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Desde o lançamento e a chegada da Honda Africa Twin, também conhecida como CRF 1000L, aqui no Brasil, de cada 10 motociclistas, 11 tinham vontade de testá-la. Tive sorte, fui um dos escolhidos para avaliar a novidade do mercado. O teste ao qual submetemos o modelo encontrou todo tipo de terreno, estradas vicinais, estradas de terra, trilhas, asfalto ruim e de tudo um pouco. Depois de rodar quase 1000 km com a moto, além de termos recorrido também à opinião de quem tem a moto concorrente, acompanhe o resultado disso tudo.

Não custa nada lembrar que a missão desta moto é muito difícil: desbancar as BMW da liderança mundial da categoria bigtrail. E antes que você se precipite em achar que torcemos por “A” ou por “B”, é bom que você saiba que a Honda Africa Twin tem todos os requisitos para cumprir essa missão. Ela só precisa convencer os exigentíssimos consumidores desta categoria.

Ausente por muito tempo do segmento das bigtrail, onde hoje reinam absolutas em todo o mundo as BMW (R 1200 GS e F 800 GS), finalmente a Honda trouxe de volta um ícone que fez muito sucesso nos anos 80, junto com a família concorrente da Yamaha, as XT 600 Ténéré e a XTZ 750, a chamada “Super Ténéré”. Naquele momento as BMW começavam sua escalada e a ausência da Honda no segmento certamente facilitou o trabalho da marca germânica.

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Africa Twin, vocação Off Road

Africa Twin, vocação para qualquer terreno

A Africa Twin tem uma história longa. Inspirada em motocicletas que venceram o Rally Paris Dakar. Lançada na década de 1990, era chamada de XRV 750 Africa Twin, equipada com um motor V2, de 742 cc, que despejava 61 cv e 6,5 kgf.m de torque. O tempo passou e assim que a Honda decidiu trazer a Africa Twin de volta ao cenário atual, trouxe consigo as inovações tecnológicas, como controle de tração – em 3 níveis diferentes, ABS, além de outras facilidades ao toque de um botão. O novo motor agora é bi cilíndrico em linha, com 999,1 cm³, que desenvolve 90,2 cv a 7.500 rpm e torque de 9,3 kgf.m a 6.000 rpm, arrefecido a líquido.

Africa Twin

Africa Twin é uma moto imponente

O sobrenome já diz, CRF 1000L. É como diz o ditado, para bom entendedor meia palavra basta. Para quem não sabe, o nome CRF é oriundo da família OFF ROAD da Honda, então já sabemos o que podemos esperar desta moto então, não é? Uma moto boa para viagens e com leve aptidão para o fora de estrada, correto? Não, ela é muito mais que isso, pode crer.

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O visual dela é simplesmente insano, o gráfico flui em harmonia com as cores branco, azul, vermelho e dourado, fazendo alusão as cores da equipe de competição Honda. Uma moto imponente, que chama atenção por onde passa, unanimidade em beleza. Só de olhar já dá pra imaginar o que ela pode encarar na terra… uma aventureira de verdade.

Dois cilindros em linha, que desenvolve 90,2 cv a 7.500 rpm

Dois cilindros em linha, que desenvolve 90,2 cv a 7.500 rpm

O motor cresce de forma gradual, no qual o torque é linear e não empolga tanto para um motor 999,1 cm³ bi cilíndrico. Na verdade, a entrega linear do torque foi proposital, para isso, a Honda adotou intervalos de ignição de 270°, que altera a entrega do torque para as rodas. É um propulsor bem silencioso, para o qual foram utilizados eixos balanceiros primários para diminuir as vibrações e deu resultado, pois a moto vibra bem pouco. A Africa Twin adotou o mesmo sistema de comando de válvulas OHC Unicam, usado na família CRF 250/450R – motos de motocross.

