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Antes de motociclistas somos brasileiros e cidadãos. E não é a qualidade de motociclista que nos coloca na situação de coitadinho, vítima do sistema ou na situação de um ser superior que tudo pode e nada deve. Dentro da engrenagem social temos deveres e direitos.

E quem não procura cumprir seus deveres e segue como a vaca, defecando e andando, faz um grande favor à humanidade ficando de bico calado. É simples assim, só quem busca a sinceridade e honestidade, nos acertos e erros da vida, pode eventualmente reclamar de cima dos telhados. Mas nem tudo está perdido, ainda há muita gente boa por aí! Bons motociclistas inclusive!

Direitos e Deveres ou Mocinhos e Bandidos ?

Em que lado você está, companheiro? Eu uso a moto diariamente, para trabalhar, passear, fazer compras e enfim, não tenho carro. Faço o trajeto Jundiaí – São Paulo pelo menos quatro vezes por semana e ando muito na Capital. Quando converso com amigos sobre a marcação em cima dos motociclistas por parte das autoridades, sou obrigado a refletir de forma racional. E racional lembra razão, do latim ratio, que pode ser entendido, grosseiramente falando, como a proporção entre duas grandezas.

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O que o leigo vê? O que um antipático observa no trânsito? Oras bolas! Em um dos deslocamentos do Papa por São Paulo, a Avenida Ipiranga foi interditada por alguns minutos. Amontoou de motos no cruzamento e enquanto o comboio passava, a arruaça foi geral. Dezenas de motos enrolando o cabo, estourando o motor e quando o Exército liberou a passagem, uma parcela considerável quis brilhar no palco da mediocridade. Alguns tomaram um belo chão. Dirão os idiotas inconvenientes – ora, é um protesto contra o Papa! Sim, certamente temos muitos motoboys teólogos que precisam externar sua insatisfação sobre certos dogmas. A questão não é o Papa, o Prefeito, a Gretchen ou o ET de Varginha. É a completa falta de respeito ao próximo, ou seja, a total incapacidade de convívio em sociedade de certos seres. O próximo não era o Papa, que estava trancado num carro blindado, mas os pedestres, transeuntes e gente de todo o tipo que circulava por lá.

Para refrear tais ânimos é que nossos antepassados, gregos e romanos, erigiram e aperfeiçoaram o edifício das leis. Mijou fora do penico dança! Mas aqui não é bem assim…

Sempre que vejo um acidente envolvendo motocicletas, lamentavelmente o culpado é, na maioria das vezes, o próprio motociclista. Por isso antes de aprofundar a discussão é necessário uma tomada honesta de posição. Sou um cachorro louco ou um cidadão que procura viver de forma decente? Se você for cachorro louco, desculpe, vá procurar sua turma. Agora se você quer um espaço ao sol com sua motocicleta, fique por aqui!

Dura Lex, Sed Lex!

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Quem não deve não teme. Velho e bom ditado. Ando pela capital há quase dez anos e raramente sou parado por uma fiscalização. Quase não há fiscalização! Na maioria das vezes, as autoridades não estão preocupadas com o estado precário de certas motos nem o capacete podre de certos motoqueiros. Querem apenas os tais “ilícitos”, drogas e armas. Certas motocas por aí são drogas e armas ao mesmo tempo, e das pesadas! Isso demonstra uma falência total das autoridades, que não guincham as encrencas por falta de espaço no pátio, falta de guincho, de salário e um pouco de preguiça.

Temos que cobrar, de forma ordenada e civilizada, que as autoridades trabalhem antes de proibir. Que tenhamos a aplicação da lei ao estilo “Tolerância Zero”. Já temos leis demais e só falta rigor na aplicação. Não adianta os iluminados das Câmaras e Parlamentos inventarem mais proibições. É simples assim.

Vejamos: Fiscalização rígida e feroz, para coibir os seres animalescos de rodarem por aí motorizados, independente do tipo de veículo. Sem choro nem vela, sem segurar o documento. Guincho e pronto. Reavaliar as políticas sobre os leilões. Sucata é sucata, não pode voltar para as ruas. É podre? Corta o quadro em cinco pedaços e derrete. Leiloa apenas as peças restantes.

Ensinar as pessoas a pilotar decentemente. O exame atual é uma piada, uma esculhambação sem tamanho. Legisladores e técnicos certamente não sabem a diferença entre um velocípede e um foguete. O exame atual serve muito bem para o País das Maravilhas, para a Alice andar de moto com a Rainha de Copas na garupa. Duvido que alguém nesse torrão inzonzeiro tenha aprendido a pilotar (pilotar, não apenas conduzir) na auto-escola. Geralmente é nas coxas, sozinho, com o cunhado, irmão ou vizinho. E poucos têm bala na agulha para freqüentar escolas em autódromos.

