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A crise financeira afeta crédito dos financiamentos no Brasil e o câmbio torna as importadas mais distantes dos nossos bolsos. O que fazer?

Eu, guru econômico? Longe disso, mas um pouco de bom senso é importante em um momento de crise. Aliás, essa crise era anunciada desde o ano passado. Qualquer um que tivesse a paciência de pesquisar a valorização dos imóveis, bolsas, commodities, ouro, metais, petróleo entre outros ativos nos últimos 36 meses já deveria estar se perguntando como poderia estar tudo tão super valorizado, e no planeta inteiro?

O Ouro é considerado um ativo de proteção, acompanhe sua variação após 2003.

A crise é séria, grande, duradoura, mas não será o fim do mundo. Aliás, segundo a antiga civilização Maia (e por mais incrível que pareça, outras civilizações apontam a mesma data, devido a um alinhamento planetário incomum) o fim do mundo se dará somente em 21 de Dezembro de 2012. Até lá temos que aproveitar a vida e não sofrer com o que está além do nosso gerenciamento pessoal.

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Crises como essas são até boas para o planeta no longo prazo, pois ajudam a equilibrar os valores mundiais de acordo com seu grau de segurança e confiabilidade, mas no curto prazo todo mundo vai sofrer um pouco. As loucuras especulativas e as valorizações irracionais vão para o buraco mesmo, junto com todos aqueles que apostaram nessa irracionalidade. O mundo inteiro vai enfrentar um brutal desaquecimento econômico combinado com uma inflação crescente, o que se caracterizaria por uma forte recessão ou até mesmo uma depressão econômica de médio prazo. Quanto tempo essa crise durará eu não sei, mas sei que alguns países ou blocos econômicos vão sair mais fortalecidos. Desconfio da China e de alguns asiáticos, mas não apostaria minhas fichas nisso. O Japão, por exemplo, passou por uma forte expansão no final dos anos 80 e início dos 90 pra cair em uma recessão bastante forte em seguida. E até hoje não se recuperou, apesar da rápida melhora em 2003 aproveitando a euforia mundial, hoje os níveis econômicos lá estão tão baixos quanto estavam em 1985, antes da aceleração.

Mas vamos falar de motos, e mais explicitamente sobre motos no mercado brasileiro. E aqui? Como fica?

Fica difícil, claro. Quem foi a uma loja ou concessionária nas ultimas semanas já se deparou com a dificuldade de se obter crédito, com taxas de juros mais altas e com prazos mais curtos. Quem buscava uma moto importada e não aproveitou a oportunidade em agosto, pode ficar sem moto no curto prazo. Os lojistas que têm estoques nacionalizados antes da crise querem vender com novo câmbio a fim de justificar a reposição dos estoques. Motos novas importadas só vão chegar quando a taxa cambial se estabilizar, ou se já estiverem em trânsito. Há oportunidades de compra, claro, mas essas estão restritas àqueles que têm dinheiro em caixa e podem fazer propostas vantajosas para os lojistas que estão super estocados e com contas a pagar. A economia tem que girar, faz parte da vida. Todo mundo tem contas pra pagar…

Nosso sábio e letrado Presidente afirma categoricamente que a crise não chegará ao Brasil, e que é um problema criado pelos americanos e, portanto são eles que devem pagar a conta. Simples assim. Esquece ele que a euforia econômica mundial se iniciou em 2003, coincidentemente com o início do seu primeiro mandato, e que hiper valorizou nossas bolsas de valores, derrubou o câmbio e hiper valorizou as commodities que nós exportamos. Esses efeitos são reflexos do mundo econômico globalizado em que vivemos. Será que nós, Brasileiros, que nos beneficiamos dessa euforia, não vamos pagar a conta só porque nosso guia quer? Sinto informar, mas a conta da crise será dividida entre todos os habitantes desse planeta, desde aqueles miseráveis na África que subitamente viram as doações humanitárias cortadas, até aqueles que lucraram na euforia e não souberam se proteger no revés.

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Uma análise rápida sobre o segmento de motos no Brasil mostra que hoje são produzidas e vendidas 3 vezes mais motos do que em 2003, e supondo que o ajuste econômico mundial nos afete apenas moderadamente, dá pra imaginar o seguinte cenário no curto prazo:

Os descontos e promoções que foram praticados nos últimos meses devem sumir, prevalecendo os preços de tabela no curto prazo. As motos nacionais ou nacionalizadas provavelmente sofrerão ajustes (para cima) pequenos ou até nulos, para compensar a queda nas vendas devido à escassez de financiamentos. As importadas certamente sofrerão ajustes pra cima, em função na nova realidade do câmbio. A produção de novas motos deve se desacelerar em virtude do aumento de estoques nas concessionárias. É possível que ocorram demissões no setor, inclusive na rede de lojas (vendedores).

Devido a uma natural inércia dos comerciantes brasileiros em tomar decisões que doem no bolso, talvez inspirado no nosso grande líder, é possível que vejamos no curto prazo lojas super estocadas e nenhum desconto nem crédito pra oferecer. É um contra-senso, mas já vi disso várias vezes. É melhor esperar.

Cuidado com marcas novas ou recém chegadas ao país. Quem se lembra da era Collor e do início das importações de veículos vai se lembrar da imensa quantidade de marcas que desapareceram sem deixar suporte (leia-se peças) no Brasil. Com o câmbio alto e o desaquecimento da economia local várias dessas marcas recém instaladas se tornarão deficitárias e provavelmente fecharão suas portas. Cuidado com o mico…

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Cuidado com os consórcios nesse momento. Sei que é uma tentação optar pelo consórcio no momento do crédito difícil, mas lembre-se que o valor da parcela do consórcio é sempre proporcional ao valor da moto nova, zero KM. Se a economia se complicar e ajustes de preços forem inevitáveis, as prestações vão subir e alguns podem não conseguir pagar seus compromissos, prejudicando o grupo como um todo. Quem conseguiu crédito a uma taxa razoável e realmente PRECISA da moto, aproveite pra fechar negócio com prazos CURTOS (24 ou 36 meses) e prestações FIXAS, sem reajuste. Quem não precisa da moto, adie a compra para o final de 2009 ou início de 2010 quando muitos analistas acreditam que a economia voltará a se estabilizar.

Diz o ditado que “se conselho fosse bom não se dava, se vendia’`, por isso não vou aconselhar ninguém nem fazer previsões mirabolantes. Apenas vou sugerir a vocês uma reflexão: a crise está aí e é grande, mas ninguém sabe ao certo o tamanho e o impacto dela no nosso dia a dia, e nem por quanto tempo ela nos afetará. Será que não é o momento de desacelerarmos as compras, fazer reservas, consertar aqueles pequenos defeitos em nossas motos que nos incomodavam há bastante tempo, ou trocar pneus, pastilhas, relação, etc., pra ter a nossa velha moto por mais alguns anos em bom estado?

Apesar da crise, os companheiros de estrada e aquelas paisagens lindíssimas do Brasil ainda estão disponíveis a um custo baixo. Basta pegar o casaco, as luvas, as botas, a velha moto recém revisada e sair para encontrá-los. Deixa de sofrer com a bolsa de valores, ou com a viagem perdida por causa do dólar alto. Vá curtir a vida com o que se tem em mãos e valorize aquilo que já foi conquistado!

O gráfico acima mostra a evolução do Bovespa durante a euforia econômica mundial iniciada em 2003. O ajuste mal começou…

p_c