Segurança Por motonline 24/08/2011 10:49 (há 14 anos).

Quatro numa motocicleta, sem capacete! Reflexo do trânsito não municipalizado em Mombaça, Ceará.

Em uma viagem que fiz recentemente a várias cidades do interior nordestino, a constatação é preocupante. Chinelas japonesas, bermudas, camisas de manga curta, bonés e por aí vai. Se você pensou que estes itens estão relacionados a ir à praia, ao parque ou coisa parecida, enganou-se. Estes são os equipamentos de segurança da maioria dos motociclistas no interior do Nordeste.

A maioria das cidades, apesar de ter seu trânsito municipalizado, não fiscalizam como deveria. Os mototaxistas são um caso à parte: na maioria dos lugares onde passei eles usam o capacete, colete, calças compridas, sapatos ou tênis. Porém, o restante dos motociclistas não demonstra a menor preocupação com segurança e anda numa moto como se fosse mesmo ir a uma praia, a um banho de rio ou mesmo a um passeio pela praça ou shopping.

Mais de três pessoas numa moto…
É comum ver motociclistas sem capacete carregando na garupa das motos duas pessoas mais bagagem. Crianças que pela idade e tamanho sequer alcançam a pedaleira destinada à garupa, são conduzidas usando capacetes de adultos – maiores que as suas cabeças – e, portanto, com grande probabilidade do capacete sair da cabeça em caso de acidente.

Conversando com motociclistas, mototaxistas e motoboys,  existe uma clara diferença entre o motociclista profissional e o motociclista digamos, amador. Os que usam a moto a trabalho usam um pouco mais os equipamento de proteção. Apesar de não ser o equipamento adequado é bem melhor que não usar nada. Já entre os amadores a coisa rola solta. Chinelos de dedo, capacetes sem a cinta presa, viseiras abertas, sandálias, capacetes no braço ou sendo usado como chapéu e por aí vai. E tem mais. Há pelo menos 15 municípios cearenses com cinco vezes ou mais veículos do que condutores que possuem a CNH. O Detran (CE) estima que existam cerca de 300 mil pessoas dirigindo sem CNH no Estado.

A falta de informação…
Numa breve passagem em um ponto de encontro de mototaxistas percebemos o quanto os itens segurança são deixados de lado por falta de informação. Alguns usavam capacetes com viseiras opacas e que por estarem neste estado estava sempre aberta, o que é, neste caso, uma infração de trânsito. Muitos pilotam em estradas de terra ou de calçamento e basta um grão de areia ou um besouro no olho para provocar um acidente grave. Bastou alertar para começar a ouvir histórias de companheiros que se acidentaram  por estar com a viseira aberta.

Apesar de certificados pelo Inmetro, alguns tipos de capacetes não permitem uma proteção adequada em regiões onde o sol e o calor são os fatores de maior desgaste para equipamento e piloto.

Poucos sabem que a pele descoberta associada ao atrito com o vento e o sol aceleram a níveis altíssimos o ressecamento, as queimaduras e a desidratação. A desidratação é outro grande inimigo de quem anda de moto pelo Nordeste e acredite: ela mata.

Sol e desitratação mata

Sol e desidratação
Cientistas e pesquisadores preocupados com a saúde do motociclista nordestino. Em outro estudo * Santos  analisa os traumas ocorridos em motociclistas após os acidentes de trânsito provando que, em mais da metade das vítimas, os membros  inferiores  representaram um dos segmentos corpóreos mais atingidos. O mesmo estudo, evidenciou também, que a maioria dos óbitos concentraram naqueles que não utilizavam o capacete, confirmando ser este risco dez vezes maior entre aqueles que não fazem uso deste equipamento.

  • Ao mesmo passo, de todas as lesões:
    59,3% foram classificadas como ferimento leve,
    25,0% traumatismos superficiais,
    9,4% fratura e
    6,3% luxação, entorse ou distensão das articulações e dos ligamentos.

Saber que a simples utilização de proteção para as pernas, tipo caneleiras e joelheiras, que custam cerca de 60 reais, reduziria sobremaneira o índice de gravidade dos ferimentos provocados por um acidente com moto, só confirma a nossa impressão de que a falta de informação é que gera a falta de educação e com ela a postura de não querer utilizar o equipamento de proteção.

O Álcool e a fome
É comum no Nordeste Brasileiro, ao fim do dia, dar uma parada em um bar próximo de casa, encontrar os amigos para colocar o “fuxico em dia” e tomar uma dose de pinga antes de ir para casa. Este hábito vem desde o tempo em que o homem do interior andava à cavalo ou em jumentos. Mas as quatro patas se transformaram em duas rodas e o hábito se manteve. Na cabeça desse povo isso nunca foi um problema, pois o animal geralmente o levava para casa mesmo que estivesse completamente bêbado. Agora, mesmo sendo em duas rodas, a tradição ainda permanece, porém, com um agravante: os acidentes com motos no início da noite aumentaram.

Outro fator cultural está no fato de ao acordar pela manhã o sertanejo toma uma xícara de café preto e sai para trabalhar. No caso dos mototaxistas a primeira refeição é feita após receber o dinheiro da primeira corrida do dia. Aqui mora outro grande fator de risco: a fome. A falta de alimentação para quem anda de moto é várias vezes pior do que para quem dirige um carro. A queima de açúcar é ainda mais rápida por causa do excesso de adrenalina e isso pode provocar a hipoglicemia – falta de açúcar no sangue que gera confusão mental e perda de movimentos e reflexos, além de falta de equilíbrio.

O estudo realizado pelos pesquisadores da Universidade Estadual de Feira de Santana, UEFS-BA, dos acidentes estudados, 37,8% ocorreu no período da manhã. O fato de o município ter base econômica no comércio e, portanto o fluxo de pedestres e veículos ser mais intenso no centro da cidade, 51,4% ocorreram nessa região. Além disso, 23% afirmaram não ter tomado café da manhã.

Vejam que a maioria desses problemas aqui listados se resolveria com pequenas intervenções locais e a um custo baixíssimo. Porém não existe educação sem informação e sem entender a cultura e a linguagem local. É um simples gesto que feito de forma repetitiva, com multiplicidade de informações, visão sistêmica e holística que pode diminuir os acidentes e com eles um exército de mutilados, sem falar nos mortos. É preciso entender para poder explicar e educar. E é isso que necessita o conjunto homem, moto e sistema viário.

*  (Diagnóstico de lesões e qualidade de vida de motociclistas, vítimas de acidentes de trânsito. Rev Latinoam Enferm 2003; 11:749-56 SANTOS, Ana Maria Ribeiro dos et al. Perfil das vítimas de trauma por acidente de moto atendidas em um serviço público de emergência. Cad. Saúde Pública [online]. 2008, vol.24, n.8, pp. 1927-1938. ISSN 0102-311X)

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