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Exigir que as regras e leis, antes de serem formuladas e votadas, sejam apreciadas por especialistas no assunto. Quantos especialistas no assunto motociclismo têm voz ativa no Contran, no Inmetro e órgãos pertinentes? Criar um banco de dados sobre componentes seguros para motocicletas. Se o Inmetro não fizer o trabalho, faremos de forma independente, na medida do possível. Há casos de pessoas que morreram em conseqüência de peças fajutas.

Parar de esperar que a solução caia do céu. Vivemos babando e repetindo os mesmos bordões: “Ahh, devia ter uma lei… O governo isso, o governo aquilo”. É isso mesmo que o governo quer. Um povo dependente que precisa sempre do Estado lhe segurando as mãos, e claro, o preço do paternalismo é o imposto abusivo e o excesso de regras.

Não comprar peças roubadas! Querer andar de canhão e não agüentar a manutenção é mais ridículo que padre andando de Monareta. Como dizia o poeta Riachão, cada macaco no seu galho!

E por último e não menos importante, separar o joio do trigo. Se você é consciente, tente conscientizar seu colega maluco. Se ele não se emendar, é melhor procurar outra companhia, pelo menos na hora de pilotar uma moto.

Não existe almoço grátis

Essa frase é atribuída ao falecido economista Milton Friedman, mas ele mesmo dizia que ouviu a frase de outra pessoa. Não importa. É veraz.

Há um chororô por parte dos motociclistas a respeito do pedágio. Quando pergunto por que o pedágio deve ser gratuito (para motos), ouço sempre a mesma justificativa, ou seja, a moto não gasta o asfalto…

Bem, uma digressão para as contas. Um Uno pesa aproximadamente 950kg com dois bonecos dentro além dos fluídos costumeiros. Se dividirmos o peso em quatro pontos, teremos 237,5Kg, variáveis de acordo com as forças atuantes no carro em movimento, é óbvio. E a área de contato do pneu de um carro é maior do que a área de contato de um pneu de moto. Para efeitos de cálculo, temos aproximadamente uma área de 20cm x 20cm (os quatro pontos de toque) com um peso de 950kg.

Uma Electra Glide com piloto e garupa e os tais fluídos chegam próximo dos 500kg, porém distribuídos em dois pontos bem menores, talvez 6cm x 6cm cada pneu. Ora, o principio é simples. Exerça uma força de 1kg num prego com a ponta em contato com a pele. Depois exerça a mesma força com uma bola de bilhar. Qual vai “estragar” mais a superfície? Portanto o argumento de que “gasta menos” não é totalmente correto e, como se diz aqui no interior, “vareia”.

Outro teste simples é, num areial sem marcas (uma praia), fazer passar um carro popular ao lado de uma big trail. Repare as marcas na areia. Ora, pois, o asfalto é uma superfície similar à areia, só que mais compacta e resistente. Água mole em pedra dura … lembram do ditado? A moto gasta menos, mas não tão menos…

Já ouço a gritaria: – Mas todo mundo tem moto pequena e você usa um exemplo absurdo, com uma moto gigante! Se pensarmos assim, é injusto que um Uno Mille pague o mesmo valor de uma Veraneio cheia de farofeiros, certo? Daí que é necessário tirar uma média por peso e dividir por eixos, caso contrário cada carro deveria ser pesado antes de pagar. Não seria uma coisa muito prática.

Olha, tenho mais de 60 mil Km rodados só no sistema Anhanguera-Bandeirantes. Uma concessionária é uma empresa como outra qualquer. Se a pequena empresa de um motociclista precisa se manter, pagar seus encargos, cobrir os gastos e lucrar, por que a concessionária não pode fazer o mesmo? Acordem! O seu IPVA e o seu DPVAT (esse sim pela hora da morte!) não são creditados nas contas das concessionárias. Nem mesmo o CIDE. É a concessionária, aliás, que paga ISS para os municípios circunvizinhos, além de recolher INSS e IR na folha de seus funcionários. Além disso, precisa manter todo um sistema que não se resume na mera camada de asfalto. Telefones, viaturas, sistema elétrico, resgate, sistema de vigilância, atendimento 0800 (de graça até pra celular!), limpeza da via e manutenção do leito e das margens.

E o sujeito quer passear de domingo com sua máquina e quer tudo de graça! Só a ECOVIAS recolhe 110 toneladas de lixo por mês do sistema Anchieta-Imigrantes, lançados pelos porcos que ganharam uma CNH.

