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texto: Geraldo Tite Simões

Fotos: Divulgação e Geraldo Tite Simões

.. A briga é boa e compensa. Apesar de uma campanha maciça dos meios de comunicação para dificultar a circulação de motos em São Paulo, Capital, o mercado no segmento de 125/150 cc é responsável por mais de 80% da produção e vendas do setor de motocicletas. Conquistar um pedacinho deste bolo é o sonho de várias empresas que se instalam no Brasil. A Sundown já beliscou a cereja do bolo em janeiro de 2005, com discretos, porém consistentes 2,7% do mercado apenas com seus produtos de 50 a 125 cc. A Kasinski começou a lamber o chantilly, com 1,1% no mesmo período. E a Suzuki/J.Toledo não faz parte da Abraciclo, por isso não há como auferir os números de venda. Mesmo assim foi com boa surpresa que a marca apresentou no final de 2004 o modelo Yes 125, com objetivo claro de brigar diretamente com a Yamaha YBR 125, já que a Honda CG 125 Sport e a geração 150 são praticamente inatingíveis. Por enquanto, por enquanto…

Painel Freio dianteiro a disco Comandos de luz alta/baixa no mesmo botão do pisca Estilo – Muito legal! Felizmente a engenheirada da Suzuki tem uma verve mais esportiva. Desenhou uma moto com visual para agradar a moçada. Cores vivas, faixas bem escolhidas, na medida certa. O tanque largo tem recortes para encaixar os joelhos e o banco acompanha a linha alta até a rabeta. No final, o bagageiro destoa um pouco, mas basta uma chave de boca 10 mm para soltar fora a grade cromada. E cá pra nós, se você não for usar o bagageiro arranca logo o troço fora porque é feio demais. Até o motor tem um desenho simpático, com um visor para verificar o nível de óleo sem ter de destarrachar uma vareta aquecida. Um visual jovem, bem acabado e que certamente vai fazer muito garoto de 18 anos sonhar com a Yes.

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Equipamento – O painel é show! Acabamento imitando aço escovado, instrumentos redondos, conta-giros – tá certo, tem gente que acha importante – marcador de combustível e o painel indicador de marcha de utilidade bem discutível. Parece que a Suzuki adora estes paineis digitais de marcha porque aparece em vários modelos. Talvez seja útil para iniciantes mas já que está lá, é só aproveitar. Acho muito mais útil um sistema para impedir o motor de ligar com a primeira marcha engatada e o cavalete lateral acionado. Este sim, é um equipamento que pode ser de muita utilidade para os esquecidos como eu. Os punhos de luz são de desenho e acabamento bem antiquados e simples. Já não se vê este tipo de acionamento de luz de pisca há muitos anos. Felizmente a trava de guidão é no contato. Um dos pontos altos é o freio dianteiro a disco. Caraca! No teste que fiz em Interlagos ela percorreu apenas míseros 6,5 metros a 50 km/h!. O mesmo teste que realizei com a Yamaha YBR 125 ela percorreu 7,0 metros na mesma velocidade. Estes testes farão parte de um estudo que estou realizando e que por enquanto é segredo, tá!

O farol é bem dimensionado e segura bem a onda de quem vai circular à noite em vias sem iluminação, só não gostei do comando de luz alta/baixa no mesmo botão do pisca. Já está na hora de a Suzuki rever este sistema antiquado e desajeitado. O jogo de ferramentas é bem precário, sem oferecer condições nem ao menos para soltar a roda traseira. Não vem com a chave da porca do eixo e nem um alicate para retirar a cupilha da porca. Para amenizar a situação, os pneus são sem câmara, uma excelente escolha pois é mais seguro e menos vulnerável a furos que os pneus com câmara. De carona ainda estão montados em rodas de liga leve de desenho e acabamento muito bonitos. Estes pneus Pirelli MT 65 nacionais oferecem uma deliciosa estabilidade em curvas, com grande capacidade de inclinação. Não falem nada para a Suzuki, mas dá para inclinar até raspar as pedaleiras! Realmente uma escolha muito feliz. Pelo porte da moto o pneu está até “sobrando”.

