Alguns anos atrás eu li em uma campanha publicitária que “quem usa o bom senso obedece às leis”. Concordo com isso, pois obedecer às leis e regras de trânsito é mais do que usar bom senso, é uma obrigação!
Porém, pare e pense: por que muitos motoristas não param nos cruzamentos quando há um pedestre querendo atravessar, mas param quando um caminhão está cruzando a via? A resposta é óbvia, pois o acidente entre o carro e o caminhão causa (para o carro) um prejuízo muito maior! Portanto, o bom senso do condutor do automóvel é parar, mesmo se a lei de trânsito esteja a favor do motorista.
Mas parar para um pedestre atravessar… Neste caso é melhor que o pedestre use de bom senso e deixe o carro passar. Opa! Então usar de bom senso é deixar a lei de trânsito de lado e tentar se salvar? Como o uso da ética ajudaria para fazer um trânsito mais justo e seguro? Para responder a essas perguntas veja as definições a seguir:
Ética é o nome geralmente dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A palavra “ética” é derivada do grego ἠθικός, e significa aquilo que pertence ao ἦθος, ao caráter. (Yahoo Respostas).
Então, em termos práticos, ética no trânsito significa “o maior respeitar e cuidar do menor”. Ou seja, o caminhão cuida (ou respeita) do carro, o carro cuida (ou respeita) do motociclista, o motociclista cuida (ou respeita) do ciclista e o ciclista cuida (ou respeita) do pedestre. Dessa forma nem precisaríamos de leis para nos orientar, pois o simples fato de percebemos que o mais forte deve cuidar do mais fraco os acidentes diminuiriam muito!
Bom Senso vai muito além da capacidade de discernir o certo do errado. O bom senso esta diretamente ligado a capacidade intuitiva do ser humano de fazer a coisa certa, falar a coisa certa e pensar na coisa certa em momentos inusitados ou não. O Bom senso não envolve tanto uma reflexão aprofundada sobre um determinado tema, lugar ou situação (isso já entraria no campo da meditação), mas sim a capacidade de agir e interagir, obedecendo a certos parâmetros da normalidade, face uma situação qualquer, guiando-se por um senso comum e quase que completamente intuitivo. (Yahoo Respostas).
Sempre ensinei meu filho a atravessar na faixa de pedestres, porque assim, se ele fosse atropelado poderia morrer dentro das leis. Parece cômico, mas é trágico. Se você ensinar seu filho desta forma, mas esquecer de dizer a ele que antes de atravessar ele deve olhar e certificar-se de que os veículos vão parar, ele poderá ser atropelado. Isso significa que, infelizmente, em certos momentos na dinâmica do trânsito, a ética e a obediência às leis de trânsito devem ser deixadas de lado pois, mesmo que você esteja certo na lei, melhor usar o bom senso e não atravessar na frente de um veículo maior do que você.
Mas o que tem a ver esse artigo com você, motociclista? Em um trânsito tão caótico e violento como o que vivemos nas médias e grandes cidades, onde o “sentimento” da pressa é a maior culpada do stress humano e conseqüentemente dos acidentes, não existe nada que comanda ao condutor de qualquer tipo de veículo a usar de ética ou mesmo em obedecer às simples regras e leis de trânsito.
Sendo assim, não adianta ter a melhor técnica de pilotagem adquirida em cursos especializados na pilotagem de motos, pois o respeito e a ética praticamente não existem entre os usuários das vias. E mesmo sendo o motociclista um dos mais fracos no trânsito, a ética explicada aqui não é aplicada no comportamento humano. O exemplo disso é o aumento dos acidentes e mortes de ciclistas e pedestres. Leis a favor dos motociclistas existem algumas, como ‘USO OBRIGATÓRIO DO CAPACETE, VISEIRA SEMPRE FECHADA e ÓCULOS DE PROTEÇÃO; para os profissionais da moto, MATA CACHORRO, ANTENA CORTA LINHA DE PIPA e REFLETIVOS. Estas leis são para proteger o motociclista depois que o acidente ocorre (salvo a antena corta linha e refletivos).
Porém, as leis que existem para impedirem possíveis acidentes como prevenção não são obedecidas por muitos tampouco fiscalizadas pelas autoridades. Um exemplo desse tipo de lei onde a preocupação é a prevenção está no artigo nº 29 do Código de Trânsito Brasileiro: indicar com antecedência a manobra pretendida, acionando a luz indicadora de direção do veículo ou por meio de gesto convencional de braço. Vendo estas atitudes e comportamentos no trânsito, quantas “fechadas” você levou de outros veículos esta semana por não obedecerem o artigo 29?
Tente se lembrar de alguma outra lei que, se obedecida, protegeria o piloto de moto contra possíveis acidentes. Talvez leis que obriguem às autoridades governamentais a manterem vias sem buracos e com sinalizações de solo pintados com tintas que não escorreguem; também leis que obriguem as moto-escolas a manterem instrutores responsáveis especializados na instrução de pilotagem de motos e leis que incentivem motoristas a respeitarem os motociclistas e vice-versa.
Amigos, estas leis existem (morais ou escritas) e alguém está desobedecendo ou mesmo não usando de ética! Assim, se a ética e as leis de trânsito são, em sua maioria, descartadas e não reconhecidas, o que protegerá o motociclista contra um possível acidente? É simplesmente usar de bom senso.
Bom senso para perceber que não é porque você está em uma via de sua preferência, onde a lei está ao seu favor e o semáforo está indicando “siga” fará isso sem cuidado. Bom senso para discernir que não é somente o capacete que protegerá de traumas em um acidente, mas roupas e calçados seguros. Bom senso para entender que só porque a lei permite a velocidade máxima da via que a usará nos corredores formados por carros parados. Bom senso para saber que mesmo com um trânsito parado e congestionado a moto chegará sempre antes, por isso vá com calma. E para finalizar, bom senso para discernir os possíveis erros que os outros possam cometer no trânsito e que, portanto, mesmo que você esteja pilotando dentro das leis, quem deve evitar os acidentes é você.
Afinal, o uso do bom senso é saber que obedecemos as leis de trânsito não pelo motivo principal de evitar as multas, mas de evitar os acidentes. O uso da ética é uma questão moral e devemos entender que os mais fracos nas vias devem ser protegidos e dar primazia a eles e, claro, a junção de todas estas atitudes fará sem dúvida um trânsito mais seguro para todos.
Um forte abraço e até o próximo artigo.