Mas sempre há um porém! Parem de gemer, ó revoltados! Tudo o que escrevi até agora sobre pedágio não é opinião pessoal, é um fato e uma constatação. Por favor, não confundam as coisas!

Qual preço cobrar de uma moto? Motociclistas geralmente não sujam a rodovia, noves fora alguns que almoçam andando. Realmente a moto desgasta menos asfalto. Mas os acidentes com motos são freqüentes e quando ocorrem geralmente são graves, portanto o resgate é imprescindível. E mesmo um prosaico defeito mecânico é atendido pelo sistema de socorro da concessionária. Em uma das minhas panes, liguei para o 0800 da Autoban e fui socorrido. A Autoban arcou com a ligação, o percurso do caminhão, embarque e desembarque da moto e o tempo do funcionário. Isso não custa nada? Se a empresa recusasse o atendimento, eu teria que solicitar um resgate particular. No mínimo 100 reais, na melhor das hipóteses. Se há tanta reclamação e gritaria, por que não propor o seguinte, hipoteticamente: Quem não quiser pagar poderia eventualmente se cadastrar no sistema da concessionária X ou Y, fornecendo o nº do RG ou outro documento. Ao parar na cabine, digitaria o RG (botões grandes para mãos com luvas), algum tipo de senha e boa viagem. No entanto, se o optante pelo não pagamento tiver uma pane mecânica e solicitar o socorro, paga ali no ato o resgate, no valor praticado pelo mercado. E se for caso de acidente, a conta poderia ser enviada depois, para o acidentado ou familiar.

Mas isso é uma hipótese pouco plausível, seria mais fácil a galinha criar dentes. Simplesmente porque vivemos em uma sociedade onde o cidadão não precisa necessariamente arcar com as suas responsabilidades. É a sociedade do Bundalelê! Se por exemplo o sujeito ficar parado na beira da estrada aguardando o primo que vem lá do fim do mundo com uma Kombi e nesse ínterim o muquirana for assaltado, certamente achará muito elegante processar a concessionária, alegando aquelas baboseiras costumeiras, de que a concessionária deveria zelar pela integridade do usuário e coisa e tal.

A questão está fechada, é pura lógica. Os argumentos contra a cobrança são vazios e o que sobra é a revolta pela revolta, rebeldia sem causa. O detalhe é quanto vamos pagar? Uma CG pagará o mesmo que uma Gold Wing? O preço durante a semana será o mesmo do final de semana? Haverá cabines especiais, tickets ou algum sistema pré-pago?

Novamente é necessário um diálogo entre os motociclistas e as concessionárias. Ficar gritando e batendo no peito não vai adiantar. Só assim garantiremos um preço justo. Seria mais proveitoso descarregar as baterias nas verdadeiras ameaças contra os motociclistas. Nossos iluminados políticos e técnicos do governo!

E claro, certamente alguém vai me aporrinhar com aborrescências sem pé nem cabeça, com chavões manjados, bradando que a Concessionária tem um lucro exorbitante, que o sistema capitalista é cruel e outras lamúrias do gênero. Ora, eu não sei o quanto lucra uma empresa desse tipo. O que eu sei é que quando o argumento é utilizado contra o reclamante, aí a brincadeira não vale. O sujeito se acha no direito de vender seu produto ou sua mão-de-obra pelo valor que lhe convém e muitas vezes não admite regateios. E fica uma fera quando palpitam que seu salário não condiz com sua competência. Uma empresa que administra uma rodovia não é uma instituição de caridade que precisa ajudar os pobres coitados motociclistas a passear de domingo. Para dizer se uma empresa está lucrando demais e criando um monopólio, é necessário ter em mãos centenas de dados e variáveis e um batalhão de contadores e comparar com os mesmos dados e variáveis de outras empresas semelhantes. Se alguém fez isso, estudou minuciosamente tudo e fez todos os cálculos e prospecções, enfim, sou todo ouvidos.

Vale lembrar que em alguns casos há opções. É o livre arbítrio. Por exemplo, o pessoal de São Paulo gosta de passear no Shopping Serra Azul nas manhãs de domingo, distante uns 80 km da capital. Para quem não sabe, é um shopping suspenso sobre a Rodovia dos Bandeirantes. Quem não quiser pagar pedágio pode rumar para a estrada velha São Paulo-Jundiaí, passando por Franco da Rocha e Francisco Morato, entrar em Jundiaí, achar o caminho até Louveira pela estrada velha de Campinas e pegar uma outra estradinha até o Serra Azul. No final pode ser até mais divertido. Basta escolher!

