O deserto do Marrocos é bastante conhecido – e temido – entre os motociclistas fãs de off-road. Afinal, suas intermináveis dunas já foram palco de inúmeras competições de rali, incluindo diversas edições do Paris-Dakar. Mas qual seria a sensação de desafiá-lo com uma moto projeta para rodar estritamente no asfalto?
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Uma Harley-Davidson no deserto marroquino
O jornalista Morgan Gales buscou a resposta para esta pergunta. A bordo de uma Harley-Davidson Sportster 883 de quase 250 kg, o americano aceitou um convite da Fuel Motorcycles, empresa espanhola de equipamentos para motos clássicas, para particiar do Scram Africa, uma volta de sete dias ao redor do país em motos estilosas – e, em sua maioria, pouco aptas para tal aventura.
Ele poderia escolher passar os próximos sete dias e infinitos perrengues com uma Honda CRF 250L ou uma H-D 883 e, como já sabemos, preferiu a segunda, o caminho com mais aventura. Saiba como foi esta viagem de moto custom pelo deserto.
Moto era praticamente igual a de uma concessionária
Primeiro, as apresentações. A Fuel costuma fazer eventos do tipo, reunindo aventureiros de todo o mundo em pequenos grupos. No caso da trip de Morgan, os convidados foram liderados por Karles Vives, o fundador e diretor criativo da empresa.
A Harley utilizada na odisséia era praticamente original, apenas com alguns milímetros a mais de curso nas suspensões, escapamento elevado e pneus para uso na areia. Já o roteiro previa hospedagens em hotel ou grandes tendas de lona ao fim de cada dia de muita poeira e calor, enquanto a organização assegurava alimentação e veículos de resgate aos participantes.
1º dia: Welcome to the jungle
Partindo da cidade, o primeiro estágio foi dedicado a cruzar áreas com terrenos variados, incluindo trechos de muitas pedras – com tamanhos variando entre bolas de golfe a melancias. À medida em que se afastavam da civilização se deparavam com trechos de areia que ficava, a cada quilômetro, mais funda e fofa.
2º dia: Primeiro contato profundo com o off-road
Aqui os participantes tiraram a temperatura do que estava por vir. Longe da cidade, estavam em meio a vastas extensões de deserto, com direito a camelos e grandes aves de rapina. O que não havia, porém, era água, levando Morgan a vomitar duas vezes por exaustão. Houve uma rápida chuva, que acabou compactando a areia em alguns trechos.
3º dia: Atravessando rios de Harley-Davidson
Não bastasse o cansaço acumulado no dia anterior, a sua Harley-Davidson também mostrava sinais de desgaste em meio ao terreno hostil. Depois de rodar um trecho no asfalto, os partipantes voltaram ao deserto e a 883 perdeu um parafuso de fixação da suspensão traseira. Então Gales foi resgatado pela equipe e levado de caminhão até a cidade mais próxima, onde encontraram uma oficina.
De volta à aventura na região de Gara Medouar, mais dunas. Enormes e infinitas paredes de areia. Entre elas, algumas travessias de rios, particularmente difíceis para quem estava com uma moto de quase 250 kg. Entre as incursões dentro e fora d’água e da missão de acelrar rápido o suficiente para que a roda dianteira flutue sobre a areia foram muitas quedas.
4º dia: O pior para a Harley-Davidson ainda estava por vir
O quarto dia era uma espécie de versão mais difícil do terceiro. Os trechos sobre dunas e travessias eram tão difíceis quanto os do dia anterior, mas bem mais longos. A areia molhada não parecia um grande problema às motos leves, mas para a Harley-Davidson era quase areia movediça, insistindo em afundar a 883.
O roteiro também inclui passagens por pequenos vilarejos, onde as crianças sorriam e acenavam aos viajantes. Teve, também, muitas quedas. Morgan machucou costelas, rasgou as calças e queimou as botas nos escapamentos da moto. Ao final do dia sentia-se como ‘um saco de carne de hambúrger’.
5º dia: Começo do fim
Destruídos, os motociclistas clamavam por um dia de paz após o desafio anterior. E o tiveram – ou quase isto. No quinto estágio saíram do deserto, encarando trilhas largas e abertas. Alguns trechos eram pedregosos e técnicos, mas ao menos muito mais firmes que as dunas de até então. Estavam em torno das montanhas de Saghro.
6º e 7º dias: Depois da aventura, a glória
O sexto dia reservou as paisagens mais bonitas, deixando o deserto para trás. De quebra, era possível se refrescar em rios. A aventura seguiu por estrada de cascalho e montanhas até chegaram aos 3.000 metros de altitude onde, depois de tudo, os participantes sentiram frio. Estavam na região de Tabant que tinha, inclusive, alguma vegetação.
Era o fim das incursões off-road. A partir daí a viagem continuou pelo asfalto, onde a 883 se sentia em casa, com a disposição que ainda lhe restava. No hotel, cada integrante recebeu uma medalha que dizia ‘Audaces Fortuna Iuvat’ – A sorte favorece os audazes, em latin. Depois do descanso bastou retornar para Marrakech, onde tudo começou. Mas, agora, apenas pelo asfalto.
Leia a aventura de Morgan na íntegra aqui. As fotos são de Morgan Gales e Fuel Motorcycles.