Mercado Por Guilherme Augusto 09/05/2021 09:26 (há 3 anos).

A BMW Motorrad segue celebrando os 40 anos de seu maior case de sucesso, a família GS. Por isso, desenvolvemos três reportagens sobre o tema, explorando em diferentes perspectivas as Gelände Strasse, sinônimo de aventura em todos os continentes. Começamos aqui, narrando sua trajetória.

Família GS completa 40 anos. Uma trajetória das vitórias em competições ao sucesso nas lojas

BMW GS: 40 anos

O primeiro fruto da BMW Motorrad, divisão de motocicletas da marca alemã, surgiu em 1932 com a criação da R32. Nas décadas seguintes, a empresa ganhou notoriedade sobretudo com o desenvolvimento de grandes motos, especialmente nas décadas de 1950 e 60, muitas alimentadas pelo já conhecido motor boxer de dois cilindros. Mas aí vieram as japonesas.

A primeira BMW GS foi desenvolvida com uma missão clara: deixar as japonesas para trás

Nos anos 1970 a indústria mundial assistiu, estupefata, a chegada das novas motos vindas do Japão. Puxadas pela Honda CB 750F, as esportivas eram movidas por modernos motores de quatro cilindros, eficientes, suaves, potentes. Já as off-road eram monocilíndricas, confiáveis e extremamente ágeis. A boa recepção às novas arquiteturas abalou muitas marcas europeias – provocando fechamentos, inclusive – e também impactou a BMW. Era hora de renovação.

R 80 GS em seus primeiros contatos com o mundo real – foto Joe Parkhurst

Surge a primeira GS

No final da década, o então responsável pela companhia Karl Heinz Gerlinger decide atacar um novo nicho, o fora de estrada. Monta uma equipe com experiência na lama e liderada pelo engenheiro de motores Laszlo Peres, preparador de BMW’s para competições longe do asfalto. A missão era clara: enfrentar as monocilíndricas japonesas de igual para igual na terra e deixá-las na saudade nas rodovias.

R 80 G/S, a precursora da família

O primeiro passo foi a criação do Red Devil, uma versão compacta do tradicional motor boxer. Depois, adaptar o motor R80 (já com cilindros em Nikasil, igninição eletrônica e 10 kg a menos na balança) ao chassi tubular de berço duplo da R65 e somar ao conjunto a suspensão dianteira R100.

Visando garantir bom desempenho na poeira e áreas alagadas, foi criado um novo filtro de ar e um escapamento elevado, com saída 2 em 1. Para a suspensão traseira também foi pensado em algo totalmente novo. Um monobraço que era, ao mesmo tempo, a transmissão por eixo cardã e a balança traseira. Uma solução leve, resistente e inédita. Surgia assim o conceito Monolever, que logo se tornaria marca registrada do modelo.

Sistema Monolever, com a rida traseira presa apenas de um lado, logo se tornaria marca registrada do modelo

Que modelo? A primeira representante da família, a R 80 G/S. O nome era uma união das iniciais de Gelände Strasse (campo e estrada, em alemão) ao numeral em alusão aos quase 800 cm³ do motor. Já o R indicava o uso do boxer de dois cilindros, como é até hoje. O lançamento à imprensa global aconteceu em 1980, no Palácio dos Papas, no sul da França.

Como era a R 80 G/S

Os jornalistas receberam a novidade com surpresa e intusiasmo. Mas havia um problema. Como classificá-la? Era uma trail, voltada ao uso em terrenos ruins e não pavimentados, mas também prometia bom desempenho no asfalto e até certo conforto, características que não definiam as aventureiras da época. Hoje o conceito para nós é claro, chama-se bigtrail.

GS entregava bons números desde sua primeira geração: 50 cv a 6.500 rpm e 5,7 kgf.m de torque a 4.000 rpm

A primeira GS entregava 50 cv a 6.500 rpm e 5,7 kgf.m de torque a 4.000 rpm, números que apontam à elasticidade e bom fôlego do motor desde baixas rotações. Pesava cerca de 200 kg, era capaz de atingir 180 km/h – reais, claro -, e tinha tanque de 20 litros para garantir larga autonomia (de aproximadamente 400 km), facilitando viagens.