O verdadeiro pepino

Esqueçam as montadoras. Sempre que a coisa aperta leio que a Honda ou Yamaha, ou a Suzuki, ou os fabricantes de bandanas poderiam nos auxiliar. Não. Eles vendem motos, não legislam e não devem estar preocupados com essas nobres causas. É fundamental ter uma visão mais pragmática e menos apaixonada sobre o assunto, o que é difícil quando tratamos do assunto motocicleta.

Se proibirem motos nos corredores em São Paulo e nas marginais, as montadoras não vão se preocupar a ponto de seus diretores errarem suas tacadas de golfe. O mercado da Pop, o Grilo sem Pernas, está fervilhando no Nordeste.

A única saída é o ativismo independente e organizado. Não adianta encostar 50 mil motociclistas na frente do parlamento, fazendo aquela barulhada com escapamentos sem miolo. A saída é prensar os caras, forçá-los ao diálogo e falhando os canais normais de acordo, partir para o tribunal. Precisamos cavar espaços na mídia, principalmente nas rádios de São Paulo para mostrar ao paulistano que não anda de moto que existe um tipo de motociclista que deve ser respeitado e que os bons não pagarão pelos maus. Muitos de nós estamos tentando fazer isso por todos os meios e não está fácil.

Quando falo de organização não tem como negar que falamos de dinheiro. Quantos motociclistas doariam 5 ou 10 reais para um grupo de especialistas ir a Brasília discutir com as autoridades de trânsito? Muitos escrevem para esse site com aquela empáfia metida, xingando e cobrando os colaboradores, exigindo e batendo o pezinho. Esses não contam, pois só sabem reclamar mesmo, mas eventualmente também serão beneficiados. Coisas da democracia. A pergunta é: Quanto custa o ativismo para manter os motociclistas andando e gozando de seus direitos? E não pensem que essas maluquices idiotas são exclusividades da capital paulista, como a idéia de proibir garupa ou impedir a circulação pelos corredores. Começa aqui e depois se espalha pelo Brasil, portanto é interesse de todos!

Então o que deve ser feito? Pra começar; montar uma equipe independente com especialistas no assunto Motocicletas. Sem nenhuma ligação com confraria, clube, igreja, associação, ONG ou confederação, embora todos sejam bem-vindos enquanto indivíduos. Apenas motociclistas mais tarimbados, cada um trazendo sua colaboração e especialidade, sem entraves burocráticos. A velha democracia, um cidadão representando um grupo de cidadãos. Aporrinhar as autoridades até estabelecer um canal coerente de diálogo. Conseguir espaços na mídia, mesmo que seja necessário apelar para instrumentos judiciais. Se provarmos que a rádio CBN, de São Paulo, eventualmente foi parcial e estabeleceu um julgamento calunioso sobre os motociclistas, brigar na justiça pelo direito de resposta.

Deixar claro para o não-motociclista que no mundo das duas rodas há dois lados da moeda, e que há bons motociclistas e maus motociclistas. Quando necessário, desobediência civil, no bom estilo de Thoreau. Se os iluminados acham que as motos fora dos corredores é a solução, andaremos todos na mesma faixa dos carros por um dia, trazendo o caos à cidade.

Mostrar a sociedade que moto é uma opção viável para os centros urbanos e que, reprimindo seu uso, uma cascata de problemas poderá surgir, ou seja, correspondências, encomendas, pizzas, compras online, muitos aspectos da vida urbana serão afetados. E não esquecer que há muitos brasileiros sérios, que não são cachorros loucos, que têm família e ganham seu sustento andando de moto. Leis egoístas e eleitoreiras não podem destruir essas vidas em nome de uma hipotética melhoria no trânsito.

Em suma, precisamos sair da acomodação valorizando atitudes mais responsáveis e cidadãs. E sempre fazer a velha pergunta: Eu posso me tornar um motociclista melhor? Nosso raio de ação é pequeno, mas nós podemos mudar pelo menos nossos hábitos.

E então, quem se habilita?

Observação: Antes que algum chato pergunte, eu respondo: Não! Eu não trabalho para nenhuma concessionária ou empresa ligada ao ramo rodoviário ou motociclístico. Luto incessantemente para não fazer parte de nada, nem seita, igrejinha, grupo, clube, ong, associação, entidade ou qualquer coisa que possa, ainda que eventualmente, reprimir o meu direito de falar o que me der na telha e fazer o que me der na veneta. Faço parte apenas da minha família (e olha lá) e mal consigo controlar minha conta bancária!

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