Reportagem de Ricardo Kadota –
Passar o Carnaval com uma supermoto, num dos lugares considerados como a “Mecca” do motociclismo brasileiro é tudo de bom! Pois foi com esse propósito que aproveitamos a oportunidade do “feriadão” para colocar a nova KTM 1290 Super Adventure S 2018 no lugar que ela mais se sente à vontade, na estrada por longos 2.200 km de todo tipo de piso e em diferentes condições.
“Vestidos” com o abadá laranja partimos para os 4 dias de folia sobre duas rodas saindo de Araçariguama (SP), cidade próxima de São Paulo, com destino a Urubici, na serra Catarinense. Nosso planejamento mostrava um dia de viagem no qual passaríamos por diversas serras, autoestradas e estradas vicinais em 13 horas de viagem. Não é a primeira vez que fazemos este roteiro, mas a excitação era forte porque desta vez estávamos na companhia da bela (e fera) KTM 1290 Super Adventure S.
Esta super aventureira é apresentada em duas versões. A “S” é destinada mais ao uso rodoviário, como deixam claro suas rodas de liga leve aro 19″ na dianteira e 17″ na traseira, além do seu largo pneu dianteiro de 120/70. A irmã “R” vem equipada mais para todo tipo de aventura, inclusive (e principalmente) por maus caminhos, com as rodas raiadas de 21″ dianteira e 18″ na traseira, com pneus mais afeitos ao off-road. Tudo bem, nossa viagem teria 90% de trechos com asfalto e mesmo sem a aptidão específica, estávamos todos “ready to race” para encarar e nos divertir na sinuosa Serra do Rio do Rastro, no off-road na perigosa Serra do Corvo Branco e até para enfrentar o inesperado frio de 12º em pleno verão no Morro da Igreja!
KTM 1290 Super Adventure S – Ready to Race
Antes de começar a descrever como a moto se saiu em cada etapa da viagem, é importante destacar algo sobre a marca austríaca que está presente no mercado brasileiro há muitos anos, mas a pouco tempo a matriz da KTM assumiu seu marketing por aqui, que antes estava a cargo de um importador. A KTM é uma marca austríaca fundada em 1934 por Hans Trunkenpolz na cidade de Mattighofen, no norte da Áustria. A empresa começou como uma oficina de reparação e três anos depois começou a vender motos da marca DKW. Foi apenas em 1953 que ela desenvolveu e apresentou sua primeira moto, a KTM R100, já com o nome oficial: KTM (Kronreif, Trunkenpolz, Mattighofen), nome dos dois sócios e da cidade onde nasceu a marca.
Alto desempenho sempre foi o objetivo da KTM e com o passar dos anos a empresa foi cada vez mais se especializando no mundo das competições, principalmente off road, vencendo vários campeonatos mundiais e regionais. A cartada mais recente da KTM foi a chegada à MotoGP onde busca aos poucos encontrar seu espaço, porque nas competições off-road – Motocross e Rally – KTM é sinônimo de vitória e sucesso. Basta saber que estamos falando da moto campeã 17 vezes consecutivas do maior e mais perigoso rally do mundo, o Rally Dakar, além dos incontáveis títulos e vitórias no mundial de motocross. Feito este parentese apenas para posicionar a marca, vamos agora falar logo sobre a máquina. E que máquina!
Motor
A KTM 1290 Super Adventure S tem motor que se baseia no V-Twin de 1.301 cc da KTM Super Duke R, popularmente conhecida como a “The Beast” (a besta), com 160 cv de potência a 8750 rpm e 14,2 kgf,m de torque a 6750 rpm. Um propulsor que empurra com extrema facilidade seus 215 kg a seco e que, independentemente do modo de condução escolhido, você precisa segurar firme ao girar o punho direito com vontade. Esse motor transmite um pouco mais de vibração do que deveria para uma moto desta categoria, principalmente entre 100 a 120 km/h, tornando a viagem um pouco mais cansativa.
Dotada de acelerador eletrônico, que dispensa os tradicionais cabos, os sensores atuam e respondem de forma imediata ao giro do punho direito. A embreagem assistida torna as trocas de marchas suaves, mas em alguns momentos a moto “se perdeu” na passagem da 5ª para 6ª marcha, aparecendo ali um espécie de falso neutro. Da mesma forma, é bem difícil encontrar o neutro, mas nada que desabone todo o funcionamento do conjunto motor e câmbio.