Tanque tem capacidade para 18,8 litros, o que a deixa com autonomia na casa do 320 km

Tanque tem capacidade para 18,8 litros, o que a deixa com autonomia na casa do 320 km

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Ciclística

A posição de pilotagem, como já era de se imaginar, é muito confortável e permite grandes incursões nas estradas de terra, mesmo de pé. Com amplo espaço para piloto e garupa a Africa Twin certamente não deixa a desejar nesse quesito. O assento ainda tem 2 regulagens de altura para facilitar a vida dos mais baixos. O chassi é fabricado em aço, do tipo berço semiduplo, um tipo de chassi muito utilizado em motos trail, que proporciona rigidez necessária para altas velocidades, maleabilidade para curvas e aptidão Off Road.

Bom, destaque para a suspensão Showa, mais que multirreguláveis, o conjunto é fora de série. O sistema tem o funcionamento igual ao de uma moto de motocross. A suspensão dianteira tem ajuste de compressão – velocidade com que as bengalas comprimem (mais macio ou mais duro) e retorno – velocidade que as bengalas retornam à sua posição original (mais macia ou mais dura). O sistema traseiro adota quase o mesmo funcionamento, ajuste da compressão em dois níveis – alta velocidade e baixa velocidade – além do retorno.

Suspensão dianteira Showa tem ajustes de compressão e retorno

Suspensão dianteira Showa tem ajustes de compressão e retorno

A regulagem é feita através de cliques e pode ser feita com o uso de uma chave de fenda, entretanto é necessário algum conhecimento prévio, mas é relativamente simples. Gire o parafuso para direita e você tem um ajuste mais duro, gire para a esquerda e o ajuste se torna mais macio. Mas será que um ajuste tão fino assim é necessário? Quer dizer, 99% dos consumidores da Africa Twin não vão nem sequer saber mexer nos cliques. Esse é um ajuste usado em competições, onde cada sensação transmitida pela suspensão faz enorme diferença na busca pelo desempenho. Mas não me entenda mal, as suspensões são de outro mundo, mas um ajuste feito de forma mais simples, através de um botão do painel com alguns pré-sets seria mais simples.

Suspensão traseira com link trás ajuste de compressão (alta e baixa velocidade), retorno e pré carga da mola

Suspensão traseira com link trás ajuste de compressão (alta e baixa velocidade), retorno e pré carga da mola

O curso da suspensão dianteira é de 230 mm e a suspensão traseira tem o curso de 220 mm. Com possibilidade de regular os ajustes de compressão e retorno de cada suspensão separadamente, o resultado não poderia ser mais eficaz. A suspensão Showa simplesmente engole qualquer tipo de buraco, cava e lombada, seja qual for o tamanho da irregularidade com tranquilidade de dar inveja a uma CRF 230.  A moto se mostrou muito estável no fora-de-estrada, inclusive em altas velocidades.

Ciclistica

Posição de pilotagem é ótima

A roda dianteira tem 21 polegadas e a traseira tem 18, com câmara, calçadas com pneus Dunlop 90/90-21 (dianteira) e 150/70-18 (traseira) que se dão bem tanto no asfalto, quanto na terra. Esses pneus são 60% voltados para o asfalto e 40% para terra. Os freios são ótimos, com um disco duplo na dianteira de 310 mm e um disco simples atrás de 256 mm, que conferem um ótimo poder de frenagem, além de ser equipado com sistema ABS que desliga o funcionamento na roda traseira a qualquer momento, para maximizar o aproveitamento na terra.

Disco duplo com

Disco duplo com 310 mm, assinado pela Nissin

Honda Africa Twin: tecnologia para se aventurar

Nascida nos anos 1990, o nome ressurge com todo o aporte tecnológico que o passar dos anos permite. A moto conta com controle de tração de 3 estágios diferentes, cada um com um nível de intervenção diferente. O controle de tração compara três parâmetros: a velocidade da rodas traseira e dianteira, além do câmbio. No momento que a roda traseira irá começar a derrapar ele atua no ponto de ignição e injeção, reduzindo a quantidade de potência liberada pelo motor, evitando que a roda derrape.

