva em uma velocidade acima da compatível para o movimento ele deve desacelerar (ao invés de reacelerar) entre a cabeça e a saída, para facilitar a inclinação e evitar que a moto saia da trajetória, ‘espalhando’ a curva – o que pode significar invadir a pista contrária, muitas vezes.
Na ilustração acima podemos ver as três partes da curva. No desenho da moto é a entrada: no tangenciamento é a cabeça e no final da flecha em vermelho está à saída. Mostra, também, que a moto não está se espalhando para fora da curva.
Porém, esta técnica da imagem está mais para esportiva (e não defensiva), aproveitando muito bem os espaços da via. Não estou dizendo que seja a ação errada, pois aproveitar a largura de uma estrada e usar este espaço ajuda em manter velocidades mais altas com segurança. No entanto, quando se fala em técnicas defensivas, trajetória em uma curva deve ser em uma constante, ou seja, entrada, cabeça e saída seguindo em uma mesma linha, sem tanto
tangenciamento do lado de dentro da curva e sem tanto abertura para o lado de fora da curva.
Os outros segredos da curva
Dividir a curva em três partes nos levará ao segundo segredo: olhar que atrai ou distrai? Em breve iremos falar mais sobre este assunto em um novo artigo. Fique ligado!
Texto Carlos Amaral
Carlos Amaral, responsável pedagógico e instrutor de pilotagem defensiva Porto Seguro Cia de Seguros Gerais e Carlos Amaral & Zuliani Motorcycle Training. Geórgia Zuliani, fotógrafa e administradora da Carlos Amaral & Zuliani Motorcycle Training.