A 6ª marcha serve como overdrive para baixar a rotação do motor e economizar combustível e as marchas são bem escalonadas e elásticas, com o torque aparecendo em praticamente todas as faixas de rotação. A unidade avaliada estava equipada com o opcional Power Shift que auxilia e acelera as trocas de marchas sem a necessidade de utilização da embreagem. Ele foi muito utilizado nos trechos de serra onde era necessário a troca rápida das marchas para entrar e sair de curvas em subidas e descidas mais íngremes. Aliás, foi nestes trechos mais “cascudos”, com a moto carregada (piloto + garupa + bagagens) que o motor respondeu com maestria aos comandos, mostrando que tem folego de sobra para a proposta de uso.
Eletrônica e tecnologia
A eletrônica embarcada nessa moto é um capítulo à parte. São tantas siglas – C-ABS, TPMS, MTC, ATIR, HHC, MSR – que para entender tudo e conseguir se familiarizar com a operação de cada uma leva um certo tempinho. Menos mal que para isso ela tem um tablet no painel, totalmente digital que mostra tudo e mais um pouco com absoluta clareza. Há também tomada USB em um compartimento a prova dágua que serve para carregar o celular durante a viagem, mais uma tomada 12v de fácil acesso, cruise control, suspensão semi-ativa, modos de pilotagem e farol full led com “corner assistant” (assistente de iluminação nas curvas), que acende potente LED para iluminar o lado de dentro da curva, tudo isso auxiliado por diversos sensores que monitoram desde aceleração das rodas, inclinação da moto, tipo de piso entre outras coisas.
Os sistemas eletrônicos presentes na moto são vários. A começar pelo já conhecido ABS (Anti Block System) com C-ABS, não o freio combinado, mas “Corner-ABS”, que auxilia em curvas, identificando a inclinação da moto e distribuindo a frenagem de forma linear em ambas as rodas. Aliás, qualquer coisa que falarmos dos freios da KTM 1290 Super Adventure será pouco porque o sistema funciona com maestria e facilita o uso mesmo para quem não está acostumado com a moto e ainda não tem exata noção da força a ser aplicada. E se você errar a mão (ou o pé), o ABS age com perfeição e de forma muito eficiente. Um detalhe que chama (ou não chama?!) a atenção é que quase não se percebe a atuação do ABS seja no manete ou no pedal de freio.
De todos os outros sistemas, alguns merecem destaque e explicação:
- TPMS (Tire Pressure Monitoring System) – Monitora a pressão dos pneus da moto
- MTC (Motorcycle Traction Control) – O controle de tração deixa todo o poder de fogo da moto sob controle, principalmente em acelerações para ultrapassagens em locais de pista simples e com o piso molhado
- ATIR – (Automatic Turn Indicator Reset) – Essa função desliga automaticamente os piscas direcionais após 10 segundos de sua ativação ou 150 metros; e sempre que a moto parar o contador reinicia automaticamente
- HHC – (Hill Hold Control) – A unidade avaliada estava equipada com esse opcional que ajuda na saída em locais íngremes; ele foi bem utilizado nos trechos onde o trânsito estava parado numa rampa e com esse modo ativado, um dos sensores da moto identifica a inclinação e não deixa com que ela volte para trás por 5 segundos após soltar o freio, dando mais segurança com bagagem e garupa para colocar a moto em movimento
- MSR – (Motor Slip Regulation) – Outro opcional que estava na unidade avaliada; este mede a velocidade de ambas as rodas e em caso de diminuir as marchas de forma rápida ele dá uma pequena aceleração na roda traseira para evitar que ela “quique” no piso.
Além destas siglas, a moto traz também o cruise control que de forma fácil é ativado e mantém a velocidade estabelecida sem a necessidade de segurar o acelerador, a função Race on (partida sem chave) que com apenas um botão pode-se dar a partida e mesmo com a chave no bolso também se abre o tanque de combustível.
O painel é um show à parte e mais se assemelha a um tablet, grande, de fácil leitura e que pode ser configurado com no mínimo 4 até 8 informações importantes no lado esquerdo da tela. Os números que indicam a velocidade são grandes e o belo conta giros, que muda de cor de acordo com a rotação da moto, é um convite a acelerar só para ver as cores mudando. A navegação pelos menus é intuitiva e há muitas opções, o que atende todo tipo de piloto, que sempre acha o melhor caminho para encontrar a informação desejada ou a configuração preferida. Todos esses “mimos” eletrônicos tornaram nossa viagem mais confortável e prazerosa.