Controle de tração no nível 1 permite pequenas derrapagens controladas

Controle de tração no nível 1 permite pequenas derrapagens controladas

O nível 1 é mais indicado para estradas de terra, atuando de forma menos intrusiva, permite até pequenas derrapagens controladas. O nível 2 é um pouco mais incisivo e o 3 é recomendado para dias de chuva, nem pense em usá-lo na terra, pois ele corta o motor a cada pequena irregularidade. Quando o controle de tração está no nível 3, ele apresenta um leve atraso ao passar nas lombadas enquanto aceleramos e continua a cortar o motor após alguns segundos de ultrapassar o obstáculo.

Disco simples na traseira com 256 mm

Disco simples na traseira com 256 mm

O painel é completíssimo e dispõe de um computador de bordo de fácil manuseio. A Africa Twin vem com uma bolha, que ajuda nas estradas, desviando grande parte do vento, entretanto em trechos mais travados no Off Road – que mereciam mais atenção ao solo – a bolha ficava no literalmente no meio da visão, distorcendo oque se passava logo a frente do piloto. A embreagem deslizante, por sua vez tem a missão de reduzir os desagradáveis trancos nas reduções de marcha. O câmbio tem 6 marchas, entretanto poderia ser mais macio, ele apresentou imprecisões em algumas trocas de marcha, principalmente entre a 4ª e 5. O consumo médio da Africa Twin ficou entre 16 km/l e 18 km/l, com o painel acusando um consumo ligeiramente menor. Com esse consumo, pode se considerar uma autonomia entre 300 – 340 km por tanque.

Conclusão do teste

A Africa Twin tem em sua alma a essência da terra. Uma moto com mais aptidão off road do que qualquer concorrente que eu já vi por aí. Para quem gosta desse conceito é um prato cheio. As suspensões, rodas, tecnologia estão mais do que a favor de quem quer se aventurar em qualquer tipo de terreno. O valor dessa essência? R$ 64.900 na versão básica e R$ 74.900 na versão Adventure. Um preço caro? Se comparado com outras concorrentes você vai perceber que sim, motos com tecnologia semelhante, mas já testadas e aprovadas. Na verdade os preços nem são assim tão diferentes, mas depende o que cada um deseja. Vale a pena? Isso quem vai me dizer é você.

 

 

Ficha Técnica CRF 1000L Africa Twin

Motor
Tipo OHC, 2 cilindros, 4 tempos, arrefecido a líquido
Cilindrada 999,1 cc
Potência máxima 90,2 cv a 7.500 rpm
Torque máximo 9,3 kgf.m a 6.000 rpm
Transmissão 6 velocidades
Sistema de partida Elétrico
Diâmetro x Curso 92,0 x 75,1 mm
Relação de Compressão 10,0:1
Sistema Alimentação Injeção Eletrônica PGM-FI
Combustíve: Gasolina
Sistema Elétrico
Ignição Eletrônica
Bateria 12V – 11,2 Ah
Farol LED
Capacidades
Tanque de combustível/Reserva 18,8 litros / 3,6 litros
Óleo do motor 4,9 litros
Dimensões
Comprimento x Largura x Altura 2334 x 932 x 1478 mm
Distância entre eixos 1574 mm
Distância mínima do solo 250 mm
Altura do assento 870 / 850 mm (STD / LOW)
Peso seco 212 kg (versão sem acessórios)
Chassi
Tipo Berço Semiduplo
Suspensão dianteira/Curso Garfo telescópico / 230 mm
Suspensão traseira/Curso Pro-link / 220 mm
Freio dianteiro/Diâmetro A disco / 310 mm (ABS)
Freio traseiro/Diâmetro A disco / 256 mm (ABS)
Pneu dianteiro 90/90 – 21M/C
Pneu traseiro 150/70 – 18M/C

Fotos: Carla GomesSeparador_motos

 

Jan Terwak
Publicitário, curte motos desde que se conhece como gente, é piloto de motocross, enduro, cross-country e trilhas. Empresta sua experiência no off-road para as avaliações de motos no Motonline.