Posição de pilotagem – Taí um aspecto bem discutível – e eu já estou farto de discussões! Para quem gosta de uma postura mais esportiva, a Yes é feita sob medida: pedaleiras do piloto recuadas, guidão quase plano e estreito (lembra da Turuna?) e banco anatômico. Quem tiver até 1,70m de altura vai vestir a Yes como uma roupa sob medida. Acima de 1,80m já vai ficar complicado pois as pedaleiras recuadas exigirão manter os pés muito dobrados. Para um rolê curto, tipo casa-escola-trabalho-casa não será muito cansativo. Já para batalhar no dia-a-dia, tipo motofrete, pode cansar um pouco. Da mesma forma o banco é muito confortável para quem tem as minhas medidas de bailarino espanhol (1,70m e 70 kg). Os mais altos ou mais redondos sentirão o corpo “cair” para a frente, forçando os punhos nas manoplas. Eu gosto da posição e vesti muito bem, mas alguns amigos que provaram o modelo revelaram que a posição seria um problema para longas distâncias. Continuo achando boa!

Maneabilidade – Como toda moto pequena é muito boa! O câmbio e embreagem são tão macios que levei um baita susto ao pilotar no mesmo dia uma Honda CG 125 Cargo. Pensei até que a CG estivesse com problema, mas a moto era novinha (883 km) da frota da Anbev. Os comandos da Yes são bem localizados e realmente são macios demais. Como já tive algumas Suzuki na garagem de casa, lembrei que esta é uma característica da marca. Como não tive a chance de rodar por mais de 1.000 km, não foi possível avaliar se o câmbio permanecerá macio ou não. Um dia vamos conseguir fazer testes de longa duração (10.000 km) para levantar dados mais relevantes sobre manutenção.

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Desempenho – Xiiiiih, sujou! Você sabe que tenho muitos amigos jornalistas. E jornalista é uma espécie fofoqueira pacas. Na verdade, não é fofoca, porque isso é coisa de mulher, é troca de informações. Pois meus colegas já haviam me alertado sobre o motor “fraquinho”. A potência declarada é de 13 cv a 8.500 rpm e o torque é de 1,15 kgf.m a 7.000 rpm. Mesmo assim lá fui eu para minha pista de teste secreta em plena capital ver até aonde a agulha do velocímetro chegaria: 110 km/h. A Suzuki divulga velocidade máxima de 120 km/h. Pode ser, porque realizei o teste a 900 metros de altitude, umidade relativa do ar muito alta e apenas em um sentido de direção. Ok, vamos dizer que a velocidade máxima seja de 120 km/h. Quer saber? Não acho fraca coisa nenhuma, talvez meus colegas estejam mal-acostumados depois de avaliar as superesportivas de 160 cv. Ao julgar uma 125 é preciso comparar com seus pares. No caso da Yes, a concorrente mais próxima é a Yamaha YBR 125. Em termos de desempenho, as duas se assemelham. A YBR tem um pouco mais de velocidade final, o que correspondeu a 125 km/h no velocímetro, mas em termos de aceleração as duas arrancam juntas. O motor da Yes apresenta um pouco de vibração, que se transfere para as pedaleiras e manoplas. Como eu não recomendo o uso de motos abaixo de 250 nas estradas, diria que para o uso urbano esta vibração não é tão chata. Mas se ficar o tempo todo rodando a 100 km/h as mãos e pés ficarão dormentes.

Filtro de espuma com um restritor

Bagageiro

Fiz uma experiência com a Yes. Abri a lateral esquerda para conhecer o filtro de ar. Não resisto a desmontar um pouco as motos que testo. Gostei demais do que vi: filtro de espuma, com um restritor. Esta peça tem a finalidade de reduzir a emissão de ruído (aquele chuóóóóp que o filtro faz quando abrimos o acelerador) e restringir a passagem de ar. Retirei o restritor e dei umas voltas. Ahá! Funcionou e o motor ficou pouca coisa mais esperto. O perigo é aquecer demais, pois a maior passagem de ar empobrece a mistura ar-gasolina. Ou seja, não façam isso, tá, meninos, porque se furar o pistão vai fazer fila de leitores querendo me matar. Além disso, este restritor impede a entrada de pedriscos.

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O consumo é normal para sua categoria. A fábrica divulga 40 km/litro. Não tive condições de medir com aparelhos, mas este dado é absolutamente confiável e realista. Minha velha Intruder 250 fazia incríveis 32 km/litro, logo é aceitável que a 125 chegue a 40 km/litro. Se eu acordar num dia de pão duro sei que posso fazer mais quilômetros com um litro de gasolina, mas nós já temos tantas vantagens ao usar uma moto que não compensa ficar economizando quirelas.

