Quem está hoje com 40 anos ou mais certamente se lembra da propaganda de uma marca de calça jeans onde se cantava que “Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada…”, mostrando que a tal marca oferecia a sensação de se usar um velho jeans surrado e muito confortável. Se fosse possível transportar aquela campanha para uma moto, a Yamaha MT-07 certamente seria uma forte candidata a assumir esta virtude, sobretudo porque ela agrada e veste bem a maioria dos motociclistas.
Uma moto que veste bem, que transmite a sensação gostosa ao piloto de que se trata de uma moto com a qual se está acostumado, que propicia o conforto necessário e que parece ser uma velha conhecida com a qual nos sentimos à vontade, bem relaxados. Essa é a Yamaha MT-07. Ela era assim na primeira versão e segue sendo no modelo 2019, que já apresentamos no início de outubro num rápido test-ride noturno em São Paulo.
Aquela mesma moto foi também utilizada numa viagem que totalizou 670 km por estradas simples, grandes rodovias e um pequeno trecho urbano. E se a MT-07 era cativante para rápidas incursões urbanas, confirma a mesma qualidade também para percursos rodoviários e em velocidades maiores desde que não seja por longo período. Aliás, é característica do estilo naked não favorecer longas viagens em função da quase completa ausência de elementos que não penalizem tanto o piloto contra o vento.
Isso significa que viajar com a MT-07 ainda é uma experiência cansativa, já que pilotar por algumas horas em posição mais arqueada e sem a proteção da bolha para desviar o vento contra o peito do piloto não é fácil. Contudo, nesta nova versão essa característica está menos acentuada por duas pequenas mudanças. Apesar da posição de pilotagem de fato mais adiantada, as pedaleiras permitem um encaixe mais relaxado, o que foi favorecido pelo desenho do novo tanque de combustível, do novo banco e do novo farol com a pequena carenagem que embute o painel.
Esse “vestir bem” da MT-07 é resultado também da soma de uma geometria ágil e rápida com a elasticidade e força do motor, o que tornam a pilotagem mais divertida e compensa o esforço físico. Para se chegar a isso, a engenharia da Yamaha construiu para essa moto um chassi tubular com uma triangulação bem estruturada na frente e outra atrás, com o motor “pendurado” entre os triângulos e que fazendo parte da estrutura. Além de ser mais leve, esse chassi dá mais rigidez e garante a estabilidade do conjunto.
As medidas da Yamaha MT-07 explicam também a agilidade. A curta distância entre eixos – 1.400 mm – e o pequeno trail de 90 mm dão à ela características das melhores superesportivas e o motor confirma isso, já que enquanto a moto mostra força e agilidade, ao mesmo tempo ela parece uma moto muito menor quando está em movimento de tão fácil que é sua condução. Não é preciso fazer qualquer esforço para colocá-la na direção que se queira e a moto parece ler o pensamento do piloto e obedecer aos comandos.
Para um chassi tão criativo, corresponde um motor muito esperto. A MT-07 vem equipada com o mesmo motor de dois cilindros e 689 cm³ de capacidade cúbica, duplo comando de válvulas no cabeçote (DOHC), quatro válvulas por cilindro e virabrequim “crossplane”, que distribui as explosões em ângulo de 270°, tecnologia herdada das Yamaha da MotoGP (na R1 é assim também), o que resulta em mais potência e torque em uma ampla faixa de rotações, além de menos vibração.
São 74,8 cv a 9.000 rpm e o torque máximo é 6,9 kgf.m a 6.500 rpm, números muito bons se considerarmos o peso da moto em ordem de marcha, que é de 183 kg. Ou seja, cada cv empurra 2,44 kg. Ajuda na agilidade e no desempenho do conjunto o sistema de exaustão, porque deixa a motocicleta mais compacta e leve, com seus dois tubos coletores dourados fazendo um “S” na frente do motor e com a câmara e o catalisador abaixo do motor e a pequena ponteira saindo para o lado direito, deixando tudo mais bonito.
Já que estamos falando de moto na estrada, a Yamaha MT-07 oferece autonomia para além de 300 km com um tanque de gasolina. São 14 litros de capacidade e nesta avaliação rodamos 670 km com 28,5 litros de gasolina, uma média de 23,5 km/litro. Considere que boa parte desse percurso foi feito em estrada e sempre dentro dos limites de velocidade permitidos em cada trecho. Facilita este bom resultado de consumo o torque fácil e disponível mesmo em rotações mais baixas, o que também é facilitado pela caixa de marchas de seis velocidades bem escalonadas e sempre muito uniforme em relação à rotação do motor com as trocas orientadas sempre em pontos perfeitos dentro da faixa útil de potência.
Para viajar com a MT-07 há que ser criativo e abusar dos bons e velhos elásticos para prender qualquer coisa. O pequeno espaço para garupa tem na parte debaixo alças – é preciso abrir e colocar as alças para fora. Mas por segurança o ideal é usar o suporte da pedaleira do garupa para amarrar sua bagagem, pois não há ganchos. Apesar de não ser uma moto feita para esta finalidade específica, a Yamaha poderia facilitar e colocar alguns ganchos pequenos para prender bagagem porque o consumidor que paga R$33.997,00 (FIPE, novembro/2018), além do uso urbano, também vai querer fazer seus passeios e pequenas viagens com a Yamaha MT-07.
Ficha Técnica Yamaha MT-07 2019
Comprimento total | 2085 mm |
Largura total | 745 mm |
Altura total | 1090 mm |
Altura do assento | 805 mm |
Altura mínima do solo | 140 mm |
Peso em ordem de marcha | 183 kg |
Distância entre eixos | 1400 mm |
Motor | 2 cilindros em linha, 4 tempos, DOHC, 8 válvulas, arrefecimento líquido |
Capacidade cúbica | 689 cm³ |
Diâmetro x curso | 80 x 68,6 mm |
Taxa de compressão | 11.5:1 |
Torque máximo | 6,9 / 6.500 |
Potência máxima | 74,8 / 9.000 |
Sistema de partida | Elétrica |
Sistema de lubrificação | Cárter Úmido |
Capacidade de óleo do motor | 3 litros |
Tipo de combustível | Gasolina |
Capacidade do tanque de combustível (reserva) | 14 (2,7L) |
Alimentação | Injeção Eletrônica |
Sistema de ignição | TCI |
Transmissão primária | Engrenagens |
Transmissão secundária | Corrente |
Embreagem | Multi-disco em banho de óleo |
Câmbio | 6 velocidades |
Tipo de chassi | Diamante |
Ângulo de cáster | 24,5º |
Trail | 90 mm |
Pneu dianteiro | 120/70 ZR 17M/C (58W) |
Pneu traseiro | 180/55 ZR 17M/C (73W) |
Freio dianteiro | Duplo disco de 282 mm de diâmetro, acionamento hidráulico com ABS |
Freio traseiro | Disco de 245 mm de diâmetro, acionamento hidráulico com ABS |
Suspensão dianteira | Garfo telescópico, curso de 130 mm |
Suspensão traseira | Balança traseira tipo Monocross com link e ajuste na pré-carga da mola e no retorno, curso de 130 mm |