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O Mundial de Motovelocidade iniciou uma nova história em 2002, quando adotou o nome MotoGP e substituiu os motores de 2 pelos de 4 tempos. Nas 18 temporadas que se passaram desde então algumas montadoras se destacaram, caso da Honda, que faturou 22 Campeonatos Mundiais de Pilotos e Construtores, além de 153 vitórias, considerando as classes Moto3, Moto2 e a rainha MotoGP.

 

Cassey Stoner domando a arisca Honda RC212V, em 2007

Cassey Stoner domando a arisca Honda RC212V, em 2007

Assim, a marca japonesa construiu a melhor reputação entre todas as montadoras nesta nova era, movida pelos motores de quatro tempos. Além disso, concretizou a ascensão na carreira de Valentino Rossi (que curiosamente viria a se tornar um símbolo da Yamaha) e apresentou ao mundo o fenômeno Marc Márquez.

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Desse modo, com nomes de peso que ainda incluem Nicky Hayden e Casey Stoner, a Honda faturou 10 títulos na MotoGP (sendo dois de Rossi e cinco de Márquez). A Yamaha aparece em segundo, com 7 conquistas pelas mãos de Rossi e Jorge Lorenzo. A Ducati fecha a lista de campeãs com a taça conquistada por Stoner, em 2007.

A história da Honda na MotoGP é repleta de conquistas e títulos. Mérito de suas motos, bem como de pilotos talentosos como Dani Pedrosa (26) e Marc Márquez (93)

A história da Honda na MotoGP é repleta de conquistas e títulos. Mérito de suas motos, bem como de pilotos talentosos como Dani Pedrosa (26) e Marc Márquez (93)

As máquinas da Honda na MotoGP

Tão importante aos títulos quanto o brilhantismo de seus pilotos campeões, foram as motos construídas pela Honda ao longo das temporadas – ainda mais se considerarmos o delicado processo de adaptação de homens e protótipos para a pilotagem de 2 para a de 4 tempos. Assim, as obras-primas da engenharia da marca se chamam RC211V, RC212V e RC213V.

Desse modo, dão sequência a tradição nas pistas e ao sistema das primeiras máquinas da década de 1960: RC166 de 6 cilindros e 250cc, RC149 de 5 cilindros e 125cc e as RC181 de quatro cilindros e 500cc. A sigla RC representa Racing Cycle, enquanto 211 indica que a moto foi a primeira Honda de GP do século XXI e V representa a configuração em V do motor de cinco cilindros. O numeral 212 indica segunda motocicleta de corrida da marca no século, e a 213, naturalmente, a terceira.

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Honda RC211V (2002-2006)

Assim, a RC211V nasceu quando a MotoGP adotou os motores quatro tempos, em 2002. O modelo possuía motor de cinco cilindros em V com ângulo de 75,5° entre as bancadas, com três cilindros dianteiros e dois traseiros. O propulsor de design compacto foi inspirado na RC45 – vencedora do Mundial de Superbike de 1997 – e permitiu a construção de um chassi apurado e diferenciado para as curvas. Inicialmente, a RC211V entregava potência máxima de “apenas” 220 cavalos.

A Honda escreveu uma história de glórias com a RC211V. Assim, era do modelo abriu com títulos de Rossi e fechou com a conquista de Hayden, em 2006

Nas mãos de Tohru Ukawa, o modelo de corrida registrou 324,5 km/h na reta da pista de Mugello, na Itália, em junho de 2002. Já na última temporada das 990cc, em 2006,  Casey Stoner atingiu 334 km/h na mesma pista. Entretanto, foi Rossi quem faturou os primeiros títulos do Mundial de Pilotos com a moto, em 2002 e 2003. A conquista de Nicky Hayden em 2006 encerrou esta era gloriosa. Ao todo, dez pilotos competiram com a RC211V, foram 48 vitórias, três Mundiais de Pilotos e quatro de Construtores.

Alex Barros: o Brasil na MotoGP

O brasileiro correu oito anos em equipes privadas, com a NSR500 dois tempos  – precursora da RC211V – que dominou por anos a categoria 500. Em 2004, depois de ter competido por um ano no esquadrão de fábrica da Yamaha, foi contratado pelo time oficial Honda, substituindo (ninguém menos que) Valentino Rossi.

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Você não confundiu ele com o Andrea Dovizioso, né? Este é Alex Barros, acelerando a RC211V!

Você não confundiu ele com o Andrea Dovizioso, né? Este é Alex Barros, acelerando a RC211V!

Desse modo, Barros teve duas temporadas com a RC211V. Já em 2005, pilotando novamente com uma equipe privada, ele teve sua última vitória na MotoGP, no autódromo português de Estoril, com a máquina japonesa. Em 2006 competiu no Mundial de SuperBike (também com uma Honda) e no ano seguinte retornou para sua temporada de despedida na MotoGP, pela equipe Pramac Ducati.

O ‘início’ do fenômeno Valentino Rossi

Depois de conquistar o Mundial nas 125 cc (em 1997) e nas 250 (1999), Valentino Rossi chegou à Honda para o que seria o início de uma vitoriosa jornada na categoria rainha. Assim, o italiano surgiu meteoricamente na equipe, faturando o vice-campeonato em 2000 e o primeiro título em 2001, com a NSR500.