Mercado – Bem vinda! Pena que a Suzuki/J.Toledo não faça parte da Abraciclo, associação que reúne os fabricantes de motos. Portanto não temos condições de saber os números de venda e o impacto da Yes diante da concorrência, mais especificamente a Yamaha, a Sundow e a Kasinski. Condições para brigar ela tem de sobra, inclusive no quesito custo-benefício. O preço da Yes, no momento desta reportagem, era de R$ 5.494 (em SP), enquanto a Yamaha YBR 125 ED era vendida a R$ 5.875 e a Honda CG 150 ESD custava R$ 6.232. Esta diferença de preço mostra uma relação custo-benefício bastante favorável à Suzuki. Ainda no quesito preço, uma pesquisa feita pelos colegas da revista MOTOCICLISMO revelou que as peças de reposição da Yes são mais baratas do que as da YBR! Veja, vamos limitar as peças de reposição àquelas específicas da moto, como pastilha de freio, lanternas, coroa e pinhão, componentes de motor, porque as outras são comuns a todas as motos, como pneus, lâmpadas ou corrente.

O aspecto secundário de mercado, que só vale para quem vive nas grandes capitais, diz respeito ao índice de roubo. É pouco provável que uma Suzuki Yes 125 seja alvo de gatunos, pois eles preferem as motos que são usadas pelos motoboys. Por enquanto a Yes ainda não caiu nas graças dos motociclistas profissionais. O primeiro sinal de que a Suzuquinha foi bem aceita pelo mercado será no dia em que for lavrado um boletim de ocorrência de roubo ou furto. Eu rodei duas semanas por São Paulo sem me preocupar em olhar pra trás.

Vou terminar meus dias sem entender essa característica do mercado brasileiro: as motos streets são preferidas pelo motociclistas que vivem no meio do mato e as on-off road são mais usadas na cidade. Coisas de um Brasil do avesso, ou do Lisarb.

Conclusão – Sempre que surge uma concorrente na faixa 125 o mercado fica de olho. A torcida é para que sejam oferecidos mais produtos de qualidade, independentemente de marca, procedência ou estilo. O importante é que se aproxime de um padrão de qualidade que já adquirimos. O parãmetro vai ser sempre a Honda Titan, que está no mercado há quase 30 anos e neste período ganhou identidade totalmente nacional. Imagine 30 anos fazendo pesquisa de mercado, interagindo com consumidores, lendo os testes que eu escrevo, tudo isso deu condições à Honda para criar uma moto utilitária sob medida para o mercado. Sem falar que a fábrica criou um parque de fornecedores acostumados com este padrão e identidade. Agora, quem quiser entrar neste segmento terá de enfrentar estes 30 anos de conhecimento da concorrente maior. Já dei crédito de confiança a outras marcas no passado e queimei a língua. Por isso, desta vez serei mais cauteloso: a Suzuki Yes é um produto bom, pode melhorar à medida que for adquirindo a cara do motociclista brasileiro. A primeira iniciativa seria investir em mais potência. Depois modernizar alguns componentes e investir seriamente no produto. A marca é forte no mundo e o produto já nasceu bom, a partir de agora é com a JToledo/Suzuki fazer um bom trabalho de pós-venda, cuidar da imagem e buscar desenvolver uma Yes para o nosso mercado.

FICHA TÉCNICA EN125 Yes Motor Monocilindro, 4 tempos, refrigerado a ar, OHC Cilindrada 125 cm^3 Diâmetro e curso 57,0 x 48,8 mm Taxa de compressão 9,2:1 Lubrificação carter úmido Transmissão 5 velocidades Sistema de transmissão via corrente Alimentação carburador MIKUNI VM22 mecânico Ignição eletrônica digital Partida elétrica Comprimento total 1.945 mm Largura total 735 mm Altura total 1.070 mm Distância entre eixos 1.265 mm Distância do solo 160 mm Altura do assento 735 mm Peso seco 112 Kg Suspensão dianteira telescópica amortecida a óleo traseira balança amortecida a óleo com cinco regulagens Freio dianteiro disco de acionamento hidráulico de duplo pistão traseiro tambor de acionamento mecânico Pneu dianteiro 2.75 – 18 TL traseiro 90/90 – 18 TL Tanque de combustível 14 litros Potência Máxima 13 CV a 8.500 RPM Torque Máximo 1,15 Kgf.m a 7.000 RPM Cores vermelha; azul; preta

Tite
Geraldo "Tite" Simões é jornalista e instrutor de pilotagem dos cursos BikeMaster e Abtrans.