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Enquanto arrumo as malas, ouço um dos apresentadores se referindo a uma determinada sessão como…. , sobrenatural (ou coisa que o valia).

De fato, aqueles caras têm manha de fazer coisas praticamente inimagináveis, pela esmagadora maioria das pessoas que, eventualmente, consideraram que sabem qualquer coisa sobre a condução de motocicletas.

O negócio era tão cascudo que, até aquele motociclista sem moto, que acompanha (e orienta) o movimento, ignorava, coisas como ….: “Aterrissar de salto curto entre pedras, apoiando-se só na roda traseira, com recepção em “beirais” de muros altos, num espaço onde uma moto, simplesmente não cabe atravessada….. ”

A coisa era tão punk que, quando tinha uma passagem destas o cara (o motociclista sem moto), simplesmente ignorava.

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Passava batido sem dar nenhuma orientação e dirigia-se para a próxima. Coisa do tipo “Vem aí que essa passa fácil…!!”

Tô vendo o dia em que aqueles caras, vão começar a andar com cordas e mosquetões presos a cintura, tipo alpinista… Tá quase….

Fiquei pensando se, por acaso…. , eu não tenha mesmo nascido desprovido de um “cerebelo em banho de óleo”, ou algo que pudesse me prover de, ao menos, ….50% daquela noção de tempo e espaço.

Acordei sábado no destino, tomei um bom copo de café, e encarei o trampo de fazer uma manutenção, negligenciada há semanas. Troca de pastilha , óleo , filtro e, ajustes periódicos.

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Comecei na auto peças. Dois litros de óleo eram meu único objetivo. Acredite. O dono do estabelecimento é motociclista, amigo e….., tava mal intencionado. O cara tem uma turing, de mil e tantas cilindradas, preta, linda, nova. Uma bike que eu sempre quis ter. Essa lista é pequena…..!

Motocicleta boa, pra montar em SP as 6:00 da manhã de um sábado qualquer e, fazer todas as curvas da BR101, até Alcobaça….!!!!

Resumindo. Cerca de cinco minutos depois, ainda as 8:30 da manhã de sábado, estava eu, com um casco, uns dois números maior do que a minha cabeça, saindo pra fazer um test drive naquela criatura, numa estradinha vicinal ainda tomada pelo orvalho da manhã. Nice ride…… Existe moto ruim?

Voltei fazendo conta, fui pra casa no piloto automático e só retornei à realidade, depois de tomar um presta atenção da minha mulher, que, não sei como, ainda tem saco de escutar meus surtos abstratos motociclísticos: “Pelo menos compra uma que anda na terra!!”

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Acho que, indiscutivelmente, o maior dom que Deus me deu, é o de convencer os outros, que motos, nunca são demais e, dos seus incontáveis benefícios à saúde, paz, harmonia e etc….

Além, é claro do …. “excelente” “investimento”!!!! Sô bom nisso! Nem aqueles caras do trial acreditariam como eu sô bom nisso….!!!!!

De volta ao quintal da casa do meu sogro, passei a mão na minha caixa de ferramentas, composta por chaves diversas e implementos “pró gambi” (alguns deles em atividade a mais de vinte anos) e, fui me aventurar no maravilhoso mundo da mecânica básica.

Meu sogro é um cara legal e, apesar de não suportar nem o cheiro de gasolina, fez até uma área de boxes lá, onde exerço as atividades com relativa liberdade. Esse negócio de fazer na casa do sogro é constrangedor, a gente não fica muito a vontade e, é justamente ai que acontecem as merdas….

Bati uma água, saquei o filtro e descobri que o mesmo (que estava no kit de peças origi da bike, há cerca de dois anos) estava se “desfazendo”….

Era a primeira vez que estava em uso, mas, acho que a ação daquela gosma que impregna tudo na caixa de ferramentas, fez com que a cola da espuma do contorno de soltasse….

Por sorte, achei o velho, sujo. Dentro duma bota velha, num canto do quartinho. O bicho parecia uma cueca velha….

