Tive que passar na bicicletaria para consertar meu movimento central que estava prendendo. Como é selado imaginei que iriam trocá-lo por um novo e pronto, que é o que seria feito na maioria das bicicletarias. Thiago me conhece a muito, sabe e concorda com alguns princípios que considero cruciais, dentre estes sempre buscar o reaproveitamento do material e colocar o máximo de qualidade no processo e resultado final.
Infelizmente estou com a casa e oficina desmontadas e não faço ideia de onde estão minhas ferramentas. Ótimo, tiro férias de minha própria neurose, até tranquilo porque a bicicleta está em boas mãos. Quando cheguei lá a bicicleta estava perfeita, sem ter que trocar a peça. E ainda tive uma aula de como desmontar o dito movimento central selado.
Há inúmeros tipos de freios para bicicletas e o que mais me agrada para as urbanas é o interno de cubo, uma espécie de freio a tambor, pouco comum aqui no Brasil, mas muito usado principalmente na Europa. Funciona suave, preciso, sem qualquer tranco, modulação prefeita, não muda com chuva e poeira e, principalmente, porque é praticamente impossível de sofrer avarias por maus tratos. Mas não há por aqui. Pena.
Freio a disco para bicicletas é uma criação do mercado para saciar a sede consumista de novidades dos clientes e para resolver o eterno problema da qualidade de trabalho dos mecânicos de bicicletarias, que no geral é precária. O freio a disco mata dois mecânicos com uma chave inglesa só. Na realidade mata vários velhos pequenos problemas numa tacada só, sendo o principal a questão do mecânico. Quanto menos ele colocar a mão na bicicleta melhor. O mercado da bicicleta não paga o preço de um mecânico de qualidade. A solução é instituir produtos que tenham menos variáveis e necessitem de procedimentos mais simples para funcionar e ser mantido.
O “V brake” também tem lá os seus probleminhas: a abertura das sapatas em relação ao aro é baixa e os aros precisam ser muito bem centrados ou as sapatas arrastam. Centrar uma roda definitivamente não é para qualquer um. De volta ao problema dos mecânicos. Outra questão, que não deve ser esquecida, é que qualquer sistema de freio por sapata precisa de aros de qualidade para frear sem trancos. Freios a disco não tocam nos aros, demandam menos mão de obra que num “V brake”, tem um apelo sensual para os consumidores… A tendência, principalmente em mercados com pouca cultura da bicicleta e oficinas mecânicas que só sabem trocar peças está sendo o crescimento acelerado do disco e rápido encolhimento do “V brake”.