Com o que existia de mais avançado na época, o conjunto empregava freios Brembo (com disco de 260 mm na frente e tambor atrás) e pneus Metzeler. As suspensões de longo curso contribuíam ao conforto, com 170 mm na já citada Monolever e 200 mm na dianteira. A receita encerrava com o design, moderno, remetendo aos modelos de competição e cores tradicionais da marca.

Lançamento para a imprensa aconteceu em 1980, na França. Como o segmento bigtrail nascia na ocasião, jornalistas não sabiam como se referir às novas motos

Vitórias no Dakar

Nada melhor que o Rally Paris-Dakar, criado em 1979, para comprovar o discurso da GS na terra. A R 80 estreou na competição ainda em seu ano de lançamento, obtendo o segundo lugar nas mãos do francês Jean-Claude ‘Fenouil’ Morellet. Ao todo, a motocicleta conquistaria 4 troféus de primeiro lugar, cinco de segundo e um de terceiro no maior rali do mundo.

GS tem uma trajetória gloriosa nas pistas. Só no Paris-Dakar foram quatro conquistas – e com duas dobradinhas

Em 1981 veio o primeiro título, com o francês Hubert Auriol e uma GS original de fábrica. Em 83 ele repetiria o feito, mas agora com uma moto preparada para 980 cc e 70 cv, mesmo ano em que a dupla também faturou o rali Baja Califórnia – e seus 1.200 km. Em 84 teve dobradinha da GS, com o belga Gaston Rahier em primeiro e Auriol em segundo. No ano seguinte, Gaston garantiria a quarta conquista à R 80.

Hubert Auriol venceu o Dakar com uma R 80 original de fábrica, em 1981

A BMW optou por deixar o Dakar de lado entre 1987 e 1998, quando voltou ao páreo com a recém-lançada F 650 GS. Monocilíndrica, a moto participou de uma nova era da competição e faturou dois títulos consecutivos, em 1999 e 2000, pelas mãos do francês Richard Sainct. Aliás, no segundo ano houve nova dobradinha, com o espanhol Oscar Gallardo e sua 650 em segundo. Nada mau.

Hubert Auriol e Gaston Rahier comemoram dobradinha no Dakar. Era a R 80 nas duas primeiras posições

Na época, a linhagem R seguia mostrando seu desempenho pelas savanas, desertos e montanhas. Tanto que a ‘R900 GS’ obteve o terceiro posto com o americano Jimmy Lewis, em 2000. Depois de provar a valentia de suas motos fora de estrada no rali, a BMW retirou-se definitivamente do Dakar no ano seguinte – falaremos mais sobre seu sucesso nas pistas em breve, em outra reportagem.

Cronologia BMW GS

Diante do sucesso da então novidade R 80 G/S, a BMW apresentou uma versão Dakar do modelo ainda em 1984. Em 87 ela passaria a se chamar R 80 GS (sem o ‘/’ entre as siglas) e no mesmo ano seria apresentada sua evolução, a R 100 GS.

Versão Dakar da R 80 G/S surgiu em 1984, pegando carona no sucesso do modelo no rali

Entre suas inovações destaque à suspensão traseira Paralever, utilizada pela primeira vez. Tratava-se de um monobraço oscilante que incorporava o conceito de paralelogramo deformável, equilibrando resistência no fora de estrada e conforto em piso liso. Em 1993 o modelo recebia a suspensão dianteira Telelever, em que cada uma das bengalas tinha uma função própria, de amortecimento e outra de mola. A R 100 ficou nas lojas até 96.

Se o visual manteve praticamente as mesmas linhas, na mecânica a R 100 GS trouxe um revolução: a suspensão traseira Paralever

A R 1100 GS surgiu em 94, com o inédito motor de quatro válvulas por cilindro e design totalmente renovado, perdurando até 1999. Seu motor entregava 80 cv a 6.750 rpm e 9,8 kgf.m de torque. No mesmo ano foi lançada a R 1150 GS , com motor de 85 cv e 10,4 kgf.m a 6.750 e 5.250, respectivamente. O câmbio também passava a ter 6 velocidades.