Esgarçado, furado e, com manchas permanentes…. Resolvido este capitulo, passei à drenagem dos lubrificantes. Havia substituído o filtro na ultima troca de óleo e, portanto, simplesmente drenaria e reporia a quantidade equivalente.

Ai então me ocorreu à primeira, de uma série, de boas ideias. Com os bujões de dreno fora, resolvi acionar vagarosamente o pedal de partida e assim, girar o motor vagarosamente, no pedal, para drenar o óleo de cavidades escusas. Faço isso vez por outra. Devagar, com o dedo no corta corrente. Funciona. Após duas ou três voltas no “vira”, verte-se mais um bom volume de óleo velho. Volume suficiente pra contaminar aquele azeite de oliva virgem que estava prestes a despejar ali.

Aliás, acabo de me dar conta de que óleo bom é, MUITO mais caro do que azeite de oliva virgem, vintage, europeu. A bike estava de pé, paralela a um muro branco e, não poderia estar em posição pior. Tão logo a pressão do motor aumentou, o resíduo de óleo foi expulso do carter, num spray de óleo queimado, que transformou a outrora branca parede, numa obra digna do expressionismo abstrato anti ecológico. A ultima coisa que me lembro, foi de ouvir a voz do sogrão vindo no corredor, enquanto as gotas de óleo ainda escorriam pela parede.

Sujou…! Puxei assunto de neto e disfarcei…. Aquela parede jamais voltará a ser branca naquele pedaço.

Passei à recolocação do filtro de ar. Tudo ia bem, até lembrar-me (por falta dela) que a borboleta de fixação, havia sido jogada junto com o filtro, dentro do balde, na lavagem do mesmo. Ela tava impregnada daquele grude com terra… , pensei em dar um trato nela, após a lavagem do elemento. Nesse momento, me lembrei que havia jogado aquela água com sabão no ralo grande do quintal. No instante seguinte, deduzi que, muito provavelmente, a borboleta havia ido pro ralo , junto! Retirada a grade do ralo, enfiei a mão lá dentro, num ato de bravura sem precedente. Não faria aquilo nem pra pegar minha carteira, meu celular, ou o telefone da Juliana Paes. Mas, sem a borboleta do filtro, 15 minutos antes do horário marcado pro rolê, era uma situação de emergência.

Não rolou…. Ela se foi, navegando em dez litros d água, ralo adentro.

O rolê tava marcado pras 14:00, eram 13:40. Desesperadamente, saí à procura de um parafuso equivalente. Além do diâmetro e da rosca específica, um complicador transformou a “caça”, numa missão quase impossível: aquela borboleta é longa, muito mais longa que o padrão.Às 14:40 o problema estava solucionado, com um parafuso Allen, praticamente feito para aquilo. Tudo bem, mas, o rolê já estava em andamento…. Desencanei. Andaria no Domingo. Diante da situação, decidi que o melhor a fazer, seria dar prosseguimento à manutenção.

Próximo passo, pastilhas novas. Gosto de usar pastilha boa, de preferência original. Sei lá…. , devo ter tido que trocar um disco caro e raro, vitimado por uma pastilha sem CPF , em algum momento da minha vida de motociclista.

Fiquei traumatizado…Não economizo em pastilhas. Tinha na mão, um par de pastilhas originais, na embalagem com as devidas especificações.. Não sei por que, desde o inicio, aquela pastilha traseira tava me parecendo meio…. , “bifuda”…. A peça parecia pertencer a um carro, tamanha a quantidade de material agregado á base.

Não deu outra … , a dianteira “entrou sozinha”, nem precisei tirar a pinça, já a traseira … , deu muito trabalho e, parecia imprópria para o conjunto. Por fim, ela entrou, mas, de forma tão justa que não dava curso ao “embolo” e, claramente, segurava a roda. Pânico geral!