Pilotagem
Pilotar essa moto é puro prazer. Não há outra forma de expressar a combinação de tudo que ela tem de equipamentos ativos com sua construção única, que une tudo com perfeição numa máquina que se encaixa com o piloto. O chassi treliçado, muito rígido equilibrado e bem construído, combinado com as suspensões semiativas totalmente configuráveis, oferecem o máximo de opções. O piloto pode escolher a pré-carga da mola através do menu (piloto, piloto + garupa, piloto +garupa + bagagem ou piloto + bagagem), e também o nível de conforto do amortecimento (sport, street, confort e off road).
Esse controles podem mudar completamente o comportamento da moto, deixando-a mais dura no modo Sport, ideal para percorrer uma serra travada e muito sinuosa, até o modo mais suave do Confort, para um trecho off-road muito acidentado. Junto com os modos de condução, que mudam a entrega de potência, esses controles permitem que pilotos de todos os níveis conduzam a KTM 1290 Super Adventure em total segurança. O modo mais divertido é o Sport, que entrega 160 cv sem restrição e de forma imediata, com o giro do motor subindo forte e com vigor, tirando facilmente a roda dianteira do chão. Mas lá vem a eletrônica para recolocar a moto no caminho certo com as duas rodas no piso. O modo Street também entrega os mesmos 160 cv, porém de forma mais mansa, e o modo rain é indicado para pisos com pouca aderência.
Durante a viagem usamos os três modos combinados com diferentes ajustes de suspensões e é notável a mudança no comportamento da moto. O modo rain foi bastante utilizado, pois pegamos muita chuva tanto nas serras catarinenses quanto no caminho de volta para São Paulo, mantendo a tração sempre ideal, mesmo nas acelerações mais bruscas. Já no modo off road o controle permite que a roda traseira escorregue um pouco, técnica que se utiliza muito nesse tipo de piso. Todos os modos de condução e configurações de suspensão foram utilizados durante a viagem e trouxeram um incremento de segurança e diversão. Subir a Serra do Panelão, em Urubici, no modo Sport ou a Serra da Macaca, em Juquitiba, debaixo de chuva no modo Rain foram diversão (e segurança) pura.
A tecnologia continua nos faróis full led com assistente de curvas, que de acordo com a inclinação da moto vai acendendo mais LEDS direcionados para o lado de dentro da curva e iluminando com perfeição o terreno a frente, recurso que garante mais segurança. Merecem destaque os atalhos no painel de instrumentos que permitem ajustes nos modos de pilotagem e das suspensões mesmo em movimento, facilitando muito a condução. O mesmo acontece com o para brisa, que também pode ser ajustado em movimento e oferece excelente proteção.
O que poderia mudar?
O enorme tanque de combustível tem capacidade para 23 litros de gasolina e oferece boa proteção para as pernas no clima frio, mas o ar quente que sai do radiador incomoda um pouco em locais com o trânsito mais travado. O banco poderia receber uma espuma mais macia e ter um espaço melhor para o garupa, assim como as pedaleiras do garupa que poderiam estar numa posição mais baixa. Do ponto de vista do piloto, o guidão poderia estar um pouco mais para trás para permitir uma posição mais ereta e diminuir a fadiga quando se conduz a moto por períodos mais longos.
Um detalhe que quase ninguém dá atenção merece um ajuste por parte da KTM. O descanso lateral é ruim de ser acionado – falta uma alça para facilitar ser encontrado pelo pé do piloto e seu acionamento é duro e difícil. Tanto na abertura quanto no recolhimento apresenta um barulho seco, de metal com metal, estranho para o porte da moto. Por fim, o descanso lateral parece com pouca angulação, pois algumas vezes ameaçou desarmar simplesmente ao movimentar o guidão para subir na moto. E já que estamos falando do que faz falta, nessa viagem os aquecedores de manoplas seriam bem vindos – nessa moto são vendidos como opcional – dadas as condições de clima desfavorável em boa parte da viagem, com temperaturas beirando os 12º com chuva.
