Muitos motociclistas digamos, mais experientes, lembram de uma época na qual a imensa maioria tinha apenas uma moto para rodar na cidade, para viajar e alguns até para para aventurar-se pelas trilhas com os amigos. As fábricas perceberam a necessidade que o mercado demandava por motos versáteis e surgiram primeiro a Yamaha DT 180 (1981), depois a Honda XL 250R (1982), ambas nacionais e que deram grande impulso à prática do trail e aos esportes off-road, principalmente o enduro.
Agora, 30 anos depois, a Yamaha XTZ 150 Crosser Z chega e se junta a outras com as mesmas características de versatilidade de uso – Honda Bros e XRE 190 – e aumenta a gama de opções para quem quer uma moto para tudo. Suas características a posicionam no mercado como uma variação da conhecida ‘trailzinha’ de 150 cilindradas da Yamaha, nas ruas desde 2014, a Crosser S. Na busca por acentuar a vocação off-road do modelo, a Z recebeu alguns (poucos) elementos que a diferem da irmã, com destaque para o para-lama dianteiro alto, que chamou a atenção e dividiu opiniões do público desde sua apresentação, no Salão Duas Rodas 2017.
Uma moto com este perfil precisa estar preparada para qualquer tranco, seja do asfalto esburacado e calejado de grandes cidades a trechos com areia e lama e, para saber até onde vai a versatilidade da nova versão da Crosser – e descobrir se o tal para-lama ajuda mesmo no off, submetemos ela a um teste denso. Rodamos cerca de 800 km nas mais diversas situações, passando pelo trânsito pesado, estradas, rodovias, rodando com e sem garupa. E claro, percorremos muitos quilômetros na terra.
Visual
Na verdade, mudou pouco. Basicamente, agora o para-lama está posicionado no alto e foram adotados novos elementos no farol e suspensão dianteira – uma carenagem e um protetor plástico, para ser preciso. As cores também divergem, pois a versão ‘tradicional’ (S) está disponível em branco (Sports White) e Preto Eclipse, enquanto a Z pode ser vista nas lojas em Dakar Areia (como a que usamos no teste) e Competition Blue.
Apesar das mudanças sutis, o novo design está muito mais adequado à proposta do modelo, além de mais bonito – na minha opinião, é claro. Aliás, devo confessar que nunca fui fã da estética da Crosser S, nunca me convenci daquele para-lama baixo. Portando, o novo conjunto adotado na Z, ficou mais harmônico e combina melhor com a proposta trail da Crosser.
Além de funcional, o painel de instrumentos é moderno. Ele dispõe de conta giros analógico, velocímetro digital, indicador de marchas e de condução econômica. O conjunto ótico é razoável e poderia ser melhor, mas cumpre sua função de iluminar o caminho a frente e despertar os motoristas para a sua presença, o que também deve-se ao lampejador de farol – item simples, mas que ajuda muito no dia a dia do trânsito. Outro detalhe legal da Crosser está no descanso lateral, porque ela possui um facilitador para usá-lo. Sabe quando você quer parar a moto mas não acha o descanso? Então, na Crosser isso não acontece.
Conforto
A Crosser tem um projeto muito bem construído, edificado na credibilidade e robustez de que a Yamaha sempre foi sinônimo. Jogam junto, neste sentindo, outras características positivas da moto, que acabam resultando em ganho de conforto e ciclística. O banco poderia ser até mais macio, mas é grande e espaçoso, desenhado em 2 níveis, com bagageiro e generosas alças que melhoram a vida do garupa. As pernas não ficam tão flexionadas, contribuindo também para uma tocada mais confortável.
Outro ganho está na possibilidade de alterar a posição do guidão de acordo com gosto pessoal, gerando melhor ergonomia. No nosso teste não foi necessário ajustar o guidão, pois a posição padrão em que ele vem adequou-se ao meu perfil e pilotagem. A posição de pilotagem da Crosser é confortável e ao mesmo tempo deixa o piloto em total controle da moto. O grande ângulo de esterço facilita as manobras entre os carros, o guidão até que é um tanto quanto largo, mas isso não atrapalhou nem no trânsito mais pesado.
Motor e consumo da Crosser Z
O propulsor foi herdado de sua irmã street, a Fazer 150. É um SOHC (Single Overhead Camshaft, comando simples de válvulas no cabeçote), com 2 válvulas, refrigerado a ar, com exatas 149,3 cc, que gera 12,2 cv na gasolina e 12,4 cv no etanol, ambos a 7.500 rpm, e torque de 1,28 kgf.m na gasolina e 1,29 kgf.m no etanol, ambos a 6.000 rpm.
Na prática, se mostra um motor bem equilibrado, que encaixa na proposta do modelo, com destaque às boas retomadas e torque. Sua limitação fica para o uso nas rodovias, como era de se esperar. Mesmo assim o motor de 149,3 cc não fez feio não. A velocidade máxima aferida no velocímetro foi de 136 km/h (equivalendo a 122 km/h no GPS) a 8.500 rpm, limite do propulsor, onde se inicia a faixa vermelha do conta giros.
Acima de 6.300 rpm a vibração que o motor transmite começa a intensificar-se, fazendo-se sentir principalmente no guidão. A velocidade de cruzeiro da Crosser está na casa dos 100 km/h, o que não é nada mal, porém quando nos deparamos com uma subida, ou quando se tem garupa, a perda de potência é sentida de forma mais sensível.
