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A Yamaha é mundialmente famosa pelas suas motocicletas e instrumentos musicais. Além disso, conquistou notoriedade com produtos náuticos, como motores de popa e motos aquáticas. Ainda, é responsável pelo clube Júbilo Iwata, da primeira divisão do futebol japonês, e outros investimentos em diferentes esportes.

O carro Yamaha que não foi. OX99-11 tinha motor de F1 e desempenho de superesportivo

Mas e um carro Yamaha, nunca existiu? Apenas o conceito Sport Ride de 2015 em mais de 100 anos de companhia? A fabricante nunca obteve o mesmo sucesso sobre quatro rodas que a tradicional concorrente Honda, o que não a impediu de produzir um interessante modelo esportivo com motor de F1, o OX99-11, na década de 1990. Relembre essa – quase – desconhecida história.

Carro Yamaha: um pouco de história

Ao longo das décadas, várias empresas japonesas atingiram sucesso internacional na produção de carros, de esportivos a utilitários. São exemplos a Toyota, Mitsubishi, Nissan, Mazda, Subaru. Além disso, a já citada Honda e a Suzuki conseguiram conciliar a produção de carros e motos, mas veículos de quatro rodas nunca pareceram interessar de fato a Yamaha.

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Conceito Yamaha Sport Ride, de 2015, foi desenvolvido por Gordon Murray, projetista de renome na F1. Porém, nunca deixou de ser um protótipo

Dessa forma, um dos poucos investimentos da companhia de Hamamatsu no segmento foi a criação do Yamaha Sport Ride. Apresentado no Salão de Tóquio de 2015, o modelo era baseado no conceito iStream de montagem e desenvolvido por ninguém menos que o ex-projetista da F1 Gordon Murray, um dos principais responsáveis por obras primas como a McLaren da década de 1990 e as Brabham do início dos anos 80, companheiras nos títulos dos brasileiros Ayrton Senna e Nelson Piquet.

Porém, para tristeza dos fãs da marca e entusiastas de carros esportivos, o projeto nunca passeou da fase de conceito. Além disso, em 2019 o porta-voz da marca Naoto Horie confirmou que o foco da empresa continuaria sendo as motos. Fim de jogo aos que queriam um carro Yamaha – ao menos por enquanto.

Yamaha na Fórmula 1

Talvez o desinteresse em fabricar carros tenha ganho força após sua tentativa frustrada de conquistar sucesso na F1. Longa tentativa, aliás. Assim, a Yamaha entrou para a categoria máxima do automobilismo em 1989, aproveitando o fim da primeira era turbo e a popularização do esporte no Japão.

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Yamaha em seu ano de estreia na F1, com a equipe Zakspeed

Dessa forma, passou a equipar a equipe Zakspeed com um motor V8 aspirado. Entretanto, o motor OX88 – e seus 600 cv – não era capaz de fazer frente aos propulsores concorrentes, alguns com mais de 700 cv, como os V8 Ford (Benetton), os V10 da Honda (McLaren) e Renault (Williams) e o V12 da Ferrari.

Como resultado, das 16 etapas da temporada o carro conseguiu se qualificar para a largada em apenas duas oportunidades. Assim, a fabricante saiu de cena em 1990, mas retornou no ano seguinte para uma segunda tentativa. Agora, iria equipar a equipe Brabham com um V12.

Apesar de 8 anos de investimento na modalidade, a Yamaha não faturou uma vitória sequer, quem dirá um título. O melhor resultado foi o segundo lugar de Damon Hill, em 97 (foto)

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Porém, o retorno da fabricante à F1 não rendeu os resultados esperados e, depois, a marca se aliou à Jordan, em 1992. Na temporada seguinte era hora de desenvolver um novo motor e assim surgiu o OX11A V10, que moveu o time da Tyrrell de 1993 a 1996. No ano seguinte veio sua cartada final. Desse modo, forneceu os (mesmos) motores à equipe Arrows, em 1997.