Rossi encerrou a era 2T assim como abriu a da MotoGP, com motos de 4 tempos: vencendo

Rossi encerrou a era 2T assim como abriu a da MotoGP, com motos de 4 tempos: vencendo

Em 2002, o piloto embarcou na RC211V e guiou a recém-chegada quatro tempos para o triunfo do novo formato da competição, a MotoGP. Depois de três títulos, desejou encarar um novo desafio na categoria e mudou-se para a arquirrival (e então desacreditada) Yamaha, que estava há 11 anos sem títulos na classe principal. O resultado nós sabemos de cor: conquistas em 2004, 2005, 2008 e 2009.

Além disso, aqui uma curiosidade que não podia ser ignorada. Hoje o italiano é um dos maiores símbolos da Yamaha (se não for o maior, claro)

Além disso, aqui uma curiosidade que não podia ser ignorada. Hoje o italiano é um dos maiores símbolos da Yamaha (se não for o maior, claro)

Honda RC212V (2007-2011)

Por sua vez, a RC212V foi fruto da experiência adquirida com a RC211V pelo time da HRC – Honda Racing Corporation. Em 2007, a MotoGP reduziu o tamanho do motor de 990 para 800 cm³, o que fez com que os engenheiros adotassem o novíssimo motor V4, substituindo o V5.

A RC212V não presenciou a melhor era da Honda no Mundial. O modelo, aqui pilotado por Pedrosa, faturou apenas um título

A RC212V não presenciou a melhor era da Honda no Mundial. O modelo, aqui pilotado por Pedrosa, faturou apenas um título

Assim, o propulsor tinha ângulo mais estreito entre as bancadas e alcançava mais de 18.000 rpm, dois mil a mais que seu predecessor. Mas a curva de potência abrupta do V4 exigiu o uso de recursos eletrônicos avançados, como: anti-wheelie, controle de tração e controle de largada. Incrivelmente, as 800 logo registraram tempos de volta mais rápidos que as 990. Em Mugello, Dani Pedrosa marcou a melhor volta à apenas 0,037 segundos mais lento que o recorde estabelecido anteriormente.

Cockpit da Honda RC212V

Cockpit da Honda RC212V

Entretanto, a RC212V não teve o sucesso imediato e foi difícil entregar a potência de forma amigável aos pilotos. A HRC precisou projetar vários chassis e em 2010 houve a adoção do alumínio e fibra de carbono, além das suspensões Öhlins. Desse modo, depois de amargar derrotas para as Yamaha de Jorge Lorenzo e Rossi, coube a Honda trazer o campeão de 2007 com a Ducati, Casey Stoner. O australiano fechou esta segunda era com o único título, em 2011 – o segundo do talentoso piloto.

Honda RC213V (de 2012 até hoje)

Enfim, a RC213V que acompanhamos ao longo das últimas temporadas. Ela surgiu quando a Honda projetou uma nova motocicleta para a MotoGP de 2012, adotando o novo regulamento, com o tamanho dos motores passando de 800 para 1.000 cm³.

 

Assim, o motor agora tinha maior capacidade cúbica e era caracterizado por um ângulo de 90° entre as bancadas. O propulsor era maior em tamanho, mas a HRC trabalhou no design de componentes, visando reduzir as dimensões da moto. Em 2016, as regras mudaram novamente: a Michelin substituiu a Bridgestone no fornecimento de pneus e a unidade de controle eletrônico (ECU) tornou-se padronizada.

A Honda RC213V 2019, companheira de Marc Márquez. Modelo faturou 6 de 8 títulos disputados

A Honda RC213V 2019, companheira de Marc Márquez. Modelo faturou 6 de 8 títulos disputados

 

Além disso, a RC213V mostrou-se também uma máquina muito rápida após constantes evoluções. Na comparação de tempos, o GP de Mugello de 2019 foi dois minutos e sete segundos mais curto do que o de 2002 (com velocidade máxima de 354,7 km/h), mérito da sintonia entre o bom projeto desenvolvido pela Honda e seu principal piloto, Marc Márquez.

A era Marc Márquez

Tricampeão das 125cc e bicampeão da Moto2, o jovem Marc Márquez proporcionou um casamento perfeito com a RC213V. Em 2013, com seu estilo, o espanhol se tornou o primeiro estreante a conquistar o título Mundial da era MotoGP – feito antes apenas adquirido por “King” Kenny Roberts, em 1978.

O casamento perfeito: Marc Márquez e a RC213V. Sorridente espanhol já faturou seis títulos na MotoGP com o modelo - e contando...

O casamento perfeito: Marc Márquez e a RC213V. Sorridente espanhol já faturou seis títulos na MotoGP com o modelo – e contando…

Assim, já se passaram seis mundiais vencidos pelo piloto na MotoGP – e oito, ao total. A categoria aponta a perspectiva de trabalho do time da HRC e a dedicação de Márquez, fatores que ainda prometem quando as corridas retornarem de seu hiato. A dúvida que resta agora é: quem será capaz de por fim a era dominada pela combinação RC213V e Marc Márquez?

Guilherme Augusto
@guilhermeaugusto.rp>> Jornalista e formado em Relações Públicas pela Universidade Feevale. Amante de motos em todas suas formas e sons. Estabanado por natureza