R 1100 inaugurou uma nova arquitetura de motores. Assim, as quatro valvulas por cilindro dividiam espaço com o visual totalmente renovado

Em 2002 a 1150 deu origem à primeira representante da linha Adventure. Tanto na época quanto agora, os modelos são equipados com itens para mais conforto em viagens longas, como protetores de motor, tanque de combustível maior e alforjes e top case em alumínio.

A 1150 GS surgiu em 1999 com design aprimorado, mais potência e câmbio de seis velocidades. Logo também receberia suspensão dianteira Duolever (note a mola ‘escondida’ logo abaixo da seta)

Uma nova revolução ocorreu em 2005, com o desenvolvimento da Duolever. Inspirada no automobilismo, a suspensão dianteira usa só um conjunto de mola e amortecedor, ligando as bengalas ao chassi. Assim, se vale da ideia do Duplo A, ou Double Wishbone. O sistema é utilizado até hoje.

A ideia de oferecer uma GS customizada ao uso em longas viagens tomou forma em 2002, com o nascimento da primeira Adventure

Em 2005 surge a R 1200 GS. Com 100 cv e 12 kgf.m, o modelo marca uma nova era tecnológica e passa a oferecer uma série de recursos. Os freios eram ABS de segunda geração vieram em 2008, junto do ajuste eletrônico da suspensão (ESA), Controle Automático de Estabilidade (ASC) e novo sistema de controle de tração.

R 1200 GS ao lado da antecessora, R 1150 GS: evolução visível a olho nu

Em 2010 sua potência sobe para 110 cv a 7.750 e em 2013 surge praticamente uma nova geração. O motor passa a ter arrefecimento a líquido e gerar 125 cv e a eletrônica oferece cinco modos de pilotagem. Gradualmente, o visual renovado divide espaço com faróis de LED, ignição sem chave, quickshifter e sistema anti-furto.

A R 1200 foi aprimorada aos poucos, ganhando upgrades como motor arrefecido a líquido e novo pacote eletrônico. Aqui, na versão Adventure

A 1200 atingiu um sucesso estrondoso, se fixou como a bigtrail mais vendida do mundo e conheceu sua sucessora em 2019. A R 1250 GS surpreendeu ao aliar ainda mais tecnologia ao conjunto, presente em elementos como a suspensão Dynamic ESA que regula automaticamente a ação dos amortecedores de acordo com a carga da moto e condições de uso. O motor também passou a contar com comando de válvulas variável, oferecendo um desempenho superior com seus 136 cv e 14,5 kgf.m. Saiba tudo sobre o modelo no nosso teste.

Com visual volumoso e mais de 130 cv sob o tanque, R 1250 GS também deu um largo passo em tecnologia. Entre as novidades, a suspensão ativa Dynamic ESA

Outros modelos GS

Diante do sucesso da GS, seja nas competições ou concessionárias, a BMW decidiu dar uma família ao modelo. Assim, em 1994 surgia sua primeira descendente, a F 650 GS. O modelo foi desenvolvido na Itália em parceria com a Aprilia e equipado com motores Rotax.

Inicialmente, foram desenvolvidas as F 650 e F 650 ST, no conceito ‘Funduro’ – uma união de Fun, diversão, e Enduro. Com 652 cm³, um cilindro e arrefecimento a líquido, o conjunto entregava 47 cv a 5.700 rpm e 4,9 kgf.m a 4.200 rpm. Permaneceram no mercado até 2000, mirando em motociclistas que entravam agora no mundo das longas viagens.

F 650 Funduro foi uma das primeiras motos que nasceram da parceria entre BMW, Aprilia e Rotax, nos anos 1990

Com o passar dos anos a 650 teve uma série de variações, abandonando o conceito Funduro, incluindo uma versão Dakar de 2000 a 2008. A partir de 2009 a motocicleta passou a ser montada em Manaus, dois anos antes de receber a ‘nossa’ versão Sertão que, mais voltada ao off road, incluiu a adoção de roda raiada de 21 polegadas na dianteira. Por aqui, a 650 GS foi vendida até 2016.

A 650 teve vida longa, recebendo deversas versões – e até motorizações. Aqui a Sertão, que teve seu lançamento global no Brasil, em 2011

Em 2007 a BMW apresentou sua primeira aventureira com motor de dois cilindros em linha. Era a F 800 GS. Ela se destacava pelo vigor de seu propulsor arrefecido a líquido de 798 cm³, que entregava 85 cv a 7.500 rpm e 8,5 kgf.m de torque a 5.750.