Curiosamente, o último ano da Yamaha na F1 marcou seu melhor resultado. Foi um modesto pódio, obtido por Damon Hill, na Hungria. Além do segundo lugar do então atual campeão, a fabricante conquistou um terceiro posto com Mark Blundell no GP da Espanha de 94. Com oito anos de trabalho, apenas 36 pontos e sequer uma vitória a Yamaha abandonou a F1 e decidiu concetrar esforços na motovelocidade – ainda bem.

OX99-11, o carro Yamaha com motor de F1

Mas quase que essa frustrante história teve um final feliz, com um legado presente nas ruas e pistas de todo o mundo com um projeto peculiar, único e rápido. Quase. Foi o OX99-11, o carro que a Yamaha não fez.

Aerodinâmica tinha um objetivo claro: manter os 1.150 kg do carro colados ao chão, mesmo acima dos 10.000 rpm

Dessa forma, em 1991 a fabricante decidiu levar seu motor OX99-11, recém-desenvolvido para a Brabham, para um veículo de uso civil. Desta forma, um projeto foi desenhado pela Ypsilon Technology, subsidiária da marca responsável pelos motores para a F1. Um ano depois, a IAD, consultora de engenharia britânica, entrou na jogada para apresentar a versão final do esportivo.

Apenas três unidades foram finalizadas pela Yaamaha. Aqui, elas participam de uma demonstração

Um projeto único – e rápido

O design ficou a cargo de Takuya Yura e apresentava apenas um único lugar para o piloto. Entretanto, os chefes da Yamaha requisitaram que a máquina abrigasse mais um passageiro. Assim, o supercarro nascia com uma disposição de assentos semelhante a uma moto, um atrás do outro.

Cockpit monoposto era centralizado, Passageiro ia atrás do piloto, como acontece nas motos

Além disso, carro Yamaha OX99-11 possuia toda a carroceria em alumínio e uma única porta, que abre para cima ao estilo “canopy door”. Já o chassi em fibra de carbono pretendia fazer entregar toda a experiência do motor OX99 da F1.

Calçando pneus Goodyear Eagle F1 e pesando apenas 1.150 kg, o carro atingia os 100 km/h em 3,2 segundos e velocidade máxima de 350 km/h. Isso que o propulsor teve potência reduzida para ser ‘dócil’ ao uso nas ruas e, assim, seu V12 de 3.5L com 60 válvulas entregava ‘apenas’ 400 cv, a 10 mil rpm.

Quando o sonho acabou

Mesmo depois de concluído, o projeto levantou divergências entre a IAD e Yamaha sobre o orçamento. Então, a IAD foi retirada da iniciativa e a Ypsilon recebeu o prazo de seis meses para a conclusão do mesmo. Mais tarde, a Yamaha não percebendo um número suficiente de potenciais clientes para o superesportivo, em função do seu alto preço, adiou a continuidade do projeto. Já era 1994 e a ideia foi para a gaveta, definitivamente.

Carro Yamaha com motor de F1 à venda

Dessa forma, ao todo foram construídos apenas míseras três unidades do Yamaha OX99-11. Cada um em uma cor, sendo um vermelho, outro preto e um terceiro em verde.

Essa é a unidade do super-raríssimo carro Yamaha que está à venda. Segundo site Carscoops, preço é US$ 1,3 milhão

Esse terceiro era uma unidade de testes, colorida de um discreto tom escuro de verde para não chamar atenção em aferições noturnas em pista. Por algumas misteriosas manobras do destino, ele acabou sendo colocado à venda no ano passado, por cerca de 1,3 milhão de dólares, aproximadamente 7 milhões de (desvalorizados) reais. E aí, vai querer este super exclusivo carro Yamaha na sua garagem?

Guilherme Augusto
@guilhermeaugusto.rp>> Jornalista e formado em Relações Públicas pela Universidade Feevale. Amante de motos em todas suas formas e sons. Estabanado por natureza