O conjunto trabalha com um câmbio bem escalonado e leve, assim como a embreagem. As marchas são engatadas de forma intuitiva, com naturalidade e sem buracos – e o indicador de marchas ainda vem para facilitar essa troca. Com estas características, o consumo da Crosser Z ficou na média de 32 km/l, quando abastecida com gasolina, e de 28 km/l ao rodar com etanol. As médias foram tiradas mesclando o uso urbano, com o rodoviário e estradas de terra. Logo, com um tanque de 12 litros é possível projetar uma autonomia de cerca de 380 km com gasolina e 330 km com etanol.
Ciclística
As motos da Yamaha são conhecidas por terem uma ciclística bem acertada e com a Crosser Z não é diferente. As respostas são rápidas. As rodas de 19 polegadas na dianteira e 17 na traseira, aliadas ao baixo peso da moto (131 kg em ordem de marcha), distância entre eixos pequena (1350 mm) e ângulo de rake são responsáveis por essa boa característica, o que torna a moto muito fácil de conduzir.
As suspensões são bem calibradas para o tipo de uso que a moto provê. A dianteira é equipada com garfo telescópico de 180 mm de curso, enquanto a traseira é do tipo Monocross, com 160 mm de curso e dotada de link. Vale lembrar que o link na suspensão traseira é um diferencial no funcionamento do amortecedor, uma vez que a função dele é melhorar a progressividade de atuação do conjunto, principalmente em pequenas irregularidades, copiando melhor os buracos, minimizando a perda de contato com o solo.
O sistema de freios segue a mesma receita da irmã S, com disco na dianteira e tambor na traseira. Quando combinados, funcionam muito bem, porém o freio dianteiro transmitiu a sensação de ser um tanto quanto “borrachudo”, sensação que deve ser melhorada com a troca do flexível dianteiro por um de malha de aço.
Afinal, a Crosser Z é Off Road?
Chegamos na parte mais divertida desse teste: submeter a Crosser Z nas trilhas e estradas de terra. A moto não foi poupada, muito pelo contrário, ela encarou morros escorregadios com limo, pedras, estradas de terra, buracos, lama e muito mais.
A Crosser se deu muito bem na terra. As suspensões são bem calibradas para aguentar a buraqueira sem reclamar, transmitindo o mínimo de impacto para o piloto, sem excessos, é claro. Porém, no off road uma roda de 21 polegadas na dianteira e 19 na traseira seria melhor, pois copiariam as irregularidades de forma mais eficaz. Já a posição de pilotagem é muito natural para encarar a terra, com os braços ficando naturalmente semi-arqueados em posição de ataque, e as pedaleiras em conjunto com o guidão estão bem posicionados, facilitando a pilotagem em pé.
Os pneus que calçam o modelo de fábrica são o Metzeler Tourance, de uso misto. Ele encarou muito bem o trecho de terra, garantindo tração e segurança em todos os terrenos, desde terra batida, terra solta, areia, pedras, lama e até limo – condição encontrada somente em trilhas mais técnicas e difíceis. A altura em relação ao solo não permite andar em trilhas muito travadas e com cavas altas, porém é mais que suficiente para andar em estradas de chão. Outro fator que se revelou um aliado nessa incursão no fora de estrada foi a já citada ciclística, com dimensões compactas e bem distribuídas, que fez o peso de 131 kg ‘quase desaparecer’ ao guidão, além de ser uma moto magra e estreita, facilitando a pilotagem entre os obstáculos.
Concluindo, é claro que a Crosser Z não é uma legítima Off Road. Mas quer saber? Ela aguenta o tranco! Por mais que seu habitat natural seja o asfalto ela não fez feio na terra. A Crosser foi pensada para ser uma motocicleta de uso misto, mas foi uma surpresa ver o quanto que ela é capaz de aguentar em situações mais extremas, merecendo elogios sobre sua versatilidade. Vai andar no asfalto ou na terra? Ela aguenta!
Ficha técnica Yamaha Crosser Z 150
MOTOR |
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Tipo | 4 tempos, SOHC, 2 válvulas, Refrigerado a Ar |
Quantidade de cilindros | 1 cilindro |
Cilindrada real | 149,3 cc |
Diâmetro x curso | 57.3 x 57.9 mm |
Potência máxima | 12,2 cv (7.500 rpm) Gasolina / 12,4 cv (7.500 rpm) Etanol |
Torque máximo | 1,28 kgf.m (6000 rpm) Gasolina / 1,29 kgf.m (6000 rpm) Etanol |
Alimentação | Injeção Eletrônica |
Câmbio | 5 Velocidades |
Sistema de partida | Elétrica |
Transmissão primária | Engrenagens |
Transmissão secundária | Corrente |
Combustível | Gasolina e Etanol / 12L (3L reserva) |
Bateria | 12V / 5AH |
CHASSI |
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Suspensão dianteira / curso | Garfo telescópico / 180mm |
Suspensão traseira / curso | Balança tipo Monocross com link / 160mm |
Freio dianteiro | Disco hidráulico / 230 mm |
Freio traseiro | Tambor Mecânico/ 130 mm |
Pneu dianteiro | 90/90- 19 M/C (52P) |
Pneu traseiro | 110/90- 17 M/C (60P) |
DIMENSÕES |
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Comprimento x Largura x Altura | 2050 mm x 825 mm x 1140 mm |
Distância entre eixos | 1350 mm |
Altura do Assento | 836 mm |
Peso Líquido (ordem de marcha) | 131 kg |
Capacidade do óleo do motor | 1,25 L |
Capacidade do tanque de combustível | Gasolina e Etanol / 12L (3L reserva) |
GERAL |
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Cores | Dakar Areia e Competition Blue |
Painel de Instrumentos | Painel analógico: Conta-Giros / Digital: LCD com Relógio, Função ECO, Indicador de marcha, velocímetro, hodômetro total e parcial, marcador do nível de combustível |