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Foto: Retrato da avenida principal.

Foto: Retrato da avenida principal.

A pequena cidade de Tianguá tem algumas características interessantes. Ela fica na Serra da Ibiapaba, no interior do Ceará, a 310 quilômetros de Fortaleza. É a “capital da serra”, que tem mais sete cidades menores. Tem mais de 65 mil habitantes e é sustentada pelo comércio de frutas, verduras e legumes. Como várias cidades do nordeste, ela tem muito motociclista e já está precisando de atenção por parte dos políticos e da população para o trânsito.

Como quase toda cidade centenária, Tianguá não foi projetada para receber um grande fluxo de veículos. As ruas têm largura padronizada, mas há bueiros de esgoto em desnível, valas nos cruzamentos, pavimentos mal feitos em algumas ruas e trechos mal sinalizados. A própria empresa de saneamento e alguns moradores abrem valas e buracos nas ruas e não reparam depois. Não são raros os motoristas, motociclistas e pedestres mal educados que só complicam o já desorganizado trânsito.

Quanto à frota de veículos pode-se dizer que ela é nova. Como em mais de 160 das 184 cidades do estado, Tianguá tem mais motos que automóveis. São 4675 delas, 2508 automóveis e 1371 caminhões (Detran-CE, 2007). O interessante é que a maioria dos proprietários de um caminhão possui ainda um automóvel e uma moto. Outro dado interessante é que esses números não contam os veículos da cidade que são emplacados na capital, atitude muito comum entre as pessoas da alta sociedade.

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Foto: A cidade não está preparada para o grande número de veículos que circula pelas suas ruas.

Foto: A cidade não está preparada para o grande número de veículos que circula pelas suas ruas.

Essa frota é bem ativa e a prova disso são os quatro postos de combustíveis dentro da cidade e mais três às margens da rodovia BR-222, que, aliás, possuem a gasolina mais cara da região R$ 2,90). Como as motos são mais acessíveis elas dominam as ruas, quase sempre nas mãos de jovens e mulheres. Nas quartas e sábados os moradores dos sítios vão comercializar na Ceasa em suas motos, aumentando também o movimento de mototaxistas e causando um pouco de desordem no trânsito.

Apesar disso a cidade ainda não tem um órgão de trânsito municipal, com guardas para fiscalizar e punir os desobedientes. Isso é um fato vergonhoso porque Carnaubal e Viçosa do Ceará, outras cidades da Serra da Ibiapaba, respectivamente com 1300 e 4450 veículos, já possuem autoridades de trânsito. E Tianguá, que tem mais de dez mil veículos, ainda não possui. Gosto por motos em questão, o consumidor tianguaense é exigente, porém preso à marca Honda. A Biz, a CG e a Bros detém boa parte do mercado. Já a Yamaha sofre com a discriminação, pois nessa cidade ela ainda tem a má fama de produzir motores dois-tempos, apesar dela não equipar motos com esse tipo de propulsor há anos. Entretanto está ganhando mercado gradativamente com as 125cc YBR e XTZ e a pela confiança gerada pela revenda bem preparada. A Sundown talvez tenha o mesmo percentual de mercado que a Yamaha, mas seu produto principal é a pequena Web 100. Modelos com motores maiores que 250cc são raríssimos, visto que o gentílico tem a moto como transporte urbano apenas, preferindo o automóvel para viagens longas.

Para consertar e equipar essas motos há muitas oficinas, borracharias e lojas de acessórios. Entretanto, a qualificação desses estabelecimentos ainda é baixa. Poucas são caprichosas ou estão preparadas para manusear uma moto moderna, equipada com injeção eletrônica, por exemplo. Já as lojas de acessórios têm como clientela os adolescentes que adoram o tuning, fazendo rebaixamento, instalação de escape esportivo, pintura e decoração, som, alarme e tudo que for possível.

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O mercado de motos cresce muito rápido. Antes havia apenas representantes das marcas Honda e Yamaha. Há seis anos chegou a primeira revenda autorizada completa, para comercializar a motos Honda. O sucesso foi imediato. Cinco anos depois chegou a revenda Yamaha e a Sundown, também completas. Há rumores da chegada de uma loja Suzuki em 2009.

A recente crise mundial deu uma esfriada nesse mercado. A queda nas vendas de motocicletas chega a 20%, número maior que a média do país. A Ibiapaba Motos (bandeira Honda) no mês outubro sofreu com a queda de 60% no financiamento, comparando a setembro. Segundo a gerente Michelly Aguiar, a solução foi recorrer ao financiamento próprio para que a situação não piorasse. A Rios Motos (Yamaha) registrou queda nas vendas totais de 30% e a Ruas movimentadas com grandes crateras, tampas de esgoto desniveladas, poças dágua em esquinas e lixo em algumas ruas. A cidade não está preparada para o grande número de veículos que circula pelas suas ruas.

Somotos (Sundown) oferece brindes, como capacete, tanque cheio e emplacamento grátis para conter o declínio de 40% no financiamento. O melhor ano foi o de 2007 e provavelmente não será superado por este ano.

Como preço de todo esse crescimento, os Tianguaenses tem uma cidade que está cada vez mais quente. A frota exige muito combustível e asfalto, os maiores contribuintes para o aquecimento. Dez anos atrás havia neblina em todas as manhãs, independente da época do ano.
Hoje ela é rara, mesmo em estações frias. Naquela época apenas a avenida principal tinha asfalto e não havia tanta movimentação de caminhões e outros veículos. O crescimento é bom, mas o Tianguá, que já foi uma simples vila, precisa evoluir para adequar-se a esse crescimento. Melhor pavimentação, fiscalização no trânsito, organização das feiras que obstruem ruas e um Centro de Formação de Condutores para educar os próprios motoristas e os de toda a Serra da Ibiapaba. Essa responsabilidade está nas mãos da população e de uma prefeita de 23 anos de idade…

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