Já tinha perdido o rolê de sábado e , diante daquela situação “travada”, tava na eminência de perder o rolê do domingo, também. Tentei de tudo, mas, não havia mais curso no embolo da pinça e, a única saída, a meu ver, seria lixar a pastilha. Aquilo não me parecia certo. Lixar uma pastilha nova, sob especificação, não é coisa de gente seria, ou, pelo menos, não deveria ser. Me ocorreu então, que a pastilha velha, ainda estava em condições de sair para um último rolê. Mas esta, havia sido jogada no lixo, junto com um monte de jornal e embalagens usadas… Corro até a lixeira do quintal.

A casa tava cheia e, o lixo já havia sido retirado…. Disposto a tudo, vou buscar o saco de lixo na rua. Por sorte, encontrei a pastilha velha e a reinstalei no devido local. Agora sim! Tinha uma montaria e, um dia rolê. Show!

Com o dia quase acabando, fui ver a rapaziada andar numa antiga pista, recém remodelada, numa cidade vizinha. Ouvi e contei mentiras. Fui apresentado para as ultimas aquisições do moto clube local. Revi velhos amigos e, fui pra casa dormir.

O domingo amanheceu perfeito pra dar pau nu canavial. Algumas sessões já foram colhidas. Está aberta a temporada de uso da quarta e da quinta! Se tem uma coisa que eu gosto, é de verde! Os primeiros raios do sol já transformavam nosso play ground numa maravilhosa colcha de retalhos de múltiplos tons de verde, nisso, chega meu parceiro, montado em nada menos do que uma Kawa 450, bem novinha…. , bem verdinha!!!!

Naquele momento, percebi que a felicidade era inevitável…..!!!! Dali, cerca de 40 quilômetros do mais puro carreador de canavial em nível, nos separavam da primeira parada: A arvore! Na sequência, encostou outro compadre fazedô de curva….

Tava traçado meu destino. Todo o “sacrifício” seria recompensado! Revirei lixo, resisti às tentações do asfalto, enfiei a mão em ralo sujo…. Tudo por aquelas quatro horas…. Quatro maravilhosas horas de, segunda, terceira, quarta e….. , tudo pra baixo outra vez, saco no tanque e ….., tudo pra cima de novo, até a próxima curva!

Na noite anterior, um brother, sabido na técnica e condução veloz, havia me contado uma passagem de um vídeo do Everst. Parecia algo como um, “técnicas de pilotagem”. Fiquei com a orientação na cabeça. Algo do tipo, ao entrar na curva, “puxe” o lado interno do guidão para cima. O movimento, contraposto ao movimento do lado externo (que “puxa” o guidão e inclina a moto para dentro da curva), supostamente, deveria aumentar o controle e a estabilidade.

Era hora de praticar. Me concentrei, como quem joga os dados pela ultima vez numa partida valendo 1 milhão e, cai pra dentro! De fato, o negócio funciona. Mais uma peça deste imenso, infinito, quebra cabeça, chamado: técnica. O punk não é fazer o que o Everst mandou. O punk, é fazer isso, chegando de quarta ou quinta numa curva cega, de alta, nu canavial, escutando uma coruja de 450cc logo atrás de você, pensando em manter os pés se movimentando para a posição correta, fazendo o regripe, prestando atenção na altura dos braços e na posição do tronco, sem se esquecer de um pé operante no freio traseiro (pra um eventual acerto), tentando colocar motor em sincronia com a velocidade, acionando o freio dianteiro na medida certa, mantendo os olhos abertos à frente, reduzindo, respirando, achando o ponto da embreagem e, ainda assim, se divertindo!!!!!

Fala sério…….. Vou começar andar com um checking list no cross bar, só pra ter certeza de que não me esqueci de nada, antes de enrolar o cabo todo outra vez….!!! Deve ser por isso que dizem que só se aplica a técnica, quando ela se torna intuitiva. I just can´t do it all together!!!! Mas, mesmo assim, eu tento, I love it !!!!!!!!!!

O MotoCross é tão bom que, SINCERAMENTE, não dá pra entender o que é que as outras pessoas fazem nas manhãs (e tardes) de todos os finais de semana….

MOTOHEAD