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Toda viagem começa com planejamento, e com essa não foi diferente. Dois anos antes do início da viagem eu comecei a buscar informações sobre a famosa Mão do Deserto e a tão badalada cidade de San Pedro do Atacama, no Chile. Aquela região é bem procurada por motociclistas do Brasil inteiro e facilmente encontra-se relatos e histórias bem sucedidas de viagens feitas para aquelas bandas em sites, blogs e foruns na internet.

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Deixando o Brasil e entrando na Argentina (da esquerda para direita: Mandruvax, Donytello, Ana Paula e o Danne)

Foi por esses meios que minha pesquisa começou. Li muitos relatos, anotei todas as dicas, estudei várias rotas, mas fui com calma, pois ainda tinha muito o que aprender. Até então, a minha viagem mais longa havia sido a uma visita que fiz aos meus pais, na minha cidade Natal. Foram 2.000 km de ida e volta, de Belo Horizonte (MG) a Livramento de Nossa Senhora (BA), em uma Yamaha Tenere 250 cc. Eu precisava rodar mais. Não mais longe, mas mais.

Durante todo o ano de 2014 eu continuei buscando mais histórias, fazendo mais viagens, todas curtas, mas bem aproveitadas, aprendendo como me comportar nas estradas, como ser um motociclista mais atento. Teoria e prática. Quando eu tive a certeza que poderia fazer essa viagem com segurança, fiz o convite aos amigos do Bando do Macaco. Dois deles de pronto aceitaram e ai então começamos o planejamento no papel.

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Minha maior preocupação era com a documentação. Afinal a viagem seria internacional, precisaríamos mais do que a CNH e o CRLV para rodar tranquilos. Praticamente todos os relatos apontam para a mesma documentação que indico abaixo:

– Passaporte: é possível rodar por toda a América Latina com a sua Identidade (RG), mas o passaporte facilita e agiliza muito os trâmites nas aduanas. Sem falar nos carimbos que ficarão de recordação.

– Carta Verde: a Carta Verde é o equivalente ao DPVAT aqui no Brasil. Esse documento é impresso em papel verde, e pode ser solicitado em qualquer seguradora no Brasil. Custa bem barato, mas não serve no Chile.

– SOAPEX: o SOAPEX é a “Carta Verde do Chile”. Esse documento é de porte obrigatório desde novembro de 2013, deve ser solicitado via internet e você imprime em casa. O site tonaestrada te ensina como emitir o documento em detalhes.

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– PID: a Permissão Internacional para Dirigir é a tradução da sua CNH para vários idiomas, incluindo o espanhol. Em vários dos relatos que li esse documento não é de porte obrigatório, mas como prevenção, eu preferi solicitar e levar comigo.

– Mais documentos: além dos triviais – CNH, CRVL, RG atual (emitida a menos de 10 anos) – há outros documentos que você deve se preocupar em levar, caso a moto não esteja em seu nome. Pesquise na internet quais são, pois como não era o meu caso, não me preocupei em buscar essa informação.

Documentação pronta, vamos traçar a rota.

A rota mais comum para esse tipo de viagem é sair do Brasil por Foz do Iguaçu, entrar na Argentina por Puerto Iguazu, cruzar a Argentina pela RN 16 (a reta sem fim no Chaco), seguir pela província de Jujuy até Susques, entrar no Chile pelo Paso de Jama e então chegar a cidade de San Pedro de Atacama. Essa é a rota mais simples e curta, a mais utilizada pelos motociclistas brasileiros. Alguns nem mesmo seguem viagem até Antofagasta, onde está a Mão do Deserto. Voltam pelo mesmo caminho.

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Isso vai depender da quantidade de dias que você pode utilizar na viagem. Como eu ficaria um mês de férias, busquei uma rota mais longa, onde pudéssemos visitar mais cidades e conhecer mais lugares.

Essa foi a rota escolhida

Essa foi a rota escolhida

Fizemos o trivial até chegar a San Pedro de Atacama. De lá seguimos pela Ruta 5 até Antofagasta, passamos pela Mão do Deserto, e descemos até Santiago. Voltamos para a Argentina pelo Paso de Los Libertadores, onde fica “Os Caracoles”, seguindo pelas cidades Mendonza, Villa Maria, Santa Fé, e entrando no Brasil por Uruguaiana. Quis voltar por um outro caminho, para não colar adesivos nos mesmos postos de combustíveis e assim poder conhecer outras regiões da Argentina e do Brasil. Essa rota poderia ser diferente. Pensei em passar pela região de Termas de Rio Rondo, local com estradas muito bonitas, mas a chuva acabou atrapalhando, e optamos pela rota mais curta, mas nem por isso menos interessante.

No total foram 8.200 km percorridos por mim. Somem .1200 km para nosso amigo de Belo Horizonte e 900 para o de Lavras, em Minas Gerais.

Rota definida e documentação pronta. Hora de revisar as motos e equipamentos.

Eu (nickname no Fórum Motonline = Danne) fui com uma Triumph Tiger 800 XRx, levando na garupa a minha esposa Ana Paula. Precisei adiantar a revisão de 10.000 km, pois estouraria a quilometragem antes de chegar a Santiago, única cidade com uma concessionaria da marca na rota traçada. A moto estava equipada com baús laterais e traseiros, bem como seus suportes, protetor de motor com pedaleiras, bolha mais alta, e riser de guidão. Tudo para melhorar o conforto, já que seriam dias e mais dias sobre a motocicleta.