Também apostava na tecnologia, representada, por exemplo, pelo ABS opcional. Mais tarde, chegou a receber o ajuste eletrônico da suspensão (ESA), controle automático de estabilidade e luzes em LED. Tudo derivado da ‘irmã’ maior, R 1200 GS.

Motor de dois cilindros em linha de 85 cv a 7.500 rpm e 8,5 kgf.m deixava a F 800 GS pronta para qualquer aventura – ainda mais na versão Adventure

A F 800 também emprestou seu motor e plataforma a outros modelos. As F 650 GS e F 700 GS, tinham os mesmos 798 cm³ sob o tanque, mas ajustes no propulsor e alimentação limitavam sua potência a 71 cv e 75 cv, bem como a 7,6 e 7,9 kgf.m de torque, respectivamente. Também tinham diferenças nas supensões, eletrônica e visual.

F 700 GS (foto) e F 650 GS herdavam o motor da 850, mas com desempenho limitado às suas propostas

Em 2018 a BMW atualiza a família GS com as F 750, F 850 e F 850 Adventure. A potência da F 850 GS sobe para 95 cv e o torque para 9,4 kgf.m (no Brasil são ‘apenas’ 80 cv e 9,0 kfg.m, graças à limitações do nosso programa de emissões de poluentes) e seu pacote tecnológico é aprimorado.

A aventureira passa a oferecer Dynamic ESA, ABS (e ABS Pró, otimizado para curvas), controle automático de estabilidade (ASC), controle dinâmico de tração (DTC), controle de cruzeiro, acelerador eletrônico e monitoramento da pressão dos pneus (TPC). Entre outros recursos há, ainda, sistema de partida sem chave e computador de bordo.

Para encarar as concorrentes que também se atualizaram, F 850 chegou com ABS para curvas, cruise control, controle automático de estabilidade e mais

Além das F 750 GS, F 850 GS, F 850 GS Adventure, R 1250 GS e R 1250 GS Adventure, a família só está completa se considerarmos mais um modelo. A G 310 GS surgiu em 2016 com a missão de ser entrada ao universo da marca e, inclusive, seu motor compartilhado com a G 310 R é o único abaixo dos 500 cm³ já produzido pela marca alemã.

A caçula G 310 GS foi lançada em 2016 para ser o novo acesso ao universo da marca

O modelo foi desenvolvido em parceria com a indiana TVS, uma das maiores fabricantes do imenso mercado indiano. É movida por um motor monocilíndrico, arrefecido a líquido, com 313 cm³, que entrega 34 cv a 9.500 rpm e 2,9 kgf.m a 7.500 rpm. Além do visual inspirado nas grandes motos da linha, possui computador de bordo, freios ABS comutáveis, câmbio de 6 velocidades e suspensão invertida. Relembre o teste com ela.

Além do visual, a ‘pequena’ GS herda das irmãs maiores o espírito aventureiro e bom desempenho em qualquer terreno

Série especial BMW GS 40 anos

A BMW GS, mais importante família de motos da marca alemã, celebrou 40 anos em 2020. Em virtude da data foram realizadas ações e, em julho, apresentada a Edition 40 Years, uma série especial que contempla toda a atual gama de aventureiras da empresa.

#SpiritofGS: R 1250 GS e R 100 GS lado a lado

Por aqui, a edição comemorativa está nas F 750, F 850, F 850 Adventure e R 1250. Entre os itens exclusivos está a pintura e grafismos que mesclam tons de amarelo e de preto, em alusão aos modelos dos anos 1980. Algumas também têm aros dourados, em alumínio.

Sob o novo visual, os modelos 2021 das aventureiras sem alterações. Segundo a BMW, sua família GS coleciona mais de 1,3 milhões de clientes em todo o mundo. Além disso, as R 1200 e R 1250 GS são as big trail mais vendidas do planeta.

Guilherme Augusto
@guilhermeaugusto.rp>> Jornalista e formado em Relações Públicas pela Universidade Feevale. Amante de motos em todas suas formas e sons. Estabanado por natureza
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