No off-road a Super Adventure vai bem, limitada basicamente pelos pneus, que priorizam o uso no asfalto, e o tamanho da roda dianteira, principalmente, feita também para o asfalto. Mesmo assim ela permite boa diversão na terra e também em piso com cascalho, onde a moto se comportou muito bem, sempre na mão. Nessa condição a moto oferece muitas opções e nós utilizamos no modo de condução “off-road”, que deixa a roda traseira mais livre, e mudando o ABS também para o modo “off-road”, que desliga o ABS apenas na roda traseira. Mas há a opção de desligar tudo, tanto o ABS quanto o controle de tração e aí a moto fica totalmente livre, sem qualquer assistência, o que é recomendado nesse caso para pilotos muito experimentados.
Não é uma exigência fundamental que uma moto desse porte seja econômica e creio que esse não deve ser um ponto para preocupação, mas o consumo de combustível dela nos surpreendeu positivamente. A média ao longo dos 2.200 km que percorremos foi de 18,2 km/l, com a melhor marca de 21,6 km/l em velocidades mais moderadas na estrada em pista simples, e a pior marca foi de 15,8 km/l nos trechos off road. Levando em consideração que a moto traz toda a tecnologia para que se tenha a melhor experiência possível em termos de desempenho, com garupa e bagagem e em variadas condições de clima e piso, de fato o consumo é muito bom.
Preços – Bigtrail de Aventura |
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Marca |
Modelo |
Preço |
Triumph | Tiger 1200 Explorer | R$ 65.536,00 |
Yamaha | XT 1200 Z Super Ténéré | R$ 60.369,00 |
Honda | CRF 1000 L Africa Twin | R$ 65.490,00 |
Kawasaki | Versys 1000 Grand Tourer | R$ 62.220,00 |
Suzuki | V-Strom 1000 | R$ 44.968,00 |
BMW | R 1200 GS Adventure | R$ 85.395,00 |
Ducati | 1200 S Multistrada | R$ 82.400,00 |
Viajar para as serras Catarinenses a bordo da KTM 1290 Super Adventure S foi uma excelente experiência. Pudemos rever pontos como o íngreme Morro da Igreja, descer e subir a famosa Serra do Rio do Rastro e encarar um off-road molhado e escorregadio para chegar a Serra do Corvo Branco e à Pedra do Gavião, tudo foi muito gratificante, sobretudo pela companhia da tecnologia que a moto nos proporcionou. Se você dispõe dos pouco mais de R$ 93 mil (sem opcionais HHC, MRS e Quick Shift), com certeza a KTM 1290 Super Adventure S vai colocar você na condição “READY TO RACE”, que é só montar na moto e encarar qualquer desafio!
Ficha Técnica KTM 1290 Super Adventure S |
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R$ 93.496,00 (tabela FIPE), zero km, em fevereiro/2018 |
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Motor | 2 Cilindros, 4 Tempos, em V 75°, Arrefecimento Líquido |
Capacidade | 1.301 cc |
Diâmetro x Curso | 108 mm x 71 mm |
Taxa de Compressão | 13.1:1 |
Potência Máxima | 160 cv @ 8.750 rpm |
Torque Máximo | 140 Nm @ 6.750 rpm |
Sistema de Ignição | Ignição eletrônica digital |
Embreagem | Deslizante PASC, operada hidraulicamente |
Câmbio | 6 marchas |
Lubrificação | Circuito de pressão com 3 bombas de rotor |
Óleo Lubrificante | SAE 10W/50 |
Alimentação | Injeção Eletrônica de Combustível |
Partida | Elétrica e pedal |
Chassi | Treliça de armação especial |
Suspensão dianteira | WP-USD Invertida split fork eletrônica semi ativa Ø 48 mm/ Curso 200 mm |
Suspensão traseira | WP-PDS Monoshock eletrônica semi ativa 200 mm |
Distância entre eixos | 1560 mm |
Distância livre do solo | 220 mm |
Altura do assento | 860/875 mm |
Peso | Aprox. 215 kg a seco |
Capacidade do Tanque | 23 litros |
Pneus Dianteiros | 120/70 – 19 |
Pneus Traseiros | 170/60 – 17 |
Freio Dianteiro | Duplo 320 mm |
Freio Traseiro | Disco 267 mm |
Bateria | 12 volt, 11,2 Ah |
Farol | LED |
Lanterna traseira | LED |