Os amigos foram: o Sérgio Souza (nickname do Fórum Motonline = Mandruvax M10)  com uma Suzuki V-Strom 1000, modelo 2014, equipada com baús laterais e traseiros, e o Bruno Arriel Rezende (Donytello) com uma Honda Transalp 700, também equipada com baús, bolha mais alta e protetor de motor com pedaleiras.

As motos utilizadas na viagem

As motos utilizadas na viagem

Com esse resumo podemos então começar nossa viagem, “bora pra estrada”!

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Primeiro dia: Indaiatuba (SP) a Campo Mourão (PR)

Começamos nossa viagem no dia 31 de Outubro, dia das bruxas, mas sem sustos. Saímos de Indaiatuba cedo, por volta das 8h, abastecemos, calibramos os pneus e partimos, ainda sem saber onde pernoitaríamos. Ao traçar a rota, definimos cidades para pernoitar, mas não fizemos reservas nos hotéis, assim não ficaríamos presos e poderíamos adiar ou atrasar de acordo com a necessidade. E foi o que aconteceu no primeiro dia.

A chuva abreviou o trajeto do primeiro dia

A chuva abreviou o trajeto do primeiro dia

O planejado era parar em Londrina para no dia seguinte, continuar até Foz do Iguaçu. Mas como a viagem rendeu, afinal os primeiros dias seriam apenas para deslocamento, acabamos seguindo até Campo Mourão. Só não fomos mais longe porque estava chovendo.

No hotel em Campo Mourão encontramos com um grupo de 8 motociclistas de São Paulo, a maioria em big trails, e apenas dois com suas Harleys. Todos seguindo para o mesmo destino, a cidade de San Pedro de Atacama, no Chile. Encontraríamos com esse grupo mais tarde, durante a viagem.

Imprevisto do dia. A lâmpada do farol da Vstrom queimou, e conseguimos trocar em um posto Ipiranga. Na loja de conveniência do posto encontramos a lâmpada adequada e o próprio gerente do posto fez a troca.

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Segundo dia: Campo Mourão (PR) a Posadas (AR)

Como havíamos adiantado trecho no primeiro dia, o destino desse segundo dia já seria em território Argentino. Chegamos sem chuva até Foz do Iguaçu, por volta do meio dia. Um “guia local” nos abordou com sua moto, com placa da Argentina, oferecendo hotel para pernoite, mas como ainda estava cedo, recusamos a oferta, mas pedimos ajuda para encontrar um restaurante. Fomos prontamente atendidos e o amigo nos guiou até um restaurante, a caminho da fronteira.

Seguindo nosso guia em Foz do Iguaçu (PR)

Seguindo nosso guia em Foz do Iguaçu (PR)

Almoçamos e fomos procurar uma casa de câmbio. Reais transformados em Pesos Argentinos, seguimos para a fronteira. Passamos despercebidos pela aduana brasileira, afinal estávamos deixando o país. E então a primeira parada para fotos aparece. A placa da divisa entre os países.

Passamos pela ponte que separa os dois países e logo chegamos na primeira aduana da viagem. Hora de tirar a pasta com os documentos do baú e apresentar para o fiscal. Só foram exigidos os passaportes e os documentos das motos, o CRLV, nada mais. Passaportes carimbados, guardamos tudo de volta na pasta, e entramos oficialmente na Argentina.

Não foi exigido a carta verde, nem CNH, nem PID, nem vistoria nos baús ou nas motos. Bem simples e rápido, aguardamos pouco tempo na fila, para um domingo a tarde, véspera de feriado, foi bem tranquilo. Nossa primeira parada na Argentina foi a alguns metros da aduana, em um posto da YPF, para organizar a documentação de volta nos baús e abastecer as motocas.

O choque foi grande, pelo menos pra mim que nunca havia saído do Brasil. Cruzamos uma ponte e todo mundo já falava outra língua, usava outra moeda, tinham outros costumes, bem diferente.

Motos abastecidas, baús fechados, continuamos a viagem, com destino reprogramado para Posadas, a 300 km da fronteira. Sem muita novidade nesse trajeto, vegetação parecida com a do Brasil, apenas as placas que estavam em espanhol.

Grupo de motociclistas brasilienses hospedados no mesmo hotel em

Grupo de motociclistas brasilienses hospedados no mesmo hotel

Chegamos em Posadas ao anoitecer, paramos no primeiro hotel que encontramos, pois estávamos cansados, e tivemos nossa primeira experiência com a conversão de moedas. Quanto dá X pesos em reais? Enquanto fazíamos as contas, levando em consideração a taxa que cambiamos em Foz, um grupo de 4 motociclistas chega ao mesmo hotel e nos ajuda com as contas.

Esse grupo era de Brasília, estavam em 4 big trails. Um deles, já experiente nessa viagem, estava indo para o Atacama pela segunda vez, mas agora ele continuaria a viagem até Ushuaia, sozinho, pois os demais colegas voltariam de Santiago.

Hospedados em solo estrangeiro pela primeira vez, fomos procurar algo para comer, ao lado de um Cassino, coisa que não temos no Brasil. Como só encontramos pizza, não foi dessa vez que provamos algo totalmente diferente.

Não perca amanhã o próximo capítulo dessa viagem de 8.200 km, que durou 19 dias.

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O motonliner Danne Meira Castro Aguiar enviou este relato através do “Você no Motonline”. Mande você também o seu texto e o compartilhe com milhares de leitores que, como você, também amam as motos.